O HOMEM - SUA ORIGEM E DESENVOLVIMENTO
E disse Deus:
façamos o homem à nossa
imagem,
conforme a nossa
semelhança.
(Génesis; 2:26)
Então
disse o Senhor Deus: Eis que o
homem é como um de Nós, sabendo o bem e o mal…
(Génesis; 3:2)
Entre
os problemas que suscitaram a curiosidade dos homens, o da sua origem só tomou
um papel de primeira importância numa época recente. A antiguidade preocupou-se
muito pouco com esta questão a que os filósofos e as religiões primitivas só
consagraram explicações mais ou menos poéticas ou maravilhosas. Até meados do
século VIII as revelações da génese pareciam suficientes para contentarem todos
os espíritos. Só no século XX é que o problema foi realmente posto e submetido
aos métodos da investigação científica, visto já terem sido estudados os
vertebrados fósseis e descobrirem o desenvolvimento progressivo do mundo
animal, o que provocou o pensamento perigosamente herético de que o homem
estava ligado à natureza e tinha também uma história paleontológica.
Lamarck,
em 1809, fundador do transformismo, concebia para o homem
a possibilidade de uma origem animal, a partir de qualquer antepassado
quadrúmano, no que não foi ouvido, na altura, passando despercebido, como aliás
passou despercebida toda a sua obra antes de receber a consagração de Darwin
com a sua gigantesca teoria da evolução universal.
A
partir de 1838, Boucher de Perthes, com as suas descobertas, consegue impor a
ideia de uma humanidade muito anterior aos períodos mais antigos da História, e
contemporânea dos animais “antediluvianos”, conseguindo demonstrar que os
antiquíssimos aluviões da região do Somme
continham, conjuntamente com os restos de grandes animais desaparecidos, pedras
intencionalmente talhadas que só podiam ser obra de homens primitivos, fundando
deste modo a nova ciência denominada Pré-história que tomou grande impulso de
sábios franceses, como Larter, Mortillet, Piette, Cartaillac, Capitain, etc., e
os ingleses John Evans e Boy Dawkins.
Desde
o início do século XX e sobretudo nos últimos cem anos, os progressos do conhecimento
neste domínio não têm deixado de se ampliarem numa cadência acelerada.
Ultimamente têm também surgido novas teorias e novos conceitos que abalam,
aparentemente, o sólido edifício construído durante tantos anos sobre a
pré-história humana. Como todas as ciências, certamente que vão surgindo novas
descobertas e novas teorias consequentes, muitas vezes contrariando aquelas que
se julgavam mais sólidas e “intocáveis”.
Todas
as investigações, recuando pouco a pouco a um passado cada vez mais longínquo,
só revelam os íntimos laços que ligam a humanidade ao resto do mundo vivo.
Longe de constituir na natureza uma incompreensível excepção - como se fundamentam
algumas religiões - o Homem liga-se cada vez mais, e decididamente, por uma
longa série de antepassados ao tronco comum donde sucessivamente saíram os
diferentes grupos de animais que o acompanham no globo.
Esta
noção admitida hoje pela maioria dos biólogos não se impôs, de modo algum, sem
lutas: os problemas das origens do homem são daqueles que levantam tempestades
por causa das controvérsias metafísicas e extracientíficas a que deu lugar. E
hoje, apesar da evidência dos factos, tais como aqueles revelados pela
descoberta dos pré-hominídeos e dos australopitecídeos que realizam, por assim
dizer, duma forma ideal, essas cadeias intermediárias exigidas pelos adversários
da descendência - esses “homens-macacos” cuja existência foi declarada por
Haeckel - a muita gente ainda repugna a ideia do nosso parentesco animal. Pode
dizer-se que, se as doutrinas transformistas encontraram no mundo sábio
resistências tão vivas, é unicamente por consequências humanas que logicamente
implicam.
Os embriões de seis espécies diferentes
Apresentam inegáveis analogias que
Confirmam as teorias biogenéticas de
Haeckel.
Esta
noção, a ser verdadeira, conduziria a fazer de cada espécie actual a finalização
de uma linhagem independente de todas as outras.
Após
muita discussão e estudo de teorias, entre as quais as mais disparatadas, os
nossos sábios investigadores chegaram à conclusão que os homens actuais,
qualquer que seja a cor da sua pele, pertencem, no ponto de vista zoológico, a
uma só espécie - o Homo Sapiens - que faz parte da ordem dos primatas. O que não
conseguem explicar objectivamente é como o Homo
Sapiens (ver a figura a seguir) apareceu misturado numa cadeia evolutiva de
hominídeos inferiores a ele. Ou seja: pela evolução declarada todos os que
“aparecem” depois dele deveriam ter as mesmas características, ou superiores,
como sucede com o Cro-Magnon e Homo Sapiens Sapiens.
