HOMENS QUE APARECEM NA HISTÓRIA E NINGUÉM SABE DE ONDE VIERAM
Como no caso de Melquisedeque , é difícil situar cronologicamente , com precisão , Michael Scot. Em contrapartida, a sua existência histórica é inegável.
A sua primeira manifestação oficial situa-se no ano de 1217, em Toledo. Era doutor em ciências, mas não se sabe de que universidade. Não se possui nenhum dado a respeito da data e lugar do seu nascimento, além da sua origem. Em 1236, a obra de um poeta ligado à corte do Imperador Frederico II, na Sicília, menciona a sua morte. É tudo que sabemos dele.
Entretanto, entre 1217 e 1236 adquire uma grande reputação de mago. Desprendia uma aura tal que na sua presença as coisas pareciam diferentes do ordinário, e dizia-se que as torres de Notre-Dame se punham a tremer quando ele chegava a Paris.
Em Toledo traduziu do árabe o tratado de Al Bitrogi sobre a esfera. De 1220 a 1227, esteve ao serviço do papa. Em Maio de 1224 este propôs-lhe o arcebispado de Cashel, na Irlanda mas Scot recusou. Em Abril de 1227 , o papa Gregório IX recomendou ao arcebispo de Canterbury que atribuísse uma bolsa a Michael Scot. "A sua erudição é prodigiosa e conhece todas as línguas, em particular o hebreu e o árabe."
Após o que Michael Scot passou para o serviço do Imperador Frederico II na Sicília, onde este mantinha a sua corte. Frederico II era visivelmente neurótico, como Luiz II da Baviera mais tarde; e, como ele, encorajava as artes e as ciências. Particularmente no domínio do que chamamos atualmente paraciências, como a astrologia e a alquimia.
Michael Scot tornou-se o seu conselheiro e Dante coloca-o no seu Inferno entre os grandes magos. A sua reputação é considerável. No que concerne à ciência oficial, Scot permanece como um dos introdutores de Aristóteles, que traduziu para o latim a partir do hebreu e do árabe.
Contudo, há um outro domínio. Durante o seu período na Sicilia, Scot publicou três livros que, podemos afirmar, não são do domínio da ciência tal como a concebemos oficialmente. Também a muito séria Enciclopédia Britânica censura em Michael Scot a sua prolixidade, a sua incoerência e a sua falta de espírito crítico.
Com efeito, esse ingênuo não acreditava na transmutação dos metais, quando todos sabiam que não existia ? Acreditava também que a Terra girava em torno do Sol e que absorvia energia produzida pelo Cosmos. Ora, todos sabiam que isso não era verdade!
O seu primeiro livro, o Liber introductorius, trata de astronomia e astrologia e pretende-se ser trabalho original de Scot. Copérnico já está incluído aí e também os raios cósmicos e os planetas habitados. O segundo, o Liber particularis, trata da natureza do tempo, a sua medida, as suas relações com o infinito. Encontramos aí um diálogo com Frederico II, que completamente louco como era, coloca questões muito pertinentes. Há também no livro alusões a viagem no tempo.
Enfim, a Physionomia, sobre a qual convém estender-se mais, Scot coloca aí esta questão fundamental:
"O que é o poder?"
E responde :
"O único poder que vale a pena é aquele do espirito sobre o espirito. O controlo de grandes massas sobre o espirito. O controlo de grandes massas de matéria inanimada não é nada. O verdadeiro poder é impor a própria vontade sobre outros espíritos. Somente assim podemos dominar o homem."
E ele entra nos detalhes. Mostra como se pode deduzir os mais secretos pensamentos dos homens a partir dos seus rostos, dos seus comportamentos, das suas reações. Explica que podemos ainda sabe-lo a partir dos seus sonhos. E isso vem por volta de 1230! E principia a expor a arte secreta que permite dirigir os sonhos, depois detém-se porque o imperador deseja, diz ele, guardar para si esse conhecimento essencial, e proíbe-o de revelar demais dele.
Mas parece certo, segundo a Physionomia, que Scot descobriu o principio que Sigmund Freud devia enunciar sete séculos mais tarde : aquele que tem olhos para ver e ouvidos para ouvir percebe bem depressa que os mortais nada podem ocultar.
Além disso, é evidente que Michael Scot conhecia e praticava o hipnotismo e a lavagem cerebral, e que ia nesses domínios mais longe que os cientistas de nosso tempo (se é verdade que podemos aqui falar de ciência e que a psicologia seja ciência e não uma falsa ciência, o que eu - J.Bergier - acredito).
