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sábado, 30 de dezembro de 2017


A VERDADEIRA HISTÓRIA DA RENUNCIA DO PAPA BENTO XVI

 
O dinheiro e as trafulhices do Banco do Vaticano são o verdadeiro motivo da renúncia do papa. O vaticano, dominado por satã desde que foi criada a igreja de roma que substituiu a verdadeira igreja de Cristo, no tempo de Constantino, é um antro de pedófilos, conspiradores e ladrões sedentos de poder, imunes e capazes de tudo para defender a sua facção. a hierarquia católica deixou uma imagem terrível do seu processo de decomposição moral, segundo um artigo de Eduardo Febro, directo de Paris.

Os especialistas em assuntos do Vaticano afirmam que o Papa Bento XVI decidiu renunciar depois de regressar da sua viagem ao México e Cuba.

O papa, que “herdou” toda esta carga pesada de mafiosos, que o seu predecessor, João Paulo II preferiu ignorar ou mesmo não reprovar na maioria dos casos (que o diretor da École Pratique des Hautes Études de Paris da Sorbonne, Philippe Portier, chama “uma continuidade pesada”) descobriu numa informação elaborada por um grupo de cardeais os abismos nada espirituais nos quais a igreja havia caído: corrupção, finanças obscuras, guerras fratricidas pelo poder, roubo massivo de documentos secretos, luta entre facções, lavagem de dinheiro.

O Vaticano era um ninho de hienas enlouquecidas, numa luta sem limites, sem moral alguma, onde a cúria faminta de poder fomentava delações, traições, artimanhas e operações secretas para manter as suas prerrogativas e privilégios à frente das instituições religiosas. Era um dos Estados mais obscuros do planeta. Bento XVI ainda teve o mérito de denunciar a influência dos padres pedófilos, mas não conseguiu, nem tinha um suporte suficientemente forte para isso, modernozar a igreja e todas essas práticas do Vaticano.

Bento XVI foi, como assinala Philippe Portier, um continuador da obra de João Paulo II: “desde 1981 seguiu o reino de seu predecessor acompanhando vários textos importantes que redigiu:

·   a condenação das teologias da libertação dos anos 1984-1986;

·   o Evangelium vitae de 1995 a propósito da doutrina da igreja sobre os temas da vida;

·   o Splendor veritas, um texto fundamental redigido a quatro mãos com Wojtyla”.

Esses textos citados pelo especialista francês são um compêndio prático da visão reacionária da igreja sobre as questões políticas, sociais e científicas do mundo moderno.

O Monsenhor Georg Gänsweins, fiel secretário pessoal do papa desde 2003, tem na sua página web um lema muito paradoxal: junto ao escudo de um dragão que simboliza a lealdade o lema diz “dar testemunho da verdade”. Mas a verdade, no Vaticano, não é uma moeda corrente.

Depois do escândalo provocado pelo revelar da correspondência secreta do papa e das obscuras finanças do Vaticano, a cúria romana agiu como faria qualquer Estado. Buscou mudar a sua imagem com métodos modernos.

Para isso contratou o jornalista americano Greg Burke, membro da Opus Dei e ex-integrante da agência Reuters, da revista Time e da cadeia Fox para melhorar a deteriorada imagem da igreja. “A minha ideia é trazer luz”, disse Burke ao assumir o posto. Muito tarde. Não há nada de claro na cúpula da igreja católica.

Numa operação sabiamente montada pelos interessados em manter o status quo, com o mordomo Paolo Gabriele como testa de ferro, atacaram o poderoso secretário de Estado, Tarcisio Bertone, para o obrigar a empurrar Bento XVI à renuncia e colocar no seu lugar um italiano mais maleável a fim de travar a luta interna em curso e impedir a revelação da avalanche de segredos prester a serem divulgados por Greg Burke.

Bento XVI acabou enrolado pelas contradições que ele mesmo suscitou. Estas são tais que, uma vez tornada pública a sua renúncia, os tradicionalistas da Fraternidade de São Pio X, fundada pelo Monsenhor Lefebvre, saudaram a figura do Papa.

