FORÇAS DESCONHECIDAS – Como a Ciência define Vida
Voltando
ao universo conhecido: uma das leis básicas consideradas certas é a divisão dos
seres em vivos e não vivos. Será essa a verdadeira realidade? Ou poderemos
aprofundar este conceito até chegarmos à conclusão de que todos os corpos ou
objectos são animados de algo que por nos ser desconhecido denominados “Vida”?
A
ciência define vida, na enciclopédia luso-brasileira, Vol.XXXV, pág. 129, como
: “Resultado
das funções dos órgãos que concorrem para o desenvolvimento e para a
conservação; o estado de actividade de subsistência organizada, comum aos
animais e vegetais; designação vulgar da existência humana ou duração ordinária
do ser humano”.
Em
suma, além de uns conceitos que contribuem apenas para o entendimento entre os
seres duma sociedade com linguagem organizada, não aprofunda a essência do
fenómeno e nada diz de concreto. Mas para sairmos de dúvidas vejamos as páginas
132, 135 e 142 da mesma enciclopédia.
“BIOL.
Têm sido inúmeras as definições de vida o que significa que nenhuma satisfaz.
Para Aristóteles seria simplesmente “a nutrição, crescimento e depauperamento,
tendo por causa um princípio que tem em si o seu próprio fim, a enteléquia”. Para Bichat a vida “é o
conjunto de forças que resistem à morte”. Claude Bernard julga impossível
definir a vida porque “é inacessível e abstracta em si própria”. Há pois apenas
que caracterizar as diferenças entre matéria viva e substâncias inertes e limitar
tudo a uma descrição de fenómenos vitais, procurando explicar em que diferem da
realidade do mundo físico. A vida é um fenómeno terrestre pois está intimamente
ligada às condições físicas e químicas da Terra. Para Plantefol a matéria viva
não é uma espécie de limo que se tenha desenvolvido à superfície do globo
terrestre, por acaso sobre a matéria inorgânica. Ela deve aparecer, pelo
contrário, como um dos fenómenos fundamentais da Terra em ligação com o
Universo de que não é mais do que uma parcela.
FILOS. O termo “vida”, sendo um dos que se
tomam da linguagem vulgar, onde tem uma multiplicidade de acepções, não pode
ser definido com rigorosa exacção. Até no uso pelos biologistas não apresenta
absoluta precisão de significado. Apontam-se nos seres vivos as seguintes
características: 1) São, até certo ponto, independentes do seu ambiente, no
sentido de poderem continuar a viver apesar de consideráveis variações nesse
ambiente; 2) Têm a capacidade de reproduzir a sua espécie, de maneira que se
mantém a continuidade da existência de cada tipo de organismo por meio de um
ciclo reprodutivo cujo pormenor varia com o dito tipo; 3) Praticamente todos os
seres vivos têm a capacidade de tomar alguns materiais do ambiente, e, por meio
de sínteses e transformação, moldá-los em materiais muito mais complexos, que
são incorporados na matéria viva do organismo, sendo que os materiais assim
sintetizados em proteínas, por exemplo apresentem características que são
típicas da espécie, e que por meio de testes (provas de contrastaria)
adequados, a proteína duma espécie pode ser distinguida da proteína doutra
espécie, sendo até provável que a individualidade impressa na proteína de um
determinado indivíduo vá ainda além disso, de maneira que cada membro
individual de uma espécie sintetize proteínas que se possam distinguir das de
outro indivíduo; 4) É também característica dos seres vivos a faculdade de auto-preservação
a qual se manifesta na maioria dos organismos por duas maneiras diferentes a
saber: os organismos tendem a evitar influências deletérias no ambiente, ou a
modificar o seu comportamento ou a sua estrutura de maneira a acomodarem-se a essa
influência do ambiente, e, por outro lado, quando sofrem um dano, a maioria dos organismos
têm, em maior ou menor extensão, o dom de reparar esse dano e reconstruir a
parte ofendida. O grau em que isto pode realizar-se varia consoante os
diferentes tipos de organismos; 5) A maioria dos animais têm algum grau de
memória e certa capacidade de aprender, sendo que, sobre a base desse facto, e
também de reacções inatas, procedem de maneira propositiva ou finalista: 6) Os
organismos apresentam uma actividade unitária, uma totalidade de acção, com
