FORÇAS
DESCONHECIDAS - a Realidade
Certos
acontecimentos e procedimentos, tradições e formas de vida, na história
universal conhecida, impelem-nos a tentarmos saber por que razão o ser humano
existe e qual a sua finalidade no cosmos.
O
homem por mais livre que se julgue é sempre o escravo duma sociedade
artificial, cujos valores materiais se sobrepõem, sempre, e o forçam a limites definidos conforme os costumes,
interesses, e princípios morais da época que atravessa.
Espinosa,
um filósofo holandês, afirmara: “Os homens
enganam-se quando se julgam livres; tal opinião assenta apenas no facto de que
têm consciência das suas acções e ignoram as causas porque são determinadas”. Isto
quer dizer que o homem não tem capacidade, de momento, para compreender o
universo onde está integrado.
Kant,
outro filósofo, professor e reitor da universidade de Konigsberg, confirma-o na
sua Crítica
da Razão Pura. O homem é simplesmente ultrapassado.
Mas
há uma certeza: apesar das diferenças ideológicas no conceito de liberdade, uma
causa - ou causas - limita em todas as circunstâncias essa mesma liberdade. Essas
causas são o elemento motivador do desejo do conhecimento verdadeiro do
universo, e da razão da sua existência, onde somos arrastados e vivemos na
maioria dos casos cheios de sofrimentos e frustrações.
Porque
vegetamos sem objectivos concretos ou devidamente delineados, sem contar,
claro, com os objectivos tão conhecidos do poder apenas pelo poder sem ter em
conta uma melhoria efectiva para todos
os seres? Porque teremos de “viver” obedecendo a pressões cada vez maiores e
mais exigentes, conforme o avanço tecnológico e cada vez mais destruidor, da
sociedade? Porque não podemos escolher um caminho de acordo com as nossas
potencialidades e inclinações? Porque somos obrigados a inúmeros factores
limitativos e condicionantes quando tomamos uma decisão considerada “livre”?
Enfim, porque assistimos passivamente à destruição do planeta, sabendo que isso
acontece porque os interesses materiais de alguns se sobrepõem à própria
sobrevivência de todos, numa total inversão de valores “éticos” e “morais”?
(Foto
extraída na Internet)
São
algumas das inúmeras interrogações que nos afligem e sobrecarregam. Sucumbimos
sob o seu peso, sem podermos fugir, porque efectivamente não podemos evitá-los.
Deste modo, procuramos atingir alguma luz, pela meditação e esforço constante
visto ainda não existirem soluções propostas pela ciência e pela técnica.
Alguns
tentam abstrair-se do mundo, por escassos momentos apenas, imaginando o nada,
a não existência, especulando se realmente é necessária a presença do ser
humano no Cosmos - pois aparentemente para nada serve nem está integrado nele -
o qual ao fim de certa evolução material pretende dominar a própria natureza,
poluindo e destruindo e pondo em risco a harmonia universal.
Existe
em todo o universo, no campo material conhecido, pelo menos, uma harmonia, uma ordem a que todos os seres estão
submetidos, o que torna absolutamente absurda a existência de um determinado
ser, ou organismo vivo insignificante na grandeza universal, a ter pretensões e
se julgar com direito de a orientar e manipular.
Portanto
é legitimo alguns seres, também humanos na designação sistemática, sentirem, em
certa fase da sua vida individual, essa necessidade premente de encontrarem
respostas e, ainda que confundindo realidade com ilusão, tentarem avançar
procurando algo que julgam uma finalidade mas sem saberem como. Daí as
depressões e paixões agudas, a insegurança, o medo, a inconstância.
Enquanto
que o homem primitivo (e uma criança também) aceita as coisas que à sua
consciência se apresentam consoante o conteúdo delas sem se interrogar acerca
da sua realidade, o homem actual, principalmente na sua fase da adolescência em
que ainda confunde a realidade com a ilusão ou romantismo, tende a opor uma
barreira de dúvida, intuitivamente, desejando saber o porquê das coisas.
O
homem primitivo, e a criança, pelo que se conhece dos ritos e tradições tribais
do primeiro, e comportamento da segunda, incluem ingenuamente na mesma
categoria os fenómenos do sonho e da fantasia, vivendo num mundo em que muitas
vezes a fantasia, ou ritos religiosos de carácter mágico, se sobrepõem e
comandam as suas atitudes reais. Eles não consideram a ilusão como ilusão, nem
tão-pouco se apercebem da realidade como realidade, mas apenas conhecem o conteúdo da consciência.
Em
categorias primitivas do espírito, a aparência mais irreal e a ilusão mais
absurda encontram-se como fazendo parte da vida - as superstições - e seria
necessária uma larga experiência corrigida pelas maiores dificuldades práticas
- o conhecimento empírico - para separar fundamentalmente o ser da aparência.
(Foto
extraída na Internet)
A
mitologia dos povos retracta fielmente esta situação.
Na
adolescência, portanto naquela fase em que o ser humano ainda não foi
corrompido e em que se sente completamente abandonado e incompreendido, numa
idade considerada crítica, numa zona intermédia e num mundo desconhecido pelas
crianças, como é lógico, e esquecido pelos adultos que preferem guerrearem-se e
adquirirem mais poder sobre os outros, o homem deseja mais do que nunca saber
quem é, onde está, qual o terreno que pisa e qual a sua finalidade neste mundo
tão conturbado.
