O Livro dos Sábios (1870)
RESUMO GERAL - Por definições e aforismos
(XII Capítulos)
CAPÍTULO XI - A FORÇA E SEUS AUXILIARES
I - Toda força requer um impulso; necessita de uma acção e apoia-se sobre
uma resistência.
II - Toda a força domina a inércia, toda a inércia suporta a força.
III - Toda a acção repetida determina uma força, a força contínua, por mínima que seja, triunfa sobre toda a inércia.
IV - Os actos mais indiferentes em aparência, dirigidos por uma intenção e repetidos com persistência fazem triunfar esta intenção. É por isso que todas as grandes religiões têm multiplicado as suas práticas e atribuem grande importância a estas práticas. Um machado atirado por Hércules não furaria a massa de uma rocha, mas uma gota de água que cai no mesmo lugar, hora após hora, termina por escavar uma abóbada imensa de pedra.
V - As práticas supersticiosas são tão eficazes como as práticas religiosas, mas apresentam maior perigo porque não estão reguladas pela autoridade legítima.
VI - Fazendo regularmente o que ele mesmo chamava seus exercícios, Santo Inácio terminou por ver distintamente a Virgem. Na "cova" de Mauresa, praticando os ritos do tauróbolo, o imperador Juliano viu pessoalmente os deuses do antigo Olimpo e, sujeitando-se às cerimónias do Crimório, os feiticeiros obstinados terminam necessariamente por ver o diabo.
VII - Toda a força necessita de uma debilidade; ela exerce sobre uma debilidade e triunfa por uma debilidade.
VIII - A maior das debilidades humanas é o amor, mas é com a sua mediação que a força humana tem realizado os maiores milagres.
IX - O entusiasmo multiplica as forças da alma e o entusiasmo é excitado quase sempre por uma quimera.
X - Eu que escrevo estas linhas, sacrifício-me há quarenta anos em trabalhos ingratos porque creio na sua utilidade, como se tudo o que penso e tudo o que escrevo não houvesse sido pensado e escrito inutilmente por outros.
XI - Se o homem não tivesse um grão de loucura, não faria uso da sua razão senão para livrar-se de todas as penas e desconfiar de todos os prazeres; mas então, não viveria; vegetaria encerrado na sua concha como um molusco.
XII - A maior sabedoria do homem é escolher bem a sua loucura.
XIII - Salomão disse: entre todas as mulheres eu não encontrei nenhuma. A isto a fria razão contestaria: tomemo-las todas pelo que valem. Mas a suave loucura do amor protesta e diz: se temos escolhido mal, escolhamos novamente; depois a sabedoria agrega: vivamos de nossos sonhos, não morramos deles.
XIV - É o que ocorre com as religiões. Entre todas, nenhuma é razoável, dizia Voltaire. Eu bem o creio. São razoáveis as mulheres? A religião e a mulher do nosso espírito. Não se pode ser, por sua vez, de todas as religiões; e a nossa alma tem necessidade de praticar uma.
XV - Então, se se deseja um culto eficaz, tem-se que ser um mago ou católico, o que é no fundo a mesma coisa, porque a religião católica é a magia regularizada e vulgarizada.
XVI - Qual é a força que nos faz desejar a uma mulher? A paixão. Bem, a religião católica só é uma religião apaixonada; é insensata e, por isso mesmo, invencível pela razão, zelosa, exclusiva e, por isso mesmo, fascinadora. Só ela faz milagres e nos faz tocar a Deus!
XVII - Mas a religião e a mulher preferida são como a esfinge: tem-se que adivinhar o seu enigma ou perecer; tem-se que possuí-las e não ser seus escravos; tem-se que compreender e não suportar os seus mistérios. Há que ser seu senhor, no fim, como Ulisses se tornou senhor de Circe. QUI HABET AURES AUDIENDI AUDIAT.
XVIII - Para o sábio, os sacerdotes são os ministros; quer dizer, os servidores da religião; não são nem seus árbitros nem seus senhores.
XIX – A nossa consciência pode ter necessidade de ser esclarecida, mas não deve ser dirigida senão pela razão unida à fé.
