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quarta-feira, 23 de novembro de 2016


A Influência do Yoga na Transformação da Cultura Ocidental


Forcing Change, Volume 9, Edição 7.

(Tradução para português de Portugal e alguns sublinhados meus sem alterar o sentido do texto)

A sociedade ocidental está a passar por uma transformação social e espiritual. Este ensaio expõe o papel do ioga e do Hinduísmo — e examina a crescente aceitação que a prática do ioga está a receber dentro da comunidade cristã. Este é um ensaio importante que poderosa e criticamente revela a hinduização da vida secular e das igrejas.
Este artigo foi publicado originalmente na edição do Verão de 2015 de Jubilee, uma publicação oficial do Instituto Esdras para o Cristianismo Contemporâneo. Ele é a adaptação de uma palestra apresentada pela autora num evento da TruthXChange em 2014. Reimpresso mediante permissão. Pamela Frost é uma pesquisadora junto ao ministério TruthXChange.

 


O "Evangelho" Segundo o ioga

Autora: Pamela Frost (www.TruthXCange.com)

  Ouvimos constantemente a frase "espiritual, porém não religioso" ser repetida como um mantra cultural, implicando uma vaga experiência espiritual que afirma mais autenticidade do que uma religião organizada, particularmente o Cristianismo. As pessoas gostam de se sentirem espirituais, mas não gostam da ideia de terem de prestar contas a Deus e de precisarem de um salvador que não seja elas mesmas. Elas preferem imaginar o divino como uma presença universal que elas podem controlar e manipular segundo os seus próprios desejos, voltando-se para dentro de si mesmas. O ioga foi criado para facilitar exatamente essa experiência, seguindo os princípios da filosofia hindu da Vedanta, uma forma de Monismo, que está a influenciar rapidamente o pensamento no mundo ocidental. [NT: Monismo. Filosofia. Sistema filosófico segundo o qual existe apenas uma espécie de realidade: o monismo de Spinoza identifica Deus com a natureza. Fonte: Dicionário Online de Português http://www.dicio.com.br].

Vivemos num tempo em que as verdades oracionais do Cristianismo são rejeitadas cada vez mais como opressoras e fora de moda. A crença no Deus Criador que é distinto da Sua criação, que na pessoa de Jesus Cristo fez a expiação pelo sangue para que os pecadores perdidos possam-se reconciliar com o Pai — a crença nesta verdadeira Boas Novas é rejeitada cada vez mais, não somente como irrelevante, mas como intoleravelmente divisiva. No seu lugar, muitos adotam a visão alternativa do divino como um espírito (ou energia) universal dentro de todas as coisas. Assim, muitos voltam-se para as técnicas espirituais para "entrar em contato com a sua divindade interior", naquilo que essencialmente corresponde a uma religião do Eu Divino. O ioga é uma dessas técnicas.

Mas, embora o ioga tenha sido historicamente reconhecido como uma disciplina religiosa hindu para a autorrealização (a versão hindu do "evangelho"), o marketing engenhoso reapresentou-o como um programa popular para o bem-estar físico com o resultado de que o ioga tem-se tornado ubíquo no Ocidente para o bem-estar do corpo, mente e espírito. Um número crescente de cristãos volta-se para o ioga como forma de exercício físico, redução do stress e até como um modo de se aproximar mais de Deus, com programas "cristãos" de ioga ganhando popularidade.

Um dos programas de ioga "cristão" mais populares é o Ioga Santo; a sua fundadora, Brooke Boon, raciocina: "Sabemos que o ioga é uma disciplina espiritual, de forma muito parecida como o jejum, a meditação e a oração, que não pertencem a uma religião específica." A justificação dela para cristianizar o ioga ofusca a distinção entre o privilégio singular do cristão de se aproximar de Deus pelo sangue de Jesus Cristo e o impulso "espiritual, porém não religioso" de se conectar a uma espiritualidade universal acessível a todas as religiões. Esta linha de raciocínio é mais compatível com o misticismo inter-fé do que com o Cristianismo bíblico.

