COMO OS
PAÍSES SUBDESENVOLVIDOS SE ENDIVIDAM
Houve uma altura em que eu participei num fórum sobre as
potencialidades de Angola, e a maioria entusiasmada tecia as maiores espectativas
sobre a recuperação da economia de Angola, numa de "arregaçar as mangas"
e trabalhar. Doce ingenuidade.
Este texto, preparado por mim, é uma resenha muito sucinta sobre a
guerra de bastidores e prova de que não há "mangas arregaçadas" nem
"muito boas vontades" de simples cidadãos ingénuos para fazerem a
economia de um país progredir para o bem de todos.
A economia global é que decide o fim de cada um. Há os
privilegiados, que nunca abrirão mão do que têm, (A não ser com mais uma guerra civil e que a economia global mude de
mãos) e a grande maioria destinada ao trabalho escravo.
Há profissionais especialmente preparados para atrair líderes de
países subdesenvolvidos e convencê-los a aceitarem empréstimos do FMI e do
Banco Mundial.
O argumento utilizado é a de que o dinheiro seria usado para
expandir a infra-estrutura das estradas, ferrovias, centrais de energia eléctrica,
telecomunicações, o que, portanto, traria prosperidade a esses países.
Estes profissionais fazem isto como economistas corporativos que
deliberadamente exageram o potencial do retorno económico dos investimentos.
Embora os seus projectos sejam sempre descritos como humanitários, os objectivos
reais são, geralmente, contratos lucrativos para as firmas multinacionais de
construção, e convencer os países a contrair empréstimos que nunca conseguirão
pagar.
Sabem que alguns políticos e famílias bem relacionadas, dentro
desses países, se tornarão muito ricos enquanto o padrão de vida da maior parte
da população declinará.
Quando o pagamento dos empréstimos se tornar impossível, as
agências de empréstimos e as grandes empresas então agirão para tomar o controlo
do governo e dos recursos do país, o que também é parte do plano. Por outras
palavras, no mundo moderno, a conquista pela espada deu lugar à conquista pelos
empréstimos.
Esses profissionais agem sobre objectivos básicos e têm de
justificar os enormes empréstimos internacionais, os quais canalizarão rios de
dinheiro de volta para a empresa que representam e outras companhias, por meio
de gigantescos projectos de engenharia e construção. (sucedeu com Angola. Em vez de canalizarem recursos para pequenos
projectos com abrir poços de água e formação de técnico-profissionais para a
agricultura, preocuparam-se em projectos megalómanos e formação de doutores e
engenheiros).
Depois de pagarem os empréstimos, acima dos seus recursos, estas
nações subdesenvolvidas, estarão de tal maneira enredadas que serão
dependentes, para sempre, e serão alvos fáceis dos credores quando estes
precisarem de favores, como de bases militares, votos favoráveis na ONU, petróleo
e outros recursos naturais.O aspecto velado de cada um destes projectos é o de
que pretendem criar grandes lucros para os contratantes, e fazer a felicidade
de um punhado de famílias ricas e influentes nos países recebedores, enquanto
assegura a dependência financeira a longo prazo e, portanto, a lealdade
política de governos em redor do mundo. Quanto maior o empréstimo, melhor. O facto
de a carga da dívida colocada sobre um país privar os seus cidadãos mais pobres
da saúde, educação e de outros serviços sociais por décadas no futuro não é levado
em consideração.A subtileza da construção deste império moderno faria os
centuriões romanos, os conquistadores espanhóis e as forças colonizadoras
europeias dos séculos XVIII e XIX de se envergonharem.Estes profissionais são
astutos. Aprendem com a história. Hoje não usam espadas. Não envergam
armaduras ou roupas especiais para se protegerem. Nos países como o Equador, a
Nigéria e a Indonésia, vestem-se como professores e donos de lojas. Em
Washington e Paris, parecem burocratas do governo e banqueiros. Parecem
humildes, normais. Visitam os locais dos projectos e passeiam pelas aldeias
empobrecidas. Professam o altruísmo, falam oficialmente sobre as maravilhosas
coisas humanitárias que estão a fazer. Enchem as mesas de conferências das comissões
dos governos com as suas explanações electrónicas e projecções financeiras, e
proferem palestras na "Harvard
Business School" sobre os milagres da macroeconomia. São conhecidos,
acessíveis. Ou se apresentam como tais e são aceites. É assim que o sistema
funciona. Raramente recorrem a alguma coisa ilegal porque o próprio sistema é
construído sobre subterfúgios, e o sistema por definição é legítimo.
Entretanto, se falharem, uns tipos ainda mais sinistros entram em
acção, os quais, estes profissionais conhecidos por assassinos económicos,
chamam de chacais, homens cuja linhagem remonta directamente aos impérios
primitivos. Os chacais estão sempre presentes, a espreitar nas sombras. Quando
eles aparecem, os chefes de Estado são derrubados ou mortos em violentos
"acidentes". Se por acaso os chacais falham, como falharam no
Afeganistão e no Iraque, então os antigos modelos ressurgem. Quando os chacais
falham, jovens americanos (e europeus) são enviados para matar e morrer.
Fonte:
Confissões de um Assassino Económico
Autor: John Perkins
Editora Cultrix, 272 páginas, R$37,00, ISBN 85-316-0880-5
http://www.pensamento-cultrix.com.br
Autor: John Perkins
Editora Cultrix, 272 páginas, R$37,00, ISBN 85-316-0880-5
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