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segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019


FORÇAS DESCONHECIDAS – Como a Ciência define Vida

 
Voltando ao universo conhecido: uma das leis básicas consideradas certas é a divisão dos seres em vivos e não vivos. Será essa a verdadeira realidade? Ou poderemos aprofundar este conceito até chegarmos à conclusão de que todos os corpos ou objectos são animados de algo que por nos ser desconhecido denominados “Vida”?

A ciência define vida, na enciclopédia luso-brasileira, Vol.XXXV, pág. 129, como : “Resultado das funções dos órgãos que concorrem para o desenvolvimento e para a conservação; o estado de actividade de subsistência organizada, comum aos animais e vegetais; designação vulgar da existência humana ou duração ordinária do ser humano”.

Em suma, além de uns conceitos que contribuem apenas para o entendimento entre os seres duma sociedade com linguagem organizada, não aprofunda a essência do fenómeno e nada diz de concreto. Mas para sairmos de dúvidas vejamos as páginas 132, 135 e 142 da mesma enciclopédia.

BIOL. Têm sido inúmeras as definições de vida o que significa que nenhuma satisfaz. Para Aristóteles seria simplesmente “a nutrição, crescimento e depauperamento, tendo por causa um princípio que tem em si o seu próprio fim, a enteléquia”. Para Bichat a vida “é o conjunto de forças que resistem à morte”. Claude Bernard julga impossível definir a vida porque “é inacessível e abstracta em si própria”. Há pois apenas que caracterizar as diferenças entre matéria viva e substâncias inertes e limitar tudo a uma descrição de fenómenos vitais, procurando explicar em que diferem da realidade do mundo físico. A vida é um fenómeno terrestre pois está intimamente ligada às condições físicas e químicas da Terra. Para Plantefol a matéria viva não é uma espécie de limo que se tenha desenvolvido à superfície do globo terrestre, por acaso sobre a matéria inorgânica. Ela deve aparecer, pelo contrário, como um dos fenómenos fundamentais da Terra em ligação com o Universo de que não é mais do que uma parcela.

 
FILOS. O termo “vida”, sendo um dos que se tomam da linguagem vulgar, onde tem uma multiplicidade de acepções, não pode ser definido com rigorosa exacção. Até no uso pelos biologistas não apresenta absoluta precisão de significado. Apontam-se nos seres vivos as seguintes características: 1) São, até certo ponto, independentes do seu ambiente, no sentido de poderem continuar a viver apesar de consideráveis variações nesse ambiente; 2) Têm a capacidade de reproduzir a sua espécie, de maneira que se mantém a continuidade da existência de cada tipo de organismo por meio de um ciclo reprodutivo cujo pormenor varia com o dito tipo; 3) Praticamente todos os seres vivos têm a capacidade de tomar alguns materiais do ambiente, e, por meio de sínteses e transformação, moldá-los em materiais muito mais complexos, que são incorporados na matéria viva do organismo, sendo que os materiais assim sintetizados em proteínas, por exemplo apresentem características que são típicas da espécie, e que por meio de testes (provas de contrastaria) adequados, a proteína duma espécie pode ser distinguida da proteína doutra espécie, sendo até provável que a individualidade impressa na proteína de um determinado indivíduo vá ainda além disso, de maneira que cada membro individual de uma espécie sintetize proteínas que se possam distinguir das de outro indivíduo; 4) É também característica dos seres vivos a faculdade de auto-preservação a qual se manifesta na maioria dos organismos por duas maneiras diferentes a saber: os organismos tendem a evitar influências deletérias no ambiente, ou a modificar o seu comportamento ou a sua estrutura de maneira a acomodarem-se a essa influência do ambiente, e, por outro lado, quando    sofrem um dano, a maioria dos organismos têm, em maior ou menor extensão, o dom de reparar esse dano e reconstruir a parte ofendida. O grau em que isto pode realizar-se varia consoante os diferentes tipos de organismos; 5) A maioria dos animais têm algum grau de memória e certa capacidade de aprender, sendo que, sobre a base desse facto, e também de reacções inatas, procedem de maneira propositiva ou finalista: 6) Os organismos apresentam uma actividade unitária, uma totalidade de acção, com interconexão complexíssima de actividades parcelares, sendo que a actividade de conjunto é mais do que a soma das actividades parcelares. O problema científico, a este propósito, é o de determinar se aqueles conceitos e aquelas fórmulas que bastam para a descrição do mundo inorgânico serão acaso também bastantes para fazer a descrição das funções vitais e do comportamento dos seres animados. Aos teóricos que respondem afirmativamente a esta pergunta se tem chamado “mecanicistas”, e aos que respondem pela negativa «vitalistas». A posição dos mecanicistas no rigor do termo parece absolutamente insustentável, e, para aproximar os fenómenos vitais dos não vitais cumpre não assimilar os fenómenos meramente físicos ao funcionamento duma máquina. Na obra de Driech o vitalismo pretendeu resolver o enigma acrescentando a um mecanismo físico a acção de uma força vital a que se deu o nome de «enteléquia», mas a isso se respondeu que resta saber se o erro não residirá já em admitir o mecanismo para os fenómenos puramente físicos, e se a solução do enigma não estará numa revisão fundamental, segundo a nova ciência física, da própria lei da causalidade física. A natureza mostra constantemente o facto de que, a partir de unidades já existentes, se formam outras unidades de grau superior. Tomando isto em conta, o vitalismo apresenta-se como o método de investigação apropriado a essa biologia sintética, e a enteléquia seria a ideia presente da totalidade, ou unidade de ordem superior.

