QUEM ERAM
OS ESSÉNIOS
Os
Essénios (Issi’im) constituíam um grupo ou seita judaica ascética que existiu
entre 150 a.C a 70 d.C e estavam relacionados com outros grupos
político-religiosos, como os Saduceus.
O
nome Essénio provém do termo sírio asaya,
e do aramaico essaya ou essenoi, todos com o significado de médico, passa por orum do grego (grego therapeutés) e, finalmente, por esseni do latim. Também se aceita a
forma esseniano.
Durante
o domínio da Dinastia Hasmonéa, os Essénios foram perseguidos tendo-se retirado
por isso para o deserto, vivendo em comunidade e em estrito cumprimento da lei
mosaica, bem como da dos Profetas. Na Bíblia não há menção sobre eles, e
sabe-se da sua existência pelo historiador oficial judeu Flávio Josefo e pelo
filósofo judeu Filon de Alexandria. Flávio Josefo relata a divisão dos Judeus do Segundo Templo em três grupos
principais: Saduceus, Fariseus e Essénios.
Os
Essénios eram um grupo de separatistas, a partir do qual alguns membros
formaram uma comunidade monástica ascética que se isolou no deserto.
Acredita-se que a crise que desencadeou esse isolamento do judaísmo ocorreu
quando os príncipes Macabeus no poder, Jonathan e Simão, usurparam o ofício do
Sumo-sacerdote, consternando os judeus conservadores. Alguns não podiam tolerar
a situação e denunciaram os novos governantes. Josefo refere, na ocasião, a
existência de cerca de quatro mil membros do grupo, espalhados por aldeias e
povoações rurais.
Adoptaram
uma série de condutas morais que os diferenciavam dos demais judeus.
-
Vestiam-se sempre de branco
-
Aboliam a propriedade privada.
-
Eram vegetarianos.
-
Contrários ao casamento.
-
Tomavam banho antes das refeições.
-
E a comida era sujeita a rígidas regras de purificação.
Não
tinham amos nem escravos. A hierarquia estabelecia-se de acordo com os graus de
pureza espiritual dos irmãos, os sacerdotes que ocupavam o topo da ordem.
Entre
as comunidades, tornou-se conhecida a de Qumrán, pelos manuscritos em
pergaminhos que tomaram o seu nome, também chamados Pergaminhos do Mar Morto ou Manuscritos
do Mar Morto.
Nesses
documentos mostram, por exemplo, que os Essénios interpretavam as Escrituras de
uma forma própria. Utilizavam uma linguagem simbólica, recorrendo a fábulas,
metáforas e usando alcunhas particulares para se referirem a eles próprios ou
aos outros. Recorriam também a um estilo literário de cariz escatológico com
preocupações moralizantes, onde abundam as metáforas e linguagem antagónica,
como os Filhos da luz versus Filhos
das Trevas, que aposta para uma determinada predestinação.
Para
as suas regras em comunidade elaboraram um Manual de procedimento para a
iniciação à seita, punições por infracções, estrutura hierárquica, rituais e,
de permeio um texto sobre a dualidade da natureza humana e hinos de acções de
Graças. No entanto, pelas várias comunidades que intervieram na elaboração deste
Manual, não parece ser um códice
homogéneo. Outro manuscrito denominado “Documento de Damasco” contém também
informação sobre as regras da comunidade e sua estratificação social. Talvez
não houvesse uma preocupação em reunir num só manual toda a informação sobre a
própria comunidade e suas regras. Foram-se reunindo vários documentos que
acabaram por formar um códice.
Burrows
afirma mesmo que “… a forma de
organização, bem como as regras da seita, encontram-se no “Documento de
Damasco” e no “Manual de Disciplina” (…) estes dois documentos têm muitos
elementos comuns, muito embora as diferenças que os separam bastem para
demonstrar que não provêm exactamente do mesmo grupo. Sem dúvida, apresentam
ramos distintos de um mesmo movimento ou etapas diferentes da sua história, se
não uma coisa e outra, simultaneamente”.
Porquê redigir um Manual de Disciplina?
Talvez as regras da comunidade tenham sido
transmitidas oralmente por algum tempo, mas como sempre acontece em toda a
história humana há sempre os que prevaricam e distorcem as regras.
A
necessidade de legislar provém quase sempre da prevaricação à regra
estabelecida.
Segundo o historiador orientalista Christian
Ginsburg os Essénios foram os
percursores do Cristianismo, pois a maior parte dos ensinamentos de Jesus,
o idealismo ético, a pureza espiritual, são o ideal Essénio da vida espiritual.
As Escolas dos Mistérios acreditam que Jesus era um Essénio, bem como João
Baptista.
A prática do banho frequente, segundo alguns
historiadores, estaria na origem do ritual cristão do baptismo, que era
ministrado por S. João Baptista, às margens do Rio Jordão, próximo de Qumrám.
O
limite temporário da história da seita, já para o fim, determinada pela
arqueologia de Qumrám coincide com a chegada dos exércitos romanos de
Vespasiano e Tito às imediações do Mar Morto, assim como com a primeira guerra
judaica.
Pelo
que sabemos é possível que os Essénios tenham interpretado as Escrituras de
alguma forma ímpar, terem adoptado determinados ensinamentos esotéricos que
mantiveram secretos e terem mesmo feito o voto do silêncio a nível sacerdotal.
Talvez a designação de “Filhos da Luz” remeta para
conhecimentos de carácter esotérico descortinados no próprio texto bíblico
(nomeadamente no Génesis) e se refira “a
uma idade da criação do próprio mundo” (associada ao quarto dia em que
teria ocorrido a separação entre o dia e a noite) e não tão-somente às batalhas
intermináveis entre o bem e o mal.
É
bem verdade que os primeiros versículos do Génesis são detentores de um certo
hermetismo e que podem bem ser interpretados como “as idades do mundo”, uma criação faseada, com propósitos evolutivos
e que culmina com o descanso do Criador.
Interpretar
as Escrituras, concebe-las em hebraico antigo, estando as palavras ligadas umas
às outras, sem vogais e disponíveis para quaisquer pequenas alterações conforme
a conveniência do intérprete, não teria ajudado à busca da veracidade do texto
original. Uma das provas disto é a própria designação de deus no génesis como “elohin”,
o que parece remeter para uma pluralidade criadora.
A
importância dos documentos do Mar Morto é por demais evidente. Trás à luz um
novo articulado e proporciona estudos comparativos com os postados nos
Evangelhos. Também propicia algum conhecimento sobre esta seita religiosa e
espiritual “banida” dos Evangelhos, ajudando-nos a colocarmo-nos perante os
outros e vislumbrar a sua maneira de ver Deus. A religião é o que nos liga ao
sagrado. Somos, naturalmente, seres espirituais.
(Texto sem adopção às regras do acordo
ortográfico de 1990.R)
Sem comentários:
Enviar um comentário