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segunda-feira, 29 de julho de 2019


A PROFECIA DE DOM BOSCO E A TERCEIRA HUMANIDADE

 
Dom Bosco, SDB, foi um sacerdote católico italiano, fundador da Pia Sociedade São Francisco de Sales e proclamado santo em 1934. Nasceu Giovanni Melchior Bosco e foi aclamado por Paulo II como o "Pai e Mestre da Juventude". Dom Bosco é o padroeiro da capital federal do Brasil, Brasília.

 


 

Desde as primeiras navegações, as novas terras de além-mar começaram a despertar o interesse de vários países que já possuíam uma esquadra marítima capaz de atravessar o mar ocidental. Este foi o caso dos espanhóis, dos portugueses, dos franceses, dos holandeses e dos ingleses, que começaram a utilizar a nova rota marítima para tentar estabelecer a exploração e a colonização das novas terras descobertas. Comentava-se, na Europa, que as terras recém-descobertas de além-mar eram, na verdade, um novo continente e não a Ásia, como Colombo havia acreditado a princípio. Depois das primeiras travessias ao longo do mar ocidental, o percurso passou a ser mais confiável, despertando um interesse maior dos países europeus, que, a partir de então, poderiam explorar as terras recém-descobertas e também expandirem-se territorialmente, de modo que os navegadores começaram a fazer esta travessia com mais frequência. Em virtude disso, a partir de 1530, os portugueses começaram a chegar ao Brasil para explorar o pau-brasil e para cultivar a cana-de-açúcar.

 
Somente no século XVI chegaram cerca de 200 mil europeus ao novo continente, estabelecendo-se nas terras recém-descobertas. Entre o século XVI e o século XVIII cerca de 100.000 portugueses deslocaram-se para o Brasil. Muitos destes colonizadores passavam por dificuldades financeiras na Europa e, por isso, procuravam alguma oportunidade no novo continente através da aquisição de sesmarias (A Lei das Sesmarias foi uma legislação do reinado de Fernando I de Portugal. Foi promulgada em Santarém a 28 de Maio de 1375, e insere-se num contexto de crise económica que se manifestava há já algumas décadas por toda a Europa e que a peste negra agravou. Assim, toda a segunda metade do século XIV e quase todo o século XV foram períodos de depressão. A peste negra levou a uma falta inicial de mão-de-obra nos centros urbanos (locais onde a mortandade foi ainda mais intensa) que, por sua vez, desencadeou o aumento dos salários das actividades artesanais. Estes factos desencadearam a fuga dos campos para as cidades. Após estas consequências iniciais verificou-se, e tornou-se característica deste período, a falta de mão-de-obra rural que levou à diminuição da produção agrícola e ao despovoamento de todo o país). Neste período inicial, dedicaram-se principalmente à agricultura baseada no trabalho escravo, efectuado a princípio por indígenas (Índios), que não demonstraram ser mão-de-obra adequada para estes fins. Desta maneira, os colonizadores passaram a buscar os negros, em África, para trabalharem como mão-de-obra escrava nos engenhos. Admite-se o ingresso no Brasil de cerca de 75. 000 negros para o século XVI, e 452. 000 para o século XVII.

A mistura entre os nativos indígenas, os europeus e os negros africanos formou um novo tipo humano: “O primeiro brasileiro consciente de si foi, talvez, o mameluco, esse brasilíndio mestiço na carne e no espírito, que não podendo identificar-se com os que foram seus ancestrais americanos – que ele desprezava, nem com os europeus que o desprezavam e sendo ele objecto de mofa dos reinóis e dos luso-nativos, via-se condenado à pretensão de ser o que não era nem existia: o brasileiro” (Ribeiro, 1995).

 

Muitos grupos étnicos, que foram arrancados de suas terras de origem, foram destinados a trabalhar nas regiões das Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás, onde foram encontradas enormes jazidas de ouro. A descoberta e a exploração do ouro nestas regiões começaram a atrair gente de todos os lugares, que procuravam enriquecer facilmente, ou tentavam encontrar alguma condição de trabalho e de comércio mais favorável. Foi assim que surgiram várias cidades nestas regiões que se desenvolveram com rapidez, tanto cultural como urbanisticamente. A cidade de Vila Rica, actual Ouro Preto, surgiu desta maneira e adquiriu rapidamente um carácter urbano, tornando-se um importante centro intelectual e cultural da época. Foi na Vila Rica do século XVIII que os Inconfidentes organizaram o movimento que ficou conhecido como Inconfidência Mineira, a qual foi dissolvida com braço de ferro pela coroa Portuguesa.

