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segunda-feira, 4 de março de 2019


O  HOMEMSeu funcionamento Mental

Um breve esboço sobre a constituição e funcionamento “nervoso” ou mental do Homem.

Diz-se muitas vezes que a evolução da vida parece ter tido como eixo de progressão o desenvolvimento de cerebração crescente, ou seja: a vida evolui como se a sua finalidade principal fosse a produção de espécies dotadas de capacidade cerebral cada vez maior.

Convém, porém, assinalar que as primeiras integrações vitais da matéria atingiram a sua rudimentar unidade funcional através de sistemas físico-químicos de correlação orgânica, muito anteriores ao aparecimento de qualquer sistema nervoso. Mas para o exercício de formas de certo nível, a existência do sistema nervoso é indispensável, pois nos tipos de organização biológica que se desenvolveu no nosso planeta (pode ser que noutros seja possível adoptar formas diferentes) para subir a níveis de alguma complexidade de comportamento, ou seja para atingir certos graus de autonomia funcional perante o meio, exige-se o concurso do sistema nervoso, cuja acção é muito mais rápida, mais precisa e mais complexo do que a dos sistemas bioquímicos previamente ensaiados pela natureza em estádios filogenéticos mais primitivos.

Quer isto dizer que o sistema nervoso deve ser uma especialização do protoplasma necessária para cumprir melhor as funções vitais exigidas pelas formas de vida superior.

Portanto, o sistema nervoso deve ter emergido como uma unidade indiferenciada que reunia em si confusamente as funções de  irritabilidade,  contractibilidade e condutibilidade que  posteriormente iriam diferenciar-se numa sensibilidade exercida através de diversos receptores ou sentidos, num sistema de integração central e em efectivadores musculares e glandulares, isto é, em órgãos de acção cuja mais perfeita expressão talvez seja a mão do homem.

O primeiro sistema nervoso surgiu provavelmente como um retículo indiferenciado, que num animal talvez parecido com uma medusa se foi aglomerando numa espécie de nódulo, ou pólo central - prelúdio do cérebro - que a pouco e pouco assumiu a função de mediar entre as irritações provocadas pela acção estimulante do meio e as contracções correspondentes dos órgãos da acção. Gradualmente este pólo mediador foi complicando as suas funções de mera comunicação entre os estímulos e as reacções motoras. Também a coordenação dos processos de adaptação interna do organismo foi sendo assumida a pouco e pouco pelo cérebro, que assim acabou por se converter no órgão regulador por excelência de toda a actividade de comportamento e na infra-estrutura biológica necessária para alcançar uma vida mais perfeita, dotada de maior grau de liberdade perante o meio, e cuja expressão mais elevada é por agora a vida humana.

O Cérebro dividido em duas partes iguais - os hemisférios - encontra-se alojado na caixa craniana e, sendo constituído por uma grande massa de células nervosas, é a sede do pensamento e da inteligência.

A unidade fundamental do sistema nervoso - o neurónio - tem por função principal a condução dos impulsos nervosos, dos quais o cérebro humano conta uns dez milhões de unidades, articulando-se anatómica e funcionalmente de uma forma complexíssima e quase impossível de esboçar. É constituído em parte por células e em parte por fibras, que são prolongamentos das células nervosas.


A Espinhal Medula, colocada dentro da coluna vertebral, e o Encéfalo (conjunto do Cerebelo, responsável pela coordenação e regulação dos movimentos, Mesencéfalo, Dielencéfalo e o Cérebro propriamente dito) constituem o Sistema Nervoso Central.

Intimamente ligado a este sistema, embora autónomo e independente na sua função, encontra-se outro conhecido como Sistema Nervoso Vegetativo, constituído pelos sistemas Simpático e Parassimpático.

 
As células nervosas ou neurónios estabelecem relações entre si por meio das sinapses, que funcionam por “contiguidade” e não por “continuidade”, ou seja por proximidade, sem existir uma “ponte” ou qualquer ligação entre elas, cujo funcionamento é o resultado dum certo número de processos químicos que se manifestam por reacções eléctricas, provocando toda e qualquer estimulação da célula o aumento do metabolismo, que se revela por um aumento de calor e consumo de oxigénio, como nas outras células.