Não
se compreende que o primeiro Homo Sapiens
nitidamente superior, e mais evoluído, que o Homem de Solo, Homem da
Rodésia e Homem de Neandertal,
apareça aproximadamente 120 000 anos antes deles. Ou se tratam de ramos
diferentes, o que vai contra as afirmações paleontológicas, ou se trata de um
elemento intruso que surgiu numa dada
época, explicando talvez a razão das lendas e tradições estranhas dos povos que
dizem sermos descendentes de homens (deuses) vindos do espaço. Também se torna
estranho o aparecimento do homem de Cro-Magnon biologicamente mais avançado para
a época e nível de evolução.
Em
suma: todos os zoólogos e anatomistas modernos estão de acordo que o Homo Sapiens é nosso ascendente directo
- e há quem defenda que é apenas ascendente dos caucasianos ou raça branca - e que faz parte da ordem dos primatas.
Esta
unidade específica ressalta com as dificuldades que se encontram quando se
procura fixar as características das grandes unidades raciais do globo. Todos
os antropologistas sabem que a noção de “raça” é uma noção estática e que
nunca, ou quase nunca, o conjunto de caracteres que se atribui a tal ou tal
raça humana se encontram, ao mesmo tempo, reunidos num mesmo indivíduo. Por
outro lado, nenhum destes caracteres, quer se trate da morfologia do crânio, ou
do esqueleto, da musculatura, cor da pele ou caracteres do sistema piloso,
podem isoladamente bastar para caracterizar uma raça. É o que explica a
diversidade e a pouca concordância das classificações que desde Lineu têm sido
propostas para distribuir os diversos tipos humanos. Cada vez se torna mais
precisa a ideia da existência de agrupamentos étnicos, em vez de verdadeiras
“raças” humanas, no sentido zoológico do termo.
Continuando
sobre o ponto comum em que os investigadores estão de acordo - os primatas -
sabemos que se dividem em três subordens: os homens ou hominídeos, os macacos ou símios e os lemúrios ou pró-símios. Os lemúrios - falsos macacos
ou semi-símios - formam um grande grupo arcaico, com caracteres cranianos e
dentários menos especializados, aproximando-os dos insectívoros.
Os
símios são constituídos por dois grandes grupos distintos, um localizado na
América do Sul e outro na Eurásia e África. O segundo grupo - os catarríneos - abrangem os macacos mais
elevados na organização e mais vizinhos do homem. Dividem-se em dois grandes subgrupos
- os macacos propriamente ditos e os antropomorfos ou antropóides. Os primeiros distinguem-se por uma cauda bem
desenvolvida, enquanto os segundos, maiores, são os que estão mais chegados ao
homem, como o chimpanzé e o gorila.
Lineu
na sua classificação colocou-os no género Homo.
Entretanto existem caracteres que permitem separar zoologicamente o homem dos
outros primatas. São essencialmente: a posição vertical; a diferenciação
funcional dos pés e mãos; o desenvolvimento da capacidade cerebral e do
cérebro; e, finalmente, as qualidades psíquicas e a linguagem articulada.
Como
atrás dissemos, muito depois do Homo Sapiens, surge o homem de Cro-Magnon que reúne as características
do homem actual. O Cro-Magnon é caracterizado pela sua alta estatura, pelo
esqueleto particularmente robusto e cabeça e face de aspecto moderno. Tudo
revela nele uma poderosa organização física e um superior desenvolvimento
cerebral. A estatura, com um pequeno número de excepções, ultrapassa em geral
um metro e oitenta. Os membros são compridos e robustos, os inferiores muito
desenvolvidos em comprimento, em relação aos superiores. Do mesmo modo, a perna
é particularmente longa em relação à coxa, caracteres que diferem dos que se
observam nos europeus modernos, mas que lembram, ou mesmo ampliam, o que se
passa com a raça negra.
O
crânio é dolicocéfalo e o seu contorno horizontal é oval. A fronte é larga e
elevada. As maxilas são, com a dentição, de tipo moderno. O homem de Cro-Magnon
já reúne as características actuais, e o que nos espanta é o seu aparecimento
brusco, como atrás salientamos. Se em cerca de novecentos milhões de anos, que
vão dos pitencantropideos - Homo Erectus
- aos homens de Solo, Rodésia e Neandertal, não se nota uma diferença espectacular nos seus traços
evolutivos, nem do Homo Sapiens, que está aparentemente
deslocado no tempo, para o Cro-Magnon em perto de 210 000 anos, muito menos se
torna possível uma evolução tão rápida e brusca dos homens de Solo, Rodésia ou
Neandertal, para o Cro-Magnon em apenas 110 000 anos.