interconexão complexíssima de actividades parcelares, sendo que a actividade de
conjunto é mais do que a soma das actividades parcelares. O problema
científico, a este propósito, é o de determinar se aqueles conceitos e aquelas
fórmulas que bastam para a descrição do mundo inorgânico serão acaso também
bastantes para fazer a descrição das funções vitais e do comportamento dos
seres animados. Aos teóricos que respondem afirmativamente a esta pergunta se
tem chamado “mecanicistas”, e aos que respondem pela negativa «vitalistas». A
posição dos mecanicistas no rigor do termo parece absolutamente insustentável,
e, para aproximar os fenómenos vitais dos não vitais cumpre não assimilar os
fenómenos meramente físicos ao funcionamento duma máquina. Na obra de Driech o
vitalismo pretendeu resolver o enigma acrescentando a um mecanismo físico a
acção de uma força vital a que se deu o nome de «enteléquia», mas a isso se
respondeu que resta saber se o erro não residirá já em admitir o mecanismo para
os fenómenos puramente físicos, e se a solução do enigma não estará numa
revisão fundamental, segundo a nova ciência física, da própria lei da
causalidade física. A natureza mostra constantemente o facto de que, a partir
de unidades já existentes, se formam outras unidades de grau superior. Tomando
isto em conta, o vitalismo apresenta-se como o método de investigação
apropriado a essa biologia sintética, e a enteléquia seria a ideia presente da
totalidade, ou unidade de ordem superior.
TEOS. Segundo os teosofistas, a vida astral ou vida no plano astral, só
muito dificilmente pode, com suficiente clareza, ser explicada aos seres
conscientes do plano físico, tal qual sucederia se, paradoxalmente, algum sábio
zoólogo procurasse explicar a um peixe das maiores profundidades oceânicas, que
de facto também se pode viver fora da água à luz de um sol. Considerando o
fenómeno a que vulgarmente se chama “morte” como sendo um processo que traduz,
apenas, em pôr de parte materiais físicos já usados e portanto inúteis,
deteriorados por um acidente fortuito, um desastre, uma doença, etc., a parte
imortal do homem, a que algumas religiões dão o nome de “alma”, penetra segundo as teorias teosofistas, em um novo mundo
mais subtil o “outro mundo” - o plano astral ou mundo astral - onde a vida existe,
decorrendo em dimensões que não se limitam às três resumidas dimensões do plano
ou mundo físico: o comprimento, altura e largura, que só matematicamente podem ser elevadas a uma quarta,
quinta ou mais dimensões, abstractas para o cérebro físico, limitado às dimensões
do plano onde se sente “viver”. A morte ou transferência para o mundo astral, é
quase sempre procedida por uma fase em que o Ego, ou parte imortal do homem,
sente reviver toda a vida passada, como contam muitos daqueles já prestes a
morrer afogados, e que se encontram já nesse estado de inconsciência relativa
ao mundo físico, quando os seus sentidos já não registam as vibrações de tal
mundo. Com efeito, um homem pode muitas vezes parecer já morto, e, contudo,
entre a última pulsação e o último momento em que a derradeira centelha de
calor animal abandona o corpo, medeia um espaço de tempo em que o cérebro pensa, e o Ego revive durante
esses rápidos segundos toda a sua vida passada. Esses instantes são, ainda
conforme as teorias teosofistas, suficientes para a revelação de todas as
causas que se criaram durante a vida. É nesse momento que o homem se vê tal e
qual é, despido de vaidade e de amor-próprio. A esse estado cheio de vida
segue-se, nas criaturas vulgares, a um estado de sonhadora semiconsciência, mas
às vezes, quando o pensamento do moribundo se fixou com intensidade em alguns
dos entes que vai deixar, quando qualquer grande preocupação lhe assaltou o
espírito nos últimos momentos, ou quando pensa em qualquer coisa que queria
deixar feita e não fez, há pessoas da casa ou das proximidades que podem chegar
a ver uma manifestação astral do seu corpo físico - o seu duplo etéreo. As
investigações psíquicas e as descrições de inúmeros casos ocorridos após a
chamada «morte» do indivíduo, atestam, que nessas condições e noutras de
natureza semelhante, pode ver-se e ouvir-se esse duplo, o qual, quando se deixa ver, apresenta esse estado de
