O Livro dos Sábios (1870)
RESUMO GERAL - Por definições e aforismos
(XII Capítulos)
CAPÍTULO VII - OCULTISMO
I - Liberdade, igualdade, fraternidade! diz a democracia moderna. Sim,
liberdade para os sábios, igualdade entre os homens elevados ao mesmo grau da
hierarquia humana e fraternidade para a gente de bem. Porém servidão necessária
para os insensatos, hierarquia para a humanidade inteira e guerra entre os
egoístas e os malvados. Eis aí as leis da natureza.
II - A humanidade está colocada sobre uma escada imensa cujo pé submerge nas trevas e cujo cume oculta-se na luz. Entre estas duas extremidades, existem inúmeros degraus.
III - Aos homens da luz, as palavras claras, aos homens das trevas as palavras escuras e aos intermediários, a discussão eterna das palavras duvidosas.
IV - Os homens que estão acima são os videntes; os homens que estão abaixo são os crentes; os homens do meio são os sistemáticos e os que duvidam.
V - Os videntes são os sábios, os crentes cegos são os loucos e os que duvidam não são nada, porém oscilam entre a sabedoria e a loucura, subindo às vezes, descendo outras e não se achando bem em nenhuma parte.
VI - É necessário a verdade para os sábios, é necessária a dúvida para os arrazoadores, é necessária a fábula para os loucos e as crianças. Conta uma fábula a um sábio e verá nela uma verdade. Dizei uma verdade a um raciocinador e a revogará como dúvida; dizei uma verdade a um louco e a tornará como uma fábula.
VII - Não se tem, pois, que falar a todos os homens da mesma forma...
VIII - Eis aqui porque os dogmas religiosos devem ser obscuros e até absurdos em aparência. A religião dos sábios é a alta filosofia e a religião propriamente dita substitui, para os loucos, a filosofia da qual são incapazes. Enquanto os que duvidam, não têm nem filosofia nem religião. Uma religião cujas fórmulas foram razoáveis, seria inútil para os sábios e desprezada pelos loucos. A melhor religião, ou seja, a mais apropriada às necessidades da estupidez humana, deve ser, pois, a mais obscura e a mais absurda de todas e é isto que faz a superioridade incontestável do Catolicismo Romano.
IX - Para os sábios, esta religião sublime é uma irmã de Caridade. Para os loucos, é a infalibilidade pessoal do Papa. Para os arrazoadores, é uma estupidez... mais forte, porém, e mais vitoriosa que a sua pretendida razão.
X - Não se dá a religião aos loucos com razões e virtudes; eles precisam de fórmulas ininteligíveis e práticas minuciosas que os ocupem sem que tenham necessidade de pensar. E não se pode nem sequer fazer-lhes aceitar a razão senão sob a máscara do mistério e da loucura. Se Moisés tivesse demonstrado sabiamente aos judeus que a higiene é necessária para a saúde, os judeus teriam ficado cheios de parasitas e de lepra. Em lugar de fazê-lo, ele prescreveu-lhes abluções legais em certas horas e com certas cerimónias. Deixou-lhes crer que Deus se ocupava das suas vestimentas e das suas vasilhas. É necessário purificar os vasos, quebrar os recipientes que se tem impregnado de ar viciado ou que tem servido durante muito tempo, não ter relações com uma mulher durante os seus períodos, etc., etc. Tudo isto unicamente porque Deus o ordena e tais devem ser as práticas do seu povo privilegiado. Os rabinos têm-se sobrepujado a Moisés e têm dado às observações legais um carácter de tirania e de absurdidade que é a própria força do Judaísmo e que o tem feito conservar-se através das idades, apesar das perseguições do fanatismo e os progressos da filosofia. Eis aqui o que deveriam compreender os livres-pensadores.