À medida que o Ocidente rejeita progressivamente os seus fundamentos bíblicos históricos, a cultura mais ampla está continuamente a substituir a distinção bíblica entre Criador e criação pelo conceito do cosmos divino. Isto é particularmente expresso pela adoção no Ocidente da filosofia hindu da Vedanta (tudo é divino) e pela prática do ioga (a arte de experimentar a divindade universal).

Na verdade, o ministro inter-fé Philip Goldberg, autor de American Veda, afirma que a filosofia religiosa da Vedanta tem-se tornado efetivamente a nova espiritualidade padrão do Ocidente e ele considera que a prática do ioga construiu uma ponte para a aceitação da Vedanta. Ele diz: "…os mestres de ioga que vieram para cá, independente das suas orientações e especialidades, criaram um fundamento para a disseminação mais ampla dos ensinos védicos como um todo. Os alunos podem estar interessados em praticar exercícios físicos, porém as suas mentes também se alongam e se dobram.".

Em outras palavras, embora o ioga seja apresentado como um programa de exercícios físicos "espiritual, porém não religioso", ele realmente funciona como um lento processo de condicionamento que amacia as sensibilidades em relação à filosofia religiosa hindu da Vedanta, que substitui a distinção entre Criador e criação pela versão hindu de "deus" como um oceano de divindade universal e impessoal — um tipo de força, energia ou essência — chamada Brahma.

Um Pouco de História


De acordo com o apóstolo Paulo, quando os homens suprimem a verdade em injustiça, recusando-se a adorar o Criador que está fora deles, a única opção que resta é alguma forma de religião da natureza (Romanos 1:18,25). Quando a natureza é divinizada, "deus" torna-se uma energia impessoal que existe dentro de todas as coisas e o único modo de interagir com o divino é por meio do misticismo e da magia. Isto é evidente nos quatro Vedas, os mais antigos dos textos sagrados fundamentais do Hinduísmo, que formam a base para o ioga.

Veda significa "conhecimento", mas não no sentido de educação. O conhecimento védico é esotérico — aquilo que é recebido diretamente a partir do mundo espiritual. Tendo a sua origem em algum ponto entre 1500 e 1000 AC, os Vedas registam uma mitologia complexa de divindades da natureza personificadas e os rituais religiosos necessários para invocar, fazer propiciação e manipular essas divindades. Isto envolve a repetição de mantras como orações (como "Om", a vibração divina de Brahama), o sacrifício ritual de animais, orações mágicas, encantamentos, maldições, bendições e magias.

A palavra ioga deriva da palavra-raiz yuj, registada pela primeira vez no Rigveda, o mais antigo dos quatro Vedas, onde ela se refere à canga dos cavalos nas carruagens dos deuses védicos. Mas, ela também transmite a ideia metafísica de unir a consciência interior com o princípio universal de modo a transformar a humanidade em divindade. Um comentário sobre o Katha Upanishad, onde o termo ioga é registado pela primeira vez, explica:

"... Yoga significa literalmente unir o eu inferior com o eu mais elevado, o sujeito com o objeto, o adorador com Deus [Brahma].".

O ioga representa uma versão da salvação que define o "evangelho" não como a redenção do pecado, mas como a compreensão de que um eu oculto e interior é "deus". Isto dá uma sensação de imortalidade, que, eles acreditam, garante liberdade da roda da reencarnação à medida que a pessoa transcende a consciência da existência material.