 

                                                                                                                                                                                                                              
No século XIX, foram trazidos mais 2.204.000 negros ao Brasil para trabalharem em regime de mão-de-obra escrava. O que soma um total de cerca de 6.352.000 escravos negros que ingressaram no país, entre 1540 e 1860. Somente após a abolição da escravatura, em 1888, o governo passou a incentivar a entrada de imigrantes europeus no território brasileiro. Nos séculos XIX e XX as situações política e social da Europa agravaram-se, assim como em outras regiões do mundo, produzindo uma grande leva de emigrantes, que teriam como destino as Américas. O Brasil precisava de mão-de-obra para substituir os escravos que haviam sido libertados pela Lei Áurea. Era necessário receber vários contingentes étnicos para desenvolver a agricultura, para trabalhar nas indústrias do sul do país ou para ocupar e desenvolver o imenso território nacional. Isto resultou numa grande emigração europeia para a América do Sul, que num primeiro momento foi de espanhóis e de portugueses, que desembarcaram e se estabeleceram em várias regiões do continente.

A partir de 1824, começaram a chegar ao Brasil, alemães, italianos, ucranianos, polacos e russos, que passaram a integrar a população juntamente com os grupos indígenas e africanos que já compunham o contingente nacional. Formado a partir das matrizes indígenas, europeia, africana e eslava, a etnia nacional passou a caracterizar-se como um povo-novo de formação multicultural e multirracial. Ocorreu, então, o processo de aculturação e de miscigenação, produzindo, assim, um novo tipo humano, que continuou a misturar-se com as novas levas de imigrantes que continuavam a chegar ao continente. Os novos contingentes humanos, que pertenciam às várias regiões do mundo, estabeleceram-se na região e continuaram a estimular o processo de contínua aculturação e miscigenação entre as diversas etnias que viviam no ambiente comum do território Sul-Americano. Muitos povos que viviam em regime de perseguições, como os judeus e os arménios, também decidiram partir para a América do Sul, que acolhia gente de todas as partes do mundo. Estes imigrantes encontraram condições melhores que as que tinham nos seus próprios países. De facto encontraram liberdade religiosa, a aceitação dos seus costumes e das suas tradições, assim como as condições climáticas e sociais para desenvolverem os mais variados tipos de actividades.

Vários povos do Médio Oriente também começaram a chegar, tanto cristãos como muçulmanos, representados principalmente pelos sírios libaneses, que se fixaram no Brasil, Uruguai, Argentina e Paraguai. Os imigrantes turcos e árabes fixaram-se principalmente nas médias e nas grandes cidades e também na região amazónica, onde desenvolveram as suas actividades comerciais e encontraram boas oportunidades para prosperarem economicamente. Também chegaram à América do Sul numerosos contingentes de japoneses, chineses e, também, indianos. As imigrações de alemães e de italianos diminuíram de ritmo durante o período da Primeira Guerra Mundial. Entretanto, cresceu a imigração dos povos minoritários, como os polacos, os ucranianos e os arménios. A partir de 1908, iniciou-se uma expressiva imigração japonesa para o Brasil, que, contudo, retrocedeu no início da Segunda Guerra Mundial. Este processo foi retomado, em menor escala, após a guerra, época em que começaram a chegar os primeiros imigrantes coreanos, que aumentaram em número após 1939. O contingente imigratório integrado na população brasileira até 1959 foi composto principalmente por 1,7 milhões de imigrantes portugueses que vieram a juntar-se com os portugueses dos primeiros séculos, assim como 700 mil espanhóis, 1,6 milhões de italianos, cerca de 250 mil alemães, 230 mil japoneses, 190 mil sírios e turcos, e 600 mil entre os eslavos e os vários contingentes menores de outras etnias. Depois de 1959, o continente continuou a receber os contingentes imigratórios de várias regiões do mundo, que desta maneira também passaram a integrar-se na, já miscigenada, etnia continental. Sendo que, as raças indígenas remanescentes, que não foram dizimadas pelas invasões do seu território nem pelas doenças trazidas pelos europeus, e que sobreviveram como grupos, continuaram a compor a população juntamente com os contingentes imigratórios que se estabeleceram no continente, produzindo, assim, um contínuo processo de aculturação e miscigenação, formando, desse modo, um novo tipo humano de conformação multirracial e multicultural, que o caracteriza como um povo novo, o qual se integrou pelas matrizes linguísticas espanhola e portuguesa no continente Latino-Americano.

