A PROFECIA DE DOM BOSCO E A TERCEIRA HUMANIDADE
Dom Bosco, SDB, foi um
sacerdote católico italiano, fundador da Pia Sociedade São Francisco de Sales e
proclamado santo em 1934. Nasceu Giovanni Melchior Bosco e foi aclamado por
Paulo II como o "Pai e Mestre da Juventude". Dom Bosco é o padroeiro
da capital federal do Brasil, Brasília.
Desde as primeiras navegações, as novas
terras de além-mar começaram a despertar o interesse de vários países que já
possuíam uma esquadra marítima capaz de atravessar o mar ocidental. Este foi o
caso dos espanhóis, dos portugueses, dos franceses, dos holandeses e dos
ingleses, que começaram a utilizar a nova rota marítima para tentar estabelecer
a exploração e a colonização das novas terras descobertas. Comentava-se, na
Europa, que as terras recém-descobertas de além-mar eram, na verdade, um novo
continente e não a Ásia, como Colombo havia acreditado a princípio. Depois das
primeiras travessias ao longo do mar ocidental, o percurso passou a ser mais
confiável, despertando um interesse maior dos países europeus, que, a partir de
então, poderiam explorar as terras recém-descobertas e também expandirem-se territorialmente,
de modo que os navegadores começaram a fazer esta travessia com mais frequência.
Em virtude disso, a partir de 1530, os portugueses começaram a chegar ao Brasil
para explorar o pau-brasil e para cultivar a cana-de-açúcar.
Somente no século XVI chegaram cerca de 200
mil europeus ao novo continente, estabelecendo-se nas terras recém-descobertas.
Entre o século XVI e o século XVIII cerca de 100.000 portugueses deslocaram-se
para o Brasil. Muitos destes colonizadores passavam por dificuldades
financeiras na Europa e, por isso, procuravam alguma oportunidade no novo
continente através da aquisição de sesmarias (A Lei das Sesmarias foi uma legislação do reinado de Fernando I
de Portugal. Foi promulgada em Santarém a 28 de Maio de 1375, e insere-se num
contexto de crise económica que se manifestava há já algumas décadas por toda a
Europa e que a peste negra agravou. Assim, toda a segunda metade do século XIV
e quase todo o século XV foram períodos de depressão. A peste negra levou a uma
falta inicial de mão-de-obra nos centros urbanos (locais onde a mortandade foi
ainda mais intensa) que, por sua vez, desencadeou o aumento dos salários
das actividades artesanais. Estes factos desencadearam a fuga dos campos para
as cidades. Após estas consequências iniciais verificou-se, e tornou-se
característica deste período, a falta de mão-de-obra rural que levou à
diminuição da produção agrícola e ao despovoamento de todo o país). Neste
período inicial, dedicaram-se principalmente à agricultura baseada no trabalho
escravo, efectuado a princípio por indígenas (Índios), que não demonstraram ser mão-de-obra adequada para estes
fins. Desta maneira, os colonizadores passaram a buscar os negros, em África, para
trabalharem como mão-de-obra escrava nos engenhos. Admite-se o ingresso no
Brasil de cerca de 75. 000 negros para o século XVI, e 452. 000 para o século
XVII.
A mistura entre os nativos indígenas, os
europeus e os negros africanos formou um novo tipo humano: “O primeiro
brasileiro consciente de si foi, talvez, o mameluco, esse brasilíndio mestiço
na carne e no espírito, que não podendo identificar-se com os que foram seus
ancestrais americanos – que ele desprezava, nem com os europeus que o
desprezavam e sendo ele objecto de mofa dos reinóis e dos luso-nativos, via-se
condenado à pretensão de ser o que não era nem existia: o brasileiro” (Ribeiro,
1995).
Muitos grupos étnicos, que foram arrancados
de suas terras de origem, foram destinados a trabalhar nas regiões das Minas
Gerais, Mato Grosso e Goiás, onde foram encontradas enormes jazidas de ouro. A
descoberta e a exploração do ouro nestas regiões começaram a atrair gente de
todos os lugares, que procuravam enriquecer facilmente, ou tentavam encontrar
alguma condição de trabalho e de comércio mais favorável. Foi assim que surgiram
várias cidades nestas regiões que se desenvolveram com rapidez, tanto cultural
como urbanisticamente. A cidade de Vila Rica, actual Ouro Preto, surgiu desta
maneira e adquiriu rapidamente um carácter urbano, tornando-se um importante
centro intelectual e cultural da época. Foi na Vila Rica do século XVIII que os
Inconfidentes organizaram o
movimento que ficou conhecido como Inconfidência Mineira, a qual foi dissolvida
com braço de ferro pela coroa Portuguesa.