XI - Quando o Papa Pio IX, por haver ensaiado conciliar a fé e o progresso, a religião e a liberdade, viu-se expulso da sua cidade e da sua cadeira pelos companheiros de Garibaldi e os agitadores de Mazzini, viu que tinha percorrido um caminho falso. Compreendeu do absolutismo, que se a fé se relaxava, é porque tinha necessidades e que se a autoridade eclesiástica se debilitava é porque carecia de mais profundos mistérios e de mais absurdidades inexplicáveis. Então canonizou São Labre, proclamou a Imaculada Conceição e publicou a Syllabus. O génio sacerdotal reconheceu então nele o seu verdadeiro mestre e os bispos reunidos em Roma estiveram dispostos a proclamá-lo infalível.
XII - O que a Igreja precisa não são homens de génio: são directores hábeis e sobretudo Santos; ou seja, magnetizadores entusiastas e observadores. Os homens de génio jamais foram católicos, pois Bossuet era anglicano, Fenélon quistista, Pascal jansenista, Chateaubriand romântico, Lamennais socialista; e, ainda agora os que perturbam a Igreja São os homens de talento: Monsenhor Dupanloup, o bispo Strossmayer, o padre Cratry, o padre Jacinto; todos esses homens notáveis que possuem o génio do século e não têm o do sacerdócio.
XIII - As opiniões humanas buscam em vão aniquilar o que a natureza conserva.
XIV - Fala-se de religião natural; porém, a mais natural das religiões é a mais absurda, já que é muito natural que os homens caiam no absurdo quando querem formular o desconhecido.
XV - Falai de sabedoria às crianças e farão caretas e pensarão em Croquemitaine; porém, contai-lhes "Pele de Asno" e vereis como o escutarão.
XVI - Vós dizeis que as crianças cresceram. Sem dúvida; porém, haverá sempre outras crianças.
XVII - Não discutireis sobre cores com os cegos, senão conduzi-os; e, não fecheis os olhos para deixar conduzir-vos por eles. Os oráculos que se recebem de olhos fechados são aqueles dos sonhos ou da mentira. Entre os hebreus, quando se queria fazer falar a Deus tirava-se a sorte; procedimento simples, porém ingénuo. Entre os cristãos têm-se colocado primeiro, as respostas de Deus na maioria de votos nos concílios, sem reflectir muito no pequeno número de eleitos e no grande número de loucos.
Depois, têm-se chegado a fazer depender o oráculo de Deus do desejo do Papa. O concílio de Nicéia decidiu que o filho de Deus é consubstancial com o seu pai; o qual é, segundo a expressão do... Evangelho, super-substancial, ou seja por cima de toda a substância. O concílio de Éfeso declarou que Deus tem uma mulher por mãe. O Papa Pio IX quis que esta mulher tivesse sido concebida sem pecado, o que faz depender o pecado original do capricho de Deus; já que pode executar aquele que melhor lhe parecer. Colocar em votação uma fórmula obscura ou contraditória, não é o mesmo que tirar sorte para obter um oráculo? Tanto vale a decisão do Papa como a de um concílio, quando se trata da substância de Deus ou da imaculada Virgem. E, se trata de saber UTRUM CHIMDERA IN VACUM BOMBINANS POSSIT COMEDER SECUNDAS INTENTIONES, se o Papa diz, "sim", eu não terei força de dizer "não", e se ele diz "não", nada me provará que seja "sim" o que devia-se dizer. Porém, que por semelhantes questões os príncipes e os povos possam armar-se uns contra os outros é o que não se poderá suportar mais, uma vez que os homens chegaram a ter um pouco de razão.
XVIII - Sendo o infinito um absurdo que se afirma invencível frente à ciência, precisam-se de fórmulas absurdas para manter no homem que não arrazoa, o grande sonho do infinito.
XIX - Dada uma quantidade de homens sérios aos quais interessa absolutamente saber se há que chamar branco ou preto, redonda ou quadrada uma entidade abstracta, impalpável e invisível; que é melhor, tirar a sorte, pôr a coisa em votação ou aceitar o que resolve o presidente da assembleia, supondo que o que ele diga seja incontestável? Os três procedimentos são insensatos; porém o último é ainda o menos irracional; porque podem-se preparar os dados, podem-se comprar os votos, no entanto está-se seguro de que o Papa operará sempre no seu interesse, que é o do Catolicismo Romano.
