O HOMEM – Seu funcionamento Mental
Um
breve esboço sobre a constituição e funcionamento “nervoso” ou mental do Homem.
Diz-se
muitas vezes que a evolução da vida parece ter tido como eixo de progressão o
desenvolvimento de cerebração crescente, ou seja: a vida evolui como se a sua
finalidade principal fosse a produção de espécies dotadas de capacidade
cerebral cada vez maior.
Convém,
porém, assinalar que as primeiras integrações vitais da matéria atingiram a sua
rudimentar unidade funcional através de sistemas físico-químicos de correlação
orgânica, muito anteriores ao aparecimento de qualquer sistema nervoso. Mas
para o exercício de formas de certo nível, a existência do sistema nervoso é
indispensável, pois nos tipos de organização biológica que se desenvolveu no
nosso planeta (pode ser que noutros seja possível adoptar formas diferentes)
para subir a níveis de alguma complexidade de comportamento, ou seja para
atingir certos graus de autonomia funcional perante o meio, exige-se o concurso
do sistema nervoso, cuja acção é muito mais rápida, mais precisa e mais
complexo do que a dos sistemas bioquímicos previamente ensaiados pela natureza
em estádios filogenéticos mais primitivos.
Quer
isto dizer que o sistema nervoso deve ser uma especialização do protoplasma
necessária para cumprir melhor as funções vitais exigidas pelas formas de vida
superior.
Portanto,
o sistema nervoso deve ter emergido como uma unidade indiferenciada que reunia
em si confusamente as funções de irritabilidade, contractibilidade e condutibilidade
que posteriormente iriam diferenciar-se
numa sensibilidade exercida através
de diversos receptores ou sentidos, num sistema de integração central e em efectivadores
musculares e glandulares, isto é, em órgãos de acção cuja mais perfeita
expressão talvez seja a mão do homem.
O
primeiro sistema nervoso surgiu provavelmente como um retículo indiferenciado,
que num animal talvez parecido com uma medusa se foi aglomerando numa espécie
de nódulo, ou pólo central - prelúdio do cérebro - que a pouco e pouco assumiu
a função de mediar entre as
irritações provocadas pela acção estimulante do meio e as contracções
correspondentes dos órgãos da acção. Gradualmente este pólo mediador foi
complicando as suas funções de mera comunicação entre os estímulos e as
reacções motoras. Também a coordenação dos processos de adaptação interna do
organismo foi sendo assumida a pouco e pouco pelo cérebro, que assim acabou por
se converter no órgão regulador por excelência de toda a actividade de
comportamento e na infra-estrutura biológica necessária para alcançar uma vida
mais perfeita, dotada de maior grau de liberdade perante o meio, e cuja
expressão mais elevada é por agora a vida humana.
O
Cérebro
dividido em duas partes iguais - os hemisférios - encontra-se alojado na
caixa craniana e, sendo constituído por uma grande massa de células nervosas, é
a sede do pensamento e da inteligência.


Intimamente
ligado a este sistema, embora autónomo e independente na sua função,
encontra-se outro conhecido como Sistema Nervoso Vegetativo,
constituído pelos sistemas Simpático
e Parassimpático.
As
células nervosas ou neurónios estabelecem relações entre si por meio das sinapses,
que funcionam por “contiguidade” e não por “continuidade”, ou seja por
proximidade, sem existir uma “ponte” ou qualquer ligação entre elas, cujo
funcionamento é o resultado dum certo número de processos químicos que se
manifestam por reacções eléctricas, provocando toda e qualquer estimulação da
célula o aumento do metabolismo, que se revela por um aumento de calor e
consumo de oxigénio, como nas outras células.

Esta
variação de potencial traduz um fenómeno de movimento de Iões Na e K, cuja
excitação provoca uma permeabilização da membrana que permite um movimento dos Iões K para o exterior e Iões Na para o interior da célula ou
fibra.
Este
movimento foi estudado com Iões
radioactivos, permitindo também estudar a condução nervosa, cuja velocidade nas
fibras depende da temperatura e diâmetro, chegando-se à conclusão de que se
fazem por idênticos processos.
