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segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019


A VIDA CONHECIDA - Porque os seres vivos vivem

 
Actualmente, a biologia pretende saber porque os seres vivos vivem, tentando descobrir esse fenómeno desconhecido - a Vida - que se transmite de ser para ser e cuja finalidade permanece na obscuridade.

Se a Biologia conseguir os seus fins, uma nova era surgirá certamente, onde o homem se lançará numa aventura em muitos pontos benéfica para a humanidade - com o controlo das doenças - mas simultaneamente assustadora, pois o homem tentará talvez entrar em campos absolutamente interditos, antinaturais, provocando o caos e desordem no universo harmonioso e superiormente orientado.

Este novo campo de estudos relaciona-se estreitamente com os fenómenos moleculares da vida. Um dos mais densos mistérios é o modo como as dezenas de milhares de compostos químicos que constituem um ser vivo trabalham em conjunto para fazer que ele cresça, se alimente e reproduza. Em princípio, os biólogos já descobriram que cada célula contém um formulário com instruções pormenorizadas sobre o género de substâncias a produzir com os alimentos ingeridos e a forma de se dividir para reproduzir-se, em tamanho e formato, conforme o sistema a que irá incorporar-se - seja elefante, rato, cão, galinha ou homem - e o modo de se integrar num organismo vivo.

Este formulário, denominado material genético, possui o extraordinário poder de produzir cópias de si mesmo, transmissíveis à geração seguinte, legando aos seus descendentes, deste modo, instruções para se dirigirem, comportarem e viverem. Todo o ser vivo compõe-se de células, muitas delas semelhantes entre si e comuns a todos os organismos, que obedecem a vários tipos de composição preestabelecidos, sendo a sua parte mais importante o Núcleo, onde estão contidos os cromossomas, o material genético, cada qual com os seus genes.

Estes genes, por sua vez, constituem-se de uma substância especial não encontrada noutra parte de célula e conhecida por DNA - ácido desoxirribonucleico - que contém, em linguagem cifrada, todas as prescrições necessárias a manter coesa a célula individual e consequentemente todas as células dum organismo.

Conforme demonstrou O.T. Avery, do Instituto Rockefeller, o DNA contém, e transmite, prescrições genéticas. Essa experiência consistiu na transplantação de prescrições genéticas duma célula bacteriana para outra, colocando uma parte do DNA da célula doadora, em solução, no meio onde se achavam as células receptoras. Estas, em parte dos casos, incorporaram ao próprio complemento genético o DNA alheio, de modo que ele se tornou parte integrante e permanente do seu formulário genético. Deste modo, genes de resistência ou susceptibilidade a um antibiótico, genes de capacidade ou incapacidade de produzir doenças, podem ser transplantados de uma linhagem de bactérias para outra.

O DNA apresenta uma molécula dupla: duas longas cadeias moleculares torcidas uma à volta da outra, cada qual constituído por unidades conhecidas por nucleótidos - de que há quatro espécies - parecendo um colar feito de quatro fiadas de contas, que são designadas, para maior conveniência, pelas letras A, T, G, e C, das iniciais dos quatro tipos de agrupamentos químicos de que se compõem. Ora, acontece que A liga-se a C, se ambas forem postas em contacto, e T com G. Isto serve para manter juntas as duas fiadas, sendo a disposição das contas de uma das fiadas complementar da disposição da outra.

Deste modo o DNA está magnificamente preparado para passar as  informações, porque se as duas cadeias se separam e caem num meio de nucleótidos as AA agarrarão as CC, e assim por diante até haver duas moléculas duplas onde antes só havia uma. Cada uma delas especificou como fazer a sua complementar.

Em toda a natureza nunca se descobriu outra molécula com esta estrutura extraordinária de dupla-hélice, ou saca-rolhas, embora seja de esclarecer que há uma molécula helicoidal de uma só fiada - o RNA - que se pode formar com partes da cadeia do DNA e que, ao soltar-se, passa informações ao maquinismo actuante da célula, tal como um molde de cera passa informações sob a forma de uma chave. O RNA constitui pois uma espécie de cópia a papel químico, ou melhor, um desenho de oficina, para a produção de uma determinada proteína, tirado do projecto original.