XX - Buscando a Deus no absurdo encontra-se ao diabo; porém, procurando ao diabo não se encontra a razão. Analisai a Deus e ao diabo do vulgo; encontrareis no Deus o ideal poetizado do diabo e no diabo a caricatura de Deus.
II - A humanidade está colocada sobre uma escada imensa cujo pé submerge nas trevas e cujo cume oculta-se na luz. Entre estas duas extremidades, existem inúmeros degraus.
III - Aos homens da luz, as palavras claras, aos homens das trevas as palavras escuras e aos intermediários, a discussão eterna das palavras duvidosas.
IV - Os homens que estão acima são os videntes; os homens que estão abaixo são os crentes; os homens do meio são os sistemáticos e os que duvidam.
V - Os videntes são os sábios, os crentes cegos são os loucos e os que duvidam não são nada, porém oscilam entre a sabedoria e a loucura, subindo às vezes, descendo outras e não se achando bem em nenhuma parte.
VI - É necessário a verdade para os sábios, é necessária a dúvida para os arrazoadores, é necessária a fábula para os loucos e as crianças. Conta uma fábula a um sábio e verá nela uma verdade. Dizei uma verdade a um raciocinador e a revogará como dúvida; dizei uma verdade a um louco e a tornará como uma fábula.
VII - Não se tem, pois, que falar a todos os homens da mesma forma...
VIII - Eis aqui porque os dogmas religiosos devem ser obscuros e até absurdos em aparência. A religião dos sábios é a alta filosofia e a religião propriamente dita substitui, para os loucos, a filosofia da qual são incapazes. Enquanto os que duvidam, não têm nem filosofia nem religião. Uma religião cujas fórmulas foram razoáveis, seria inútil para os sábios e desprezada pelos loucos. A melhor religião, ou seja, a mais apropriada às necessidades da estupidez humana, deve ser, pois, a mais obscura e a mais absurda de todas e é isto que faz a superioridade incontestável do Catolicismo Romano.
IX - Para os sábios, esta religião sublime é uma irmã de Caridade. Para os loucos, é a infalibilidade pessoal do Papa. Para os arrazoadores, é uma estupidez... mais forte, porém, e mais vitoriosa que a sua pretendida razão.
X - Não se dá a religião aos loucos com razões e virtudes; eles precisam de fórmulas ininteligíveis e práticas minuciosas que os ocupem sem que tenham necessidade de pensar. E não se pode nem sequer fazer-lhes aceitar a razão senão sob a máscara do mistério e da loucura. Se Moisés tivesse demonstrado sabiamente aos judeus que a higiene é necessária para a saúde, os judeus teriam ficado cheios de parasitas e de lepra. Em lugar de fazê-lo, ele prescreveu-lhes abluções legais em certas horas e com certas cerimónias. Deixou-lhes crer que Deus se ocupava das suas vestimentas e das suas vasilhas. É necessário purificar os vasos, quebrar os recipientes que se tem impregnado de ar viciado ou que tem servido durante muito tempo, não ter relações com uma mulher durante os seus períodos, etc., etc. Tudo isto unicamente porque Deus o ordena e tais devem ser as práticas do seu povo privilegiado. Os rabinos têm-se sobrepujado a Moisés e têm dado às observações legais um carácter de tirania e de absurdidade que é a própria força do Judaísmo e que o tem feito conservar-se através das idades, apesar das perseguições do fanatismo e os progressos da filosofia. Eis aqui o que deveriam compreender os livres-pensadores.
XI - Quando o Papa Pio IX, por haver ensaiado conciliar a fé e o progresso, a religião e a liberdade, viu-se expulso da sua cidade e da sua cadeira pelos companheiros de Garibaldi e os agitadores de Mazzini, viu que tinha percorrido um caminho falso. Compreendeu do absolutismo, que se a fé se relaxava, é porque tinha necessidades e que se a autoridade eclesiástica se debilitava é porque carecia de mais profundos mistérios e de mais absurdidades inexplicáveis. Então canonizou São Labre, proclamou a Imaculada Conceição e publicou a Syllabus. O génio sacerdotal reconheceu então nele o seu verdadeiro mestre e os bispos reunidos em Roma estiveram dispostos a proclamá-lo infalível.