A ideia da mudança da capital do Brasil para o interior do seu território principiou-se no fim do século XVIII, quando os Inconfidentes incluíram esta intenção no seu programa. Os Inconfidentes pretendiam enfraquecer o jugo da metrópole e, por meio desta manobra, estabelecer a sua nova sede numa das províncias do interior. No entanto, a Coroa portuguesa reagiu energicamente e dissolveu estas intenções aniquilando sem piedade o movimento Inconfidente. A cidade do Rio de Janeiro havia sido elevada à condição de capital da colónia, no ano de 1763. Em virtude disso, crescia a sua importância política e administrativa perante a Coroa portuguesa, projectando-se como principal centro urbano da colónia. Em 1808, foi realizada a transferência da corte portuguesa para o Rio de Janeiro, por conta das guerras desencadeadas por Napoleão I, na Europa. Alguns anos depois, em 1815, o Brasil foi elevado à categoria de Reino, em igualdade de condições com Portugal, e as suas capitanias passaram a chamar-se províncias.

 

A ideia de interiorizar a capital do Império passou a ser discutida por alguns homens de relevo no cenário político, os quais começaram a sentir a importância de transferi-la para o centro do território, em virtude de que ela se situar na região litoral do Rio de Janeiro. Em 1821, o naturalista, poeta, estadista e futuro Patriarca da Independência do Brasil, José Bonifácio de Andrada e Silva, escreveu as suas Ideias Sobre a Organização Política do Brasil, na qual cita a necessidade de criar uma cidade no interior do Brasil para assento da Regência, que poderia ser a 15 graus de latitude. Em 20 de Outubro de 1821, José Bonifácio redige, novamente, as mesmas ideias nas Instruções do Governo Provisório de São Paulo aos Deputados às Cortes de Portugal, apresentadas ao Príncipe Regente Dom Pedro de Alcântara, em 9 de Novembro de 1821, por António de Almeida Andrada. José Bonifácio de Andrada e Silva redigiu a seguinte instrução: “Parece-nos muito útil que se levante uma cidade central no interior do Brasil para assento da Corte ou da Regência, que poderá ser na latitude de mais ou menos 15 graus, em sítio sadio, ameno, fértil e regado por algum rio navegável” (Silva, 1971). A predestinação desta região continuou a confirmar-se na noite de 30 de Agosto de 1883, quando Dom Bosco teve um longo e extraordinário sonho profético em que avistou, segundo as suas palavras, a “Terra Prometida, donde fluirá leite e mel, e será uma riqueza inconcebível”, sonho este que revelou alguns dias depois à Congregação Salesiana como sendo “um facto maravilhoso” (Silva, 1971).

Giovanni Melchior Bosco nasceu em Becchi, na Itália, em 16 de Agosto de 1815. Mais tarde passaria a ser conhecido como Dom Bosco, ou, também, como São João Bosco. Iniciou os seus estudos em escolas públicas e com a idade de dez anos começou a demonstrar que possuía o dom dos sonhos proféticos, que mais tarde revelaram-se como sendo extraordinárias experiências de natureza transcendental. Entrou para o seminário aos 16 anos, guiado por estas mesmas visões. Tornou-se o padre João Bosco, em 1841, quando começou a recolher e educar os jovens pobres e abandonados e a convidar os que estavam na prisão para que, quando saíssem, se dirigissem ao oratório. Assim se chamava o lugar onde o padre João Bosco reunia e educava os jovens a redescobrir a dignidade da própria vida como filhos de Deus. O oratório era um lugar onde havia salas de aula, campos para jogos, salas para oficinas, dormitório, um refeitório para os alunos internos e uma igreja para catequese, onde se praticava a oração e o canto devocional.