XX - Há que se tomar conselho de um homem esclarecido e desinteressado, de um homem livre e prudente, o qual, tendo em vista a organização actual do clero, não se encontra nem sequer entre os sacerdotes. Não há coisa mais insensata, quando se vê mal, que tomar por guia um cego, unicamente porque está tonsurado e leva uma túnica branca sobre um traje negro.
XXI - A religião sanciona o dever. Mas ela já não é um dever como o amor. É um socorro oferecido à nossa debilidade. É uma necessidade da alma. É um arrebato do coração ou não é nada.
XXII - Pode-se ir mais além da razão, mas nunca contra a razão; mais distante do que a ciência, mas nunca apesar da ciência. Desta maneira se destrói a si mesma provando-se evidentemente falsa. Então, já não é um auxiliar da força; transforma-se numa enfermidade do espírito e uma debilidade da alma...
XXIII - Para que os contrários se afirmem, seja simultânea, seja separada e alternativamente, é absolutamente necessário que não sejam contraditórios.
XXIV - Quando o entusiasmo nos empurra além da razão, parece negar a razão, mas quando a razão vem por sua vez corrigir os erros da fé , parece rechaçar a fé. Uma e outra, no entanto, nos conduzem por sua vez ao progresso; como na marcha nos apoiamos alternativamente nas duas pernas.
XXV - O homem que caminha não se apoia nunca senão sobre um pé de cada vez. Aquele que apoia ao mesmo tempo os dois pés no chão não caminha. Mas o erro de muitos homens é querer servir-se exclusivamente de razão ou da fé e assemelhar-se assim a um menino que não quisesse caminhar senão sobre um pé somente.
XXVI - Quando se ama não se raciocina. Quando se raciocina parece que não se ama. Quando se raciocina depois de haver amado, compreende-se porque se amava. Quando se ama depois de haver raciocinado, ama-se melhor. Eis aqui o sendeiro do progresso das almas.
XXVII - Quando se tem um pé sobre o qual não se pode apoiar-se sem cair, há que cortá-lo, disse Jesus Cristo. O remédio é violento e Jesus Cristo dizia isto, sem dúvida, porque no seu tempo não se havia inventado a ortopedia. Mas tem-se seguido demasiado o seu conselho e é por isso que a Igreja coxeia do lado da razão e a filosofia coxeia do lado da fé.
XXVIII - Atar, juntas, as duas pernas seria como torná-las uma; e, isto tornaria impossível o caminhar. Para que as duas pernas prestem mútuo socorro, é preciso que estejam separadas e absolutamente livres uma da outra. É o mesmo para a razão e para a fé. Impor crenças à razão é pedir a fé demonstrações científicas é paralisar uma pela outra. Quando se tem uma perna que atrapalha a outra, se é coxo; e, o grande problema actual é encontrar a ortopedia das almas. Aqueles que compreenderam os nossos livros eu tenho, quiçá, o direito de dizer-lhes: EUREKA! Estabelecer que a solução de um problema é necessária é provar que ela é possível, e provar que é possível é dá-la.
XXIX - Conciliar a fé e a razão é crer que o dogma universal, sob as suas formas diversas, é a expressão progressiva das aspirações humanas em direcção à Divindade; aspirações que não são nem fictícias nas suas fontes nem arbitrárias nas suas formas; aspirações que provém de Deus como todas as formas da natureza; que assim o dogma esta revelado e se revela sempre; porém que os símbolos não são definições científicas, as alegorias históricas, os sacramentos, operações físicas e que os evidentes absurdos de forma, frente às apreciações racionais, provam que tem-se que buscar em outra parte e mais acima, as realidades ocultas sob este misterioso ensinamento.
XXX - A consequência desta crença razoável é a catolicidade verdadeiramente universal, porque não há mais do que uma revelação como não há mais do que um Deus. Somente os cultos diferem como os símbolos e como os homens, mas a graça de Deus habita, para o justo, tanto a sinagoga como na religião, ainda que exterior, e será, tarde ou cedo, uma consequência da unidade na civilização. Pois bem, ninguém nega a beleza, a simplicidade, a majestade e a influência profunda nas almas, do culto católico, em outro tempo romano; é pois, ele, que prevalecerá porque oferece à força do mundo os mais poderosos auxiliares. Mas, como dizia o seu fundador, é preciso que morra sob a sua forma humana, quer dizer temporal, para ressuscitar no seu poder espiritual e divino. E, Lictor expedicrucem!
