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domingo, 17 de dezembro de 2017


O Livro dos Sábios (1870)


RESUMO GERAL - Por definições e aforismos

(XII Capítulos)

 

CAPÍTULO IV - O MAGNETISMO


I - O magnetismo, no homem, é irradiação e atracção físicas, determinadas numa direcção pela força moral.
II - Todos os seres irradiam uns aos outros e atraem-se e repelem-se entre si, com uma força que pode ser aumentada, diminuída e dirigida pela ciência.
III - O magnetismo universal não foi ainda examinado pela ciência além das suas manifestações astrais e metálicas.
IV - Por meio da ciência, compõem-se imãs metálicos artificiais mais fortes do que os naturais.
V - Poder-se-ia chegar ao mesmo resultado para todas as especialidades de imãs.
VI - Aumenta-se o magnetismo humano natural, através do regime e do exercício; podem-se fazer imãs humanos artificiais compondo grupos e círculos equilibrados.
VII - Magnetizam-se os pares com a direita e os impares com a esquerda.
VIII - Os semelhantes repelem-se e os opostos atraem-se.
IX - Os imãs observados pela ciência têm dois pólos e um centro. O imã humano representado pelo pentagrama tem tantos pólos como centros. Os dois pólos da cabeça são os dos pés; os dois pólos da mão direita são a mão esquerda e o pé esquerdo; os dois pólos da mão esquerda são a mão direita e o pé direito; os dois pólos do pé direito são a cabeça e a mão esquerda; os dois pólos do pé esquerdo são a cabeça e a mão direita.
X - O imã humano é duplo em cada sujeito: masculino, ou seja, irradiando à direita; e feminino, ou seja, absorvendo à esquerda, com matizes e irregularidades causadas pela diferença dos hábitos e caracteres.
XI - Os sujeitos nos quais predominam o magnetismo irradiante são magnetizadores. Aqueles nos quais abunda o magnetismo absorvente são sujeitos magnéticos.
XII - Os magnetizadores, quando não se sabe resistir-lhes, podem ser fascinadores; e os sujeitos magnéticos, quando não se lhes domina, transformam-se facilmente em vampiros entre os vivos.
XIII - As mulheres irradiantes são as inspiradoras ou os flagelos dos homens débeis e as mulheres absorventes são as Dalilas dos homens fortes.
XIV - Um homem e uma mulher superiores não se harmonizarão nunca juntos. Victor Hugo e George Sand fariam um mal casal e de um ensaio de aproximação entre Benjamin Constant e Mme. de Stael nasceu a triste e bela novela de Adolfo. Para amar a Lelia tem-se que ser Estênio e resignar-se; morte do espírito e do coração.
XV - J.J. Rousseau obedecia a esta lei magnética quando se casou com Teresa Levasseur. Teresa foi por longo tempo para ele uma companheira suave e delicada; porém, ele deixou-a ver tais debilidades que ela acreditou ser superior a ele e tornou-se despótica. Quando o achou completamente louco, preferiu um lacaio. Sim, se quer permanecer senhor entre os débeis não há que revelar jamais debilidade com eles.
XVI - Duas pessoas formam uma força, três formam um grupo, quatro formam um círculo. Na cena simbólica da transfiguração, Jesus ao centro está polarizado no céu por Moisés e Elias; e sobre a terra, São Pedro ao centro, está polarizado por São Tiago e São João. Dois grupos reunidos formam um círculo perfeito.
XVII - Doze homens activos e disposto a dar a sua vida para difundir a ideia de um mestre podem mudar a paz do mundo, os apóstolos demonstraram-no fazendo milagres.
XVIII - Existe a necessidade de compadres para os escamoteadores e de crentes para os profetas. Sem isto nada triunfa.
XIX - Os feiticeiros fazem verdadeiros milagres quando estão ajudados pela credulidade dos imbecis.
XX - Porém, eu vos digo, em verdade, taumaturgos pequenos e grandes; sejais profetas, embusteiros ou feiticeiros, não vos presteis jamais ao ridículo. Nada quebra tanto os círculos magnéticos como uma gargalhada.
XXI - Um profeta a quem mata-se, renasce ao terceiro dia; porém, um profeta de quem se ri, não é mais do que um louco ou um jumento.
XXII - Poncio Pilatos assim compreendeu quando apresentou Jesus ao povo disfarçado de rei de uma casa de loucos. Para impedir este homem de ser um Deus, era necessário transformá-lo numa figura ridícula; porém, os sacerdotes aos quais havia ferido de morte, queriam sangue e fizeram dele um mártir. Todos sabem o que lhes custou este erro.