Scot parecia ter atingido o "exercício do único poder que valia a pena", o controle de um espirito por um outro espirito. Hitler havia recebido de Haushofer algumas lições dessas técnicas, mas não as possuía senão parcialmente. Scot parece ter alcançado a técnica completa. Infelizmente, não temos nem as suas notas nem relatos precisos sobre as lições que ministrava a Frederico II.
Além das três obras de que já falamos, diversas outras obras chegaram até nós. Relacionam-se essencialmente com a alquimia, mas não é absolutamente certo que sejam de Michael Scot.
Como mostrou Jacques Sadoul no seu livro "Tesouro dos Alquimistas" (Publicado pela Editora Hemus) os autores verdadeiros das obras alquímicas ocultavam cuidadosamente a sua identidade.
Entretanto, no que concerne ao controle do espirito, resta-nos apenas a Physionomia. E existe a lenda. O mito de Michael Scot é até rico demais. Atribuem-se-lhe todos os poderes mágicos. A ressurreição dos mortos, a criação artificial da vida, a transformação dos elementos, o controle dos climas. Na verdade, nada sabemos das suas experiencias de laboratório. Ele observa o Sol e as estrelas, praticava a experimentação médica. Disso estamos seguros. É tudo.
Mas a marca extraordinária de Michael Scot permanece, mesmo que nos fiemos na sua lenda. E portanto, a seu respeito, teve-se vontade de dizer mais uma vez: onde há fumaça , há fogo. . .
Ele parece ter sido um matemático de grande talento, na vanguarda do seu tempo. Conhecia todas as línguas de que se ouvia falar na sua época e perfeitamente. As suas traduções do árabe e do hebreu, tanto dos trabalhos de Aristóteles quanto de trabalhos de sábios árabes, marcaram todo o pensamento da Idade Média. Tem-se também dele uma tradução dos Comentários de Averróes a Aristóteles.
Predizia o futuro, e com tal precisão que a sua reputação de mago nasceu disso. Mas não parece ter jamais estabelecido um horóscopo, no sentido moderno da palavra. Praticava a alquimia e parece ter atingido a Grande Obra.
Tudo isso implica uma cultura imensa. Ora, não se sabe nada dos seus estudos. Esse escocês (nós o sabemos unicamente porque ele o diz, embora a sua origem não seja talvez escocesa, ou não da Escócia do seu tempo) apareceu subitamente e foi admitido imediatamente, sem prova, como sábio diplomado. Numa época, em que o mandarinato universitário e eclesiástico era todo poderoso. Ademais, a Igreja nunca se desentendeu com ele e nem o perseguiu sob alegação de investigações heréticas ou sacrilégios.
É verdade que foi prudente ao ponto de após ter estado a serviço do papa lograr a proteção do imperador. Louco tal imperador? Se louco, em que sentido? Talvez simplesmente incompreendido na sua época. Talvez desequilibrado pelos conhecimentos que os homens comuns não possuíam.
Sob a proteção do imperador ele realizou as suas grandes obras. Parece que uma parte de seus trabalhos foi utilizada pelo espantoso abade Tritemio que expôs - ao menos ele o pretendia assim - uma técnica para sugestionar as pessoas à distância e impor-lhes as suas vontades. (Nota: Iean Trithème, Tritêmio, Tritêmius (1462-1516) tinha este nome em virtude do local do seu nascimento, Treintenheim, perto de Trèves. O seu nome era Juan Heidemberg. Desde muito jovem já era conhecido pela sua sabedoria; com a idade de 21 anos foi eleito abade de Sponheim. Em 1506 translada-se para o convento de San Jaime, onde morre em Dezembro de 1516. Afirmava que as forças secretas da natureza estavam confiadas a seres espirituais. Foi um dos primeiros em falar-nos de transmissão do pensamento à distância. A ele devemos os ensaios sobre criptografia ou escritura secreta. Era também um profundo conhecedor da Kaballah e por intermedio desta obteve profundas interpretações de passagens proféticas e místicas da Bíblia. Colocava o estudo das Sagradas Escrituras por cima de todos os estudos, e assim exigia dos seus alunos. O verdadeiro misticismo consiste na relação direta entre a inteligência humana e a de Deus. R)
Depois não se ouviu falar mais desse poder sobre os espíritos até que a Guerra da Coreia popularizou repentinamente a expressão "lavagem cerebral". Desde então, um certo número de cientistas sérios (Saugart, Cohen-Seat) dedicou-se ao problema.
Acusavam-se os países comunistas e a China Popular de terem empregado largamente essa técnica. O que se sabe da Guerra do Vietnam não o confirma. Se prisioneiros americanos foram maltratados, alguma vezes torturados jamais se praticou a lavagem cerebral com eles com sucesso.