 
TEOS. Segundo os teosofistas, a vida astral ou vida no plano astral, só muito dificilmente pode, com suficiente clareza, ser explicada aos seres conscientes do plano físico, tal qual sucederia se, paradoxalmente, algum sábio zoólogo procurasse explicar a um peixe das maiores profundidades oceânicas, que de facto também se pode viver fora da água à luz de um sol. Considerando o fenómeno a que vulgarmente se chama “morte” como sendo um processo que traduz, apenas, em pôr de parte materiais físicos já usados e portanto inúteis, deteriorados por um acidente fortuito, um desastre, uma doença, etc., a parte imortal do homem, a que algumas religiões dão o nome de “alma”, penetra segundo as teorias teosofistas, em um novo mundo mais subtil o “outro mundo” - o plano astral ou mundo astral - onde a vida existe, decorrendo em dimensões que não se limitam às três resumidas dimensões do plano ou mundo físico: o comprimento, altura e largura, que só matematicamente podem ser elevadas a uma quarta, quinta ou mais dimensões, abstractas para o cérebro físico, limitado às dimensões do plano onde se sente “viver”. A morte ou transferência para o mundo astral, é quase sempre procedida por uma fase em que o Ego, ou parte imortal do homem, sente reviver toda a vida passada, como contam muitos daqueles já prestes a morrer afogados, e que se encontram já nesse estado de inconsciência relativa ao mundo físico, quando os seus sentidos já não registam as vibrações de tal mundo. Com efeito, um homem pode muitas vezes parecer já morto, e, contudo, entre a última pulsação e o último momento em que a derradeira centelha de calor animal abandona o corpo, medeia um espaço de tempo em que o cérebro pensa, e o Ego revive durante esses rápidos segundos toda a sua vida passada. Esses instantes são, ainda conforme as teorias teosofistas, suficientes para a revelação de todas as causas que se criaram durante a vida. É nesse momento que o homem se vê tal e qual é, despido de vaidade e de amor-próprio. A esse estado cheio de vida segue-se, nas criaturas vulgares, a um estado de sonhadora semiconsciência, mas às vezes, quando o pensamento do moribundo se fixou com intensidade em alguns dos entes que vai deixar, quando qualquer grande preocupação lhe assaltou o espírito nos últimos momentos, ou quando pensa em qualquer coisa que queria deixar feita e não fez, há pessoas da casa ou das proximidades que podem chegar a ver uma manifestação astral do seu corpo físico - o seu duplo etéreo. As investigações psíquicas e as descrições de inúmeros casos ocorridos após a chamada «morte» do indivíduo, atestam, que nessas condições e noutras de natureza semelhante, pode ver-se e ouvir-se esse duplo, o qual, quando se deixa ver, apresenta esse estado de inconsciência a que se aludiu, silencioso, de aspecto vago e, por assim dizer, incomunicável. Com o decorrer de tempo mais ou menos longo mas incomensurável pelas medidas de tempo usadas no mundo físico, tais como relógios, etc., esse duplo etéreo desagrega-se gradualmente e a entidade imortal, o Ego do indivíduo, abandona-o, tal qual sucedeu com o corpo físico. Esse duplo, fica, pois, como um cadáver astral, conservando-se perto do corpo físico, e ambos se desintegram ao mesmo tempo. Os clarividentes afirmam ver esses despojos astrais nos cemitérios, umas vezes dotados de grande semelhança com o corpo físico morto, outras vezes apenas com o aspecto de uma luz violácea. O processo efectua-se, e por fim, tudo, à excepção do esqueleto ósseo do corpo físico, se desintegra completamente e as suas partículas vão entrar em novas combinações. Um dos motivos porque os povos orientais são apologistas da cremação, consiste em que, além do seu carácter higiénico para os “vivos”, esse processo de desintegração oferece a vantagem de restituir a matéria à Natureza-Mãe, os elementos físicos, sem que se torne necessária a decomposição lenta e gradual, que demora a evolução do indivíduo para uma vida astral consciente. Assim como o cadáver dum indivíduo falecido subitamente, pode em seguida ser galvanizado, numa aparência de vida, pela aplicação de uma bateria galvânica ou por qualquer outro processo eléctrico ou mesmo químico, da mesma forma, num corpo astral ainda em via de evolução, é possível insuflar um pouco de vida física, que nestas circunstâncias é artificial, por meio da infusão do princípio vital de um médium. Se se trata do cadáver de uma criatura muito intelectual poderá ele falar com inteligência, e se for o cadáver dum analfabeto só se manifestará sem cultura alguma. As teorias teosofistas aconselham, contudo, que essas entidades astrais devem ser deixadas tranquilas porque fazê-las regressar às vibrações grosseiras do mundo físico, é sempre prejudicar e demorar a sua evolução para as regiões superiores do plano astral, e desse plano ao plano mental, causal, e aos que se lhe seguem. Essa divisão inferior do plano astral é habitada pelas entidades humanas que sacudiram de si o corpo físico e o seu duplo etéreo, mas que ainda não se desembaraçaram completamente da sua natureza passional e emocional. A filosofia teosofista atesta que “sem sairmos da analogia de tudo o que é conhecido, é fácil povoar o Cosmos de entidades, numa escala ascendente até chegarmos a Qualquer Coisa indistinguível da sua omnipotência, omnipresença e omnisciência. (Cf.Dr.Huxley, Essays Upon Some Controverted Questions, p.36)”.