Para
passar de um neurónio para outro, o influxo nervoso tem de franquear as
sinapses - não se sabendo como - admitindo-se duas hipóteses possíveis para
esclarecer essa passagem. A hipótese eléctrica considera que a terminação
pré-sináptica joga em face do neurónio post-sináptico o mesmo papel dos fios
metálicos, como um fenómeno de despolarização. A outra hipótese, a química,
considera a possibilidade de existir um intermediário químico, que seria o agente
excitador do neurónio post-sináptico, como a acetilcolina e, também em algumas sinapses, a adrenalina.
Para
terminar, cada neurónio está ligado a vários outros podendo receber influências
nervosas de cada um deles, simultânea ou sucessivamente, que o vão encontrar ou
não em condições de resposta a essas influências. Passam-se assim fenómenos de adição de estímulos, ou de inibição quando a célula nervosa,
imediatamente a uma resposta, tem necessidade dum certo tempo para, após
repouso, estar “apta a nova resposta”.
Depois
de vermos, muito por alto, que a unidade fundamental do sistema nervoso é o neurónio
e suas possíveis formas de funcionamento químico e eléctrico, interessa-nos
traçar também um leve esboço, aproximado, de como se processa a comunicação
entre o homem e o mundo exterior.
A
maneira de uma pessoa se comportar depende em grande parte, é claro, da maneira
como percebe o mundo que o rodeia, motivo porque a percepção - o que o homem vê e como vê, cheira, prova, ouve e sente
- é um ponto de partida para a sua compreensão.
Essa
percepção, como todos nós sabemos, faz-se por intermédio de vários órgãos
especializados, chamados órgãos dos sentidos, que numa classificação simplista
e clássica se conhecem por audição,
tacto, vista e olfacto, pensando-se
ainda num “sexto sentido” para tudo aquilo que não compreendemos e não é
percepcionado pelos cinco órgãos principais - olhos, ouvidos, pupilas
gustativas e tácteis. Noutras palavras: para nós, os órgãos dos sentidos são
aqueles que permitem percepcionar tudo aquilo que nos rodeia e a que estamos
habituados, e que formam a nossa realidade ou realidade do nosso mundo
tridimensional.
A
primeira coisa notável que observamos no nosso mundo é o seu carácter espacial, pois vivemos num espaço de
três dimensões e achamos difícil imaginar um mundo sem essas características.
Os
olhos e ouvidos estão adaptados à tarefa de nos trazerem informações a respeito
de partes distantes do nosso ambiente
físico e o nosso cérebro até parece ter a tendência “natural” de conceber o
espaço, mesmo fundamentando-se numa estimulação que não seja, por si mesma,
totalmente espacial. Muitos padrões de estímulos visuais, ao incidirem nas
retinas planas e de duas dimensões dos nossos olhos, produzem, de algum modo, a
nossa experiência do espaço tridimensional, isto é, a profundidade ou
distância.
O
nosso mundo é espacial, mas espaço sem conteúdo é, percepcionalmente, sem
sentido. Quando olhamos em redor, vemos que o nosso espaço é habitado por objectos localizados nele, independentes
do que o rodeiam e possuidores de propriedades que os distinguem uns dos
outros. Algumas propriedades como a textura, tamanho e cor, são simples de
perceber, mas há outras difíceis, muitas das quais entram no domínio do tão
conhecido “sexto sentido” ou sobrenatural.
O
homem está mergulhado num mar revolto de energias físicas, que formam o seu
ambiente, as quais tomam muitas formas - radiantes, vibratórias, químicas,
térmicas, mecânicas - variando sempre e incessantemente quanto à concentração e
intensidade.
Quando
estas energias atingem o homem, ele regista-as como instrumento selectivo,
sensível a algumas e não a outras, procurando informações além de registá-las.
Os
mundos percebidos são formados por “vistas”, aromas e impressões, ligadas às
energias físicas diferentes que as provocam.
Os
estímulos auditivos, por exemplo, são vibrações que vão fazer oscilar a
membrana do tímpano, no ouvido, sendo aquilo que ouvimos o resultado desse
mecanismo. Dizemos que existe um som quando as vibrações têm determinadas
características que lhes permitem serem eficazes em face do mecanismo receptor,
sendo os sons, audíveis pelo homem, vibrações compreendidas entre 16 e 10 000 Hertz.