Pelas
condições em que nasceu e permanece, hipersensível e desconfiado, procura um
meio de defesa adequado. Refugia-se em si mesmo, no seu mundo romântico e
imaginário, numa rebeldia salutar, até se tornar insensível e indiferente ao
meio exterior e ao juízo daqueles que falharam na sua missão de educadores e
orientadores, porque de facto não lhes tiram as dúvidas nem tão-pouco o tentam.
Ele
aprende que os adultos, a geração anterior, já corrompidos por falsos ideais e
ganância, nada fizeram para um futuro estável e em paz. Deixaram-se arrastar
pelo sistema onde só conta, como sempre contou, o poderio físico, a lei do mais
forte, e se cultivam a força e a arte de guerrear.
O
que o adolescente começa a compreender é que quando nasceu, em qualquer parte
do mundo, já vinha endividado e terá de sofrer as consequências da má gestão
passada. Deste modo, existe e existirá sempre um fosso entre as gerações,
porque quando chega a adulto, sem um objectivo comum a toda a humanidade, procederá também como foi ensinado e obrigado,
optando pelo “bem-estar” individual e do seu pequeno grupo, tribo, ou círculo
de seres vivos. Os pontos de vista mesquinhos continuarão, e continuarão a
sacrificar milhares de seres mais fracos para manterem os seus privilégios
autenticados pela lei do mais forte.
(Foto
extraída na Internet)
Mas
felizmente a chama do querer saber brilhou e alguns mantê-la-ão acesa,
apesar de permanecerem pressionados e asfixiados pelo sistema.
Haverá
sempre na humanidade uma metafísica
que, na ausência de uma norma comum, cada qual trabalhará a seu gosto. O que
até aqui se tem denominado Metafísica
não pode satisfazer todos ou alguns espíritos reflectidos, mas renunciar a ela
por completo é impossível. Nesta ordem de ideias, mantendo a nossa chama acesa, procuremos também encontrar
algo por tentativas ordenadas.
Vejamos
o que se passa com os seres não vivos, ou inertes, como os
minerais.
Um
mineral tem a mesma constituição básica do ser vivo, ou seja o átomo
que se pode combinar com outros da mesma espécie dando origem aos elementos,
ou outros de espécie diferente, os compostos. Exemplo de um elemento, o
ouro; e de um composto, o sal das cozinhas, formado por sódio e cloro, sendo o
segundo um veneno mortal.
Os
átomos associam-se para formarem moléculas, cujo agrupamento em
grande número formam as rochas, a água, e todas as coisas que nos rodeiam. Entretanto,
em todas essas formas de associação, a energia,
que obriga as moléculas a afastarem-se umas das outras, e a atracção eléctrica, que as faz
juntarem-se, determinam que a substância seja sólida, líquida ou gasosa.
A
ciência fala-nos em energia e atracção eléctrica, mas não define nem
explica concretamente o que sejam essa energia e atracção eléctrica, nem de
onde vêem. Sabe apenas que essas forças estão lá, mas não sabe como aparecem e
qual a sua constituição. Em todas as formas existentes no nosso planeta existem
essas forças que caracterizam as moléculas e não podemos assegurar que o mesmo
não suceda noutros pontos do Universo. A realidade por nós conhecida e
percebida a priori não traduz
fielmente o que nos rodeia sendo sempre de suspeitar a falsa ideia do Universo,
que temos.
O
mal da maioria dos seres humanos é não aprenderem a ver o que os rodeia.
Contentam-se apenas com as sensações percepcionadas pelos seus órgãos dos
sentidos - grosseiros - formando um conceito muito diferente do seu mundo. É
como olhar para uma fotografia duma dada casa. À primeira vista toda a gente
diria que essa fotografia representa a realidade, mas a verdadeira realidade é
outra muito mais ampla e mais completa. Neste caso, sabemos que uma casa é um
objecto tridimensional, e na fotografia vemos apenas, quando muito, duas
paredes e o telhado.
(foto
extraída na Internet)
Como
estamos habituados às fotografias que consideramos uma tradução fiel da
realidade não pensamos na verdadeira realidade, ou seja: que um projecto de
arquitectura diz muito mais, a quem saiba
interpretá-lo, do que a simples fotografia da casa. Tal projecto não é, de
modo nenhum, “parecido” com o edifício por muito que nos diga sobre ele. E para
muita gente sem experiência de desenhos de arquitectura não fazem o menor
sentido.
Comparando
esta interpretação de uma fotografia com o desenho projectado duma casa,
verificamos o quanto nos enganamos na “visão real” dessa casa, sucedendo o
mesmo, por analogia, com a interpretação do Universo. Um iniciado, ou seja o indivíduo que aprende a interpretar a
arquitectura do Universo, conhece melhor o que o rodeia, livre dos aspectos
viciados e considerados reais pelos que ainda não se importaram em aprofundar o
âmago da questão.
Dir-se-ia então que a
realidade consiste em coisas que o homem compreende porque “aprendeu” e se
“habituou” a reconhecê-las. O homem rejeita técnicas e ideias inabituais pela
sua “irrealidade”, quando o que verdadeiramente sucede é ficar perturbado por
não serem habituais.
Sem comentários:
Enviar um comentário