 
Como acabamos de verificar, o conceito de vida é demasiado complexo e confuso para podermos chegar a uma conclusão objectiva e afirmarmos uma pretensa verdade em que se nos apresentam várias alternativas como a de natureza material, considerada única e certa cientificamente, e a de natureza espiritual que pela sua elasticidade nos parece mais aceitável. A definição científica de “vida” pressupõe a não existência de um Deus como Ser Superior.

Ao referirmos um ser subentendemos, logo, esse ser animado de algo, pois os seres inanimados “não têm vida” nem órgãos e são completamente amorfos. Nesta ordem de ideias não consideraríamos também a existência de um ser abstracto visto não estar enquadrado nas características que definem um ser vivo cientificamente.

Para considerarmos Deus como um Ser Superior, invisível, que está em toda a parte, criador e senhor do céu e da terra - neste caso animado de vida ou algo desconhecido para nós - não podemos considerar as definições científicas atrás descritas, sendo assim impossível aceitar o conceito de “vida” mais vulgarmente conhecido, podendo imaginarmos outras formas de “vida”, e até que tudo o que constitui o planeta Terra seja vivo.

A verdade é que está provado que tudo, desde os minerais aos animais superiores - incluindo o homem - irradia energia, que os sábios oficiais denominam como: correntes magnéticas, radiactividade, ciclotrões, energia, força vital, atracção eléctrica, sopro vital, magnetismo, aura, etc., não explicando porém a sua essência.

 

O QUE SERÁ “VIDA” ENTÃO?