Dom Bosco estabeleceu o oratório de São Francisco de Sales, um ginásio e uma escola profissional num bairro de Turin, no ano de 1846. E fundou um Instituto para educação da juventude feminina, em 1855, com o apoio de Madre Maria Mazzarelo. Fundou, também, a Congregação Salesiana, juntamente com os seus colaboradores que passaram a chamar-se salesianos, em homenagem a São Francisco de Sales. A Congregação surgiu com um sacerdote, quinze seminaristas e um estudante. Dom Bosco modelou as primeiras gerações de salesianos. Compartilhou com eles as suas experiências, assim como também as suas visões proféticas, que muitas vezes se revelavam como extraordinárias experiências transcendentes. Foi por meio destas mesmas visões, que decorreram entre os anos de 1883 e 1886, que Dom Bosco passou a avistar o futuro da obra missionária que deveria realizar à frente dos salesianos na América do Sul, Ásia, África e Austrália. Os salesianos davam muita importância para estas visões de Dom Bosco e consideravam-nas como verdadeiras profecias.

Dom Bosco guiava-se por estas suas visões transcendentes, e foi desta forma que organizou onze expedições missionárias para a América do Sul. A primeira delas chegou a Buenos Aires, na Argentina, em 1875. Os salesianos teriam por missão atender os compatriotas emigrados neste país e evangelizar a Patagónia. Desse modo, estabeleceram-se na Argentina e no Uruguai e expandiram-se notavelmente num curto espaço de tempo. E, sob a orientação enérgica de Dom Bosco, conseguiram estabelecer-se na região inóspita da Patagónia, onde passaram a desenvolver o trabalho missionário da evangelização e da educação das tribos selvagens da região. A obra missionária de Dom Bosco, à frente dos salesianos, propunha aos seus membros serem solidários com o mundo e com a sua história, estarem abertos à cultura dos povos e às necessidades dos jovens dos ambientes populares, lutando pela justiça e pela paz, rejeitando tudo o que favorecesse a miséria, a injustiça, a violência e cooperando, sobretudo, com todos aqueles que construíam uma sociedade mais digna para o homem. Mais tarde, os salesianos organizaram-se e estabeleceram-se no Brasil, no Chile e no Equador, até 1888, na Colômbia, em 1890, no Peru, em 1891, no México, em 1892, na Venezuela, em 1894, na Bolívia e no Paraguai, em 1896, e nos Estados Unidos em 1897. A obra de Dom Bosco floresceu, e a Ordem Salesiana estendeu-se para 128 países nos cinco continentes.

Dom Bosco costumava reunir-se com a Congregação Salesiana para discutir os assuntos referentes às obras missionárias, que se expandiam cada vez mais, e durante a reunião do Capítulo Geral da Congregação, realizada em 4 de Setembro de 1883, Dom Bosco revelou que teve um "maravilhoso sonho profético" alguns dias antes, e que revelaria o conteúdo da sua extraordinária visão. Um sacerdote da Congregação ficou responsável por redigir as palavras de Dom Bosco, para que nada se perdesse. Dom Bosco disse, então, que foi arrebatado pelos anjos e "Por muitas milhas, percorremos uma enorme floresta virgem e inexplorada... Não só a descortinava, ao longo das cordilheiras, mas via até as cadeias de montanhas isoladas, existentes naquelas planícies imensuráveis, e as contemplava em todos os seus menores acidentes... Aquelas de Nova Granada, da Venezuela, das Três Guianas, as do Brasil, da Bolívia, até os últimos confins. Eu vi as entranhas das montanhas e o fundo das planícies. Tinha sob os olhos as riquezas incomparáveis desses países, as quais um dia serão descobertas... Mas não era tudo. Entre os paralelos 15 e 20 graus, havia um leito muito largo e muito extenso, que partia de um ponto donde se formava um lago. Então uma voz disse repetidamente: Quando se vierem a escavar as minas escondidas no meio destas montanhas, aparecerá a Terra Prometida, donde fluirá leite e mel. Será uma riqueza inconcebível. O Santo afirmou que os sonhos descritos seriam vividos na terceira geração" (Silva, 1971). A visão profética que Dom Bosco revelou como um "facto maravilhoso" à Congregação Salesiana, em 1883, indicava o futuro surgimento da "Terra Prometida, donde fluirá leite e mel. Entre os paralelos 15 e 20 graus". Esta era a mesma região que já havia sido antevista, no ano de 1821, pelo ilustre tribuno José Bonifácio de Andrada e Silva quando propôs "Criar uma cidade no interior do Brasil para assento da Corte, ou da Regência, que poderá ser em 15 graus de latitude, em sítio sadio, fértil e junto a algum rio navegável" (Silva, 1971).