A China Popular não parece mais deter tal técnica. Libertou prisioneiros europeus e americanos que manteve por há dez anos, nos quais nenhuma lavagem cerebral eficaz foi operada. Todavia, em todos os países as pesquisas em relação aos segredos de Michael Scot têm uma prioridade absoluta, mesmo no que concerne à descoberta de novas armas.
Com efeito, qual a necessidade de uma bomba atómica se podemos agir diretamente sobre o espírito do inimigo? Michael Scot tinha mais alguma coisa ainda para nos revelar? John Buchan (Veja no romance "Os Três Reféns", um resumo vulgarizado das suas pesquisas) achava que sim e fez várias pesquisas sobre ele em diversas bibliotecas da Escócia e da Europa.
Não é inadmissível que descubramos um dia na Sicília novos manuscritos de Scot. Aliás, seria mister nos interrogamos a respeito das razões da atração que a Sicília exerce sobre os magos, de Scot a Aleister Crowley.
Scot é então um homem omnisciente, que vem não se sabe de onde, que deixou a terra não se sabe como, de posse de um segredo que visivelmente pertence ao nosso futuro. Mas não é a única razão que nos faz ver nele um viajante do futuro. O seu interesse pelo tempo, a sua faculdade de previsão, os seus consideráveis conhecimentos acerca do passado da humanidade fazem suspeitar uma relação com o tempo que não é aquela dos homens comuns.
No plano da história oficial, universal, que não é negligenciável, Scot tem o grande mérito de ter feito conhecer à humanidade mediterrânica cristã do século XIII outras civilizações. A civilização e o pensamento grego em primeiro lugar: foi ele que introduziu Aristóteles; a civilização árabe, contemporânea à cristã, mas diferente: traduziu as obras dos sábios árabes.
Não vamos afirmar - isto seria absurdo - que Michael Scot causou o Renascimento. Em história, a noção de causalidade não quer dizer grande coisa, sobretudo quando o tempo se mescla. E depois as ações individuais, sobretudo no domínio cultural, não vingam a não ser que sejam trazidas por uma onda do fundo, mais geral, e num terreno disposto a recebe-las. Charles Fort dizia: "As máquinas a vapor aparecem quando é o tempo das máquinas a vapor." (Nota: Ou seja: O conhecimento deve ser transmitido na altura precisa, de acordo com o desenvolvimento humano. Charles Hoy Fort, Albany, 6 de Agosto de 1874 – Nova Iorque, 3 de Maio de 1932, foi um escritor e colecionador de fenómenos anómalos. Um colecionador de factos insólitos e um dos percursores do realismo fantástico. Eu reuni centenas de textos que ele guardou e comecei em 1965 a interessar-me por estes fenómenos. Consegui juntar também um Arquivo razoável, numa época em que não havia Internet, nem computadores e a informação era ferozmente filtrada pela Censura do Estado. Mas nos alfarrabistas encontrava-se muita coisa. R)
Scot apenas contribui de modo importante para o Renascimento. Pode-se simplesmente dizer que se ele estava encarregado de despertar essa civilização para outras civilizações e outros tempos, a sua missão teria sido perfeitamente cumprida.
E sem desprezar a importância dessa missão (ninguém afinal de contas o encarregou de pesquisar textos antigos, raros e traduzi-los , e à parte uma subvenção do papa GregórioIX, ele não parece ter sido ajudado financeiramente antes de se estabelecer ao lado de Frederico II) o papel de Michael Scot parece sobretudo ter sido o de revelar a quem possa compreende-lo o segredo da dominação espiritual total de um ser humano em relação a outro ser humano . Sobre isso sabemos hoje menos do que ele .
Segundo Max Weber, chama-se esse efeito de dominação, carismática. Aquele que o detém dispõe de algo que se compara à virtude sonífera do ópio. Sabemos que na Alemanha, um pouco antes e durante a Segunda Grande Guerra Mundial havia ao menos dois centros de ensino desse efeito carismático. Um na Ordem Negra do S.S. , com seus Monastério especializados. O outro, com um objetivo oposto, no seio dos "Circulos Cósmicos" de Stefan George, que se opunha a Hitler.
Nenhum desses ensinamentos idênticos no seu resultado chegou até nós. Talvez felizmente para a humanidade, porém é terrível e irritante pensar que no século XIII alguém sabia o que não sabemos , ou o que não sabemos mais.
E o resplendor que se desprendia de Michael Scot e que impressionou Dante, a sua omnisciência, o seu interesse pelo tempo, o seu conhecimento dos métodos de psicologia do futuro, tudo isso nos incita a pensar que com ele nos relacionamos com um Mestre do Tempo e não com um simples mensageiro.
Extraído do livro Os Mestres Secretos do Tempo de J. Bergier - Hemus - 1974
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