O sábio védico Patanjali sistematizou o ioga clássico por volta do ano 150 DC no seu Yoga Sutras como um caminho de oito braços (Ashtanga) para a absorção mística na divindade:
 
 
  1.      Yama: código moral da não-violência, não mentir, não furtar, continência sexual, desapego.
  2.      Niyama: disciplinas ascéticas como jejuar até chegar perto de morrer de fome, ou manter um braço erguido por vários meses, estudos védicos, devoção ao divino.
  3.      Asanas: posturas que têm o objetivo de aquietar o corpo e a mente, em preparação para a meditação.
  4.      Pranayama: canalizar a respiração como energia divina para distinções transcendentes.
  5.      Pratyahara: meditação para suprimir os sentidos, porque o corpo e a mente são considerados impedimentos para a consciência mais elevada.
  6.     Dharana: olhar para um ponto fixo entre os olhos, ou para a imagem de uma divindade, de modo a "anular" a mente pensante.
  7.     Dhyana: estado de transe meditativo profundo.
  8.     Samadhi: absorção na consciência universal — o "evangelho" místico do ioga.
 
A variedade Hatha Ioga surgiu por volta do ano 900 DC, quando o ioga clássico foi sintetizado como o Tantrismo, uma filosofia religiosa que "junta os opostos do bom e do maligno de modo a transcendê-los" por meio do exercício da autonomia própria de um deus. O ritual sexual é central no Tantrismo e, em Hatha Ioga, representa a união da deusa Shakti (o princípio feminino da energia divina) com o seu consorte masculino Shiva (ou Xiva, o destruidor das distinções), unindo as energias feminina e masculina em uma divindade andrógina dentro do corpo do praticante do ioga. O renomado erudito em ioga Georg Feuerstein elucida:

"O simbolismo sexual [de Shakti e Shiva] esconde uma grande realidade cósmica: o jogo eterno entre o poder feminino e a consciência masculina, que são sempre unidos no nível transcendental, mas são experimentados como separados no nível empírico.".

Mircea Eliade, um especialista do século 20 em história e filosofia das religiões, reconheceu o mesmo princípio, explicando que durante a prática do ioga, "... a união do par divino [Shakti e Shiva] dentro de seu próprio corpo transforma o praticante do ioga em um tipo de andrógino.".

Como Funciona


Hatha Yoga tem o objetivo de despertar o "Corpo Subtil", um eu transcendente que surge a partir de dentro para assumir o controle do corpo físico e da mente racional por meio da união de Shakti e Shiva. Isto não é força ou poder do Espírito Santo, mas de anjos caídos que usam a máscara da energia divina das divindades hindus (veja 1 Coríntios 10:19-20 "E o que quero eu dizer com isto? Que a carne sacrificada aos ídolos seja alguma coisa? Não! O que digo é o seguinte: Aquilo que os pagãos sacrificam, sacrificam-no aos demónios, e não a Deus. Ora, eu não quero que entreis em comunhão com os demónios")
 
 
De acordo com a teoria de Hatha Yoga, o corpo físico e a mente racional obscurecem um não-corpóreo e interior Corpo Subtil, conceitualizado como uma matriz de canais de energia psíquica (nadis), que passam pela coluna vertebral para formar centros de energia chamados de chakras. A teoria diz que a deusa-serpente Shakti/Kundalini está enrolada e adormecida na base da coluna, até que seja ativada pelas posturas do ioga, ou das técnicas de respiração e de meditação. À medida que a serpente se levanta, ela abre os chakras como lótus de iluminação, silenciando progressivamente a mente e colocando-a em passividade, à medida que as distinções sujeito/objeto começam a desaparecer. O processo culmina com a união de Shakti/Kundalini e Shiva no chakra da coroa, acima da cabeça. Neste ponto, o Corpo Subtil é entendido como o Eu Divino, indicando que o praticante de ioga está sob o controle total da consciência de Shakti/Shiva no estado místico de suprema felicidade andrógina chamada samadhi.

Seguindo a filosofia védica do ioga, as posturas têm o objetivo de encarnar os deuses, incorporar o poder dos animais sagrados e experimentar a unidade com o cosmos divino. Mircea Eliade elucida: "O yogin fica diante tanto de um Cosmos quanto de um panteão, ele encarna no seu próprio corpo tanto Shiva quanto Shakti.".