Do ponto de vista eléctrico existe entre o interior e o exterior da célula, ou fibra nervosa, uma diferença de potencial da ordem dos 60 a 80 milivoltes, considerando-se existirem, teoricamente, cargas eléctricas negativas no interior da célula ou fibra, sendo o potencial interior chamado potencial de repouso, que, quando excitada mecânica ou electricamente, varia e se passa a chamar potencial de acção.

Esta variação de potencial traduz um fenómeno de movimento de Iões Na e K, cuja excitação provoca uma permeabilização da membrana que permite um movimento dos Iões K para o exterior e Iões Na para o interior da célula ou fibra.

Este movimento foi estudado com Iões radioactivos, permitindo também estudar a condução nervosa, cuja velocidade nas fibras depende da temperatura e diâmetro, chegando-se à conclusão de que se fazem por idênticos processos.

 
Para passar de um neurónio para outro, o influxo nervoso tem de franquear as sinapses - não se sabendo como - admitindo-se duas hipóteses possíveis para esclarecer essa passagem. A hipótese eléctrica considera que a terminação pré-sináptica joga em face do neurónio post-sináptico o mesmo papel dos fios metálicos, como um fenómeno de despolarização. A outra hipótese, a química, considera a possibilidade de existir um intermediário químico, que seria o agente excitador do neurónio post-sináptico, como a acetilcolina e, também em algumas sinapses, a adrenalina.

Para terminar, cada neurónio está ligado a vários outros podendo receber influências nervosas de cada um deles, simultânea ou sucessivamente, que o vão encontrar ou não em condições de resposta a essas influências. Passam-se assim fenómenos de adição de estímulos, ou de inibição quando a célula nervosa, imediatamente a uma resposta, tem necessidade dum certo tempo para, após repouso, estar “apta a nova resposta”.

Depois de vermos, muito por alto, que a unidade fundamental do sistema nervoso é o neurónio e suas possíveis formas de funcionamento químico e eléctrico, interessa-nos traçar também um leve esboço, aproximado, de como se processa a comunicação entre o homem e o mundo exterior.

A maneira de uma pessoa se comportar depende em grande parte, é claro, da maneira como percebe o mundo que o rodeia, motivo porque a percepção - o que o homem vê e como vê, cheira, prova, ouve e sente - é um ponto de partida para a sua compreensão.

 
Essa percepção, como todos nós sabemos, faz-se por intermédio de vários órgãos especializados, chamados órgãos dos sentidos, que numa classificação simplista e clássica se conhecem por audição, tacto, vista e olfacto, pensando-se ainda num “sexto sentido” para tudo aquilo que não compreendemos e não é percepcionado pelos cinco órgãos principais - olhos, ouvidos, pupilas gustativas e tácteis. Noutras palavras: para nós, os órgãos dos sentidos são aqueles que permitem percepcionar tudo aquilo que nos rodeia e a que estamos habituados, e que formam a nossa realidade ou realidade do nosso mundo tridimensional.

A primeira coisa notável que observamos no nosso mundo é o seu carácter espacial, pois vivemos num espaço de três dimensões e achamos difícil imaginar um mundo sem essas características.

Os olhos e ouvidos estão adaptados à tarefa de nos trazerem informações a respeito de partes distantes do nosso ambiente físico e o nosso cérebro até parece ter a tendência “natural” de conceber o espaço, mesmo fundamentando-se numa estimulação que não seja, por si mesma, totalmente espacial. Muitos padrões de estímulos visuais, ao incidirem nas retinas planas e de duas dimensões dos nossos olhos, produzem, de algum modo, a nossa experiência do espaço tridimensional, isto é, a profundidade ou distância.

O nosso mundo é espacial, mas espaço sem conteúdo é, percepcionalmente, sem sentido. Quando olhamos em redor, vemos que o nosso espaço é habitado por objectos localizados nele, independentes do que o rodeiam e possuidores de propriedades que os distinguem uns dos outros. Algumas propriedades como a textura, tamanho e cor, são simples de perceber, mas há outras difíceis, muitas das quais entram no domínio do tão conhecido “sexto sentido” ou sobrenatural.

O homem está mergulhado num mar revolto de energias físicas, que formam o seu ambiente, as quais tomam muitas formas - radiantes, vibratórias, químicas, térmicas, mecânicas - variando sempre e incessantemente quanto à concentração e intensidade.

Quando estas energias atingem o homem, ele regista-as como instrumento selectivo, sensível a algumas e não a outras, procurando informações além de registá-las.