inconsciência a que se aludiu, silencioso, de aspecto vago e, por assim dizer,
incomunicável. Com o decorrer de tempo mais ou menos longo mas incomensurável
pelas medidas de tempo usadas no mundo físico, tais como relógios, etc., esse duplo etéreo desagrega-se gradualmente e
a entidade imortal, o Ego do indivíduo, abandona-o, tal qual sucedeu com o
corpo físico. Esse duplo, fica, pois, como um cadáver astral, conservando-se
perto do corpo físico, e ambos se desintegram ao mesmo tempo. Os clarividentes
afirmam ver esses despojos astrais nos cemitérios, umas vezes dotados de grande
semelhança com o corpo físico morto, outras vezes apenas com o aspecto de uma
luz violácea. O processo efectua-se, e por fim, tudo, à excepção do esqueleto ósseo
do corpo físico, se desintegra completamente e as suas partículas vão entrar em
novas combinações. Um dos motivos porque os povos orientais são apologistas da
cremação, consiste em que, além do seu carácter higiénico para os “vivos”, esse
processo de desintegração oferece a vantagem de restituir a matéria à
Natureza-Mãe, os elementos físicos, sem que se torne necessária a decomposição
lenta e gradual, que demora a evolução do indivíduo para uma vida astral
consciente. Assim como o cadáver dum indivíduo falecido subitamente, pode em
seguida ser galvanizado, numa aparência de vida, pela aplicação de uma bateria
galvânica ou por qualquer outro processo eléctrico ou mesmo químico, da mesma
forma, num corpo astral ainda em via de evolução, é possível insuflar um pouco
de vida física, que nestas circunstâncias é artificial, por meio da infusão do princípio
vital de um médium. Se se trata do
cadáver de uma criatura muito intelectual poderá ele falar com inteligência, e
se for o cadáver dum analfabeto só se manifestará sem cultura alguma. As
teorias teosofistas aconselham, contudo, que essas entidades astrais devem ser
deixadas tranquilas porque fazê-las regressar às vibrações grosseiras do mundo
físico, é sempre prejudicar e demorar a sua evolução para as regiões superiores
do plano astral, e desse plano ao plano mental, causal, e aos que se lhe
seguem. Essa divisão inferior do plano astral é habitada pelas entidades
humanas que sacudiram de si o corpo físico e o seu duplo etéreo, mas que ainda
não se desembaraçaram completamente da sua natureza passional e emocional. A filosofia
teosofista atesta que “sem sairmos da analogia de tudo o que é conhecido, é
fácil povoar o Cosmos de entidades, numa escala ascendente até chegarmos a
Qualquer Coisa indistinguível da sua omnipotência, omnipresença e omnisciência.
(Cf.Dr.Huxley, Essays Upon Some
Controverted Questions, p.36)”.
Como
acabamos de verificar, o conceito de vida é demasiado complexo e confuso para
podermos chegar a uma conclusão objectiva e afirmarmos uma pretensa verdade em
que se nos apresentam várias alternativas como a de natureza material,
considerada única e certa cientificamente, e a de natureza espiritual que pela
sua elasticidade nos parece mais aceitável. A definição científica de “vida”
pressupõe a não existência de um Deus como Ser Superior.
Ao
referirmos um ser subentendemos, logo, esse ser animado de algo, pois os seres
inanimados “não têm vida” nem órgãos e são completamente amorfos. Nesta ordem
de ideias não consideraríamos também a existência de um ser abstracto visto não
estar enquadrado nas características que definem um ser vivo cientificamente.
Para
considerarmos Deus como um Ser
Superior, invisível, que está em toda a parte, criador e senhor do céu e da terra - neste caso animado de vida ou
algo desconhecido para nós - não podemos considerar as definições científicas
atrás descritas, sendo assim impossível aceitar o conceito de “vida” mais
vulgarmente conhecido, podendo imaginarmos outras formas de “vida”, e até que
tudo o que constitui o planeta Terra seja vivo.
A
verdade é que está provado que tudo,
desde os minerais aos animais superiores - incluindo o homem - irradia energia,
que os sábios oficiais denominam como: correntes
magnéticas, radiactividade, ciclotrões, energia, força vital, atracção
eléctrica, sopro vital, magnetismo, aura, etc., não explicando porém a sua
essência.
O QUE SERÁ “VIDA” ENTÃO?
