A VIDA CONHECIDA - Animais e Vegetais
Como
já vimos, vírus e outras formas de vida encontram-se como que numa zona
fronteiriça entre vida e não vida. Geralmente o limite entre ser vivo e ser não
vivo é bem definido, mesmo sujeito a confusões (?). Os seres vivos, por sua
vez, também são divididos, mal ou bem, em dois reinos ou grupos separados*: os Animais e os Vegetais ou plantas. Esta divisão considera-se verdadeira pelo
menos nos casos mais evoluídos, pois nas formas mais simples sucede o mesmo que
na divisão do vivo e não vivo: é difícil determinar, em alguns casos, se um
dado ser é animal ou vegetal.
A
diferença mais marcada, entre
animal e planta, talvez seja o
facto de aquele se mover livre e espontaneamente - porque tem um sistema
muscular e outro nervoso - e aquela,
incluindo as mais evoluídas, estar fixa num só lugar. Existem, contudo,
excepções, como algumas unicelulares, microscópicas, que fazem o seu percurso
livremente através dos pântanos ou águas do mar onde vivem: as Diatomáceas.
Por
outro lado, há animais que não se movem, como as esponjas e os corais ou
madréporas que formam colónias nas rochas. Fixam-se e vivem toda a vida no
mesmo sítio dando, os corais, origem, depois de mortos, aos recifes, que não
são mais do que aglomerados de milhares de esqueletos.
Quanto
à estrutura interna, a membrana celular das plantas é rígida e inflexível,
produzindo principalmente a celulose.
A do animal é flexível e mais elástica, produzindo as proteínas.
Finalmente
os animais não obtêm a sua alimentação do mesmo modo que as plantas. Estas, na
sua maioria, fabricam os seus produtos assimiláveis pelo processo de fotossíntese onde, por meio dos seus
pigmentos verdes, a clorofila, transformam com a ajuda da luz solar, a partir
da água e anidrido carbónico, os sais minerais contidos no solo em produtos
assimiláveis, principalmente a glucose - uma espécie de açúcar - que ao combinar-se
com as outras substâncias no interior da planta dão origem a outros produtos
necessários como açucares, amidos, gorduras e proteínas. Parte destes produtos,
não utilizados pela planta, são armazenados no seu interior e podem ser
aproveitados para os animais, que não fabricam os seus próprios alimentos.
Aqueles,
precisam de os obter noutros animais, ou plantas, que comem e digerem: ou seja,
transformam-nos e tornam-nos solúveis e assimiláveis pelas diferentes partes do
organismo, o que algumas plantas também fazem, como as carnívoras.
Pelas
excepções - como aliás sucede em todos os campos da ciência onde não há regra
sem excepção - podemos concluir que alguns seres vivos tanto podem ter as
características de um animal como de um vegetal, o que se torna num desafio
para a classificação dos dois grupos distintos, como o caso da Euglena, organismo verde que se
assemelha a uma planta, com a sua clorofila e poder de fabricar o seu próprio
alimento utilizando a energia irradiante do sol, e ao mesmo tempo se parece com
um animal porque possui uma boca e um esófago por onde engole e digere
alimentos.
Para
simplificar - e rodear o problema - os botânicos classificam-na como uma
planta, e os zoólogos consideram-na um animal.
Enfim,
é mais um ser que se encontra na fronteira desconhecida entre animal e vegetal,
desafiando as classificações e demarcações feitas pelo homem. Todos os seres
vivos, quer animais quer vegetais, simples ou altamente organizados, têm uma
coisa em comum que é a sua unidade básica - a célula. Qualquer organismo é constituído por pequenas porções de
substância viva, ou protoplasma, mais ou menos justapostas, as quais damos o
nome de Célula.
Este
protoplasma, considerada matéria viva no sentido mais lato, forma a parte da
célula contida dentro da membrana celular - excluindo o núcleo - e contem os trinta elementos, entre
os quais o oxigénio, carbono, hidrogénio, azoto, fósforo, potássio, cálcio e
magnésio, que se encontram combinados nas formas mais variadas em complexos
compostos químicos como proteínas, gorduras e carbohidratos e outras
substâncias inertes.
A
água constitui sessenta a noventa por cento do protoplasma - variando a
quantidade conforme os seres vivos - que pode dissolver mais substâncias assim
como outros compostos que conhecemos e reter muito bem o calor.
Logo
a seguir à água - sem ela é impossível a vida conhecida - as proteínas são as
substâncias mais abundantes, formadas por variadas combinações de substâncias
químicas conhecidas por aminoácidos -
mais de vinte - cujas moléculas contêm centenas, e em alguns casos milhares, de
átomos, sendo consideradas a base da construção da vida na matéria.
Os
carbohidratos e gorduras são combinações de carbono, oxigénio e hidrogénio, e
fontes de energia para a actividade da célula. Os carbohidratos combinam-se com
as proteínas e elementos minerais, que também constituem a célula, como o sódio
e fósforo, formando substâncias complexas que conhecemos como ácidos
nucleicos.