Quanto
aos estímulos que provocam a visão,
são vibrações electromagnéticas da mesma natureza que os raios infravermelhos e
as ondas de rádio, cujo comprimento de onda está compreendido entre 400 e 700 milimícrones.
As
ondas de pequeno comprimento penetram nas células e podem destruí-las - são as radiações atómicas. Imediatamente a
seguir temos os raios-x que, segundo o seu comprimento de onda, podem ser
duros, médios e fracos. Em seguida, os ultravioletas
que na zona de transição deixam dúvidas: não se sabe se são raios-x fracos ou ultravioletas muito
fortes. Se o comprimento de onda continua a aumentar temos, a partir dos 400 milimícrones,
as ondas visíveis que para além dos
750 milimícrones deixam de ser visíveis para terem um efeito térmico: são os infravermelhos de curto comprimento de
onda - 850 - e depois os infravermelhos de grande comprimento de onda. Ainda
mais adiante chegamos às ondas de rádio
onde, como sabemos, existem diferentes modalidades - ondas curtas, médias e
longas.
Verificamos
que o homem só vê numa faixa restrita de
comprimento de onda, sendo o seu mundo consequentemente delimitado, assim
como a realidade do que o rodeia.
Outros
animais, com sentidos mais perfeitos, e que conseguem percepcionar para além
dos limites que os perceptores do homem delimitam, têm uma visão diferente do
mundo e outra realidade certamente.
OS SENTIDOS DO HOMEM
ESTÍMULOS
|
RECEPTORES
|
SENSAÇÕES
|
Ondas
electromagnéticas de com-primento inferior ou igual a 10-5 cm.
|
Carecemos
de receptores para as detectar.
|
Nenhuma
|
Ondas
electromagnéticas de 10-5 a 10-4 cm.
|
A
retina
|
Claridade,
obscuridade e cores
|
Ondas
electromagnéticas de 10-4 a 10-2 cm.
|
Células
cutâneas
|
Calor
e frio
|
Vibrações
mecânicas do ar ou outros corpos entre 20 a 20 000 Hz
|
Órgãos
de Golgi
|
Som
(tom, intensidade, timbre) e ruídos
|
Pressão
|
Células
cutâneas
|
Tacto
|
Posição
da cabeça
|
Ouvido
interno: labirinto
|
Equilíbrio,
vertigens
|
Substâncias
químicas em solução gasosa
|
Células
olfactivas
|
Cheiro
|
Substâncias
químicas dissolvidas em forma líquida
|
Células
gustativas da língua
|
Sabor
|
Movimentos
musculares
|
Terminações
nervosas em tendões, músculos e articulações
|
Cinestesias,
sensações de movimento
|
Alterações
químicas e mecânicas do meio orgânico interior
|
Células
das vísceras
|
Pressão,
tensão, mal-estar, náuseas
|
Acções
energéticas de toda a espécie
|
Terminações
nervosas livres
|
Dor
|
Acções
mecânicas suaves
|
Terminações
nervosas de zonas erógenas
|
Prazer
|
Assim,
o homem atingido continuamente por uma série inacreditável de energias físicas
isoladas, organiza-as espontaneamente, conseguindo do caos - de estímulos
físicos - uma ordem.
A
organização perceptual ocorre espontaneamente, como dissemos, aparecendo sem
uma orientação consciente e com uma velocidade e uma segurança maiores que as
permitidas pelo pensamento “racional”, diferenciando e agrupando os estímulos.
Enfim,
o ser humano além de percepcionar o mundo que o rodeia, tem capacidade para
classificar, diferenciar e agrupar todos os estímulos que lhe interessam,
compreendendo perfeitamente o seu mundo e criando maiores comodidades e formas
de vida, manipulando esse mundo em seu proveito, o que já não sucede com todos
os outros animais que se limitam à vida instintiva e pouco mais, não tendo
capacidade para, com base em elementos percepcionados, fazerem previsões e
melhorarem o seu modo de vida.
Devido
a estas capacidades extraordinárias o homem destacou-se cada vez mais do ramo
animal, apresentando hoje qualidades verdadeiramente fantásticas, no seu
desenvolvimento cerebral e intelectual.
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