Uma postura bastante comum ilustra o ponto. Ao realizar a postura "Senhor da Dança", o praticante de ioga (chamado de yogi) assume a forma da divindade hindu Shiva, quando ele dança a destruição sobre a "ignorância" das distinções sujeito/objeto, unindo os opostos em uma consciência mais esclarecida de divindade universal. A postura representa uma transição radical em cosmovisão, de adorar o Criador para adorar a criação.

Como o ioga foi desenvolvido como o "evangelho" hindu do Eu Divino, precisamos de compreender como a sua prática veio a ter tão grande influência no Ocidente.

Para fazermos isso, precisamos de compreender Krishnamacharya, o homem que recebe os créditos de ser o pai do ioga postural moderno. Durante os anos 1930s e 1940s, sob o patrocínio do raja de Mysore, Krishnamacharya incorporou elementos da ginástica britânica e luta livre indiana na sua prática de ioga. [12]. Muitos afirmam que esse período marca o advento do ioga como um programa não-religioso para alongamento e desenvolvimento físico, destinado unicamente para benefícios terapêuticos na saúde, que é um grande argumento para a prática livre do ioga para qualquer um, independente de suas crenças religiosas.

Mas, Krishnamacharya era um erudito nos Vedas e um hindu profundamente devoto da casta sacerdotal dos brâmanes, que adorava o ídolo de Hayagriva, o avatar com cabeça de cavalo da divindade hindu Vishnu. Quando fez uso de outras fontes, ele adaptou aquilo no estilo de ioga para o propósito expresso de expandir as técnicas religiosas para a união com o espírito universal. Na verdade, as aulas de ioga dele eram realmente aulas de religião e cada uma delas iniciava com orações às divindades hindus antes do treino religioso dos seus alunos. Os tópicos cobriam o caminho de oito braços de Patanjali para o samadhi (a absorção na divindade para escapar da reencarnação), rituais védicos, puja (adoração ritual) diária, a entoação apropriada para a repetição dos mantras védicos, o despertar da serpente Kundalini e a abertura dos chakras para a iluminação. Ao ensinar as posturas (asanas) aos seus alunos, Krishnamacharya insistia que eles primeiro oferecessem preces para bendizer Adisesha, a divindade-serpente de mil cabeças da mitologia hindu, para assegurar que eles seriam bem-sucedidos.

Todos os aspectos de sua instrução em ioga eram dirigidos pela sua fé hindu.

Entre os mais influentes e bem-conhecidos devotos de Krishnamacharya estavam discípulos como B. K. S. Iyengar (fotografia abaixo) e K. Pattabhi Jois, ambos hindus devotos da casta dos brâmanes.

O Legado de Krishnamacharya


Iyengar e Jois levaram o legado de ioga de Krishnamacharya para o Ocidente, dando peso especial às posturas e às técnicas de respiração para os objetivados benefícios à saúde, como maior flexibilidade e redução do stress. Embora o Ocidente não estivesse pronto para adotar o Hinduísmo propriamente, as posturas tiveram grande aceitação no pragmatismo americano, abrindo uma porta de influência para a filosofia religiosa do ioga sem chamar muita atenção para si mesmo. Assim, o ioga tornou-se um meio eficaz de propagar a Vedanta hindu no Ocidente.

B. K. S. Iyengar é considerado o guru mais influente em popularizar o Hatha Yoga no Ocidente por meio da publicação, em 1966, de seu livro Light on Yoga. Quase cinquenta anos mais tarde, é o livro sobre ioga mais vendido pela livraria on-line Amazon. Recorrendo ao texto hindu clássico Bhagavad Gita, Iyengar explica que o fim do ioga é "uma alma purificada do pecado" e, assim, liberta da reencarnação. Mas, são necessárias muitas vidas para alcançar essa perfeição e a prática do ioga é essencial para o processo. O livro está repleto de fotografias de Iyengar demonstrando mais de 200 posturas, que emulam elementos da natureza, animais sagrados, heróis místicos e "deuses do panteão hindu". Entre elas, está a postura do "Senhor da Dança" em que Shiva dança a destruição cósmica sobre a distinção Criador/criação até que tudo seja visto como um no estado de samadhi, descrito por Iyengar como "um estado em que o aspirante é um com... o Espírito Supremo que preenche o universo".