No século XIX, foram trazidos mais 2.204.000
negros ao Brasil para trabalharem em regime de mão-de-obra escrava. O que soma um
total de cerca de 6.352.000 escravos negros que ingressaram no país, entre 1540
e 1860. Somente após a abolição da escravatura, em 1888, o governo passou a
incentivar a entrada de imigrantes europeus no território brasileiro. Nos
séculos XIX e XX as situações política e social da Europa agravaram-se, assim
como em outras regiões do mundo, produzindo uma grande leva de emigrantes, que
teriam como destino as Américas. O Brasil precisava de mão-de-obra para substituir
os escravos que haviam sido libertados pela Lei Áurea. Era necessário receber
vários contingentes étnicos para desenvolver a agricultura, para trabalhar nas
indústrias do sul do país ou para ocupar e desenvolver o imenso território
nacional. Isto resultou numa grande emigração europeia para a América do Sul,
que num primeiro momento foi de espanhóis e de portugueses, que desembarcaram e
se estabeleceram em várias regiões do continente.
A partir de 1824, começaram a chegar ao
Brasil, alemães, italianos, ucranianos, polacos e russos, que passaram a
integrar a população juntamente com os grupos indígenas e africanos que já
compunham o contingente nacional. Formado a partir das matrizes indígenas, europeia,
africana e eslava, a etnia nacional passou a caracterizar-se como um povo-novo
de formação multicultural e multirracial. Ocorreu, então, o processo de
aculturação e de miscigenação, produzindo, assim, um novo tipo humano, que
continuou a misturar-se com as novas levas de imigrantes que continuavam a
chegar ao continente. Os novos contingentes humanos, que pertenciam às várias
regiões do mundo, estabeleceram-se na região e continuaram a estimular o
processo de contínua aculturação e miscigenação entre as diversas etnias que
viviam no ambiente comum do território Sul-Americano. Muitos povos que viviam
em regime de perseguições, como os judeus e os arménios, também decidiram
partir para a América do Sul, que acolhia gente de todas as partes do mundo.
Estes imigrantes encontraram condições melhores que as que tinham nos seus
próprios países. De facto encontraram liberdade religiosa, a aceitação dos seus
costumes e das suas tradições, assim como as condições climáticas e sociais
para desenvolverem os mais variados tipos de actividades.
Vários povos do Médio Oriente também
começaram a chegar, tanto cristãos como muçulmanos, representados
principalmente pelos sírios libaneses, que se fixaram no Brasil, Uruguai,
Argentina e Paraguai. Os imigrantes turcos e árabes fixaram-se principalmente
nas médias e nas grandes cidades e também na região amazónica, onde desenvolveram
as suas actividades comerciais e encontraram boas oportunidades para
prosperarem economicamente. Também chegaram à América do Sul numerosos contingentes
de japoneses, chineses e, também, indianos. As imigrações de alemães e de
italianos diminuíram de ritmo durante o período da Primeira Guerra Mundial. Entretanto,
cresceu a imigração dos povos minoritários, como os polacos, os ucranianos e os
arménios. A partir de 1908, iniciou-se uma expressiva imigração japonesa para o
Brasil, que, contudo, retrocedeu no início da Segunda Guerra Mundial. Este
processo foi retomado, em menor escala, após a guerra, época em que começaram a
chegar os primeiros imigrantes coreanos, que aumentaram em número após 1939. O
contingente imigratório integrado na população brasileira até 1959 foi composto
principalmente por 1,7 milhões de imigrantes portugueses que vieram a juntar-se
com os portugueses dos primeiros séculos, assim como 700 mil espanhóis, 1,6
milhões de italianos, cerca de 250 mil alemães, 230 mil japoneses, 190 mil
sírios e turcos, e 600 mil entre os eslavos e os vários contingentes menores de
outras etnias. Depois de 1959, o continente continuou a receber os contingentes
imigratórios de várias regiões do mundo, que desta maneira também passaram a
integrar-se na, já miscigenada, etnia continental. Sendo que, as raças
indígenas remanescentes, que não foram dizimadas pelas invasões do seu
território nem pelas doenças trazidas pelos europeus, e que sobreviveram como
grupos, continuaram a compor a população juntamente com os contingentes
imigratórios que se estabeleceram no continente, produzindo, assim, um contínuo
processo de aculturação e miscigenação, formando, desse modo, um novo tipo
humano de conformação multirracial e multicultural, que o caracteriza como um povo novo, o qual se integrou pelas
matrizes linguísticas espanhola e portuguesa no continente Latino-Americano.
