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quarta-feira, 21 de setembro de 2016


Bilderberg 2014

 

Escrito por Miguel Ayuso | 03 Junho 2014

Artigos - Globalismo

 

(Traduzido por mim do brasileiro para português. R.)

 

"Você já viu as pessoas que estão em tais encontros? Vão os ministros, os reis, a OTAN, o FMI...

 

Tais pessoas não se deslocam para conversar sobre o tempo."

 


 

No domingo passado (01/06) veio a término a 62ª edição da reunião anual do Clube Bilderberg, a seleta organização que congrega as autoridades máximas da política, economia, aristocracia e do poder militar da Europa e dos Estados Unidos.

 

Todas as propostas e deliberações, celebradas num hotel de Copenhaga, foram feitas no mais absoluto segredo: às portas fechadas, sem acesso dos meios de informação e sem publicação das suas conclusões. Embora o clube diga que as suas reuniões não têm um caráter oficial e é apenas um fórum de discussão privado, há quem considere o Bilderberg como o encontro internacional mais importante no mundo, onde são tomadas decisões concretas que afetam todas as pessoas.

 

“O efeito mais imediato dessa reunião do clube que acabamos de tomar conhecimento é a abdicação do rei Juan Carlos”, afirma ao El Confidencial a jornalista Cristina Martín Jiménez, que há 10 anos investiga os meandros da instituição. “Note que todas as monarquias estão a fazer a transição geracional. Eles trabalham em consenso e foi decidido que chegou o momento onde é necessário efetuar essa transição. Não tenho a menor dúvida de que a abdicação do rei é uma decisão consensual do Bilderberg”.

 

Na opinião da autora de 'Perdidos. Los planes secretos del Club Bilderberg (Martínez Roca)', não é um acaso que a reunião desse ano tenha tido a participação da rainha Sofia, da rainha Beatriz da Holanda (filha do fundador do clube, Bernardo de Holanda) e do príncipe Felipe da Bélgica, que também recebeu a chefia da monarquia no ano passado. “Estão a renovar todas as cúpulas dos poderes que trabalham conjuntamente no Bilderberg”, assegura ela.

 

Uma grande reestruturação militar, económica e comercial

 

Porém, embora a abdicação do rei da Espanha afete especialmente o nosso país, Martín Jiménez tem por certo que este não foi o tema mais discutido em Copenhaga. Neste ano, grande parte das conversações orbitou sobre possíveis conflitos armados na Rússia, China e no Médio Oriente.

 

E é por isso que a presença militar foi especialmente significativa. Na lista de convidados deste ano estavam o secretário-geral da OTAN, Anders Fogh Rasmussen; o general em chefe das Forças Norte-Americanas na Europa, Philip Breedlove – que, segundo informa Charlie Skelton do The Guardian, foi acompanhado de representantes de altos cargos do Ministério da Defesa Norte-Americano; o ex-diretor da CIA, David Petraeus; o chefe do MI6 (o serviço de espionagem britânico), Sir John Sawers; bem como diversos ministros do exterior europeus, entre outros da Espanha, José Manuel García-Margallo (que compareceu acompanhado de Mercedes Millán Rajoy, diplomata espanhola e sobrinha do presidente).

 

Na opinião de Martín Jiménez, o Clube Bilderberg prepara o cenário para a possibilidade de um grande conflito bélico: “O consenso é que daqui a alguns meses ou um ano haverá uma grande reestruturação militar, económica e comercial com origem em alguma modificação importante na história mundial: um conflito bélico de grandes dimensões”.

O Clube Bilderberg celebrou a sua primeira reunião em 29 e 30 de maio de 1954, no hotel Bilderberg, na Holanda, encontro promovido pelo imigrante polaco e conselheiro político Jozef Retinger, preocupado pelo crescente antiamericanismo provocado pelo Plano Marshall na Europa.

 

Desde então, afirma Martín Jiménez, a sua principal preocupação tem sido preservar a hegemonia do Ocidente, que agora está a ser questionada.

 

“No ano passado, Tony Blair, outro dos líderes que trabalham com os Bilderberg, escreveu um artigo para o Daily Mirror (1) em que dizia claramente que a questão não é a paz, mas sim de falar sobre questões de poder”, explica Martín Jiménez. “Isto foi dito alguns meses antes de reunir-se com o clube em Inglaterra (entre 8 e 9 de junho do ano passado), pois existia uma grande rejeição popular à União Europeia, e recentemente havia sido criado o UkiP (2), que agora teve grande sucesso nas eleições. Blair interveio afirmando que os trabalhistas e os conservadores teriam de se unir para dar apoio à União Europeia. Estão a ser formados blocos de poder. O Ocidente é um bloco, e ele está a ser reforçado para não permitir a sua invasão por outros blocos.”

 

Convidados que não vão apenas para conversar

 

A jornalista tem consciência de que as suas afirmações levantam suspeitas, porém ela está convencida de que aquilo que é dito no Bilderberg é de extrema importância. “Eles possuem um mecanismo para desprestigiar aquelas pessoas que os investigam, tachando as suas atividades de 'conspiranóia', para que acreditemos que não estão a fazer nada. Dizem que são apenas reuniões informais nas quais as pessoas participam em caráter privado, e que por esse motivo não tem de dar informações. Você já viu as pessoas que estão em tais encontros? Vão os ministros, os reis, a OTAN, o FMI...