K. Pattabhi Jois é conhecido pela sua variedade de Ashtanga ioga, que usa movimentos enérgicos entre as posturas, naquilo que alguns consideram uma forma aeróbica de ioga, em vez de uma disciplina religiosa. Mas, Jois era um brâmane religioso que seguia o caminho clássico de Patanjali para alcançar o "Eu Universal", e atribuía a algumas das posturas o poder de vencer o pecado, uma clara falsificação do verdadeiro evangelho de Jesus Cristo. A devoção religiosa de Jois estava centrada na divindade hindu Shiva e o seu livro Yoga Mala dedica a sua prática do ioga a Shiva com a seguinte oração tradicional: "A Shiva, o senhor dos yogis... Eu me inclino mais uma vez". O livro também explica a importância de adorar o deus-sol Surya por meio das posturas e prostrações das sequências Surya Namaskara (Saudação ao Sol) de modo a obter a bênção da boa saúde. As aulas de ioga de Jois iniciam com orações tradicionais entoadas em sânscrito, que é considerado o idioma dos deuses hindus.

Jois também era um devoto de Ganesha, o filho com cabeça de elefante de Shiva. Na verdade, uma estátua de Ganesha tem um lugar de honra em cada um dos muitos estúdios de ioga que Jois abriu em Europa e nos EUA. Durante a grande inauguração do estúdio de ioga de Jois em Encinitas, na Califórnia, um sacerdote hindu realizou uma cerimônia de puja (adoração) completa para Ganesha. Durante o processo, convidados ilustres, como os presidentes da Fundação Jois (renomeada como Fundação Sonima), participaram na adoração de múltiplas divindades hindus.

Apesar da evidente natureza religiosa da Ashtanga Yoga, a Fundação Sonima tem um objetivo de apresentar a prática para 100 distritos de escolas públicas nos EUA como um programa não-religioso de exercícios físicos. Até aqui, eles têm sido bem-sucedidos em colocar o seu programa de yoga em 55 escolas, afirmando que removeram todos os elementos religiosos, reduzindo o programa para apenas o exercício físico das posturas. Mas, de acordo com Jois, as posturas sozinhas têm o poder de produzir uma transformação profundamente religiosa, despertando uma energia que muda a pessoa a partir de dentro, até mesmo tocando a alma "até que a mente assuma a forma de Brahma". Isto produz a experiência enganosa de alcançar imortalidade por meio do ioga, que os hindus acreditam que resulta na libertação da reencarnação.

O ioga realmente representa um caminho de justificação pelas obras, um substituto pagão para o Evangelho da expiação dos pecados por meio do sangue derramado de Jesus Cristo.

Yoga Cristão?


Apesar da natureza religiosa profundamente pagã do ioga, programas de ioga Cristão estão a tornar-se cada vez mais difundidos em muitas igrejas. "ioga Santo" é provavelmente a variedade mais amplamente praticada de ioga "cristão", afirmando ser um programa de treino que forma centenas de instrutores certificados de ioga Santo anualmente. O ioga Santo publica uma declaração de fé evangélica na sua página na Internet e incorpora versos bíblicos na sua prática. Mas, é suficiente remover a natureza religiosa hindu subjacente do ioga? Ou isso representa uma forma de sincretismo em que o significado bíblico é subtilmente reinterpretado segundo uma inclinação mais hinduísta?