XXIII - Garibaldi, e Roland de Palermo, o Dom Quixote de Mentana, diz-se, acaba de escrever uma novela. Não sei se este livro está bem ou mal; porém, terminará de uma forma bastante burlesca a história de Garibaldi. Que não sonha mais este herói em, conquistar os reinos; não poderá de agora em diante, conquistar senão a ilha da Barataria.
XXIV - Desde o escandaloso e ridículo assunto do colar, Cagliostro nada mais fez de maravilhoso; e acabou sendo tolamente encarcerado em Roma, onde morre como charlatão, depois de ter sido grande copta.
XXV - Os charlatães gostam de exibir-se e os verdadeiros adeptos ocultam-se. Com malabarismo, ganha-se dinheiro; fazendo obras de ciência pode-se atrair perseguições. Não é a luz que temem os sábios, é as olhadas e obsessões dos loucos.
XXVI - A razão existe em si mesma como as matemáticas puras. Não está no homem: os homens agem segundo os seus sentimentos pessoais que não são nunca a absoluta razão. Pois bem, os sentimentos humanos formam-se pela educação, pelos conselhos e pelo exemplo; é por isto que existe solidariedade entre os homens; e que Deus, ou seja, a razão suprema, responde por todos eles e deve salvar a todos. É por isso também que as grandes paixões são contagiosas; e as fortes vontades, soberanas entre os homens.
XXVII - Sendo a razão o limite contra o qual se rompem fatalmente todas as aspirações da loucura humana, a grande maioria dos homens foge e detesta a razão. Se os apaixona furiosamente e se os ata invencivelmente divinizando para eles a loucura, é porque encontram neste sacrilégio a apoteose de seus desejos.
XXVIII - Um homem sem paixões não é nunca um magnetizador; porque não um foco de embriaguez; pode acalmar, porém não excita. Os verdadeiros apóstolos da razão jamais fizeram prosélitos; a vantagem que tem sobre os demais é que, se não arrastam a ninguém, ninguém tampouco os arrasta.
XXIX - Uma imensa loucura a serviço de uma grande razão, ocultando a razão e decorando a loucura, eis o segredo do êxito e do arraste das multidões.
XXX - Os sábios que morrem pela razão legam a sua ciência à loucura. Deve-se viver pela razão, servindo-se da loucura: HOC EST ARCANUN MAGNUM.
XXXI - É possível ligar-se a verdade; porém, só é possível apaixonar-se pela mentira; porque a paixão é o arrebatamento e a obstinação e o absurdo.
XXXII - Todas as religiões humanas têm um lado verdadeiro e outro falso. É pelo seu lado falso somente que inspiram o fanatismo.
XXXIII - Para fazer os homens aceitarem uma nova verdade há que envolvê-la com novas mentiras. Estes véus sucessivos são as chamadas revelações. As revelações sucessivas são e devem ser uma sucessão de mentiras, já que a verdade não muda. Dizer que Deus fez-se judeu com Moisés, depois cristão com Jesus Cristo, logo muçulmano com Mahomé... não é falar seriamente.
XXXIV - As correntes magnéticas vão de um pólo ao outro passando pelo centro sem jamais deter-se neste. A reacção é sempre proporcional a acção; porém, às vezes, a reacção ganha em duração ao que perde em intensidade. Depois de um ano de louco amor, pode-se odiar friamente durante vinte anos.
XXXV - O magnetismo do mal opera mais rapidamente e mais violentamente que o magnetismo do bem; porém, quebra-se por sua própria violência e o bem sempre triunfa. O bem é conservador e reparador, o mal é perturbador e destruidor.
XXXVI - O magnetismo é a serpente astral que promete a mulher um poder divino e que a arrasta à morte. É também a dupla serpente que se enrola em redor do caduceu de Hermes.
XXXVII - O caduceu é o centro do equilíbrio. Sejais donos de vós mesmos e sereis senhores dos outros. Sejais equilibrados e sereis equilibrantes. A vara de Moisés é a mesma de Hermes. Quando a lança se transforma em serpente; quando se torna a pegá-la, transforma-se outra vez em vara. Nesta alegoria tem-se que ver o grande segredo da direcção do magnetismo.
XXXVIII - O que se irradia de nós sob o império da nossa vontade, volta a nós sob o império da fatalidade. Se é luz de vida, nos imortalizará; se é o fósforo da morte, nos fará morrer..., talvez para sempre.

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