A
vida poderá então ser definida de várias maneiras, e quando a ela nos referimos
esquecemos a “vida” não biológica, a vida
dos átomos, o vigor das geleiras que
lentamente se movem, o crescimento e formação dum cristal e as rotações enérgicas das estrelas,
planetas e galáxias. Todos estes fenómenos, em certo sentido, implicam o conceito
de “vida”. Num sentido amplo, todas as coisas que participam na evolução
considerada inanimada são vivas,
porque se originam, crescem, decaem, tornam-se inactivas, e morrem: enfim, têm
uma finalidade.
No
passado os astrónomos consideravam as estrelas eternas, sem começo nem fim, mas
actualmente sabemos que elas não brilham eternamente e que têm um curso “vital”
e eventual- mente chegam ao fim e
morrem. É interessante seguir a vida duma estrela (há obras muito completas
sobre o assunto, e extensas, que não podemos reproduzir aqui) como, por
exemplo, uma de tipo anã
vermelha que passa sucessivamente por gigante, supergigante e
termina numa anã branca. Os astrofísicos crêem que o nosso sol começou a
existir sob a forma de uma estrela anã vermelha, com temperatura relativamente
baixa, há mais de quatro milhões de anos, e tem vindo a aquecer
progressivamente transformando-se actualmente numa estrela de dimensões
moderadas, nem excessivamente quente nem exageradamente fria, se a compararmos
com os cem ou duzentos milhões de estrelas que povoam a Via Láctea. Entretanto
a vida do sol continua para a nova fase: uma gigante vermelha, seguindo o seu
ciclo evolutivo até decair e morrer.
Sim,
o nosso sol também terá fim - como todas as coisas, naturalmente - mas não nos preocupemos
porque pela escala de medição humana pode-se considerar eterno. São milhares e
milhares de anos que na sua grandeza esmagam o ser humano não lhe permitindo
sequer compreender esse ciclo gigantesco e infinito para ele. Nesta grandeza
uma geração “vive” menos que um bilionésimo de mícron de segundo, ou muito menos, o que está fora da nossa
compreensão.
Existe
algo, sem dúvida, ainda não compreendido na sua essência.
Os
modernos invocadores da ciência pensam na “matéria viva” como se fosse algo caprichoso,
irrelevante para a natureza do Universo. Todavia, os sábios afirmam que a base
física dos objectos inertes, como os corpos celestes, é igual à das criaturas
que neles venham a viver e formadas das suas substâncias, em que a diferença
não está na matéria-prima mas sim na sua organização, onde as partículas mais
humildes podem assumir as mais altas formas de vida porque uma coisa viva é uma
organização de coisas não vivas.
Mas
se essas “coisas” são inanimadas e no conjunto formam uma “coisa” animada, onde
estarão as fronteiras da vida?
Sabemos
que todos os objectos animados e inanimados são constituídos pelos mesmos
elementos: os átomos, sempre os
mesmos, que variam apenas no seu arranjo como, por exemplo, o diamante que é
carbono puro cristalizado, e a grafite, do lápis de escrever, que também é
carbono cristalizado. A constituição é a mesma, só mudando a forma de
associação das moléculas. Depreende-se logicamente que a partir de um certo
momento essas moléculas agrupadas, pela união e necessidade de orientação mais
capaz, se revistam de uma forma desconhecida de energia mais forte e
reconhecível, a que chamamos “vida”, e que em certos casos, por uma perfeição
ainda maior num rumo determinado e racional, lhe damos o nome de “espírito” ou
“alma”.
Só
assim podemos compreender a diferença de ser
vivo e ser não vivo, tendo, tanto
um como o outro, energia, a mesma
constituição básica, os mesmos elementos, só se verificando uma diferença
quando essa energia passa a ser detectável para nós. E isto não quer dizer que
os outros não tenham vida. Eles têm-na certamente, mas nós é que ainda a não
conseguimos detectar excepto, talvez, os muito avançados em ciências chamadas
ocultas.
Nos
pequenos vislumbres dessa força o homem dá-lhe os nomes de campo magnético, linha de força ou energia, como vimos a empregar, mas nunca vida. O hidrogénio constitui uma parte do corpo humano, mas também
faz parte do vapor de água. Qualquer objecto de ferro tem carbono, ou para
sermos mais claros, o carbono é um dos constituintes do ferro e também da
hemoglobina, substância que dá a cor vermelha ao sangue. O estanho e o cálcio
também constituem o corpo humano, em pequenas quantidades é claro, mas estão
lá. Se pudéssemos pesar todos os seus componentes verificaríamos que o
oxigénio, carbono, hidrogénio e azoto constituem a maior parte do seu peso.
