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sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019


A VIDA CONHECIDAVírus e Bactérias

De todas as maravilhas do Universo, a que mais desperta a atenção e deixa a humanidade confusa, é talvez o espectáculo da vida conhecida, a manifestação de vida num insecto, num animal, numa planta, no homem.

Pelo que estamos habituados, há, sem dúvida alguma, seres com vida e seres sem vida. O problema é que a sua fronteira de separação ainda não está bem definida, tendo-se levantado muitas questões acerca do mesmo.

Para já, e a priori, um homem, um leão, uma avestruz, uma sardinha, um carvalho e uma roseira, têm vida. Uma pedra, um pedaço de gelo, um objecto artificial - mesa, candeeiro ou máquina - não a têm, certamente.

Se partirmos um pão, por exemplo, ou cortarmos uma barra de ferro, verificamos mais tarde que no pão se vai formando uma camada de mofo e no ferro uma camada de ferrugem. Neste caso não podemos afirmar que o mofo e a ferrugem tenham vida porque “são semelhantes ao homem, ao leão ou à avestruz”, nem podemos afirmar tão-pouco que não a têm porque se assemelham “a uma pedra, mineral ou máquina”. O problema é mais complexo e se soubéssemos, apenas, quais as diferenças entre vivo e não vivo, a classificação talvez se simplificasse, mas a verdade é que a investigação científica já avançou de tal modo, na matéria, que acabou por levantar dúvidas quase irrespondíveis.

Uma importante distinção para separar o vivo do não vivo, é o facto de praticamente todos os seres vivos serem constituídos por uma substância chamada protoplasma, a qual se dispõe em unidades conhecidas por células. Neste caso, o estudo do protoplasma é o estudo da vida, e aceita-se como verdadeiro que todas as actividades dos seres vivos se baseiam nesta substância, inexistente nos não vivos - com excepção, é claro, de alguns.

Um segundo ponto de diferença é que os primeiros reagem ao meio ambiente onde se encontram e são irritáveis, não com o significado de cólera mas sim com o significado de movimento. Se pusermos um grão de areia e uma semente de milho sobre o terreno, lado a lado, verificamos que o grão de areia permanece ali indefinidamente, estático, enquanto que a semente, devido à exposição ao calor, humidade, frio e outros agentes, germina e dá origem a um novo ser, ou seja: reage e movimenta-se. Naturalmente que o movimento não está confinado somente aos seres vivos, pois a água de um rio também se move, se bem que por influências exteriores, a lava de um vulcão é expelida por influências internas da crosta terrestre, assim como o deslocamento de terras - sismos - enquanto que os seres se movem por estas influências e, o que é mais importante, por outras internas.

Quanto ao desenvolvimento, também notamos diferenças entre eles: os não vivos aumentam de tamanho por acrescentamento, por adição ao volume existente da mesma substância, enquanto que o vivo tem a faculdade de reproduzir a própria espécie.

Em resumo: os seres vivos têm as qualidades de conterem protoplasma, reagirem ao meio ambiente, crescerem e reproduzirem a espécie, pelo que podemos determinar que o mofo está vivo, visto ter estas características, o que já não sucede com a ferrugem que consideramos, por consequência, não viva.

Estes são os princípios básicos para o reconhecimento da vida, havendo entretanto, como atrás dissemos, excepções que criam uma incerteza neles e na fronteira de divisão aceites até agora, como o caso dos vírus, essas formas pequeníssimas e impossíveis de se verem com os microscópios ópticos normais.

Estes seres foram descobertos pelo cientista russo Dimitri Iwanowski, em 1892, quando estudava a doença conhecida por “mosaico do tabaco”, que se supunha provocada por uma bactéria. Como as bactérias podem ser removidas dos líquidos em que vivem por meio de finíssimos filtros, Iwanowski demonstrou que era impossível ser uma bactéria o agente portador da doença do tabaco visto conseguir provocá-la inoculando numa planta sã o suco filtrado, e consequentemente livre de bactérias, duma planta doente, concluindo que certas doenças são causadas forçosamente por agentes que conseguem atravessar os finíssimos filtros. Esta teoria foi confirmada por outros cientistas que deram ao agente portador da doença, desconhecido, o nome de vírus. Mais tarde chamaram-lhe vírus filtrante porque pode passar através de qualquer massa porosa. Com a descoberta do microscópio electrónico, e para evitar confusões, chamaram-lhe ultravírus.