Há
quem defenda que o Cro-Magnom tenha sido introduzido na Terra para melhorar a
raça original humana que estaria em vias de não conseguir evoluir e ser
assimilada pelos outros hominídeos que se impunham pelo número. A crer nesta
teoria, em que o primeiro homem foi “modelado” no Éden (a partir da melhoria
genética do Homo Erectus com ADN de seres vindos das estrelas) e fracassou na sua missão, que era espalhar a
“semente” pelos outros hominídeos e dar início a uma nova raça humana, quando
pecou ao deixar-se seduzir por Lucífer. Houve então a necessidade de reforçar a
“raça” e surgiu abruptamente, em cena, um novo ser mais evoluído para se
misturar com o Homo Sapiens e dar origem ao Homo Sapiens Sapiens.
As
divergências de opinião começam quando se trata de fixar primeiro o ponto donde
se destaca o ramo humano e determinar depois as formas fósseis que realmente
fazem parte deste ramo e conduzem ao Homo
Sapiens.
Para
uns, o Homo Sapiens constitui uma entidade distinta, sem relação imediata com
os macacos (o que concordamos em parte, só acrescentando que para nós o Homo Sapiens
não tem relações imediatas com o hominídeo indígena terrestre) pertencendo a um
ramo especial, cuja origem deve ser
procurada muito longe no passado, que se desenvolveu paralelamente aos outros
ramos dos primatas, sendo as formas fósseis de caracteres mistos -
Australopitecideos, Pitencatropideos e Neardentalenses - simplesmente
intermediários morfológicos, produtos de convergência ou a culminação de ramificações abortadas quer da própria linhagem
humana quer das linhagens antropóides paralelas a esta.
As
razões dadas em apoio destas maneiras de ver são mais teóricas que objectivas,
tendo como principal argumento o facto de todas as formas fósseis serem já
demasiado “especializadas” para poderem ser consideradas como fazendo parte da
linhagem humana. Por outro lado, alguns achados, como os crânios fósseis de Piltdown e de Swanscombe, tendem a provar que o Homo Sapiens existia na
forma quase actual desde o início do Quaternário e nada tem a ver, por
consequência, nem com os Pitecantropideos nem com os Neardentalenses.
Para
a maior parte dos paleontologistas, o homem integra-se na série evolutiva dos
símios sendo um ramo destacado do grupo dos antropóides. É essa a opinião de Boule,
Teilhard de Chardin, de Vallois, de Gregory, de Broom e de Weinert. Também
pensamos assim para o indígena terráqueo.
O
aparecimento - como atrás referimos - do Homo
Sapiens deu lugar a grandes controvérsias. Para aqueles que se recusam a
admitir o parentesco demasiado próximo do homem e dos macacos, o Homo Sapiens
teria vivido desde o início do
quaternário, concomitantemente com os primeiros pitecantropideos,
provavelmente mesmo antes deles.
Outros,
sem negarem um parentesco simiesco afastado e baseando-se em que ao Homo Sapiens
se segue o homem de Neandertal sem transição aparente, pensam que nasceram
independentemente de uma série de antepassados, que não se mencionam, e não apresentam, portanto, qualquer grau de
filiação comum. Este último seria um
ramo inferior da humanidade, abortado ou mesmo degenerado.
O
maior problema é saber onde o Homo Sapiens adquiriu a sua forma definitiva.
Uma
teoria - a da hologénese - pressupõe
que o Homo Sapiens teria vindo simultaneamente de um grande número de indivíduos
dispersos por vários pontos do mundo, o que não explica, é claro, como o Homo Sapiens
apresenta traços tão evoluídos e diferentes do Pitecantropus.
Esta
teoria só pode apoiar-se no facto da distribuição quase universal e
aparentemente simultânea de cada um dos estádios sucessivos da humanidade. Mas
cada um destes estádios corresponde a uma certa quantidade de milénios e bastam
algumas dezenas de séculos para que uma espécie, quando encontra condições
favoráveis, se espalhe universalmente. Semelhante lapso de tempo é
absolutamente impossível de ser apreciado na escala estratigráfica.
A
maior parte dos naturalistas pensa que, tal como nas outras espécies animais, o
Homem nasceu à custa de um pequeno grupo familiar animal em via de
transformação, e daí, com o tempo, se espalhou a pouco e pouco pelo resto do
mundo. A segregação ou antes a instalação e a separação das diversas raças é
consequência desta dispersão geográfica.
Parece
que o Homo Sapiens - após muita polémica e descoberta de outros ramos de hominídeos
- desprovido de sistema piloso protector só pode ter nascido num clima quente,
ou pelo menos suficientemente temperado. Foi o uso do vestuário que, em
seguida, lhe permitiu afrontar os mais rigorosos climas da época glaciar,
quando se dispersaram para longe do seu lugar de origem.
Assim,
o Homo Sapiens desde a sua aparição formou um grupo homogéneo pelas suas
características gerais, sendo de salientar o facto de se encontrar como que
deslocado no tempo e utilizar peças de vestuário para se proteger contra as
intempéries.
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