II - Toda a força domina a inércia, toda a inércia suporta a força.
III - Toda a acção repetida determina uma força, a força contínua, por mínima que seja, triunfa sobre toda a inércia.
IV - Os actos mais indiferentes em aparência, dirigidos por uma intenção e repetidos com persistência fazem triunfar esta intenção. É por isso que todas as grandes religiões têm multiplicado as suas práticas e atribuem grande importância a estas práticas. Um machado atirado por Hércules não furaria a massa de uma rocha, mas uma gota de água que cai no mesmo lugar, hora após hora, termina por escavar uma abóbada imensa de pedra.
V - As práticas supersticiosas são tão eficazes como as práticas religiosas, mas apresentam maior perigo porque não estão reguladas pela autoridade legítima.
VI - Fazendo regularmente o que ele mesmo chamava seus exercícios, Santo Inácio terminou por ver distintamente a Virgem. Na "cova" de Mauresa, praticando os ritos do tauróbolo, o imperador Juliano viu pessoalmente os deuses do antigo Olimpo e, sujeitando-se às cerimónias do Crimório, os feiticeiros obstinados terminam necessariamente por ver o diabo.
VII - Toda a força necessita de uma debilidade; ela exerce sobre uma debilidade e triunfa por uma debilidade.
VIII - A maior das debilidades humanas é o amor, mas é com a sua mediação que a força humana tem realizado os maiores milagres.
IX - O entusiasmo multiplica as forças da alma e o entusiasmo é excitado quase sempre por uma quimera.
X - Eu que escrevo estas linhas, sacrifício-me há quarenta anos em trabalhos ingratos porque creio na sua utilidade, como se tudo o que penso e tudo o que escrevo não houvesse sido pensado e escrito inutilmente por outros.
XI - Se o homem não tivesse um grão de loucura, não faria uso da sua razão senão para livrar-se de todas as penas e desconfiar de todos os prazeres; mas então, não viveria; vegetaria encerrado na sua concha como um molusco.
XII - A maior sabedoria do homem é escolher bem a sua loucura.
XIII - Salomão disse: entre todas as mulheres eu não encontrei nenhuma. A isto a fria razão contestaria: tomemo-las todas pelo que valem. Mas a suave loucura do amor protesta e diz: se temos escolhido mal, escolhamos novamente; depois a sabedoria agrega: vivamos de nossos sonhos, não morramos deles.
XIV - É o que ocorre com as religiões. Entre todas, nenhuma é razoável, dizia Voltaire. Eu bem o creio. São razoáveis as mulheres? A religião e a mulher do nosso espírito. Não se pode ser, por sua vez, de todas as religiões; e a nossa alma tem necessidade de praticar uma.
XV - Então, se se deseja um culto eficaz, tem-se que ser um mago ou católico, o que é no fundo a mesma coisa, porque a religião católica é a magia regularizada e vulgarizada.
XVI - Qual é a força que nos faz desejar a uma mulher? A paixão. Bem, a religião católica só é uma religião apaixonada; é insensata e, por isso mesmo, invencível pela razão, zelosa, exclusiva e, por isso mesmo, fascinadora. Só ela faz milagres e nos faz tocar a Deus!
XVII - Mas a religião e a mulher preferida são como a esfinge: tem-se que adivinhar o seu enigma ou perecer; tem-se que possuí-las e não ser seus escravos; tem-se que compreender e não suportar os seus mistérios. Há que ser seu senhor, no fim, como Ulisses se tornou senhor de Circe. QUI HABET AURES AUDIENDI AUDIAT.
XVIII - Para o sábio, os sacerdotes são os ministros; quer dizer, os servidores da religião; não são nem seus árbitros nem seus senhores.
XIX – A nossa consciência pode ter necessidade de ser esclarecida, mas não deve ser dirigida senão pela razão unida à fé.
XX - Há que se tomar conselho de um homem esclarecido e desinteressado, de um homem livre e prudente, o qual, tendo em vista a organização actual do clero, não se encontra nem sequer entre os sacerdotes. Não há coisa mais insensata, quando se vê mal, que tomar por guia um cego, unicamente porque está tonsurado e leva uma túnica branca sobre um traje negro.
