A VIDA
CONHECIDA – Vírus e Bactérias
De
todas as maravilhas do Universo, a que mais desperta a atenção e deixa a
humanidade confusa, é talvez o espectáculo da vida conhecida, a manifestação de
vida num insecto, num animal, numa
planta, no homem.
Pelo
que estamos habituados, há, sem dúvida alguma, seres com vida e seres sem vida.
O problema é que a sua fronteira de separação ainda não está bem definida,
tendo-se levantado muitas questões acerca do mesmo.
Para
já, e a priori, um homem, um leão,
uma avestruz, uma sardinha, um carvalho e uma roseira, têm vida. Uma pedra, um
pedaço de gelo, um objecto artificial - mesa, candeeiro ou máquina - não a têm,
certamente.
Se
partirmos um pão, por exemplo, ou cortarmos uma barra de ferro, verificamos
mais tarde que no pão se vai formando uma camada de mofo e no ferro uma camada
de ferrugem. Neste caso não podemos afirmar que o mofo e a ferrugem tenham vida
porque “são semelhantes ao homem, ao leão ou à avestruz”, nem podemos afirmar
tão-pouco que não a têm porque se assemelham “a uma pedra, mineral ou máquina”.
O problema é mais complexo e se soubéssemos, apenas, quais as diferenças entre
vivo e não vivo, a classificação talvez se simplificasse, mas a verdade é que a
investigação científica já avançou de tal modo, na matéria, que acabou por
levantar dúvidas quase irrespondíveis.
Uma
importante distinção para separar o vivo do não vivo, é o facto de praticamente
todos os seres vivos serem constituídos por uma substância chamada protoplasma, a qual se dispõe em unidades
conhecidas por células. Neste caso, o estudo do protoplasma é o estudo da
vida, e aceita-se como verdadeiro que todas as actividades dos seres vivos se
baseiam nesta substância, inexistente nos não vivos - com excepção, é claro, de
alguns.
Um
segundo ponto de diferença é que os primeiros reagem ao meio ambiente onde se
encontram e são irritáveis, não com o significado de cólera mas sim com o
significado de movimento. Se pusermos um grão de areia e uma semente de milho
sobre o terreno, lado a lado, verificamos que o grão de areia permanece ali
indefinidamente, estático, enquanto que a semente, devido à exposição ao calor,
humidade, frio e outros agentes, germina e dá origem a um novo ser, ou seja:
reage e movimenta-se. Naturalmente que o movimento não está confinado somente
aos seres vivos, pois a água de um rio também se move, se bem que por
influências exteriores, a lava de um vulcão é expelida por influências internas
da crosta terrestre, assim como o deslocamento de terras - sismos - enquanto
que os seres se movem por estas influências e, o que é mais importante, por
outras internas.
Quanto
ao desenvolvimento, também notamos diferenças entre eles: os não vivos aumentam
de tamanho por acrescentamento, por adição ao volume existente da mesma
substância, enquanto que o vivo tem a faculdade de reproduzir a própria
espécie.
Em
resumo: os seres vivos têm as qualidades de conterem protoplasma, reagirem ao
meio ambiente, crescerem e reproduzirem a espécie, pelo que podemos determinar
que o mofo está vivo, visto ter estas características, o que já não sucede com
a ferrugem que consideramos, por consequência, não viva.
Estes
são os princípios básicos para o reconhecimento da vida, havendo entretanto,
como atrás dissemos, excepções que criam uma incerteza neles e na fronteira de
divisão aceites até agora, como o caso dos vírus, essas formas pequeníssimas e
impossíveis de se verem com os microscópios ópticos normais.
Estes
seres foram descobertos pelo cientista russo Dimitri Iwanowski, em 1892, quando
estudava a doença conhecida por “mosaico
do tabaco”, que se supunha provocada por uma bactéria. Como as bactérias podem ser removidas dos líquidos em que
vivem por meio de finíssimos filtros, Iwanowski demonstrou que era impossível
ser uma bactéria o agente portador da doença do tabaco visto conseguir
provocá-la inoculando numa planta sã o suco filtrado, e consequentemente livre
de bactérias, duma planta doente, concluindo que certas doenças são causadas
forçosamente por agentes que conseguem atravessar os finíssimos filtros. Esta
teoria foi confirmada por outros cientistas que deram ao agente portador da
doença, desconhecido, o nome de vírus. Mais tarde chamaram-lhe vírus filtrante porque pode passar
através de qualquer massa porosa. Com a descoberta do microscópio electrónico,
e para evitar confusões, chamaram-lhe ultravírus.