A ideia da mudança da capital do Brasil para
o interior do seu território principiou-se no fim do século XVIII, quando os Inconfidentes incluíram esta intenção
no seu programa. Os Inconfidentes pretendiam enfraquecer o jugo da metrópole e,
por meio desta manobra, estabelecer a sua nova sede numa das províncias do
interior. No entanto, a Coroa portuguesa reagiu energicamente e dissolveu estas
intenções aniquilando sem piedade o movimento Inconfidente. A cidade do Rio de
Janeiro havia sido elevada à condição de capital da colónia, no ano de 1763. Em
virtude disso, crescia a sua importância política e administrativa perante a
Coroa portuguesa, projectando-se como principal centro urbano da colónia. Em
1808, foi realizada a transferência da corte portuguesa para o Rio de Janeiro,
por conta das guerras desencadeadas por Napoleão I, na Europa. Alguns anos
depois, em 1815, o Brasil foi elevado à categoria de Reino, em igualdade de
condições com Portugal, e as suas capitanias passaram a chamar-se províncias.
A ideia de interiorizar a capital do Império
passou a ser discutida por alguns homens de relevo no cenário político, os
quais começaram a sentir a importância de transferi-la para o centro do
território, em virtude de que ela se situar na região litoral do Rio de
Janeiro. Em 1821, o naturalista, poeta, estadista e futuro Patriarca da
Independência do Brasil, José Bonifácio de Andrada e Silva, escreveu as suas
Ideias Sobre a Organização Política do Brasil, na qual cita a necessidade de criar
uma cidade no interior do Brasil para assento da Regência, que poderia ser a 15
graus de latitude. Em 20 de Outubro de 1821, José Bonifácio
redige, novamente, as mesmas ideias nas Instruções do Governo Provisório de São
Paulo aos Deputados às Cortes de Portugal, apresentadas ao Príncipe Regente Dom
Pedro de Alcântara, em 9 de Novembro de 1821, por António de Almeida Andrada.
José Bonifácio de Andrada e Silva redigiu a seguinte instrução: “Parece-nos
muito útil que se levante uma cidade central no interior do Brasil para assento
da Corte ou da Regência, que poderá ser na latitude de mais ou menos 15 graus,
em sítio sadio, ameno, fértil e regado por algum rio navegável” (Silva,
1971). A predestinação desta região continuou a confirmar-se na noite de 30 de Agosto
de 1883, quando Dom Bosco teve um longo e extraordinário sonho profético em que
avistou, segundo as suas palavras, a “Terra Prometida, donde fluirá leite e mel,
e será uma riqueza inconcebível”, sonho este que revelou alguns dias depois à
Congregação Salesiana como sendo “um facto maravilhoso” (Silva,
1971).
Giovanni Melchior Bosco nasceu em Becchi, na
Itália, em 16 de Agosto de 1815. Mais tarde passaria a ser conhecido como Dom Bosco,
ou, também, como São João Bosco. Iniciou os seus estudos em escolas públicas e
com a idade de dez anos começou a demonstrar que possuía o dom dos sonhos proféticos,
que mais tarde revelaram-se como sendo extraordinárias experiências de natureza
transcendental. Entrou para o seminário aos 16 anos, guiado por estas mesmas
visões. Tornou-se o padre João Bosco, em 1841, quando começou a recolher e
educar os jovens pobres e abandonados e a convidar os que estavam na prisão
para que, quando saíssem, se dirigissem ao oratório. Assim se chamava o lugar
onde o padre João Bosco reunia e educava os jovens a redescobrir a dignidade da
própria vida como filhos de Deus. O oratório era um lugar onde havia salas de
aula, campos para jogos, salas para oficinas, dormitório, um refeitório para os
alunos internos e uma igreja para catequese, onde se praticava a oração e o
canto devocional.
