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domingo, 27 de novembro de 2016


ORDEM ROSACRUZ

Na minha caminhada espiritual, passei por várias fases e no meu tempo não havia Internet nem a informação era livre, pelo que passava-se tudo em segredo e de ouvido para ouvido.

Em Portugal havia a Comissão de Censura para tudo o que era escrito, visto e falado no país. A Polícia política perseguia todos aqueles que saíssem do "sistema", principalmente quem se considerasse conotado com Ordens esotéricas, ocultismo, maçonaria, espiritismo e tudo o mais que a Igreja Católica e o Poder Político, em parceria, considerassem como pernicioso e contra a religião vigente.

Deste modo, a informação era passada na clandestinidade e até nem me lembro quando comecei "a sério" a estudar e a aprender tudo o que se relacionasse com o Espírito, fora da influência da Igreja de Roma. O que me lembro é que comecei por me interessar pelo feiticismo e xamanismo, muito entranhado na cultura indígena de Angola e indo avançando pelos médiuns e videntes que operavam, mas talvez por serem uma fraude e nada representavam para segurança do sistema, à vontade, mas sem dar nas vistas.

Num grupo de amigos boémios que nos reuníamos de vez em quando, em Nova Lisboa, um dos meus amigos apresentou-me a uma racionalista cristão, Sr. Marta da Cruz (Já falecido) muito avançado no espiritualismo que foi o primeiro mestre que tive e me ensinou tudo sobre espiritismo e diferenças entre o Racionalismo Cristão e o Espiritismo de Alan Kardek . Durante essa formação, apareceu na minha vida um Racionalista Cristão que avançou para o ensinamento Rosa Cruz e me arrastou para lá.

Estudei toda a Filosofia Rosa Cruz do Cosmo e, até hoje foi a doutrina que mais me agradou mas ainda havia muitas questões pela frente. Dentro desta fase de estudo a curiosidade arrastou-me para o estudo do Induísmo, Budismo e filosofias orientais, principalmente o mistério dos Lamas do Tibete, mas nunca participei de rituais ou exercícios "espirituais". Limitei-me sempre a observar.

Quando cheguei a Portugal, ajudei uma personagem que se revelou como o Grão-mestre dos Templários na Europa e por ele aprendi o ocultismo de Platão e Aristóteles e outras filosofias ocultas egípcias e cheguei a conviver com o Exarca Arcebispo Ortodoxo para toda a Europa, que me ensinou muito sobre esoterismo.

No meio de toda esta informação de tantas doutrinas filosóficas, tinha a necessidade de escolher o caminho correto para me desenvolver espiritualmente e, realmente, tinha muitas dúvidas e a minha "intuição" me dizia que faltava alguma coisa. A única coisa de que tinha a certeza é que a minha vida decorreu sempre sem sobressaltos como se "alguém" aplanasse o meu caminho para não tropeçar. Acreditava plenamente que tinha um Anjo da Guarda a proteger-me.

Até que, outra vez, sem eu procurar, apareceu na minha vida um amigo de infância que passou por tudo o que eu passei na procura da vida espiritual e que me procurou. Fiquei surpreso por o encontrar como Apóstolo protestante, curador e exorcista, um grau acima de Pastor na hierarquia cristã protestante, que me veio completar a formação de que necessitava, o estudo da Bíblia, para poder evoluir conscientemente por mim próprio. Foi como que um "fim de curso".

Tornei-me um Cristão Bíblico, porque a informação de tudo está na Bíblia e não sigo rituais nem mandamentos das igrejas institucionais, acreditando em Deus e na sua palavra que vem na Bíblia. Acredito na religião interior que todos nós temos, que nos permite proceder conforme os imperativos da nossa consciência, sem ser necessário ser obrigado pelas Leis escritas, rituais religiosos e obrigações sociais. Quando chegamos a esta posição de não precisar de Leis escritas para orientar o nosso comportamento moral numa sociedade (uma imposição), sabermos discernir o que é do Espírito e o que é do mundo material (com as suas regras, é claro) e agirmos porque sabemos que está certo e é o procedimento correto, podemos considerar-nos renascidos e com a "espiritualização" amparada pelo Espírito Santo, num curso evolutivo cada vez mais claro e mais compreensível para nós.