 

Tais pessoas não se deslocam para conversar sobre o tempo.”

 

Além dos grandes líderes militares e da aristocracia, este ano participaram do Bilderberg diretores de corporações como Shell, BP, Fiat, Novartis, Dow Chemicals, Unilever, Airbus e Nestlé; diretores de bancos e instituições financeiras como HSBC, Citigroup, Lazard, Goldman Sachs, Santander, Barclays, American Express, JP Morgan, TD Bank e do Deutsch Bank; e os CEOs e presidentes do Google, LinkedIn e Microsoft; proprietários, editores e representantes de meios de informação como The Financial Times, The Wall Street Journal, Die Zeit, Le Monde, El País e The Washington Post; líderes e políticos de instituições como o Banco Mundial, a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu, Banco de Compensações Internacionais, o FMI, a Reserva Federal e o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos; e políticos europeus, norte-americanos e canadianos como Mark Rutte, o primeiro-ministro holandês, ou David Cameron, primeiro-ministro britânico.

 

A representação espanhola incluiu além da rainha Sofia, o ministro de Relações Exteriores, o diretor-geral da La Caixa, Juan Maria Nin, e o presidente do grupo Prisa, Juan Luis Cebrián.

 

O grande grupo de pressão ocidental

 

As decisões do Bilderberg, afirma Martín Jiménez, são consensuais e tem efeitos diretos sobre as políticas nacionais. Apenas 15 dias após a reunião do clube em 2012, realizada nos Estados Unidos, a Espanha pediu um empréstimo à Europa para fazer o resgate bancário.

Uma decisão que, segundo a jornalista, foi tomada na conferência do Clube, que naquele ano havia tido a participação da vice-presidente Soraya Sáenz de Santamaría. O Bilderberg também foi responsável, ainda segundo Martín Jiménez, de colocar Mario Monti, membro do Comité Diretor do Clube, como primeiro-ministro italiano. “E assim os italianos tiveram de engolir um primeiro-ministro que não foi eleito nas urnas”, assegura a jornalista.

 

O Bilderberg também está por trás dos cortes orçamentais realizados no nosso país. “A Fundação Rockfeller (outro dos grandes promotores históricos do clube) tem falado do tema da superpopulação desde os anos 30”, explica ela. “Não é coisa nova. Os mais velhos e os doentes não são úteis, pois são um ónus económico.

 

Bruxelas pressiona os nossos governos eleitos democraticamente para que reduzam as ajudas aos dependentes e o orçamento para a saúde”.

 

O clube põe as suas mãos em tudo aquilo que possa afetar o desempenho dos seus sócios (a elite económica e política). Incluindo o futuro sucessor do PSOE (3). “Segundo as minhas investigações, Madina é o candidato que os membros espanhóis do Bilderberg apoiam”, afirma a jornalista. Somente o tempo dirá se ela está certa, ainda que ela mesma reconheça, “há muitas coisas que eles preveem, porém mais tarde os seus planos não se desenvolvem como havia sido desejado”.

 

Notas:

(1) O artigo em questão pode ser lido aqui: http://dailym.ai/1o5bEWP. No trecho referido o líder do Partido Trabalhista diz:

 

(...) Em 1946, Winston Churchill fez o seu afamado discurso conclamando por um Estados Unidos da Europa. Ele via um continente assolado por séculos de conflito e recentemente por duas guerras mundiais. Ele via uma França e uma Alemanha – inimigos em ambas as guerras – tornando-se amigos numa nova união. O racional para a Europa [naquele momento] era simples – paz e não a guerra. Em 2013, existe uma nova lógica que é mais forte, clara e mais duradoura: não a paz, mas o poder. O cenário geopolítico para o Século XXI está a passar por uma revolução. A questão para a Grã-Bretanha é: qual é o ponto que nos dá mais vantagens neste novo cenário? Ao fim do século XIX, a Grã-Bretanha era a maior potência mundial. No final do século XX, eram os EUA. No final do século XXI, possivelmente será a China ou, no mínimo, a China e possivelmente a Índia serão tão poderosos quanto os EUA. Nós precisamos de compreender quão profunda é essa mudança e como ela nos irá atingir (...)

 

(2) UKiP Partido Independista do Reino Unido. Eurocético. Direita. O partido defende a independência da Inglaterra frente à União Europeia (abandonar a UE). O título do seu Manifesto 2014 diz: “Imigração portas-abertas está sucateando os serviços públicos locais no R.U.” As suas propostas envolvem: soberania e livre comércio sem união política. Proteção das fronteiras e imigração sob condições reguladas. Isenção fiscal sobre salário mínimo e sobre a transmissão de heranças. Fim de subsídios e ajudas ao exterior. Combate ao crime. Cassação do direito a voto de prisioneiros. Sair da jurisdição da Corte Europeia de Direitos Humanos. Permitir a fundação de novas 'grammar schools'. Rejeição ao politicamente correto como proteção ao livre discurso (“free speech”).

 

(3) PSOE Partido SOCIALISTA Operário Espanhol, fundado em 1879 (o segundo mais antigo da Espanha). Principal partido de oposição. Parte integrante do Partido SOCIALISTA Europeu e da Internacional Socialista. Adepto da Terceira Via, do multiculturalismo, do humanismo laico, progressista.

 


 

Tradução: Francis Lauer

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