Um
destes ácidos, o ácido ribonucleico,
ou ARN, tem importância vital na formação básica das proteínas. Outro, o ácido desoxirribonucleico, ou ADN, é
também muito importante por se relacionar com a hereditariedade da célula e se
encontrar estreitamente associado com os cromossomas,
no núcleo celular.
Finalmente,
o protoplasma contém as enzimas,
hormonas e vitaminas, que servem para acelerar as reacções químicas.
E
por último, podemos então salientar num aparte, que o protoplasma não é mais do
que um conjunto de matéria inerte, que por circunstâncias desconhecidas, se
torna vital para as manifestações de “vida” e envolve, ou melhor, faz parte de
uma unidade básica - a célula.
A
célula, de acordo com a moderna
concepção dos especialistas que a estudam, é uma massa gelatinosa de
protoplasma cercada por uma membrana celular de uma certa espessura e
consistência maior ou menor, conforme os casos. O protoplasma não é uniforme,
mostrando áreas bem definidas, com um núcleo
mais ou menos ao centro. Algumas têm o núcleo descentrado e outras têm até mais
do que um. O protoplasma que envolve o núcleo chama-se citoplasma, e uma parede protectora que envolve o núcleo a membrana celular.
As
células individuais podem formar um ser vivo de uma só célula, como os Protozoários - Amiba e Paramécia - e
formar seres de numerosas células, os Metazoários.
No
primeiro caso, o trabalho vital é executado pela única célula que forma o
animal, e no segundo verifica-se que cada grupo de células que formam o animal
se encarrega de determinadas funções. Assim é que, quando decompomos um
metazoário - o homem por exemplo - encontramos certas células que se reúnem e
justapõem para cobrir a superfície, a pele; para forrarem as cavidades
naturais, cartilagens; para servir de suporte, os ossos.
Verificamos
pois que num organismo pluricelular se realiza uma divisão de trabalho
fisiológico, isto é, que cada grupo de células se adapta à realização de um
papel determinado, embora todos os grupos concorram afinal para a vida do
organismo. Estas células formam os tecidos,
nervoso, musculares e conjuntivo, que após combinados formam os órgãos, como o coração, intestinos e
pâncreas.
Os
tecidos e órgãos simples são coordenados pelas actividades individuais das
células, até que o organismo possa funcionar propriamente. Podemos pensar nas
células individuais como tendo uma vida própria, em que absorvem várias
substâncias, consomem combustível e produzem energia nas suas múltiplas
actividades. Sintetizam, ou transformam, substâncias complexas, fabricam e
segregam hormonas e enzimas, com os quais controlam os processos vitais do
organismo, eliminam os produtos inúteis e reproduzem-se. Deste modo, as
actividades que ocupam um organismo, como um conjunto, são completadas pelo
protoplasma da célula individual.
*A
classificação moderna procura combinar o sistema de identificação com as
características filogenéticas - a
evolução relativa das espécies - mas as divisões inferiores em subfilos, classes e ordens continua
a gerar controvérsias. A classificação actualmente com maior aceitação é o
sistema dos cinco reinos, que divide os seres vivos nos reinos dos Monera
(bactérias e cianobactérias), das Plantae (plantas), dos Animalia
(animais multicelulares), dos Fungi (fungos) e dos Protoctista
(protistas, todas as criaturas não
incluídas nos outros quatro reinos).
Como se originou a Vida
Depois
de tudo isto, não sabemos como se
originou a vida - por nós entendida - e uma das maneiras de compreender
a natureza de qualquer coisa é descobrir como ela se originou.
O
êxito de Darwin em estabelecer a validade da teoria da evolução levantou
simultaneamente o problema de saber de onde teria vindo a forma mais primitiva
de vida. A princípio acreditava-se que se tinha gerado espontaneamente no fundo
do mar. Hoje crê-se que pode surgir sob certas condições químicas que após
averiguadas podem ser aplicadas na prática.
Surgiu
uma teoria sobre a maneira como teria aparecido a vida no globo e realmente
alcançou, na prática, um êxito nunca esperado. Nos princípios de 1950, Harold
Urey, professor na Universidade de Chicago, concluiu que a atmosfera original
da Terra deveria ser desprovida de oxigénio, contendo apenas gases simples como
hidrogénio, amoníaco, vapor de água e metano, tendo mais tarde se lhes juntado,
talvez, monóxido de carbono, anidrido carbónico e azoto, o que sugere ser esta
atmosfera mais diáfana à luz ultravioleta do que a nossa.
Esta
teoria coincide com o conhecimento do papel universal das proteínas nos
sistemas vivos, e maneira como eram constituídos os aminoácidos, à volta das
moléculas de amoníaco, o que provocou logicamente a curiosidade de verificar se
se formariam espontaneamente em tal atmosfera. Urey sugeriu, deste modo, a
experiência que Stanley Miller, um seu colega, realizou em 1953: um globo cheio
de água até metade representava o oceano
imaginário, quando a superfície terrestre acabava de formar-se, e o resto cheio
de metano e amoníaco representava o que podia ter sido a atmosfera primitiva.