Os vírus desenvolvem-se e reproduzem-se apenas em células vivas, não podendo viver noutros meios, e são responsáveis por muitas doenças nos animais e no homem - mais de setenta - entre elas a varíola, febre-amarela, paralisia infantil, raiva e encefalite. Com o microscópio electrónico é possível fotografá-los, e essas fotografias mostram pequenas partículas que têm um tamanho e formas definidas, não se sabendo ao certo se são os vírus propriamente, ou formas cristalinas que contenham o verdadeiro vírus. A verdade é que para uma dada doença essas formas cristalinas, ou vírus, têm precisamente o mesmo formato e tamanho.

Pelos pontos que definem os seres vivos, os vírus assemelham-se um pouco a eles, em certos aspectos, pois adaptam-se ao meio e multiplicam-se, mas não têm protoplasma: contêm apenas proteínas e ácidos nucleicos - e outras substâncias por vezes - que se encontram no protoplasma.

 

Entretanto o doutor Wendell M.Stanley defende a hipótese de não terem vida porque, pelas experiências que fez, se a tivessem não podiam suportar as condições e tratamentos a que os submeteu. É claro que não se pode dar uma classificação definitiva ao vírus, embora seja considerado semelhante aos seres vivos em certos aspectos e não semelhante noutros. Podemos talvez considerá-lo como um elo de ligação entre a vida e não vida, como que na fronteira de separação próxima da bactéria, considerada como a mais baixa forma de vida conhecida.

As bactérias são seres vivos unicelulares, portanto de uma só célula, de origem vegetal, visíveis só com o emprego de grandes ampliações, e vivem no solo, na água, sobre os animais e vegetais, ou nos líquidos orgânicos destes dois reinos da natureza. Quando colocada em boas condições cada bactéria dá origem a uma colónia bacteriana. Não têm sempre a mesma forma, variando - conforme a idade da cultura, o meio empregado, a temperatura de incubação e outros factores - dentro de três tipos principais: a esferoidal, bacilos e espiralar.

Enquanto algumas são flexíveis, móveis ou imóveis, outras são completamente rígidas, conservando a sua forma.

 
Quanto à estrutura interna, já muito se conhece, tendo-se descrito nalgumas delas uma membrana celular; mas a sua existência como a de uma substância nuclear, tal como se encontra noutras células mais diferenciadas, não está ainda bem estabelecida. Como inclusões celulares têm-se descrito, no seu corpo, grãos de Volutina, de glicogénio, gorduras e lipóides. Algumas, em certas circunstâncias, podem formar esporos intracelulares. Outras apresentam uma cápsula, bem visível por meio de métodos de coloração especiais, ou pequenos prolongamentos filiformes, sendo pela sua morfologia que os bacteriologistas as classificam.

A sua multiplicação realiza-se, em regra, por divisão, com alimentação heterotrófica ou autotrófica, sendo parasitas obrigatórias ou facultativas. Algumas produzem fermentações e decomposições químicas, outras são fosforescentes, etc. Diferem do vírus em vários aspectos, principalmente no tamanho - maiores e mais complexas - e podem existir independentemente de outras células vivas, o que já não acontece com o vírus.

Entretanto também surgem dúvidas na classificação de certos seres, que se encontram entre as bactérias e vírus, como que num elo de ligação. Certos microorganismos parecem estar colocados entre o vírus e a bactéria, na escala da vida conhecida, como, por exemplo, o micróbio responsável pela psicatose e várias outras doenças que, na aparência, se assemelham a uma bactéria e no entanto são classificados como vírus grandes e complexos.

Tal vírus - anormal - também só pode reproduzir-se e crescer em células vivas, estando sujeitos a um ciclo de evolução por divisão, desintegrando a célula onde se encontram. Pelos estágios que passam, nessa evolução, são como bactérias e podem ser coloridos do mesmo modo que estas, o que já não se  consegue fazer com o vírus.

A título de curiosidade, e para arrematar este pequeno período sobre a bactéria e o vírus, podemos adiantar que, segundo Jacques Bergier em Os Livros Malditos, o padre Watson, professor de Biologia Molecular e Bioquímica da Universidade de Havard (USA), descobriu algo de novo e fantástico: os sexos das bactérias.

 

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