A vida poderá então ser definida de várias maneiras, e quando a ela nos referimos esquecemos a “vida” não biológica, a vida dos átomos, o vigor das geleiras que lentamente se movem, o crescimento e formação dum cristal e as rotações enérgicas das estrelas, planetas e galáxias. Todos estes fenómenos, em certo sentido, implicam o conceito de “vida”. Num sentido amplo, todas as coisas que participam na evolução considerada inanimada são vivas, porque se originam, crescem, decaem, tornam-se inactivas, e morrem: enfim, têm uma finalidade.

 
No passado os astrónomos consideravam as estrelas eternas, sem começo nem fim, mas actualmente sabemos que elas não brilham eternamente e que têm um curso “vital” e eventual-     mente chegam ao fim e morrem. É interessante seguir a vida duma estrela (há obras muito completas sobre o assunto, e extensas, que não podemos reproduzir aqui) como,  por  exemplo, uma  de tipo  anã  vermelha que passa sucessivamente por gigante, supergigante e termina numa anã branca. Os astrofísicos crêem que o nosso sol começou a existir sob a forma de uma estrela anã vermelha, com temperatura relativamente baixa, há mais de quatro milhões de anos, e tem vindo a aquecer progressivamente transformando-se actualmente numa estrela de dimensões moderadas, nem excessivamente quente nem exageradamente fria, se a compararmos com os cem ou duzentos milhões de estrelas que povoam a Via Láctea. Entretanto a vida do sol continua para a nova fase: uma gigante vermelha, seguindo o seu ciclo evolutivo até decair e morrer.

Sim, o nosso sol também terá fim - como todas as coisas, naturalmente - mas não nos preocupemos porque pela escala de medição humana pode-se considerar eterno. São milhares e milhares de anos que na sua grandeza esmagam o ser humano não lhe permitindo sequer compreender esse ciclo gigantesco e infinito para ele. Nesta grandeza uma geração “vive” menos que um bilionésimo de mícron de segundo, ou muito menos, o que está fora da nossa compreensão.

Existe algo, sem dúvida, ainda não compreendido na sua essência.

Os modernos invocadores da ciência pensam na “matéria viva” como se fosse algo caprichoso, irrelevante para a natureza do Universo. Todavia, os sábios afirmam que a base física dos objectos inertes, como os corpos celestes, é igual à das criaturas que neles venham a viver e formadas das suas substâncias, em que a diferença não está na matéria-prima mas sim na sua organização, onde as partículas mais humildes podem assumir as mais altas formas de vida porque uma coisa viva é uma organização de coisas não vivas.

Mas se essas “coisas” são inanimadas e no conjunto formam uma “coisa” animada, onde estarão as fronteiras da vida?

Sabemos que todos os objectos animados e inanimados são constituídos pelos mesmos elementos: os átomos, sempre os mesmos, que variam apenas no seu arranjo como, por exemplo, o diamante que é carbono puro cristalizado, e a grafite, do lápis de escrever, que também é carbono cristalizado. A constituição é a mesma, só mudando a forma de associação das moléculas. Depreende-se logicamente que a partir de um certo momento essas moléculas agrupadas, pela união e necessidade de orientação mais capaz, se revistam de uma forma desconhecida de energia mais forte e reconhecível, a que chamamos “vida”, e que em certos casos, por uma perfeição ainda maior num rumo determinado e racional, lhe damos o nome de “espírito” ou “alma”.

Só assim podemos compreender a diferença de ser vivo e ser não vivo, tendo, tanto um como o outro, energia, a mesma constituição básica, os mesmos elementos, só se verificando uma diferença quando essa energia passa a ser detectável para nós. E isto não quer dizer que os outros não tenham vida. Eles têm-na certamente, mas nós é que ainda a não conseguimos detectar excepto, talvez, os muito avançados em ciências chamadas ocultas.

Nos pequenos vislumbres dessa força o homem dá-lhe os nomes de campo magnético, linha de força ou energia, como vimos a empregar, mas nunca vida. O hidrogénio constitui uma parte do corpo humano, mas também faz parte do vapor de água. Qualquer objecto de ferro tem carbono, ou para sermos mais claros, o carbono é um dos constituintes do ferro e também da hemoglobina, substância que dá a cor vermelha ao sangue. O estanho e o cálcio também constituem o corpo humano, em pequenas quantidades é claro, mas estão lá. Se pudéssemos pesar todos os seus componentes verificaríamos que o oxigénio, carbono, hidrogénio e azoto constituem a maior parte do seu peso.