XXI - A religião sanciona o dever. Mas ela já não é um dever como o amor. É um socorro oferecido à nossa debilidade. É uma necessidade da alma. É um arrebato do coração ou não é nada.
XXII - Pode-se ir mais além da razão, mas nunca contra a razão; mais distante do que a ciência, mas nunca apesar da ciência. Desta maneira se destrói a si mesma provando-se evidentemente falsa. Então, já não é um auxiliar da força; transforma-se numa enfermidade do espírito e uma debilidade da alma...
XXIII - Para que os contrários se afirmem, seja simultânea, seja separada e alternativamente, é absolutamente necessário que não sejam contraditórios.
XXIV - Quando o entusiasmo nos empurra além da razão, parece negar a razão, mas quando a razão vem por sua vez corrigir os erros da fé , parece rechaçar a fé. Uma e outra, no entanto, nos conduzem por sua vez ao progresso; como na marcha nos apoiamos alternativamente nas duas pernas.
XXV - O homem que caminha não se apoia nunca senão sobre um pé de cada vez. Aquele que apoia ao mesmo tempo os dois pés no chão não caminha. Mas o erro de muitos homens é querer servir-se exclusivamente de razão ou da fé e assemelhar-se assim a um menino que não quisesse caminhar senão sobre um pé somente.
XXVI - Quando se ama não se raciocina. Quando se raciocina parece que não se ama. Quando se raciocina depois de haver amado, compreende-se porque se amava. Quando se ama depois de haver raciocinado, ama-se melhor. Eis aqui o sendeiro do progresso das almas.
XXVII - Quando se tem um pé sobre o qual não se pode apoiar-se sem cair, há que cortá-lo, disse Jesus Cristo. O remédio é violento e Jesus Cristo dizia isto, sem dúvida, porque no seu tempo não se havia inventado a ortopedia. Mas tem-se seguido demasiado o seu conselho e é por isso que a Igreja coxeia do lado da razão e a filosofia coxeia do lado da fé.
XXVIII - Atar, juntas, as duas pernas seria como torná-las uma; e, isto tornaria impossível o caminhar. Para que as duas pernas prestem mútuo socorro, é preciso que estejam separadas e absolutamente livres uma da outra. É o mesmo para a razão e para a fé. Impor crenças à razão é pedir a fé demonstrações científicas é paralisar uma pela outra. Quando se tem uma perna que atrapalha a outra, se é coxo; e, o grande problema actual é encontrar a ortopedia das almas. Aqueles que compreenderam os nossos livros eu tenho, quiçá, o direito de dizer-lhes: EUREKA! Estabelecer que a solução de um problema é necessária é provar que ela é possível, e provar que é possível é dá-la.
XXIX - Conciliar a fé e a razão é crer que o dogma universal, sob as suas formas diversas, é a expressão progressiva das aspirações humanas em direcção à Divindade; aspirações que não são nem fictícias nas suas fontes nem arbitrárias nas suas formas; aspirações que provém de Deus como todas as formas da natureza; que assim o dogma esta revelado e se revela sempre; porém que os símbolos não são definições científicas, as alegorias históricas, os sacramentos, operações físicas e que os evidentes absurdos de forma, frente às apreciações racionais, provam que tem-se que buscar em outra parte e mais acima, as realidades ocultas sob este misterioso ensinamento.
XXX - A consequência desta crença razoável é a catolicidade verdadeiramente universal, porque não há mais do que uma revelação como não há mais do que um Deus. Somente os cultos diferem como os símbolos e como os homens, mas a graça de Deus habita, para o justo, tanto a sinagoga como na religião, ainda que exterior, e será, tarde ou cedo, uma consequência da unidade na civilização. Pois bem, ninguém nega a beleza, a simplicidade, a majestade e a influência profunda nas almas, do culto católico, em outro tempo romano; é pois, ele, que prevalecerá porque oferece à força do mundo os mais poderosos auxiliares. Mas, como dizia o seu fundador, é preciso que morra sob a sua forma humana, quer dizer temporal, para ressuscitar no seu poder espiritual e divino. E, Lictor expedicrucem!
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