Dom Bosco foi canonizado, na Páscoa de 1934, pelo Papa Pio XI. A partir deste momento, passou a ser oficialmente considerado um santo - São João Bosco. As suas visões proféticas revelaram-se como verdadeiras com o passar do tempo, como demonstram as obras missionárias dos salesianos, nos cinco continentes, que foram orientadas por estas visões proféticas. Foi desta maneira que a profecia mais importante de Dom Bosco, que fala sobre a “Terra Prometida donde fluirá leite e mel, que será uma riqueza inconcebível, e que surgirá entre os paralelos 15 e 20 graus”, permaneceu inabalável por mais de um século.

Inúmeras averiguações, estudos e trâmites burocráticos foram realizados desde o ano de 1821, época em que José Bonifácio apontou o paralelo 15 graus como a região mais apropriada para o assento da Corte ou da Regência, a mesma região que a extraordinária visão profética de Dom Bosco revelou, no ano de 1883. No entanto, foi somente no ano de 1955, quando realizava um comício em Goiás, que o então candidato à Presidência da  República, Juscelino Kubitschek , declarou que, se eleito, cumpriria o que estava determinado pela constituição e realizaria a transferência da capital federal para o paralelo 15 graus.

Juscelino Kubitschek disputou e venceu as eleições, tornando-se o Presidente da República Federativa do Brasil, em 3 de Outubro de 1955. E tomou posse do cargo em 31 de Janeiro de 1956, com o objectivo de construir a cidade de Brasília e transferir a capital da República para o planalto central. J. Kubitschek conhecia perfeitamente a profecia de Dom Bosco, como demonstra este pequeno excerto do seu livro Por que Construí Brasília: “O santo de Becchi, na Itália, era dado a visões, que constituíam verdadeiras antecipações do que iria acontecer no futuro, às vezes remoto. A 30 de Agosto de 1883, passou ele por outra experiência deste género. Tratava-se de um sonho-visão – e desta vez referente ao Brasil – relatado numa reunião do Capítulo Geral da sua Congregação alguns dias depois, ou seja, a 4 de Setembro. Dom Bosco revelou que foi arrebatado pelos anjos e, durante a viagem, um dos guias celestiais disse-lhe de repente: Olhai. Viajamos em direcção das cordilheiras. O santo relatou, então, que viu as selvas Amazónicas, com os seus rios intrincados e  enormes... E o santo prosseguiu a sua narrativa: Entre os paralelos 15 e 20 graus havia um leito muito largo e muito extenso, que partia de um ponto onde se formava um lago. Então uma voz lhe disse repetidamente: Quando escavarem as minas escondidas no meio destes montes, aparecerá aqui a Grande Civilização, a Terra Prometida, onde correrá leite e mel. Será uma riqueza inconcebível. E essas coisas acontecerão na terceira geração. Quando li essas palavras nas suas Memórias Biográficas, não deixei de me emocionar. Meditei sobre a Grande Civilização que iria surgir entre os paralelos 15 e 20 graus – justamente a área em que estava a construir, naquele momento, Brasília. O lago da visão do santo, já figurava no Plano-Piloto do urbanista Lúcio Costa. E a Terra Prometida, anunciada repetidamente, pela misteriosa voz, ainda não existia de facto, mas já se configurava através de um anseio colectivo, que passara a constituir uma aspiração nacional. Ali, correria leite e mel”.