Estamos
habituados a dizer que o corpo humano tem
hidrogénio, oxigénio, azoto, cálcio, cobre, prata, níquel, titânio, e mais
elementos em diversas quantidades, dando a ideia que o corpo é um objecto
independente que tem esses elementos. Mas a verdade é que esses
elementos é que constituem o corpo humano. O seu conjunto é que
determina a existência de uma coisa a que damos o nome de “corpo físico”, pois
se faltasse um, ou alguns, desses elementos, já não haveria corpo humano.
As
dúvidas são muitas e mais se aprofundam ao se reconhecerem estas semelhanças na
constituição dos seres distribuídos em três grandes divisões (grosso modo) ou reinos da natureza pelo
homem: o Animal, o Vegetal e o Mineral. E há quem considere justificada a existência dum quarto
reino - o Humano. Cada um destes
reinos é definido por características padronizadas e acordo mútuo pelo homem,
sendo a principal o facto de haver vida - e em que condições - ou não haver
vida.
Actualmente
os reinos são cinco:
Estas
são as divisões criadas pelo homem. Mas o “plasma”,
por exemplo, parece estar fora destes reinos.
Portanto,
as incertezas subsistem e é compreensível que no ser humano uma força interior
procure libertar-se e dar luz às suas dúvidas, que no meio da sua confusão e
não orientação adequada, onde prima pelo vaguear insensato, provoca formas de
comportamento absurdas e incoerentes pelo desejo de encontrar um caminho certo
até agora desconhecido e que tem de ser trilhado por tentativas. O homem nessa
confusão de sentimentos, na tentativa de achar uma razão de ser e compreender a
vida, procede de modo a que mais se habituou e julgou necessário preservar para
a sua sobrevivência e segurança. Procura sempre viver em comum com alguém da
sua espécie onde vê um amparo, que conscientemente nega, ou um símbolo da sua
força e vitalidade para poder trilhar esse caminho cheio de obstáculos e
armadilhas que é a vida por nós compreendida e entendida.
Uma
criança precisa de um adulto para lhe dar coragem e perder o medo. A maioria
dos adultos que não precisam de um apoio, ou julgam não precisar, procuram
alguém mais fraco onde descarregam toda a sua angústia e receios com atitudes
agressivas e de mando, que finalmente são um artifício para esconder o seu
medo, e tem como objectivo o mesmo fim da criança que procura a sombra
protectora do adulto.
Este
receio é verdadeiro. Todos os homens o têm e normalmente o homem isolado
procura sempre um parceiro, mesmo doutra espécie. Ele precisa de ter alguém ao
seu lado e podemos verificar até, esse impulso inconsciente, a mover vários
autores de obras literárias, onde o protagonista está isolado, como no Robinson Crusoe por exemplo, que procura
uma companhia, e neste caso doutra espécie, e que, para maior alívio do autor
que se retracta, acaba por introduzir um companheiro já da mesma espécie.
O
ser humano tem de ter uma companhia, para não enlouquecer. A razão disso é que
não sabemos ao certo. Diz-se apenas que o ser humano é um ser social, que sempre
procurou viver em sociedade, mas nada mais se adiantou. Todo o adolescente se
sente inseguro, mesmo que o não queira reconhecer conscientemente, como atrás
dissemos, e procura por formas típicas de comportamento camuflar essa insegurança,
rodeando-se de uma carapaça que julga protectora. É comum neles a arrogância, a
teimosia, a fanfarronice, enfim, tudo o que demonstre força e superioridade
pois descobriram que a nossa civilização é assim. Os fortes são respeitados e
considerados. As mais altas condecorações e prémios são militares. Cultiva-se a
força. Toda a história humana obedece a uma característica imutável: povos
exploradores e povos explorados, onde as leis consideradas justas e respeitadas
- mesmo que absurdas - são impostas
pelos mais fortes. É uma luta perpétua entre os exploradores, na mó de cima, e
explorados que querem inverter a situação. Enquanto o homem tiver armas para
lutar não haverá paz.