A sequência exacta dos nucleótidos do DNA de qualquer ser vivo é única, excepto no caso de gémeos idênticos. A molécula tem um comprimento descomunal, sendo o DNA do ser humano com uns mil milhões de nucleótidos. No entanto, o DNA de todos os seres vivos, quer plantas quer animais, parece ser constituído de acordo com o mesmo plano geral.

Vimos que o DNA é um aparelho de autocópias de prescrições e falta agora saber de onde vêm essas prescrições. A célula é como que uma caixa de paredes impermeáveis, que deixam passar selectivamente uma grande série de substâncias que vão entrar em reacções químicas, produzindo substâncias indispensáveis à célula e produtos de refugo que são outra vez expulsos. O comando destas reacções químicas é efectuado por substâncias conhecidas por enzimas, de diversas espécies - milhares - que tornam, cada uma, possível pela sua presença uma determinada reacção química como por exemplo a fermentação. O DNA trabalha produzindo no momento exacto a enzima exacta. Todas elas são proteínas constituídas das mesmas formas - mais de vinte - de aminoácidos. Uma molécula de enzima consta de várias centenas dessas formas de aminoácidos, formando uma longa corrente cuja disposição no encandeamento caracteriza uma dada espécie sendo, como o DNA, uma mensagem escrita, só com a diferença de que o DNA tem um alfabeto de quatro letras e as enzimas têm um com mais de vinte, conforme o número de aminoácidos naturais e comuns.

Segundo os biólogos modernos, que se debruçam sobre o modo como se originam moléculas de enzimas, as células contêm superenzimas - os microssomas - que fabricam as enzimas comuns. Estes microssomas, embora cem vezes maiores do que as moléculas das enzimas, só podem ser vistos com um microscópio electrónico.

Para produzir uma molécula de enzima, como a da hemoglobina por exemplo, é necessário encandear entre si seiscentas formas dos vinte tipos diversos de aminoácidos, numa sequência correcta e bem feita. Como as instruções para a montagem estão escritas em linguagem cifrada nos microssomas, a sua tarefa principal é a indicação cifrada de qual o tipo de enzima a ser fabricado e como fabricá-lo. As formas que compõem o microssoma são muito semelhantes ao DNA, com um acréscimo apenas de um grupo químico, essencial à síntese das enzimas, que forma o ácido nucleico do microssoma - o ácido ribonucleico ou RNA. O RNA é mais especializado do que o DNA do material genético, porque pode fabricar enzimas e o DNA não. No entanto o DNA pode autocopiar-se e o RNA não pode.

Retomando o assunto, os microssomas são responsáveis pelo fabrico das enzimas, sendo no entanto o DNA do material genético a fonte original das prescrições sobre os tipos que a célula deve fabricar. É claro, pois, que o gene determina o tipo de formulário contido no microssoma.

Ora, aparentemente os microssomas formam-se no núcleo e depois distribuem-se pelas outras partes da célula. Viu-se, posteriormente, que a formação do RNA microssómico dentro do núcleo só ocorre em presença do DNA e que se este for removido a célula perde a capacidade de formar RNA microssómico.

Não se sabe ao certo como é que o DNA genético produz o RNA microssómico. Podemos arriscar apenas que o material genético tem duas funções: tirar autocópias e sintetizar RNA que depois de embalado como microssoma é remetido para a célula onde fabricará enzimas.

E para terminar, cada ser vivo é, biologicamente, um manual de fórmulas escrito com os caracteres do idioma genético, o idioma do DNA. O DNA produz RNA - não se sabe como - e o RNA fabrica enzimas que por sua vez preparam os elementos de que se compõem todos os três.

Finalmente, o esquema molecular do mundo dos seres vivos equilibra-se neste triciclo vital - dizem os cientistas. Mas não explicam a razão por que os microssomas fabricam enzimas, de onde vêm, e como, o RNA e as tais prescrições genéticas do DNA. Enfim: qual a origem do “formulário” contido nas células.
 
Texto sem adopção às regras do acordo ortográfico de 1990.
 

 

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