Estamos habituados a dizer que o corpo humano tem hidrogénio, oxigénio, azoto, cálcio, cobre, prata, níquel, titânio, e mais elementos em diversas quantidades, dando a ideia que o corpo é um objecto independente que tem esses elementos. Mas a verdade é que esses elementos é que constituem o corpo humano. O seu conjunto é que determina a existência de uma coisa a que damos o nome de “corpo físico”, pois se faltasse um, ou alguns, desses elementos, já não haveria corpo humano.

As dúvidas são muitas e mais se aprofundam ao se reconhecerem estas semelhanças na constituição dos seres distribuídos em três grandes divisões (grosso modo) ou reinos da natureza pelo homem: o Animal, o Vegetal e o Mineral. E há quem considere justificada a existência dum quarto reino - o Humano. Cada um destes reinos é definido por características padronizadas e acordo mútuo pelo homem, sendo a principal o facto de haver vida - e em que condições - ou não haver vida.

Actualmente os reinos são cinco:

Estas são as divisões criadas pelo homem. Mas o “plasma”, por exemplo, parece estar fora destes reinos.

Portanto, as incertezas subsistem e é compreensível que no ser humano uma força interior procure libertar-se e dar luz às suas dúvidas, que no meio da sua confusão e não orientação adequada, onde prima pelo vaguear insensato, provoca formas de comportamento absurdas e incoerentes pelo desejo de encontrar um caminho certo até agora desconhecido e que tem de ser trilhado por tentativas. O homem nessa confusão de sentimentos, na tentativa de achar uma razão de ser e compreender a vida, procede de modo a que mais se habituou e julgou necessário preservar para a sua sobrevivência e segurança. Procura sempre viver em comum com alguém da sua espécie onde vê um amparo, que conscientemente nega, ou um símbolo da sua força e vitalidade para poder trilhar esse caminho cheio de obstáculos e armadilhas que é a vida por nós compreendida e entendida.

Uma criança precisa de um adulto para lhe dar coragem e perder o medo. A maioria dos adultos que não precisam de um apoio, ou julgam não precisar, procuram alguém mais fraco onde descarregam toda a sua angústia e receios com atitudes agressivas e de mando, que finalmente são um artifício para esconder o seu medo, e tem como objectivo o mesmo fim da criança que procura a sombra protectora do adulto.

Este receio é verdadeiro. Todos os homens o têm e normalmente o homem isolado procura sempre um parceiro, mesmo doutra espécie. Ele precisa de ter alguém ao seu lado e podemos verificar até, esse impulso inconsciente, a mover vários autores de obras literárias, onde o protagonista está isolado, como no Robinson Crusoe por exemplo, que procura uma companhia, e neste caso doutra espécie, e que, para maior alívio do autor que se retracta, acaba por introduzir um companheiro já da mesma espécie.

 
O ser humano tem de ter uma companhia, para não enlouquecer. A razão disso é que não sabemos ao certo. Diz-se apenas que o ser humano é um ser social, que sempre procurou viver em sociedade, mas nada mais se adiantou. Todo o adolescente se sente inseguro, mesmo que o não queira reconhecer conscientemente, como atrás dissemos, e procura por formas típicas de comportamento camuflar essa insegurança, rodeando-se de uma carapaça que julga protectora. É comum neles a arrogância, a teimosia, a fanfarronice, enfim, tudo o que demonstre força e superioridade pois descobriram que a nossa civilização é assim. Os fortes são respeitados e considerados. As mais altas condecorações e prémios são militares. Cultiva-se a força. Toda a história humana obedece a uma característica imutável: povos exploradores e povos explorados, onde as leis consideradas justas e respeitadas - mesmo que absurdas - são impostas pelos mais fortes. É uma luta perpétua entre os exploradores, na mó de cima, e explorados que querem inverter a situação. Enquanto o homem tiver armas para lutar não haverá paz.