A fundadora do ioga Santo, Brooke Boon, insiste que a sua prática de ioga é totalmente cristocêntrica e bíblica. Na verdade, ela considera o ioga Santo uma plataforma de ministério para pregar o evangelho. Mas, os dois livros dela sobre ioga, escritos após a sua conversão a Cristo, revelam influências védicas significativas. Por exemplo, o primeiro livro Hatha Yoga Illustrated, em que ela é co-autora, tenta amenizar a associação do ioga com o Hinduísmo, ao mesmo tempo que reconhece que ele é "... reconhecido pela ortodoxia hindu como uma representação válida da verdade védica" [25]. Não nos esqueçamos que os Vedas expõem uma religião pagã completa, que forma a base para o Hinduísmo. Na realidade, o ioga é uma das seis escolas védicas ortodoxas do Hinduísmo e não pode ser separado dele.

O livro de Boon reconhece também que "... três tradições filosóficas formam agora um núcleo essencial dentro do ioga contemporâneo: Ioga clássico, Advaita Vedanta e Tantra". [26].

O ioga clássico é o caminho de Patanjali para a absorção no espírito universal; Advaita Vedanta ensina que tudo é um e tudo é divino; o Tantra une os opostos do bom e do maligno de modo a alcançar a divindade. Hatha Yoga Illustrated descreve Tantra como "... aceitação radical do corpo e toda a vida como a divindade encarnada" [27].

Em outras palavras, o ioga tem o objetivo de transformar o praticante numa encarnação divina de Brahma. O livro também rastreia a linhagem moderna do ioga e sua popularidade no Ocidente, desde Krishnamacharya, Jois e Iyengar, [28] todos hindus devotos que buscavam o objetivo do ioga de absorção na divindade.

Os problemas aparecem quando tentamos criar uma prática cristã sobre um fundamento pagão. Isto é evidenciado no segundo livro de Boon, intitulado Holy Yoga (Ioga Santo), que tem um sabor mais cristão, porém ainda segue o caminho de Patanjali até o samadhi. [29]. O livro também indica aos leitores Hatha Yoga Illustrated como um recurso "… se você quiser descobrir mais sobre yôga e sobre a meditação cristã.

É preciso esclarecer que a ideia bíblica da meditação está baseada no significado da Escritura estudada no contexto. Mas, a seção sobre meditação à qual a autora Boon direciona os leitores sugere técnicas hindus como a repetição do mantra "Om", que é a vibração criacional de Brahma e "... visualizar a sua divindade escolhida — um deus ou uma deusa".

O livro Holy Yoga mistura técnicas e filosofia religiosa hindu com a terminologia cristã, porém a autora Bloon assegura que é por meio da prática do ioga Santo que "... nos tornamos pessoas mais autênticas, capazes de ouvir Deus e experimentá-Lo de modos que antes eram impossíveis". Isto implica que a obra de Cristo está incompleta, que o Espírito Santo e as Escrituras são insuficientes e que a real profundidade do conhecimento cristão depende do ioga.

Embora o ioga não acrescente coisa alguma ao conhecimento e experiência cristãos genuínos, ele realmente tem o poder de confundir e enganar por meio da mudança de cosmovisões. Em um vídeo devocional na página na Internet de ioga Santo, a autora Bloon explica que incluiu uma seção sobre a "porção da energia, a porção do chakra" no seu treino para os instrutores de ioga Santo.

No ioga, a energia e os chakras referem-se ao ocultista Corpo Subtil energizado pela deusa-serpente Kundalini, como já mencionado. Todavia, Bloon baseia os seus ensinos da "porção de energia e chakra" em João 1:1-5, que ela interpreta erroneamente com o significado que Jesus, sendo o verbo, é a vibração criacional de Deus, a "... Frequência de como Deus emula a Si mesmo".