Respeito, conscientemente, o que a Bíblia diz em Deuteronómio 18:9-14 que não devemos fazer sacrifícios de sangue, presságios, praticar astrologia, adivinhação ou magia, encantamentos, espiritismo, invocação dos mortos. Acredito no Salmo 115:4-8, Êxodo 20:3-4, Isaías 30:22 e Jeremias 32:34, que reprova e abomina todo o tipo de idolatria.

E, não estou a pecar, portanto, quando aceito a Filosofia Rosa Cruz (com reservas em vários aspetos, porque deve ter sofrido também algumas alterações assim como a doutrina Cristã o sofreu ao longo dos séculos) mas que a minha intuição me diz que está correta porque teve origem na Ordem onde Jesus foi preparado para a sua missão. Podemos aceitar o que tem de bom.

O que me agradou, logo à partida, é que os Rosacruzes não procuram recrutar estudantes candidatos a futuros adeptos nem forçam ninguém a segui-los. Limitam-se a ensinar a sua Filosofia, sem criticar ou considerar todas as outras filosofias e religiões erradas. Partem do princípio que há vários caminhos para chegar a Cristo, uns mais longos que outros, mais difíceis ou mais fáceis, mas que chegam a Cristo. Cada um escolhe o caminho que quiser, sendo entretanto elucidado dos perigos que o seu espírito corre. Como Deus não interfere com o livre arbítrio que cada um tem, a Ordem também não quere interferir. Quem quiser estudar os seus ensinamentos tem de ser proposta a sua entrada por um adepto Rosacruz. A entrada não é livre, como por exemplo, não aceitam pessoas que sejam por profissão hipnotizadores, quiromantes, médiuns ou astrólogos.

Assim, transcrevo um texto do rosacruciano Francisco Marques Rodrigues (Revista Rosacruz nº 421) a explicar a origem e objetivo da Ordem Rosacruz. Como é normal, há outras correntes que poderão intitular-se como Rosacruzes, como sucede nos Templários, talvez interessadas ou arrastadas para o idolatrismo, bem como podemos correr o risco de a "verdadeira" e oculta doutrina, talvez diferente e opressora, ser do conhecimento das hierarquias mais elevadas. Mas a doutrina original é esta e acho correta. Fiz alguns sublinhados em negrito.

NÓS E CRISTO

Muitos dos nossos leitores pedem-nos para lhes dizermos algumas palavras sobre a origem dos Rosacrucianos e da sua filosofia; por isso damos hoje satisfação a esses pedidos, ainda que de modo sucinto, como não pode deixar de ser, visto que os moldes da nossa revista não nos permitem ir mais longe.

Somos os continuadores de uma antiga e mística Ordem que, no tempo de Moisés, se chamava dos "NAZIREUS", mais tarde dos "NAZAREUS" e, no tempo de Jesus, "NAZARENOS" (Nota minha: Hoje, por documentos encontrados, de "Essénios").Não vivemos com a austeridade desses tempos, nem temos a sua organização comunitária; mas procuramos seguir a sua orientação nos estudos e na vida prática.

Jesus Cristo nasceu no seio desta mística Ordem e por ela foi educado. Depois quando deu início à sua obra messiânica, criou um corpo de doutrina que ensinou aos seus discípulos com o fim de a espalharem pelo mundo. Por isso nós somos os continuadores dessa Ordem, embora sem os rigores de então. E como eles, nada impomos. E se uma vez ou outra falamos um pouco mais ao vivo, não é para magoar ninguém, mas para despertar consciências adormecidas e as chamar à prática do bem, para que estejam em harmonia com o plano divino.

Não é por ódio que castigamos a impostura, nem a maldade daqueles que se dizem iniciados, mas para os acordar do pesado sono em que vivem criminosamente. E dizemos "criminosamente" porque do seu comodismo e ignorância, a que chamamos sono, resultam males que prejudicam a humanidade inteira, criando dificuldades à sua evolução normal.