Não é para menos: uma das primeiras missões que Ratzinger empreendeu consistiu em suprimir as sanções canónicas adotadas contra os partidários fascistas e ultrarreacionários do Mosenhor Levebvre e, por conseguinte, legitimar no seio da igreja essa corrente retrógada que, de Pinochet a Videla, apoiou quase todas as ditaduras de ultradireita do mundo.

Bento XVI não foi o sumo pontífice da luz que os seus retratistas se empenham em pintar, mas sim o contrário. Philippe Portier assinala a respeito que o papa “se deixou engolir pela opacidade que se instalou sob o seu reinado”. E a primeira delas não é doutrinária, mas sim financeira.

O Vaticano é um tenebroso gestor de dinheiro e muitas das querelas que surgiram até ao papa Francisco têm a ver com as finanças, as contas falsas e o dinheiro dissimulado. Esta é a herança financeira deixada por João Paulo II, que, para muitos especialistas, explica a crise atual.

Em setembro de 2009, Ratzinger nomeou o banqueiro Ettore Gotti Tedeschi para o posto de presidente do Instituto para as Obras de Religião (IOR), o banco do Vaticano.

Próximo à Opus Deis, representante do Banco Santander na Itália desde 1992, Gotti Tedeschi participou da preparação da encíclica social e económica Caritas in veritate, publicada pelo papa Bento XVI. A encíclica exige mais justiça social e propõe regras mais transparentes para o sistema financeiro mundial. Tedeschi teve como objetivo regularizar as finanças do Vaticano.

As contas da Santa Sé são um labirinto de corrupção e lavagem de dinheiro cujas origens mais conhecidas remontam ao final dos anos 80, quando a justiça italiana emitiu uma ordem de prisão contra o arcebispo norteamericano Paul Marcinkus, o chamado “banqueiro de Deus”, presidente do IOR e máximo responsável pelos investimentos do Vaticano na época.

João Paulo II usou o argumento da soberania territorial do Vaticano para evitar a prisão e salvá-lo da cadeia. Não é de estranhar, pois devia-lhe muito pelo facto de ter financiado, nos anos 70, o sindicato polaco Solidariedade. Marcinkus terminou os seus dias a jogar golfe em Phoenix, no meio de um gigantesco buraco negro de perdas e investimentos mafiosos, além de vários cadáveres.

No dia 18 de junho de 1982 Roberto Calvi, presidente do Banco Ambrosiano, apareceu enforcado na ponte de Blackfriars, em Londres. O seu “suicídio” expôs uma imensa trama de corrupção que incluía, além do Banco Ambrosiano, a loja maçónica Propaganda 2 (mais conhecida como P-2), dirigida por Licio Gelli e o próprio IOR de Marcinkus.

Ettore Gotti Tedeschi recebeu uma missão quase impossível e só permaneceu três anos a frente do IOR. Ele foi demitido de forma fulminante em 2012 por supostas “irregularidades” na sua gestão. Saiu do banco poucas horas depois da detenção do mordomo do Papa, justamente no momento em que o Vaticano estava a ser investigado por suposta violação das normas contra a lavagem de dinheiro.

Na verdade, a expulsão de Tedeschi constitui outro episódio da guerra entre facções no Vaticano. Quando assumiu o seu posto, Tedeschi começou a elaborar uma informação secreta onde registou o que foi descobrindo: contas secretas onde se escondia dinheiro sujo de “políticos, intermediários, construtores e altos funcionários do Estado”. Até Matteo Messina Dernaro, o novo chefe da Cosa Nostra, tinha o seu dinheiro depositado no IOR por meio de laranjas.

Aí começou o infortúnio de Tedeschi. Quem conhece bem o Vaticano diz que o banqueiro amigo do papa foi vítima de um complô armado por conselheiros do banco com o respaldo do secretário de Estado, Monsenhor Bertone, um inimigo pessoal de Tedeschi e responsável pela comissão de cardeais que fiscaliza o funcionamento do banco. A sua destituição veio acompanhada pela difusão de um “documento” que o vinculava ao revelar de documentos roubados do papa.

A hierarquia católica deixou uma imagem do que é e sempre foi. Nada muito diferente do mundo no qual vivemos. Corrupção, capitalismo suicida, proteção de privilegiados, circuitos de poder que se autoalimentam, o Vaticano não é mais do que um reflexo da própria decadência do sistema.

 

R.

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