O Livro dos Sábios (1870)
8 de 10 - DISCUSSÕES EM
FORMA DE DIÁLOGO
OITAVO-DIÁLOGO - UM SACERDOTE e ELIPHAS LEVI
O SACERDOTE — Venho a ti como um ex frade desviado e conjuro-te em nome de tua saúde
eterna a recolher-te em ti mesmo e a pensares nas promessas que fizeste à
Igreja.
ELIPHAS LEVI — Essas promessas eram mútuas, padre; e, não fui eu quem se retirou da Igreja; ela é que se retirou de mim sem ter outra coisa a reprovar do que o meu grande amor pela verdade e pela justiça.
O SACERDOTE — A verdade é o que a Igreja ensina. A justiça é a obediência aos seus mandamentos.
ELIPHAS LEVI — A Igreja não pode ensinar outra doutrina que a do Evangelho; não pode ordenar nada que seja contrário à moral: estou, pois, de acordo com ela. Abandonado por aqueles que deviam proteger-me e conduzir-me, voltei a vida laica sofrendo todas as suas consequências; porém, de espírito e de coração fico ligado à Igreja.
O SACERDOTE — Podes dizer semelhante coisa quando todo o mundo sabe que és professor de Cabala e de Magia, coisas que horrorizam a Igreja? Quando ousas explicar filosoficamente os nossos santos mistérios e fazer do mesmo salvador do mundo uma espécie de personagem fictício e mitológico semelhante a Osíris e a Khrishna!
ELIPHAS LEVI — Permites a leitura de meus livros aos teus penitentes, padre?
O SACERDOTE — Não, por certo que não.
ELIPHAS LEVI — Não oferecem então, perigo para eles; porém, podem desarmar os inimigos do Cristianismo mostrando-lhes a razão velada onde acreditavam ver a loucura. Amo a Igreja como se quer a uma velha mãe decrépita e caída no infantilismo; vejo-a debilitada pela idade e não temo que morra porque creio na transfiguração próxima. Ela acumulou ao seu redor toda a lenha seca dos antigos prejuízos e sobre esta fogueira vai consumindo-se como Hércules ou como a fênix da fábula para renascer imortal; o próximo concílio será uma palingenesia, uma oração fúnebre e uma apoteose, o fim da Igreja Romana é o começo da catolicidade universal.
O SACERDOTE — A Igreja será o que é ou não será mais; porém, Deus prometeu-lhe a Eternidade.
ELIPHAS LEVI — Só Deus é eterno; a letra mata e morre, e o espírito vivifica. A sinagoga não se afirmava também imortal? O Templo de Jerusalém não deveria durar tanto como o Sol? A lei de Moisés não era perfeita e imutável? Ah, padre, quando os cegos se tornam condutores dos cegos, caem com eles no precipício! Isto diz alguém mais sábio do que eu.
O SACERDOTE — Vês bem que, como os materialistas e os ateus, crês na destruição próxima e necessária da Igreja.
ELIPHAS LEVI — Não padre; creio no seu nascimento próximo, porque, até agora, ela perdeu a envoltura das instituições e dos prejuízos do velho mundo; a sua concepção é imaculada, mas os trabalhos de iluminação serão longos e penosos; há necessidade de luz, de razão, da ciência da natureza que e a mesma lei de Deus e para que tenha tudo isto deve desprender-se das tradições do farisaísmo moderno e das trevas da falsa teologia; deve ser visitada pelo espírito da inteligência, pelo espírito da ciência, pelo espírito do bom conselho que invocas na vossa liturgia; "veni creator spiritus"!
O SACERDOTE — Este espírito não é o dos praticantes da magia.
ELIPHAS LEVI — É dos magos que vieram do Oriente, guiados por uma estrela. Não julgues, padre, o que não conheces e se queres criticar-me razoavelmente, lê; primeiro os meus livros.
O SACERDOTE — Não se criticam autores como tu; queimam-se!
ELIPHAS LEVI — Eis aí o teu último argumento; o dos inquisidores.
O SACERDOTE — Falo só dos teus livros; quanto a ti, é o inferno que te queimará.
ELIPHAS LEVI — Não notas que falando assim me maldizes? Pois bem, eu te bendigo, e, vendo-te atiçar-me, por vossa cruel esperança, o fogo do inferno, penso em João Huss que, vendo uma pobre velha trazer lenha para a sua fogueira, exclamou: "Sancta Simplicitas"! Qual de vocês é mais cristão?