Os
vírus desenvolvem-se e reproduzem-se apenas em células vivas, não podendo viver
noutros meios, e são responsáveis por muitas doenças nos animais e no homem -
mais de setenta - entre elas a varíola, febre-amarela, paralisia infantil,
raiva e encefalite. Com o microscópio electrónico é possível fotografá-los, e
essas fotografias mostram pequenas partículas que têm um tamanho e formas
definidas, não se sabendo ao certo se são os vírus propriamente, ou formas
cristalinas que contenham o verdadeiro vírus. A verdade é que para uma dada
doença essas formas cristalinas, ou vírus, têm precisamente o mesmo formato e
tamanho.
Pelos
pontos que definem os seres vivos, os vírus assemelham-se um pouco a eles, em
certos aspectos, pois adaptam-se ao meio e multiplicam-se, mas não têm protoplasma: contêm apenas
proteínas e ácidos nucleicos - e outras substâncias por vezes - que se
encontram no protoplasma.
As
bactérias
são seres vivos unicelulares, portanto de uma só célula, de origem vegetal,
visíveis só com o emprego de grandes ampliações, e vivem no solo, na água,
sobre os animais e vegetais, ou nos líquidos orgânicos destes dois reinos da
natureza. Quando colocada em boas condições cada bactéria dá origem a uma
colónia bacteriana. Não têm sempre a mesma forma, variando - conforme a idade
da cultura, o meio empregado, a temperatura de incubação e outros factores -
dentro de três tipos principais: a esferoidal,
bacilos e espiralar.
Enquanto
algumas são flexíveis, móveis ou imóveis, outras são completamente rígidas,
conservando a sua forma.
Quanto
à estrutura interna, já muito se conhece, tendo-se descrito nalgumas delas uma
membrana celular; mas a sua existência como a de uma substância nuclear, tal
como se encontra noutras células mais diferenciadas, não está ainda bem
estabelecida. Como inclusões celulares têm-se descrito, no seu corpo, grãos de Volutina, de glicogénio, gorduras e lipóides.
Algumas, em certas circunstâncias, podem formar esporos intracelulares. Outras
apresentam uma cápsula, bem visível por meio de métodos de coloração especiais,
ou pequenos prolongamentos filiformes, sendo pela sua morfologia que os bacteriologistas
as classificam.
A
sua multiplicação realiza-se, em regra, por divisão, com alimentação
heterotrófica ou autotrófica, sendo parasitas obrigatórias ou facultativas.
Algumas produzem fermentações e decomposições químicas, outras são
fosforescentes, etc. Diferem do vírus em vários aspectos, principalmente no
tamanho - maiores e mais complexas - e podem existir independentemente de
outras células vivas, o que já não acontece com o vírus.
Entretanto
também surgem dúvidas na classificação de certos seres, que se encontram entre
as bactérias e vírus, como que num elo de ligação. Certos microorganismos
parecem estar colocados entre o vírus e a bactéria, na escala da vida
conhecida, como, por exemplo, o micróbio responsável pela psicatose e várias outras doenças que, na aparência, se assemelham
a uma bactéria e no entanto são classificados como vírus grandes e complexos.
Tal
vírus - anormal - também só pode reproduzir-se e crescer em células vivas,
estando sujeitos a um ciclo de evolução por divisão, desintegrando a célula
onde se encontram. Pelos estágios que passam, nessa evolução, são como
bactérias e podem ser coloridos do mesmo modo que estas, o que já não se consegue fazer com o vírus.
A
título de curiosidade, e para arrematar este pequeno período sobre a bactéria e
o vírus, podemos adiantar que, segundo Jacques Bergier em Os Livros Malditos, o padre Watson, professor de Biologia Molecular
e Bioquímica da Universidade de Havard (USA), descobriu algo de novo e
fantástico: os sexos das bactérias.
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