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segunda-feira, 18 de dezembro de 2017


O Livro dos Sábios (1870)


RESUMO GERAL - Por definições e aforismos

(XII Capítulos)

 
CAPÍTULO V - A MORTE
I - A morte é a dissolução necessária das formações imperfeitas; é a reabsorção dos esboços da vida particular no grande trabalho da vida universal. Não é imortal mais que o perfeito.
II - É um banho de esquecimento. É a fonte da juventude onde submergem por um lado os anciãos e de onde saem da sombra as crianças.
III - A morte é a transformação dos vivos. Os cadáveres são as folhas mortas da árvore da vida que, na Primavera, terá ainda todas as suas folhas. A ressurreição dos homens assemelha-se eternamente à das folhas.
IV - As formas perecedouras estão determinadas pelos tipos imortais.
V - Todos os que viverem sobre a terra vivem nela ainda nos moldes novos dos seus tipos; porém, as almas que depuseram o seu tipo, recebem em outra parte uma nova forma determinada por um tipo mais perfeito, elevando-se sempre na escala dos mundos. Os maus e vazios são quebrados e as sua matéria retorna à massa comum.
VI – As nossas almas são como uma música da qual os nossos corpos são os instrumentos; a música subsiste sem o instrumento; porém, não se pode fazer ouvir. Sem um mediador material, o material é inconcebível e inapreensível.
VII - O homem não guarda das suas existências passadas senão predisposições particulares na existência presente.
VIII - O pecado original pelo qual Jesus Cristo responde, é a inocência devolvida a todos os homens. A responsabilidade ante Deus supõe a perfeição e o homem perfeito é impecável.
IX - As evocações são as condenações das lembranças; e a colocação mediante imagens, das sombras. Evocar aqui em baixo os que não estão mais aqui, é fazer surgir o seu tipo da imaginação da natureza.
X - Para estar em comunicação directa com a imaginação da natureza têm-se que estar no sonho, na embriagues, no êxtase, na catalepsia ou na loucura.
XI - A lembrança eterna não conserva mais do que as coisas imperecíveis. Tudo o que acontece no tempo pertence de direito ao esquecimento.
XII - A conservação dos cadáveres é uma resistência às leis da natureza. É um ultraje ao pudor da morte que oculta as suas obras de destruição como nós devemos ocultar as da geração. Conservar os cadáveres e criar fantasmas na imaginação da terra. Os espectros do pesadelo, da alucinação e do medo não são senão as fotografias errantes dos cadáveres conservados.
XIII - São os cadáveres conservados ou mal destruídos os que espargem sobre os vivos a cólera, a peste, as doenças contagiosas, a tristeza, O cepticismo e o tédio para a vida. A morte exala-se da morte. Os cemitérios envenenam a atmosfera das cidades e as mesmas dos cadáveres voltam raquíticas às crianças até ao seio das suas mães.
XIV - Perto de Jerusalém no vale do Gehenna, alimentava-se um fogo perpétuo para consumir os detritos e os cadáveres dos animais, e é a esse fogo eterno que Jesus faz alusão quando diz que os malvados serão lançados na Gehenna, para fazer entender que as suas almas mortas serão tratadas como cadáveres.
XV - O Talmude diz que as almas dos que não acreditaram na imortalidade, não serão imortais. Só a fé dá a imortalidade pessoal; a ciência e a razão não afirmam senão a imortalidade colectiva.
XVI - No catecismo dos israelitas lê-se: "Nós cremos nas recompensas e nos castigos após a morte; porém, não sabemos de que natureza são estes castigos e estas recompensas". Positivamente, sobre isto, podemos conjecturar ou aceitar crenças, porém, não sabemos absolutamente nada, e os cristãos razoáveis devem pensar como os israelitas. Pois bem, se sobre isto não sabemos nada, não é necessário que o saibamos. Façamos, pois, este livro e vivamos em paz.
XVII - O pecado mortal é o suicídio da alma. Este suicídio teria lugar se o homem se entregasse ao mal com toda a plenitude da sua razão com conhecimento perfeito do bem e do mal e com inteira liberdade; o qual parece impossível de facto, porém é possível de direito, já que a essência da personalidade independente é uma liberdade ilimitada: Deus não impõe nada ao homem, nem sequer o ser. O homem tem, o direito de se subtrair até à bondade de Deus e o Dogma do inferno eterno não é mais do que a afirmação de liberdade eterna.
XVIII - Deus não precipita ninguém ao inferno. São os homens que podem ir livremente a ele, definitivamente e a sua eleição.
XIX - Os que estão no inferno, ou seja, nas trevas do mal e nos suplícios do castigo necessário, sem ter desejado absolutamente, são chamados a sair, e este inferno não é para eles mais do que o purgatório.
XX - O réprobo completo, absoluto e sem retorno é Satã que é um ser sem razão, porém uma hipótese necessária.
XXI - Satã é a última palavra da criação. É o finito, infinitamente emancipado. Quis ser semelhante a Deus do qual é o oposto. Deus é a hipótese necessária da razão, Satã é a hipótese necessária do sem razão afirmando-se como liberdade.
XXII - Para ser imortal no bem, há que identificar-se com Deus. Para ser imortal no mal, há que identificar-se com Satã. Tais são os dois pólos do mundo das almas; entre estes dois pólos vegetam e morrem sem lembrança os animais e os homens inúteis.

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