O SACERDOTE — Dado que tomas o bem pelo mal e o mal pelo bem, deixo-te com o vosso empacamento.
ELIPHAS LEVI — E eu, como não pude iluminar-te, vejo-me obrigado a deixar-te com a tua cegueira.
ELIPHAS LEVI — Essas promessas eram mútuas, padre; e, não fui eu quem se retirou da Igreja; ela é que se retirou de mim sem ter outra coisa a reprovar do que o meu grande amor pela verdade e pela justiça.
O SACERDOTE — A verdade é o que a Igreja ensina. A justiça é a obediência aos seus mandamentos.
ELIPHAS LEVI — A Igreja não pode ensinar outra doutrina que a do Evangelho; não pode ordenar nada que seja contrário à moral: estou, pois, de acordo com ela. Abandonado por aqueles que deviam proteger-me e conduzir-me, voltei a vida laica sofrendo todas as suas consequências; porém, de espírito e de coração fico ligado à Igreja.
O SACERDOTE — Podes dizer semelhante coisa quando todo o mundo sabe que és professor de Cabala e de Magia, coisas que horrorizam a Igreja? Quando ousas explicar filosoficamente os nossos santos mistérios e fazer do mesmo salvador do mundo uma espécie de personagem fictício e mitológico semelhante a Osíris e a Khrishna!
ELIPHAS LEVI — Permites a leitura de meus livros aos teus penitentes, padre?
O SACERDOTE — Não, por certo que não.
ELIPHAS LEVI — Não oferecem então, perigo para eles; porém, podem desarmar os inimigos do Cristianismo mostrando-lhes a razão velada onde acreditavam ver a loucura. Amo a Igreja como se quer a uma velha mãe decrépita e caída no infantilismo; vejo-a debilitada pela idade e não temo que morra porque creio na transfiguração próxima. Ela acumulou ao seu redor toda a lenha seca dos antigos prejuízos e sobre esta fogueira vai consumindo-se como Hércules ou como a fênix da fábula para renascer imortal; o próximo concílio será uma palingenesia, uma oração fúnebre e uma apoteose, o fim da Igreja Romana é o começo da catolicidade universal.
O SACERDOTE — A Igreja será o que é ou não será mais; porém, Deus prometeu-lhe a Eternidade.
ELIPHAS LEVI — Só Deus é eterno; a letra mata e morre, e o espírito vivifica. A sinagoga não se afirmava também imortal? O Templo de Jerusalém não deveria durar tanto como o Sol? A lei de Moisés não era perfeita e imutável? Ah, padre, quando os cegos se tornam condutores dos cegos, caem com eles no precipício! Isto diz alguém mais sábio do que eu.
O SACERDOTE — Vês bem que, como os materialistas e os ateus, crês na destruição próxima e necessária da Igreja.
ELIPHAS LEVI — Não padre; creio no seu nascimento próximo, porque, até agora, ela perdeu a envoltura das instituições e dos prejuízos do velho mundo; a sua concepção é imaculada, mas os trabalhos de iluminação serão longos e penosos; há necessidade de luz, de razão, da ciência da natureza que e a mesma lei de Deus e para que tenha tudo isto deve desprender-se das tradições do farisaísmo moderno e das trevas da falsa teologia; deve ser visitada pelo espírito da inteligência, pelo espírito da ciência, pelo espírito do bom conselho que invocas na vossa liturgia; "veni creator spiritus"!
O SACERDOTE — Este espírito não é o dos praticantes da magia.
ELIPHAS LEVI — É dos magos que vieram do Oriente, guiados por uma estrela. Não julgues, padre, o que não conheces e se queres criticar-me razoavelmente, lê; primeiro os meus livros.
O SACERDOTE — Não se criticam autores como tu; queimam-se!
ELIPHAS LEVI — Eis aí o teu último argumento; o dos inquisidores.
O SACERDOTE — Falo só dos teus livros; quanto a ti, é o inferno que te queimará.
ELIPHAS LEVI — Não notas que falando assim me maldizes? Pois bem, eu te bendigo, e, vendo-te atiçar-me, por vossa cruel esperança, o fogo do inferno, penso em João Huss que, vendo uma pobre velha trazer lenha para a sua fogueira, exclamou: "Sancta Simplicitas"! Qual de vocês é mais cristão?
O SACERDOTE — Dado que tomas o bem pelo mal e o mal pelo bem, deixo-te com o vosso empacamento.
ELIPHAS LEVI — E eu, como não pude iluminar-te, vejo-me obrigado a deixar-te com a tua cegueira.
(Continua)
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