Mas, Jesus é uma pessoa distinta, Deus encarnado, não a energia da vibração criacional. É o ioga que está baseado no mito da criação em que a vibração divina de Brahma emana a essência divina para a criação. A cosmologia pagã do ioga não pode ser sintetizada com o Criador, que é distinto da criação.

A observação de Philip Goldberg está correta, que "Os alunos podem estar interessados na prática de exercícios físicos, porém as suas mentes também se alongam e se dobram." Não há nada espiritualmente neutro no ioga. Enquanto o corpo se dobra, a mente remolda a sua cosmovisão.

Conclusão


O que os cristãos precisam de compreender é que a afirmação do ioga de ser um programa de bem-estar não-religioso para o corpo, mente e espírito é uma total distorção. O ioga foi criado para unir os opostos, transcendendo a distinção entre Criador e criação até que o divino seja experimentado como o espírito, energia ou vibração universais da natureza. Quando a distinção primária entre Criador e criação é destruída, todas as outras perceptualmente se desintegram por necessidade. Desaparecem então as distinções bíblicas entre homem e natureza, homem e mulher, bom e maligno. Desde os tempos antigos até os modernos, os guru chamam o processo da ioga de "ciência da consciência". Agora, a moderna neurociência está a encurvar-se para os gurus.

A nova fronteira da neurociência acredita que a verdadeira essência do ser é a pura consciência além das distinções, exatamente como os gurus sempre disseram. As técnicas de meditação, como aquelas praticadas no ioga e na meditação budista de esvaziamento da mente, conscientização e atenção plena (NT: Também chamada de "meditação mindfulness") estão a ser desvinculadas das suas raízes religiosas e reapresentadas como modelos terapêuticos para a saúde do cérebro.

Sam Harris, um dos Novos Ateus de elite, identificou-se recentemente como um tipo de praticante "espiritual, porém não religioso" da meditação de conscientização e atenção plena, que também é um componente do ioga. Harris, que é um neurocientista formado pela Universidade de Stanford, vê o esvaziamento da mente como um modo de evoluir a consciência em um nível puramente científico. Ele assim interpreta a espiritualidade como o "senso iluminador da conectividade" que transcende a individualidade, pois a mente evolui para perceber a consciência interconectada além do pensamento. Esta ideia da consciência universal é procurada agressivamente como aquilo que há de mais avançado na neurociência.

Esta linguagem camuflada é cada vez mais aplicada ao ioga e à meditação budista de esvaziamento da mente como um modo de introduzi-los nas escolas e até nas igrejas sem oposição. A razão é que o ioga e a meditação budista estão a ser reapresentados como técnicas terapêuticas cientificamente comprovadas. Como tais, eles são cavalos de Troia, que condicionam a mente ocidental continuamente em direção à cosmovisão mística oriental em que todas as distinções bíblicas são vigorosamente negadas. Eles são eficazes por que não são espiritualmente neutros, mas estão conectados com poderes ocultistas proibidos, determinados a influenciar as nossas mentes.

Embora o ioga seja empacotado como um programa não-religioso para o bem-estar físico e a redução do stress, nada na verdade foi modificado nele. Ele ainda é o "evangelho" do Eu Divino do Hinduísmo. Além disso, temos de nos lembrar que foi a serpente no Jardim do Éden que tentou Eva com exatamente essa falsa "iluminação".

Como cristãos comprometidos com o evangelho bíblico, precisamos de compreender a essência pagã que está por trás do pacote enganoso. Além disso, precisamos de considerar seriamente o poder do ioga de condicionar as mentes e afastar as pessoas das distinções bíblicas e, portanto, o seu poder de afastá-las do verdadeiro evangelho de Jesus Cristo.

"O amor seja não fingido. Aborrecei o mal e apegai-vos ao bem." [Romanos 12:9].

Fonte: Forcing Change, Volume 9, Edição 7.
Data da publicação: 9/8/2015
Transferido para a área pública em 17/10/2016
A Espada do Espírito: http://www.espada.eti.br/fc-7-2015.asp

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