Todos temos responsabilidades quando fazemos mal e quando deixamos de praticar o bem. Por isso cometemos um crime não seguindo a divina Lei, e nestas condições teremos de sofrer a pena devida por esse delito. E foi pela mesma razão que João, o Baptista, usou uma linguagem tão viva, realista; e o seu primo Jesus fez o mesmo; Paulo e todos os grandes homens do cristianismo seguiram os seus exemplos.

Nós, que pelo coração e pelo cérebro seguimos Cristo, também usamos a mesma linguagem, não para ferir, mas para ajudar aqueles que se afastam do caminho a ver melhor e a voltar a ele, e a aproveitarem melhor o seu tempo e o seu esforço no sentido de um mais firme avanço na senda evolutiva, para que ascendam mais rapidamente ao estado de super-homens (?) (Nota minha: nunca pensamos em ser super-homens, mas sim em ascendermos a patamares mais evoluídos em direção à Luz. Cristo disse-nos: eu sou a Luz, sou a Vida, sigam-me)

Por esta razão poderosa, entre nós e Cristo há um laço que procuramos fortalecer carinhosamente, pois procuramos sempre o seu caminho e chamar a ele quantos já estiverem suficientemente amadurecidos para compreenderem a doutrina e filosofia e por elas orientarem constantemente a sua conduta.

Usamos linguagem viva, contundente? É natural. Mas uma coisa decerto orienta o nosso estilo simples: ajudar os nossos irmãos a verem melhor os lados dos problemas que sobrecarregam e levar-lhes a luz para o cérebro e para o coração, com o propósito de moderar a sua obstinação no caminho do erro que os leva à prática da maldade, ensinando-lhes como podem transformar o mal em bem. E nisto há apenas o que chamamos amor cristão.

Não batalhamos por uma causa terrena, grosseira, sempre efémera e ilusória, mas por um objetivo de natureza sublime, que é a perfeição máxima a que todos estamos destinados com o fim de nos graduarmos para mais elevadas dignidades.

O que pertence a este mundo – dinheiro, poderio, prazeres da carne – tudo termina aqui; mas o que nós buscamos amorosamente pertence ao plano espiritual e divino, por isso mesmo eterno, e irá connosco quando findarmos os nossos dias sobre a Terra. Por este motivo sabemos que a nossa ciência não pode ser aprendida por muitos, mas somente por aqueles que, pelo muito que já viveram, gozaram e sofreram, estão agora ansiosos de novos rumos. De maiores alturas espirituais. Cristo assim nos ensinou: o corpo, tal como se formou, há-de desfazer-se; mas o espírito, esse é de natureza eterna e por esse facto não ficará sujeito às leis deste mundo, pois a sua esfera não é a Terra, mas o que se chama Céu, num estado de suprema ventura a que todos havemos de chegar algum dia, quer sejamos crentes ou descrentes; e teremos de repartir com outros essa aventura, para os ajudar na ascensão a mais elevadas posições.

Não está vedado aos seres humanos o prazer terreno, mas sim o abuso dele, o desvio da lei divina. Por isso, o que pretendemos é moderar a fúria do mal, aproveitando as energias para as sublimar. E, assim, mudando a sua natureza, diminuiremos o mal aumentando o bem. Mas o pendor dos seres humanos é para o mal, para esmagar os que não pensam de igual modo e, nestas circunstâncias, temos de enfrentar as ousadias intemeratas da ignorância. E isto pede reações vivas, realistas, como aquelas que sempre usaram os intemeratos pioneiros do cristianismo.

Eles, e nós, não usaram nem usamos esses termos para ofender seja quem for, mas para os despertar do pesado sono em que vivem, para chamar as ovelhas perdidas para o caminho da cristificação.

Somos cristãos. Por isso, a nossa linguagem tem de ser límpida, sem artifícios enganadores, viva, reprovadora de tudo quanto não for cristalino, puro.

R.

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