A transferência da capital federal do Brasil para a região situada no paralelo 15 graus poderia finalmente proporcionar o desenvolvimento nacional de forma harmónica pelo despertar das forças vivas da nação, resultando no florescimento e na vivificação do território brasileiro, em benefício de toda a sociedade nacional. De modo que, após mais de 150 anos de discussões e de estudos, a cidade assinalada de Brasília seria finalmente estabelecida sobre o paralelo 15 graus, conforme a proposta realizada por José Bonifácio de Andrada e Silva no ano de 1821, e segundo a visão profética de Dom Bosco, revelada em 1883. E, como havia chegado o momento da edificação da cidade assinalada sobre o paralelo 15 graus, começaram a chegar milhares de operários de todas as partes do país, que passariam a ser chamados de candangos. O planeamento urbanístico da cidade assinalada de Brasília ficou a cargo do urbanista Lúcio Costa, auxiliado pelo arquitecto Oscar Niemayer. Lúcio Costa baptizou a nova capital federal do Brasil em um projecto urbanístico que, segundo ele, “Nasceu de um simples gesto com que se assinala um lugar, ou dele se toma posse. Dois eixos cruzando-se em ângulo recto, ou seja o próprio sinal da Cruz” (Silva, 1971).

 

No dia 2 de Outubro de 1956, iniciaram-se as obras da construção de Brasília,  quando o Presidente da  República , Juscelino Kubitschek, pronunciou as seguintes palavras: “Deste Planalto Central, desta solidão que em breve se transformará em cérebro das altas decisões nacionais, lanço os olhos mais uma vez sobre o amanhã do meu país e antevejo esta alvorada, com fé inquebrantável e uma confiança sem limites no seu grande destino”. (Silva, 1971). Nesta época, as mercadorias que saíam do Rio de Janeiro e de São Paulo demoravam cerca de seis meses para chegar a Porto Velho, no estado de Randónia. Era necessário construir uma capital que interligasse as diversas regiões e cidades do vasto território nacional. No livro Por que Construí Brasília  Juscelino Kubitschek escreve sobre uma das suas estratégias para consolidar o seu ideal da integração da unidade nacional: “A jornada de integração começara em Brasília. Era forçoso unir o país por dentro, rasgando, enfim, o cruzeiro rodoviário, que iria ligar, uns aos outros, os quatro pontos cardeais do território nacional”. Desse modo, a cidade de Brasília serviria como um pólo de comunicação entre os estados e as cidades brasileiras, que se interligariam, através de uma ampla malha rodoviária, com a nova capital federal. A cidade de Brasília interligaria os estados e as cidades do território nacional através de estradas pavimentadas ao longo de uma distância de 1.160km do Rio de Janeiro, 716km de Belo Horizonte, 1.015km de São Paulo, 2.021km de Porto Alegre, 1.147km de Cuiabá, 3.033km de Rio Branco, 3.421km de Manaus, 2.120km de Belém, 2.579km de Natal, e 4.275km de Boa Vista.

 

Nos dias 20 e 21 de Abril de 1960, aconteceram as festividades da transferência da capital federal, que se situava na cidade do Rio de Janeiro, para a cidade assinalada de Brasília, que foi edificada sobre o paralelo 15 graus, região localizada no planalto central brasileiro. Nesta ocasião, Juscelino Kubitschek discursou: “Com o pensamento na Cruz em que foi celebrado o Santo Sacrifício, peço ao Criador que mantenha cada vez mais coesa a unidade nacional, que nos dê sempre esta atmosfera de paz, indispensável ao trabalho fecundo e conserve em vós, obreiros de Brasília, o mesmo espírito forte com que erguestes a Grande Cidade” (Silva, 1971).

A construção e a transferência da capital da República Federativa do Brasil somente foi possível graças ao anseio e o esforço de muitos homens, que acreditaram na integração e na unidade nacional desde a Inconfidência Mineira. A capital federal do Brasil – a cidade assinalada - foi antevista, em 1821, pelo génio do Patriarca da Independência José  Bonifácio de Andrada e Silva, foi prenunciada, em 1883, pela extraordinária visão profética de Dom Bosco, foi confirmada posteriormente pelos estudos e pelas discussões que apontaram a necessidade nacional da construção e da transferência da capital federal, e a sua construção foi realizada entre os anos de 1956 e 1960, no mandato do Presidente da República, Juscelino Kubitschek.

A capital da República Federativa do Brasil surgiu, desta maneira, como uma cidade assinalada pelo destino, estabelecendo-se sobre o paralelo 15 graus, região que congrega todos os povos mais importantes do mundo, em que, segundo a visão profética de São João Bosco, florescerá a “Terra Prometida, donde fluirá leite e mel e será uma riqueza inconcebível”.

 

(Texto sem adopção às regras do acordo ortográfico de 1990. R)

 

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