O mesmo sucede, em menor escala é claro, com outros seres vivos, inferiores, que dentro dos seus limites territoriais procedem de um modo agressivo mas sem chegarem à violência declarada, salvo algumas excepções. Ao observarmos um cão verificamos isso. Dentro do seu ambiente normal de vivência mostra-se activo, vivo, dinâmico e explorador. Se aparece outro cão dirige-se imediatamente ao seu encontro com umas rosnadelas de aviso, como que a dizer ao outro que agora se encontra num território que lhe pertence e que tenha cuidado.

Se pegarmos no mesmo cão e o levarmos para outra zona, desconhecida para ele, a sua atitude, por muito corajoso que seja, muda para receio, atenção e nervosismo, e se aparecer um cão daquele território a sua primeira reacção será fugir. Em suma, notamos umas rosnadelas de intimidação quando em território conhecido, e só ataca se for atiçado a isso, porque normalmente foge à luta aberta e prefere tomar atitudes de intimidação para esconder o seu medo. Aliás, verificamos também nas crianças esta reacção. Gritam, desafiam, gesticulam, mas raramente chegam ao acto declarado. Como vimos a salientar, há a tendência de esconder o medo com atitudes de intimidação e ganha o que estiver menos intimidado. E como nós sabemos os mais agressivos são regra geral os mais fracos. Por isso, uma preparação psicológica antes de um combate, ou guerra, por meio de imagens revolucionárias alusivas à coragem e que embotam o sentimento racional, virando o ser humano para aquele campo que interessa e fazendo-o sobrepor esse medo natural, tem muita importância e consegue bons resultados. O facto de salientar as suas virtudes guerreiras e tirar qualidades, directa ou indirectamente, ao inimigo e rebaixá-lo o mais possível, acaba por deixar o indivíduo menos intimidado e consequentemente apto para combater.

E é nessa fase difícil da adolescência quando o ser humano ainda quer ser honesto consigo mesmo que esses medos persistem mais agudamente, sendo recalcados com o andar dos anos. O homem adulto apresenta uma diferença fundamental, ou qualidade, apenas: a faculdade de esconder esses sentimentos e tomar uma atitude de fachada, julgada conveniente para a sociedade onde vive. A verdade é que essa protecção cínica, e artificial, começa a ruir e há cada vez mais clientes para as psiquiatrias.

Podemos recordar alguns dados eloquentes: cinquenta por cento de todos os doentes que consultam o médico, em certos países mais adiantados tecnologicamente, fazem-no porque sofrem distúrbios mentais ou perturbações psíquicas. Referimo-nos aos países mais avançados porque nos atrasados os indivíduos, menos evoluídos, refugiam-se na fé, na religião, com mais facilidade, aceitando cegamente e como uma tábua de salvação tudo o que essa religião lhes prometer, apenas com medo e receio do desconhecido. Não têm capacidade nem faculdade de raciocínio suficientes para procurarem, eles mesmos, um caminho.

Na Europa, nos anos 60, um terço das camas dos hospitais estavam ocupadas pelos casos mais sérios, dos dois milhões de doentes mentais, em 1961. Metade nos Estados Unidos também se destinava a doentes com distúrbios mentais, no mesmo ano. Imaginemos o que será nos nossos dias, com a instabilidade cada vez maior nas sociedades. No discurso pronunciado em 1962, o então presidente Kennedy disse que no seu país haviam mil e quinhentas clínicas especializadas em tratamentos psiquiátricos, e que o governo norte-americano gastava anualmente com “actividades relacionadas com a saúde mental” uma verba de mil milhões de dólares. O presidente da Sociedade Médica Psiquiátrica da Áustria, Dr. Victor E. Frank, descreveu uma nova “psicose” característica dos tempos “modernos”, a que chamou vazio existencial - no The New York Times. De 18 de Maio de 1962 - afirmando que oitenta por cento dos jovens norte-americanos e quarenta por cento dos estudantes alemães, austríacos e suíços, que tinham assistido às suas conferências, acreditavam na absurdidade final da vida. Por outras palavras: não encontravam significado para a existência humana. Todos nós sabemos que mais de metade das populações dos países desenvolvidos faz terapia existencial. Enchem os consultórios dos psicólogos e psiquiatras e “conselheiros” espirituais.

