A Última Traição de Durão Barroso
Jornal online Público de 12.7.2016
Este artigo de opinião retrata bem o carácter deste
nosso político, deduzindo daí o que para aí há e as causas dos nossos
problemas. Andamos nós a pagar, a sofrer a austeridade, para este senhor e
muitos como ele, que se acomodaram nos partidos políticos, viverem "à
grande".
Quando é que os portugueses abrem os olhos e começam a
reagir, exigindo responsabilidades?
Opinião
A última traição de Durão Barroso
12/07/2016 - 00:15
A nova opção de
carreira de Durão Barroso encaixa como uma luva na narrativa da extrema-direita
e da extrema-esquerda.
Pode ir? Pode. Devia ir? Obviamente que não. A entrada de Durão Barroso na
Goldman Sachs, 21 meses após ter deixado a presidência da Comissão Europeia,
mostra ainda menos sentido de Estado do que a sua ida para a presidência da
Comissão Europeia, dois anos após ter sido eleito primeiro-ministro de
Portugal. E prova mais uma vez aquilo que todos já sabíamos desde 2004: a única
coisa que realmente preocupa Durão Barroso é o bem-estar de Durão Barroso.
Sem Durão não teria
havido Santana, e sem Santana não teria havido Sócrates – não daquela maneira,
pelo menos –, pelo que a dívida que o homem já tinha para com Portugal não há
ordenado da Goldman Sachs que possa pagar. Agora fica a acumular dívida
portuguesa com dívida europeia: o impacto político da sua ida para chairman da
empresa em Londres é enorme, e a UE não merecia ter de lidar com mais isto
neste momento. Veja-se o que se disse da sua contratação por essa Europa fora,
com Marine Le Pen à cabeça, via Twitter: “Barroso na Goldman Sachs: nenhuma
surpresa para quem sabe que a UE não serve os povos, mas a alta finança.” É
isto que vai ser dito e repetido até à náusea. A nova opção de carreira de
Durão Barroso encaixa como uma luva na narrativa da extrema-direita e da
extrema-esquerda. Em boa verdade, nem é preciso ir aos extremos. Ana Catarina
Mendes mostrou no sábado o que o PS pensa do assunto: “Durão Barroso foi
presidente da Comissão Europeia nos piores anos do projeto europeu. E que
prémio podia ele ter? Ficar naquela que foi a principal causadora da destruição
dos direitos sociais na União Europeia.”
É claro que definir a
Goldman Sachs como “a principal causadora da destruição dos direitos sociais na
União Europeia” é absolutamente patético e demonstra como hoje em dia a
esquerda do PS e o Bloco de Esquerda diferem tanto entre si quanto Dupond e
Dupont. Aliás, se o mundo “neoliberal” fosse tão a preto e branco como o
pintam, e a Goldman Sachs o Big Brother do capitalismo planetário, certamente
que não teria ficado a arder, como ficou, com 834 milhões de dólares no BES.
Ninguém passa a perna à Goldman? Pelos vistos, Ricardo Salgado passou. Mas este
não é tempo para discutir subtilezas. Bem ou mal, com argumentos exagerados ou
não, a verdade é que a Goldman Sachs se tornou numa sinédoque da selvajaria do
mercado de capitais, tanto em Portugal como na China. O seu nome é tóxico, e
certamente que Durão Barroso lê suficientes jornais para saber isso.
Assim sendo, por que é
que aceitou o convite, quando ainda há dois meses apareceu todo pintalegrete no
Expresso a exibir o seu magnífico estatuto na Universidade de Princeton?
A justificação que desta vez apresentou ao semanário não é menos patética do
que as declarações de Ana Catarina Mendes: “É-se criticado por ter cão e por
não ter. Se se fica na vida política é porque se vive à conta do Estado, se se
vai para a vida privada é porque se está a aproveitar a experiência adquirida
na política.” Uma resposta tão medíocre quanto esta é indigna da sua
inteligência – e da nossa. Durão Barroso tem consciência das implicações da sua
decisão, mas está-se simplesmente nas tintas. Já Passos Coelho, quando se trata
de proteger os da sua tribo, parece não ter consciência de coisa alguma: em vez
de fazer como António Costa, que se limitou a um desejo irónico de felicidades,
optou por uma longa e palavrosa defesa do ex-presidente da Comissão Europeia.
Perdeu uma óptima oportunidade para ficar calado.
Sem comentários:
Enviar um comentário