Vários eléctrodos, potentes, de tungsténio imitavam o Sol que lançava sobre a
Terra as suas radiações ultravioletas. Depois de a água aquecida e o vapor
desta se misturar com o metano e o amoníaco, os eléctrodos começaram a
descarregar relâmpagos constantes sobre a atmosfera do globo, até que, ao cabo
de uma semana, começaram a formar-se substâncias não voláteis que se acumulavam
na água, constando de vários aminoácidos. Quinze por cento do carbono que
estava presente no metano tinha passado a constituir as novas substâncias.
O
professor Leslie Orgel, do Instituto Salk, continuou estas investigações
conseguindo criar cadeias de nucleótidos que se retorcem sobre si mesmas de um
modo que recorda a estrutura das moléculas fundamentais dos cromossomas. Todas
estas experiências baseavam-se em duas grandes hipóteses: a matéria viva
primitiva tinha-se formado na atmosfera, ou em águas pouco profundas, e a
energia que desencadeou a formação dessas substâncias foi eléctrica.
Entretanto,
em 1977, uma expedição científica norte-americana descendo a dois mil e
quinhentos metros abaixo do nível do mar, nas proximidades das ilhas Galápagos,
encontrou grandes colónias de animais até então completamente ignorados: vermes
com dois metros de comprimento, caranguejos gigantes e peixes avermelhados que
se juntavam em volta de fontes de água sulfurosa muito quentes.
Esta
descoberta tem uma importância excepcional, pois a vida nos mares vai
escasseando à medida que a profundidade aumenta, e era considerado como certo
que a vida dependia apenas da formação de substâncias orgânicas por meio da fotossíntese
que, por sua vez, depende da luz solar. Por isso não podia existir vida onde
reina a mais completa escuridão. E, no entanto, a mais de dois mil e quinhentos
metros de profundidade, onde não chegam os raios solares ou substâncias
orgânicas formadas na superfície, há vida animal, se bem que com formas
extraordinárias: os vermes brancos gigantes não possuem boca ou tubo digestivo
mas sim um órgão cheio de bactérias que vivem em simbiose com o verme e o
alimentam.
Certamente
que essas bactérias podem sintetizar em águas muito quentes compostos orgânicos
a partir dos minerais de enxofre expulsos pelos vulcões submarinos, o que
significa que existem seres vivos que não dependem da fotossíntese mas da quimiossíntese,
utilizando como materiais primários as substâncias provenientes do magma
submarino em vez de elementos da atmosfera primitiva. Esta descoberta põe-nos
na presença de um novo reino animal, qualquer coisa que pode apenas ser
ultrapassada pelo achado de outras faunas noutros planetas.
Já
nos anos trinta os biólogos tentavam descobrir o que era o vírus na realidade e
a maneira de criarem um artificialmente. Verificavam que era possível levar
grandes massas deles a cristalizarem, como faz o açúcar, dando a entender que
seriam inanimados, enquanto o seu poder de multiplicação parecia provar o
contrário. Alguns
cientistas crêem que o vírus provém de bactérias que largaram o seu equipamento
celular e se tornaram, por assim dizer, parasitas. Outros pensam que pode
ter-se formado espontaneamente.
Serão
seres vivos na via descendente, ou seres inanimados na via ascendente?
Talvez
nunca o saibamos. A verdade é que, vivos ou não vivos, o homem já arranjou
maneira de os reproduzir. Em 1965 uma equipa da Universidade de Illinois, sob a
direcção do professor Sol Spielgeman, conseguiu sintetizar uma mensagem não
viva de ácido nucleico produzindo um vírus que continuará a multiplicar-se
indefinidamente.
Em
conclusão: após milhares de experiências os biólogos conseguiram criar produtos
componentes da matéria viva. O problema é que, daí para a frente, criar "vida"
com as suas características já é mais difícil. Eles sabem os princípios básicos
para a constituição da vida conhecida; só não sabem é como criar ou conseguir o
"sopro vital".
E
para finalizar, vamos fazer uma análise resumida do que se conhece sobre os
seres animados e inanimados:
Segundo
a ciência, e pelo que podemos deduzir, as manifestações de vida foram
detectadas a partir de um dado ponto, não havendo porém uma certeza nessa
fronteira de divisão de vivo e não vivo. Seguidamente surge a bactéria, e
outros seres, já considerados como seres vivos, mas que ficam também num campo
intermédio entre o vivo animal e o vivo vegetal. A
partir daí, as manifestações de vida conhecida são absolutamente definidas, até
ao mais alto expoente no planeta, o homem. Para além do homem, também nada se
sabe, o que não quer dizer que não haja outras formas de vida desconhecidas
para nós.
Assim,
podemos representar o nosso conhecimento com o seguinte esquema, que nos
elucida melhor sobre as incertezas da ciência:
Todos
os seres são constituídos por matéria inerte. Como atrás vimos, os modernos invocadores
da ciência afirmam que as “coisas” vivas são formadas por um conjunto de
“coisas” não vivas, e que a diferença não está na matéria-prima, mas sim na sua
organização.
Perguntamos
novamente: Onde estarão as fronteiras da vida?
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