O
mesmo sucede, em menor escala é claro, com outros seres vivos, inferiores, que
dentro dos seus limites territoriais procedem de um modo agressivo mas sem
chegarem à violência declarada, salvo algumas excepções. Ao observarmos um cão
verificamos isso. Dentro do seu ambiente normal de vivência mostra-se activo,
vivo, dinâmico e explorador. Se aparece outro cão dirige-se imediatamente ao
seu encontro com umas rosnadelas de aviso, como que a dizer ao outro que agora
se encontra num território que lhe pertence e que tenha cuidado.
Se
pegarmos no mesmo cão e o levarmos para outra zona, desconhecida para ele, a
sua atitude, por muito corajoso que seja, muda para receio, atenção e
nervosismo, e se aparecer um cão daquele território a sua primeira reacção será
fugir. Em suma, notamos umas rosnadelas de intimidação quando em território
conhecido, e só ataca se for atiçado a isso, porque normalmente foge à luta
aberta e prefere tomar atitudes de intimidação para esconder o seu medo. Aliás,
verificamos também nas crianças esta reacção. Gritam, desafiam, gesticulam, mas
raramente chegam ao acto declarado. Como vimos a salientar, há a tendência de
esconder o medo com atitudes de intimidação e ganha o que estiver menos
intimidado. E como nós sabemos os mais agressivos são regra geral os mais
fracos. Por isso, uma preparação psicológica antes de um combate, ou guerra,
por meio de imagens revolucionárias alusivas à coragem e que embotam o
sentimento racional, virando o ser humano para aquele campo que interessa e
fazendo-o sobrepor esse medo natural, tem muita importância e consegue bons
resultados. O facto de salientar as suas virtudes guerreiras e tirar
qualidades, directa ou indirectamente, ao inimigo e rebaixá-lo o mais possível,
acaba por deixar o indivíduo menos intimidado e consequentemente apto para
combater.
E
é nessa fase difícil da adolescência quando o ser humano ainda quer ser honesto
consigo mesmo que esses medos persistem mais agudamente, sendo recalcados com o
andar dos anos. O homem adulto apresenta uma diferença fundamental, ou
qualidade, apenas: a faculdade de esconder esses sentimentos e tomar uma
atitude de fachada, julgada conveniente para a sociedade onde vive. A verdade é
que essa protecção cínica, e artificial, começa a ruir e há cada vez mais
clientes para as psiquiatrias.
Podemos
recordar alguns dados eloquentes: cinquenta por cento de todos os doentes que
consultam o médico, em certos países mais adiantados tecnologicamente, fazem-no
porque sofrem distúrbios mentais ou perturbações psíquicas. Referimo-nos aos
países mais avançados porque nos atrasados os indivíduos, menos evoluídos,
refugiam-se na fé, na religião, com mais facilidade, aceitando cegamente e como
uma tábua de salvação tudo o que essa religião lhes prometer, apenas com medo e
receio do desconhecido. Não têm capacidade nem faculdade de raciocínio
suficientes para procurarem, eles mesmos, um caminho.
Na
Europa, nos anos 60, um terço das camas dos hospitais estavam ocupadas pelos
casos mais sérios, dos dois milhões de doentes mentais, em 1961. Metade nos
Estados Unidos também se destinava a doentes com distúrbios mentais, no mesmo
ano. Imaginemos o que será nos nossos dias, com a instabilidade cada vez maior
nas sociedades. No discurso pronunciado em 1962, o então presidente Kennedy
disse que no seu país haviam mil e quinhentas clínicas especializadas em
tratamentos psiquiátricos, e que o governo norte-americano gastava anualmente
com “actividades relacionadas com a saúde mental” uma verba de mil milhões de
dólares. O presidente da Sociedade Médica
Psiquiátrica da Áustria, Dr. Victor E. Frank, descreveu uma nova “psicose”
característica dos tempos “modernos”, a que chamou vazio existencial - no The
New York Times. De 18 de Maio de
1962 - afirmando que oitenta por cento dos jovens norte-americanos e quarenta
por cento dos estudantes alemães, austríacos e suíços, que tinham assistido às
suas conferências, acreditavam na absurdidade
final da vida. Por outras palavras: não encontravam significado para a
existência humana. Todos nós sabemos que mais de metade das populações dos
países desenvolvidos faz terapia existencial. Enchem os consultórios dos
psicólogos e psiquiatras e “conselheiros” espirituais.