Os mundos percebidos são formados por “vistas”, aromas e impressões, ligadas às energias físicas diferentes que as provocam.

Os estímulos auditivos, por exemplo, são vibrações que vão fazer oscilar a membrana do tímpano, no ouvido, sendo aquilo que ouvimos o resultado desse mecanismo. Dizemos que existe um som quando as vibrações têm determinadas características que lhes permitem serem eficazes em face do mecanismo receptor, sendo os sons, audíveis pelo homem, vibrações compreendidas entre 16 e 10 000 Hertz.

Quanto aos estímulos que provocam a visão, são vibrações electromagnéticas da mesma natureza que os raios infravermelhos e as ondas de rádio, cujo comprimento de onda está compreendido entre 400 e 700 milimícrones.

As ondas de pequeno comprimento penetram nas células e podem destruí-las - são as radiações atómicas. Imediatamente a seguir temos os raios-x que, segundo o seu comprimento de onda, podem ser duros, médios e fracos. Em seguida, os ultravioletas que na zona de transição deixam dúvidas: não se sabe se são raios-x fracos ou ultravioletas muito fortes. Se o comprimento de onda continua a aumentar temos, a partir dos 400 milimícrones, as ondas visíveis que para além dos 750 milimícrones deixam de ser visíveis para terem um efeito térmico: são os infravermelhos de curto comprimento de onda - 850 - e depois os infravermelhos de grande comprimento de onda. Ainda mais adiante chegamos às ondas de rádio onde, como sabemos, existem diferentes modalidades - ondas curtas, médias e longas.

Verificamos que o homem só vê numa faixa restrita de comprimento de onda, sendo o seu mundo consequentemente delimitado, assim como a realidade do que o rodeia.

 
Outros animais, com sentidos mais perfeitos, e que conseguem percepcionar para além dos limites que os perceptores do homem delimitam, têm uma visão diferente do mundo e outra realidade certamente.

 
OS SENTIDOS DO HOMEM

ESTÍMULOS
RECEPTORES
SENSAÇÕES
 
Ondas electromagnéticas de com-primento inferior ou igual a 10-5 cm.
 
 
Carecemos de receptores para as detectar.
 
Nenhuma
Ondas electromagnéticas de 10-5 a 10-4 cm.
 
A retina
Claridade, obscuridade e cores
Ondas electromagnéticas de 10-4 a 10-2 cm.
 
Células cutâneas
Calor e frio
Vibrações mecânicas do ar ou outros corpos entre 20 a 20 000 Hz
 
Órgãos de Golgi
Som (tom, intensidade, timbre) e ruídos
Pressão
Células cutâneas
Tacto
 
Posição da cabeça
 
Ouvido interno: labirinto
 
Equilíbrio, vertigens
Substâncias químicas em solução gasosa
 
Células olfactivas
Cheiro
Substâncias químicas dissolvidas em forma líquida
 
Células gustativas da língua
Sabor
Movimentos musculares
 
Terminações nervosas em tendões, músculos e articulações
 
Cinestesias, sensações de movimento
Alterações químicas e mecânicas do meio orgânico interior
 
Células das vísceras
Pressão, tensão, mal-estar, náuseas
Acções energéticas de toda a espécie
Terminações nervosas livres
 
Dor
Acções mecânicas suaves
Terminações nervosas de zonas erógenas
 
Prazer

 
Assim, o homem atingido continuamente por uma série inacreditável de energias físicas isoladas, organiza-as espontaneamente, conseguindo do caos - de estímulos físicos - uma ordem.

A organização perceptual ocorre espontaneamente, como dissemos, aparecendo sem uma orientação consciente e com uma velocidade e uma segurança maiores que as permitidas pelo pensamento “racional”, diferenciando e agrupando os estímulos.

Enfim, o ser humano além de percepcionar o mundo que o rodeia, tem capacidade para classificar, diferenciar e agrupar todos os estímulos que lhe interessam, compreendendo perfeitamente o seu mundo e criando maiores comodidades e formas de vida, manipulando esse mundo em seu proveito, o que já não sucede com todos os outros animais que se limitam à vida instintiva e pouco mais, não tendo capacidade para, com base em elementos percepcionados, fazerem previsões e melhorarem o seu modo de vida.

Devido a estas capacidades extraordinárias o homem destacou-se cada vez mais do ramo animal, apresentando hoje qualidades verdadeiramente fantásticas, no seu desenvolvimento cerebral e intelectual.

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