Dom Bosco estabeleceu o oratório de São
Francisco de Sales, um ginásio e uma escola profissional num bairro de Turin,
no ano de 1846. E fundou um Instituto para educação da juventude feminina, em
1855, com o apoio de Madre Maria Mazzarelo. Fundou, também, a Congregação
Salesiana, juntamente com os seus colaboradores que passaram a chamar-se salesianos,
em homenagem a São Francisco de Sales. A Congregação surgiu com um sacerdote,
quinze seminaristas e um estudante. Dom Bosco modelou as primeiras gerações de
salesianos. Compartilhou com eles as suas experiências, assim como também as suas
visões proféticas, que muitas vezes se revelavam como extraordinárias
experiências transcendentes. Foi por meio destas mesmas visões, que decorreram
entre os anos de 1883 e 1886, que Dom Bosco passou a avistar o futuro da obra
missionária que deveria realizar à frente dos salesianos na América do Sul, Ásia,
África e Austrália. Os salesianos davam muita importância para estas visões de
Dom Bosco e consideravam-nas como verdadeiras profecias.
Dom Bosco guiava-se por estas suas visões
transcendentes, e foi desta forma que organizou onze expedições missionárias
para a América do Sul. A primeira delas chegou a Buenos Aires, na Argentina, em
1875. Os salesianos teriam por missão atender os compatriotas emigrados neste
país e evangelizar a Patagónia. Desse modo, estabeleceram-se na Argentina e no
Uruguai e expandiram-se notavelmente num curto espaço de tempo. E, sob a
orientação enérgica de Dom Bosco, conseguiram estabelecer-se na região inóspita
da Patagónia, onde passaram a desenvolver o trabalho missionário da
evangelização e da educação das tribos selvagens da região. A obra missionária
de Dom Bosco, à frente dos salesianos, propunha aos seus membros serem
solidários com o mundo e com a sua história, estarem abertos à cultura dos
povos e às necessidades dos jovens dos ambientes populares, lutando pela justiça
e pela paz, rejeitando tudo o que favorecesse a miséria, a injustiça, a
violência e cooperando, sobretudo, com todos aqueles que construíam uma
sociedade mais digna para o homem. Mais tarde, os salesianos organizaram-se e
estabeleceram-se no Brasil, no Chile e no Equador, até 1888, na Colômbia, em
1890, no Peru, em 1891, no México, em 1892, na Venezuela, em 1894, na Bolívia e
no Paraguai, em 1896, e nos Estados Unidos em 1897. A obra de Dom Bosco
floresceu, e a Ordem Salesiana estendeu-se para 128 países nos cinco
continentes.
Dom Bosco costumava reunir-se com a
Congregação Salesiana para discutir os assuntos referentes às obras
missionárias, que se expandiam cada vez mais, e durante a reunião do Capítulo
Geral da Congregação, realizada em 4 de Setembro de 1883, Dom Bosco revelou que
teve um "maravilhoso sonho profético"
alguns dias antes, e que revelaria o conteúdo da sua extraordinária
visão. Um sacerdote da Congregação ficou responsável por redigir as palavras de
Dom Bosco, para que nada se perdesse. Dom Bosco disse, então, que foi arrebatado
pelos anjos e "Por muitas milhas, percorremos uma
enorme floresta virgem e inexplorada... Não só a descortinava, ao longo das cordilheiras,
mas via até as cadeias de montanhas isoladas, existentes naquelas planícies
imensuráveis, e as contemplava em todos os seus menores acidentes... Aquelas de
Nova Granada, da Venezuela, das Três Guianas, as do Brasil, da Bolívia, até os
últimos confins. Eu vi as entranhas das montanhas e o fundo das planícies.
Tinha sob os olhos as riquezas incomparáveis desses países, as quais um dia serão descobertas... Mas não era tudo. Entre os
paralelos 15 e 20 graus, havia um leito muito largo e muito extenso, que partia
de um ponto donde se formava um lago. Então uma voz disse repetidamente: Quando
se vierem a escavar as minas escondidas no meio destas montanhas, aparecerá a
Terra Prometida, donde fluirá leite e mel. Será uma riqueza inconcebível. O
Santo afirmou que os sonhos descritos seriam vividos na terceira geração" (Silva,
1971). A visão profética que Dom Bosco revelou como
um "facto maravilhoso" à
Congregação Salesiana, em 1883, indicava o futuro surgimento da "Terra
Prometida, donde fluirá leite e mel. Entre os paralelos 15 e 20 graus".