Uma comissão designada pelo Congresso de Washington, que trabalhou durante seis anos e gastou um milhão e quinhentos mil dólares nas suas investigações sobre a higiene mental, chegou à conclusão de que o problema número um da saúde pública, na nação mais industrializada e rica do globo, era o grande aumento de distúrbios psíquicos (The New York Times de 12 de Abril de 1961). Mas nada revelou melhor o problema como o aumento espantoso de suicídios, apesar de existirem organizações especificamente criadas para os prevenir, como o Clube dos Samaritanos em Londres, que recebia mais de cem chamadas telefónicas por dia, o departamento anti suicida do Exército de Salvação, a Agência para Prevenção de Suicídios na Áustria, o Centro de Prevenção de Suicídios de Los Angeles (EUA), ou “o pastor dos suicidas” Eric Bernspang da Suécia, e muitas outras pessoas e instituições consagradas à mesma missão em diversos países. Hoje, agravou-se tudo e já é normal os ataques indiscriminados de indivíduos desequilibrados a escolas e público em geral, sem contarmos com o aumento generalizado do “terrorismo” por todo o globo. A violência aumentou exponencialmente, um sintoma de que a sociedade humana “mais evoluída” está em plena decadência, independentemente das “desculpas” e ”princípios” que dizem defender. É alienação pura.

Contudo havia países com números estatísticos maiores, sendo eles, por “coincidência” os mais evoluídos da Terra, por ordem decrescente: Japão, Áustria, Dinamarca, Finlândia, Suíça e Suécia. Na Suécia, em sexto lugar na escala, houve grande preocupação pelo facto de se ter registado uma proporção de quase vinte suicídios por cada cem mil habitantes. Hoje, por exemplo, esse “desastre” ampliou-se para países que sofreram mudanças bruscas nos seus hábitos e não aguentaram a pressão social e dificuldades económicas provocadas pelo ritmo de vida das sociedades mais desenvolvidas. Hoje o que conta é a “economia” e o “dinheiro” e a pressão é intensíssima. Os 10 do topo são a Bielorrússia e Letónia (mudança da economia e maior liberdade desde o desmantelamento da URSS), Sri Lanka, Japão, Hungria, Eslovénia, Cazaquistão, Guiana, Coreia do Sul, Lituânia (revolta social com a queda da URSS). Em Portugal, talvez pelas condições de vida agravadas pelas crises sucessivas, desemprego e má gestão dos governantes que não lhes dão esperanças para o futuro, suicidam-se cerca de 800 mil pessoas por ano (1 em cada 40 segundos) segundo os dados publicados pela OMS que defende que a comunicação Social deve noticiar estas mortes de forma responsável.

O que falta é um ancoradouro espiritual e moral (principalmente “moral”, porque os valores morais e éticos parecem ter desaparecido nas sociedades de hoje), uma finalidade, um propósito, uma esperança na vida, que todos os seres procuram, tentando desvendar o desconhecido. Deste modo, em muitos pontos do globo encontram-se grupos sociais com características próprias, à procura duma explicação da sua existência também por tentativas, no desejo de desvendar o cosmos e espalhar o medo do desconhecido.

A melhor forma para combater o medo do desconhecido é substituir esse sentimento pela curiosidade e, como disse John Lennon, abraçar o mundo da ilusão, do sonho e da aventura para poder conviver com o medo. O próprio Einstein considerou a percepção do desconhecido como a mais fascinante das experiências.

 
Alguns seres humanos encontram-se mais evoluídos que outros nessa caminhada, trilhando o caminho certo ou despistando-se por atalhos que a nada levam. Enfim, todos procuram a mesma meta - com nomes e desculpas diferentes - uns mais atrasados do que outros, mas o fim é o mesmo: saber, saber, saber quem somos nós. Se um simples ponto de consciência que se ergue arrogantemente contra a vastidão, a frieza, o vazio e a insensibilidade do Universo? Se uma coisa (uma coisa?) que julga ter importância quando não a tem? Se um pequeno e vacilante Ego que imaginou que o Universo se movia à sua volta? Saber o que é o Universo, a sua finalidade, a realidade em si, suas origens e sua razão de ser.

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