Uma
comissão designada pelo Congresso de Washington, que trabalhou durante seis
anos e gastou um milhão e quinhentos mil dólares nas suas investigações sobre a
higiene mental, chegou à conclusão de que o problema número um da saúde
pública, na nação mais industrializada e rica do globo, era o grande aumento de
distúrbios psíquicos (The New York Times
de 12 de Abril de 1961). Mas nada revelou melhor o problema como o aumento
espantoso de suicídios, apesar de existirem organizações especificamente
criadas para os prevenir, como o Clube
dos Samaritanos em Londres, que recebia mais de cem chamadas telefónicas
por dia, o departamento anti suicida do Exército
de Salvação, a Agência para Prevenção
de Suicídios na Áustria, o Centro de
Prevenção de Suicídios de Los Angeles (EUA), ou “o pastor dos suicidas”
Eric Bernspang da Suécia, e muitas outras pessoas e instituições consagradas à
mesma missão em diversos países. Hoje, agravou-se tudo e já é normal os ataques
indiscriminados de indivíduos desequilibrados a escolas e público em geral, sem
contarmos com o aumento generalizado do “terrorismo” por todo o globo. A
violência aumentou exponencialmente, um sintoma de que a sociedade humana “mais
evoluída” está em plena decadência, independentemente das “desculpas” e
”princípios” que dizem defender. É alienação pura.
Contudo
havia países com números estatísticos maiores, sendo eles, por “coincidência”
os mais evoluídos da Terra, por ordem decrescente: Japão, Áustria, Dinamarca,
Finlândia, Suíça e Suécia. Na Suécia, em sexto lugar na escala, houve grande
preocupação pelo facto de se ter registado uma proporção de quase vinte
suicídios por cada cem mil habitantes. Hoje, por exemplo, esse “desastre”
ampliou-se para países que sofreram mudanças bruscas nos seus hábitos e não
aguentaram a pressão social e dificuldades económicas provocadas pelo ritmo de
vida das sociedades mais desenvolvidas. Hoje o que conta é a “economia” e o
“dinheiro” e a pressão é intensíssima. Os 10 do topo são a Bielorrússia e
Letónia (mudança da economia e maior
liberdade desde o desmantelamento da URSS), Sri Lanka, Japão, Hungria,
Eslovénia, Cazaquistão, Guiana, Coreia do Sul, Lituânia (revolta social com a queda da URSS). Em Portugal, talvez pelas
condições de vida agravadas pelas crises sucessivas, desemprego e má gestão dos
governantes que não lhes dão esperanças para o futuro, suicidam-se cerca de 800
mil pessoas por ano (1 em cada 40
segundos) segundo os dados publicados pela OMS que defende que a
comunicação Social deve noticiar estas mortes de forma responsável.
O
que falta é um ancoradouro espiritual e moral (principalmente “moral”, porque os valores morais e éticos parecem ter
desaparecido nas sociedades de hoje), uma finalidade, um propósito, uma
esperança na vida, que todos os seres procuram, tentando desvendar o
desconhecido. Deste modo, em muitos pontos do globo encontram-se grupos sociais
com características próprias, à procura duma explicação da sua existência
também por tentativas, no desejo de desvendar o cosmos e espalhar o medo do
desconhecido.
A
melhor forma para combater o medo do desconhecido é substituir esse sentimento
pela curiosidade e, como disse John
Lennon, abraçar o mundo da ilusão, do sonho e da aventura para poder conviver
com o medo. O próprio Einstein considerou a percepção do desconhecido como a
mais fascinante das experiências.
Alguns
seres humanos encontram-se mais evoluídos que outros nessa caminhada, trilhando
o caminho certo ou despistando-se por atalhos que a nada levam. Enfim, todos
procuram a mesma meta - com nomes e desculpas diferentes - uns mais atrasados
do que outros, mas o fim é o mesmo: saber, saber, saber quem somos nós. Se um simples ponto de consciência que se ergue
arrogantemente contra a vastidão, a frieza, o vazio e a insensibilidade do
Universo? Se uma coisa (uma coisa?)
que julga ter importância quando não a tem? Se um pequeno e vacilante Ego que imaginou que o Universo se movia
à sua volta? Saber o que é o Universo, a sua finalidade, a realidade em si,
suas origens e sua razão de ser.
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