Esta era a mesma região que já havia sido antevista, no ano de 1821, pelo
ilustre tribuno José Bonifácio de Andrada e Silva quando propôs "Criar uma
cidade no interior do Brasil para assento da Corte, ou da Regência, que poderá
ser em 15 graus de latitude, em sítio sadio, fértil e junto a algum rio
navegável" (Silva, 1971).
Dom Bosco foi canonizado, na Páscoa de 1934,
pelo Papa Pio XI. A partir deste momento, passou a ser oficialmente considerado
um santo - São João Bosco. As suas visões proféticas revelaram-se como
verdadeiras com o passar do tempo, como demonstram as obras missionárias dos
salesianos, nos cinco continentes, que foram orientadas por estas visões
proféticas. Foi desta maneira que a profecia mais importante de Dom Bosco, que
fala sobre a “Terra Prometida donde fluirá leite e mel,
que será uma riqueza inconcebível, e que surgirá entre os paralelos 15 e 20
graus”, permaneceu inabalável por mais de um século.
Inúmeras averiguações, estudos e trâmites
burocráticos foram realizados desde o ano de 1821, época em que José Bonifácio
apontou o paralelo 15 graus como a região mais apropriada para o assento da
Corte ou da Regência, a mesma região que a extraordinária visão profética de
Dom Bosco revelou, no ano de 1883. No entanto, foi somente no ano de 1955,
quando realizava um comício em Goiás, que o então candidato à Presidência da República, Juscelino Kubitschek , declarou
que, se eleito, cumpriria o que estava determinado pela constituição e
realizaria a transferência da capital federal para o paralelo 15 graus.
Juscelino Kubitschek disputou e venceu as
eleições, tornando-se o Presidente da República Federativa do Brasil, em 3 de Outubro
de 1955. E tomou posse do cargo em 31 de Janeiro de 1956, com o objectivo de
construir a cidade de Brasília e
transferir a capital da República para o planalto central. J. Kubitschek
conhecia perfeitamente a profecia de Dom Bosco, como demonstra este pequeno
excerto do seu livro Por que Construí
Brasília: “O santo de Becchi, na Itália, era dado a visões,
que constituíam verdadeiras antecipações do que iria acontecer no futuro, às
vezes remoto. A 30 de Agosto de 1883, passou ele por outra experiência deste género.
Tratava-se de um sonho-visão – e desta vez referente ao Brasil – relatado numa
reunião do Capítulo Geral da sua Congregação alguns dias depois, ou seja, a 4
de Setembro. Dom Bosco revelou que foi arrebatado pelos anjos e, durante a
viagem, um dos guias celestiais disse-lhe de repente: Olhai. Viajamos em direcção
das cordilheiras. O santo relatou, então, que viu as selvas Amazónicas, com os seus
rios intrincados e enormes... E o santo
prosseguiu a sua narrativa: Entre os paralelos 15 e 20 graus havia um leito
muito largo e muito extenso, que partia de um ponto onde se formava um lago.
Então uma voz lhe disse repetidamente: Quando escavarem as minas escondidas no
meio destes montes, aparecerá aqui a Grande Civilização, a Terra Prometida,
onde correrá leite e mel. Será uma riqueza inconcebível. E essas coisas
acontecerão na terceira geração. Quando li essas palavras nas suas Memórias Biográficas,
não deixei de me emocionar. Meditei sobre a Grande Civilização que iria surgir
entre os paralelos 15 e 20 graus – justamente a área em que estava a construir,
naquele momento, Brasília. O lago da visão do santo, já figurava no
Plano-Piloto do urbanista Lúcio Costa. E a Terra Prometida, anunciada
repetidamente, pela misteriosa voz, ainda não existia de facto, mas já se
configurava através de um anseio colectivo, que passara a constituir uma
aspiração nacional. Ali, correria leite e mel”.