XII - O que a Igreja precisa não são homens de génio: são directores hábeis e sobretudo Santos; ou seja, magnetizadores entusiastas e observadores. Os homens de génio jamais foram católicos, pois Bossuet era anglicano, Fenélon quistista, Pascal jansenista, Chateaubriand romântico, Lamennais socialista; e, ainda agora os que perturbam a Igreja São os homens de talento: Monsenhor Dupanloup, o bispo Strossmayer, o padre Cratry, o padre Jacinto; todos esses homens notáveis que possuem o génio do século e não têm o do sacerdócio.
XIII - As opiniões humanas buscam em vão aniquilar o que a natureza conserva.
XIV - Fala-se de religião natural; porém, a mais natural das religiões é a mais absurda, já que é muito natural que os homens caiam no absurdo quando querem formular o desconhecido.
XV - Falai de sabedoria às crianças e farão caretas e pensarão em Croquemitaine; porém, contai-lhes "Pele de Asno" e vereis como o escutarão.
XVI - Vós dizeis que as crianças cresceram. Sem dúvida; porém, haverá sempre outras crianças.
XVII - Não discutireis sobre cores com os cegos, senão conduzi-os; e, não fecheis os olhos para deixar conduzir-vos por eles. Os oráculos que se recebem de olhos fechados são aqueles dos sonhos ou da mentira. Entre os hebreus, quando se queria fazer falar a Deus tirava-se a sorte; procedimento simples, porém ingénuo. Entre os cristãos têm-se colocado primeiro, as respostas de Deus na maioria de votos nos concílios, sem reflectir muito no pequeno número de eleitos e no grande número de loucos.
Depois, têm-se chegado a fazer depender o oráculo de Deus do desejo do Papa. O concílio de Nicéia decidiu que o filho de Deus é consubstancial com o seu pai; o qual é, segundo a expressão do... Evangelho, super-substancial, ou seja por cima de toda a substância. O concílio de Éfeso declarou que Deus tem uma mulher por mãe. O Papa Pio IX quis que esta mulher tivesse sido concebida sem pecado, o que faz depender o pecado original do capricho de Deus; já que pode executar aquele que melhor lhe parecer. Colocar em votação uma fórmula obscura ou contraditória, não é o mesmo que tirar sorte para obter um oráculo? Tanto vale a decisão do Papa como a de um concílio, quando se trata da substância de Deus ou da imaculada Virgem. E, se trata de saber UTRUM CHIMDERA IN VACUM BOMBINANS POSSIT COMEDER SECUNDAS INTENTIONES, se o Papa diz, "sim", eu não terei força de dizer "não", e se ele diz "não", nada me provará que seja "sim" o que devia-se dizer. Porém, que por semelhantes questões os príncipes e os povos possam armar-se uns contra os outros é o que não se poderá suportar mais, uma vez que os homens chegaram a ter um pouco de razão.
XVIII - Sendo o infinito um absurdo que se afirma invencível frente à ciência, precisam-se de fórmulas absurdas para manter no homem que não arrazoa, o grande sonho do infinito.
XIX - Dada uma quantidade de homens sérios aos quais interessa absolutamente saber se há que chamar branco ou preto, redonda ou quadrada uma entidade abstracta, impalpável e invisível; que é melhor, tirar a sorte, pôr a coisa em votação ou aceitar o que resolve o presidente da assembleia, supondo que o que ele diga seja incontestável? Os três procedimentos são insensatos; porém o último é ainda o menos irracional; porque podem-se preparar os dados, podem-se comprar os votos, no entanto está-se seguro de que o Papa operará sempre no seu interesse, que é o do Catolicismo Romano.
XX - Buscando a Deus no absurdo encontra-se ao diabo; porém, procurando ao diabo não se encontra a razão. Analisai a Deus e ao diabo do vulgo; encontrareis no Deus o ideal poetizado do diabo e no diabo a caricatura de Deus.
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