Arquivo do blogue

terça-feira, 19 de dezembro de 2017


O Livro dos Sábios (1870)


RESUMO GERAL - Por definições e aforismos

(XII Capítulos)

 
CAPÍTULO VI - SATÃ
I - Satã é um tipo, não é uma pessoa real.
II - É o tipo oposto ao tipo divino e é na nossa imaginação o contraste necessário. É a sombra fictícia que nos torna visíveis à Luz infinita de Deus.
III - Se Satã fosse uma pessoa real, haveria dois deuses e a crença dos maniqueus seria uma verdade.
IV - Satã é a ficção do absoluto no mal. Ficção necessária para a afirmação integral de liberdade humana que, por meio deste absoluto fictício, parece equilibrar a mesma omnipotência de Deus. É o mais atrevido e, talvez, o mais sublime dos sonhos do orgulho humano.
V - Sereis como OS DEUSES, conhecendo o bem e o mal, diz a serpente alegórica da Bíblia. Com efeito, erigir o mal na ciência é criar um Deus do mal e se um espírito pode resistir eternamente a Deus, aí não há um Deus, senão deuses...
VI - Para resistir ao infinito, é necessária uma força infinita. Pois bem, duas forças infinitas opostas uma à outra, anular-se-iam reciprocamente. Se a resistência de Satã é possível, o poder de Deus não o é mais. Deus e o diabo destroem-se mutuamente e o homem fica só.
VII - Fica só com o fantasma dos seus deuses, a esfinge híbrida, o touro alado que balança na sua mão de homem uma espada cujos relâmpagos alternados levam a imaginação humana de um erro a outro e do despotismo da luz ao despotismo das trevas.
VIII - A história das desgraças do mundo é a época da luta dos deuses, luta que não acabou, porque o mundo cristão adora ainda um Deus do diabo e teme um diabo de Deus!
IX - O antagonismo das potências é a anarquia no dogma. Por isso, a igreja que diz: "O diabo é o mundo", responde com uma lógica horrível: "Deus não é". E seria em vão que para escapar à razão, se inventasse a supremacia de um Deus que permitisse ao diabo perder aos homens; uma tal tolerância seria uma monstruosa cumplicidade e o Deus cúmplice do diabo não pode existir.
X - O diabo dogmático é o ateísmo personificado. O diabo filósofo é o ideal exagerado da liberdade humana. O diabo real ou físico é o magnetismo do mal. O diabo vulgar é o compadre de Polichinelo.
XI - Evocar ao diabo é realizar durante um instante a sua personalidade fictícia. Para isto, é necessário exagerar em si mesmo, além de toda a medida, a perversidade e a demência, pelos actos mais criminais e insensatos.
XII - O resultado desta operação é a morte da alma pela loucura e frequentemente a mesma morte do corpo fulminado por uma congestão cerebral.
XIII - O diabo pede sempre e não dá nunca.
XIV - São João chama-o a besta, porque a sua essência é a imbecilidade humana.

Sem comentários:

Enviar um comentário