A transferência da capital federal do Brasil
para a região situada no paralelo 15 graus poderia finalmente proporcionar o
desenvolvimento nacional de forma harmónica pelo despertar das forças vivas da
nação, resultando no florescimento e na vivificação do território brasileiro,
em benefício de toda a sociedade nacional. De modo que, após mais de 150 anos
de discussões e de estudos, a cidade assinalada de Brasília seria finalmente
estabelecida sobre o paralelo 15 graus, conforme a proposta realizada por José
Bonifácio de Andrada e Silva no ano de 1821, e segundo a visão profética de Dom
Bosco, revelada em 1883. E, como havia chegado o momento da edificação da
cidade assinalada sobre o paralelo 15 graus, começaram a chegar milhares de
operários de todas as partes do país, que passariam a ser chamados de candangos. O planeamento urbanístico da
cidade assinalada de Brasília ficou a cargo do urbanista Lúcio Costa, auxiliado
pelo arquitecto Oscar Niemayer. Lúcio Costa baptizou a nova capital federal do
Brasil em um projecto urbanístico que, segundo ele, “Nasceu
de um simples gesto com que se assinala um lugar, ou dele se toma posse. Dois
eixos cruzando-se em ângulo recto, ou seja o próprio sinal da Cruz” (Silva,
1971).
No dia 2 de Outubro de 1956, iniciaram-se as
obras da construção de Brasília, quando
o Presidente da República , Juscelino Kubitschek,
pronunciou as seguintes palavras: “Deste Planalto Central, desta solidão que
em breve se transformará em cérebro das altas decisões nacionais, lanço os
olhos mais uma vez sobre o amanhã do meu país e antevejo esta alvorada, com fé
inquebrantável e uma confiança sem limites no seu grande destino”. (Silva,
1971). Nesta época, as mercadorias que saíam do Rio de Janeiro e de São Paulo
demoravam cerca de seis meses para chegar a Porto Velho, no estado de Randónia.
Era necessário construir uma capital que interligasse as diversas regiões e
cidades do vasto território nacional. No livro Por que Construí Brasília Juscelino
Kubitschek escreve sobre uma das suas estratégias para consolidar o seu ideal
da integração da unidade nacional: “A jornada de integração começara em
Brasília. Era forçoso unir o país por dentro, rasgando, enfim, o cruzeiro
rodoviário, que iria ligar, uns aos outros, os quatro pontos cardeais do
território nacional”. Desse modo, a cidade de Brasília serviria
como um pólo de comunicação entre os estados e as cidades brasileiras, que se
interligariam, através de uma ampla malha rodoviária, com a nova capital
federal. A cidade de Brasília interligaria os estados e as cidades do
território nacional através de estradas pavimentadas ao longo de uma distância
de 1.160km do Rio de Janeiro, 716km de Belo Horizonte, 1.015km de São Paulo,
2.021km de Porto Alegre, 1.147km de Cuiabá, 3.033km de Rio Branco, 3.421km de
Manaus, 2.120km de Belém, 2.579km de Natal, e 4.275km de Boa Vista.
Nos dias 20 e 21 de Abril de 1960,
aconteceram as festividades da transferência da capital federal, que se situava
na cidade do Rio de Janeiro, para a cidade assinalada de Brasília, que foi edificada
sobre o paralelo 15 graus, região localizada no planalto central brasileiro.
Nesta ocasião, Juscelino Kubitschek discursou: “Com o pensamento na Cruz em que
foi celebrado o Santo Sacrifício, peço ao Criador que mantenha cada vez mais
coesa a unidade nacional, que nos dê sempre esta atmosfera de paz,
indispensável ao trabalho fecundo e conserve em vós, obreiros de Brasília, o
mesmo espírito forte com que erguestes a Grande Cidade” (Silva,
1971).
A
construção e a transferência da capital da República Federativa do Brasil
somente foi possível graças ao anseio e o esforço de muitos
homens, que acreditaram na integração e na unidade nacional desde a
Inconfidência Mineira. A capital federal do Brasil – a cidade assinalada - foi
antevista, em 1821, pelo génio do Patriarca da Independência José Bonifácio de Andrada e Silva, foi prenunciada,
em 1883, pela extraordinária visão profética de Dom Bosco, foi confirmada
posteriormente pelos estudos e pelas discussões que apontaram a necessidade
nacional da construção e da transferência da capital federal, e a sua
construção foi realizada entre os anos de 1956 e 1960, no mandato do Presidente
da República, Juscelino Kubitschek.
A capital da República Federativa do Brasil surgiu,
desta maneira, como uma cidade assinalada pelo destino, estabelecendo-se sobre
o paralelo 15 graus, região que congrega
todos os povos mais importantes do mundo, em que, segundo a visão profética
de São João Bosco, florescerá a “Terra Prometida, donde fluirá leite e mel e
será uma riqueza inconcebível”.
(Texto sem adopção às regras do acordo
ortográfico de 1990. R)
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