COSMOS
Tentativa de definição
ESPÍRITO E INSTINTO
Podemos admitir a existência de uma
força, de uma centelha do espírito universal (espírito-essência) ou
pensamentos-ordens, as causas, em cada átomo, em cada
molécula, insuflando-lhes a energia vital.
Os átomos
juntam-se em diversos aglomerados sensíveis da matéria até chegarem ao ponto em
que a densidade é tanta que precisem de uma organização coerente, com uma
entidade central, para orientação directa do conjunto. Os tecidos, os órgãos,
os sistemas, agem sem a acção consciente do ser.
Conforme o nível de evolução
biológica, conjuntos menos complexos, como estes tecidos, órgãos e sistemas,
juntam-se, completam-se, aperfeiçoam a sua acção conjunta e formam seres mais
complexos que precisam também de uma orientação mais complexa conforme as
circunstâncias e exigências naturais. Esta orientação processa-se, numa fase
mais primária, pelos instintos evoluindo gradualmente
para uma personalização e consciência do ser vivo. O espírito interno encarrega-se
de todas as actividades coordenadoras, inconscientes nos seres inferiores, e
pensantes no ser humano, dirigindo toda a matéria dentro, é claro, dos condicionalismos impostos pela própria
matéria.
O desenrolar natural da matéria,
associada ao espírito interno, a que os cientistas chamam subconsciente ou inconsciente,
vai influenciando a actuação do espírito-substância, que por sua vez dá a
faculdade de intenção ao seu
comportamento. Este espírito vai-se elevando cada vez mais até chegar ao homem,
como unidade personalizada, a quem damos o nome de Alma. Nos outros seres a
sua orientação será agrupada por géneros e espécies, como que um espírito
colectivo.
A formiga, por exemplo, com o seu
comportamento característico, dentro da mesma espécie, faz-nos ficar mais
convictos numa orientação superior, notando-se até em espécies mais avançadas
uma evolução sensível. A vida do formigueiro muda conforme a espécie, sendo a
sua população composta de rainhas ou fêmeas, legiões de obreiras sem sexo, e
algumas centenas de machos, não havendo como nas abelhas uma rainha-mãe única,
mas sim tantas quantas as consideradas necessárias pelo conselho secreto que
preside os destinos do formigueiro. A sua ordem é tão admirável como uma
colmeia, talvez mais difícil de obter, pois a vida destes seres é em geral
muito complexa, mais imprevista e mais aventurosa.
Entretanto, aproveitamos salientar que
se ignora completamente quem reina e quem governa a cidade das formigas e onde
se encontra a cabeça ou espírito que preside a tão perfeita e completa
coordenação de actividades. As formigas alimentam-se de substâncias animais e
vegetais - insectos, vermes, cereais, pão, açúcar - mas algumas, as pastoras, têm uma predilecção especial
pelas evacuações açucaradas de certos pulgões, que apascentam e tratam com um
engenho surpreendente, realizando selecções e chegando a obter do mesmo animálculo
vinte a quarenta gotas melíferas por hora. As mais civilizadas chegam a
cortar-lhes as asas, para evitar a fuga, rodeiam-nos de tapumes, preparam-lhes
caminhos abertos e arranjam-lhes abrigos para refúgio da chuva.
Outras formigas só se alimentam de
cogumelos que cultivam, dependendo as suas vidas, portanto, dos seus jardins,
uns subterrâneos e outros construídos à superfície do seu ninho. Na construção
desses jardins empregam folhas de certas árvores, que cortam e recortam, amassam
e amontoam, e por fim fertilizam com excrementos e substâncias farináceas,
sendo nesse meio assim preparado que procedem em seguida à sementeira de
esporos.
Formigas há que se dedicam à cultura
de gramíneas, sendo por isso chamadas formigas
agrícolas. Elas, em superfícies relvosas invadidas por persistentes
vegetações, arroteiam e desnudam energicamente uma área circular situada em
torno do ninho, não deixando crescer dentro dessa área senão os seus cereais
favoritos, exterminando todas as outras plantas.
Também, como nos homens, existem raças
mais ricas e mais fortes, sem escrúpulos, que se lançam à conquista do que não
lhes pertence, possuindo exércitos organizados e empreendendo verdadeiras
guerras, servindo-se de armas ofensivas constituídas pelas mandíbulas dos mais
variados modelos. Guerreiam-se em campo aberto, com ataques fulminantes,
levantamentos em massa, guerras de ciladas, de surpresa, de infiltrações
sucessivas, guerras encarniçadas de extermínio, guerras incoerentes e
preguiçosas, cercos e investidas tão sabiamente ordenados como se fossem
orientados por um ser humano experimentado na arte guerreira. Defesas
magníficas e retiradas estratégicas ou desordenadas.
É conveniente frisar, por curiosidade,
que as espécies pacíficas - a maioria - quando atacadas desenvolvem para a
defesa da sua cidade uma coragem e abnegação surpreendentes. Têm,
inclusivamente, formigas “paramédicas”
que resgatam e tratam das parceiras feridas.
Vimos, deste modo, como as formigas são,
e para maior informação e apoio à teoria de uma centelha orientadora, vamos
falar agora sobre a sua actividade dentro do formigueiro e condições que criam
para a sua comodidade.
Os formigueiros, muito variados
conforme as espécies, podem ser cavados directamente na terra argilosa e
compõem-se de várias salas ligadas entre si por corredores com numerosíssimas
ramificações, muitos andares, por vezes quarenta e mais, tendo cada piso o seu
destino determinado segundo a temperatura respectiva, reservando-se as zonas
mais quentes para a criação. A distribuição dos compartimentos-galerias,
armazéns, salas comuns, quartos de criação, e, entre algumas espécies, estufas
de cogumelos, estábulos e celeiros, é muito variável.
As fiandeiras
de lançadeira, que no mundo dos insectos, e até no mundo animal, ocupam o
mais alto lugar na hierarquia intelectual, começam por escolher, na criação do
formigueiro, duas ou três longas folhas que intentam reunir. Em número de cem,
se necessário, e actuando em conjunto, enfileiradas e solidamente agarradas à
extremidade de uma das folhas, apossam-se com as mandíbulas da folha vizinha.
Se não podem alcançá-la directamente, formam uma cadeia ou ponte, até que a
formiga chefe consiga apanhar e aproximar a outra folha. Quando as folhas se
tocam ou se encontram a distância conveniente e cómoda, tratam então de a não
deixar afastar. Nessa altura intervêm as fiandeiras com uma larva nas
mandíbulas, larva essa que se foi arrancar às suas preocupações individuais
para a consagrar a trabalhos de utilidade para a colectividade.
Por intermédio do fio viscoso que
segrega a sua ferramenta - a larva - a tecedeira, como podemos chamar, passando
e repassando a lançadeira viva, liga e fixa as duas extremidades da folha. As
outras fiandeiras, com as larvas nas mandíbulas, fazem o mesmo a todo o
comprimento das folhas, e o trabalho prossegue até o ninho estar inteiramente
tecido e se torne num enorme casulo dividido numa infinidade de compartimentos
com paredes e colunatas de seda.
Pela primeira vez, se revela no mundo
animal o uso do utensílio, não
havendo mais exemplos desse facto entre os insectos ou nos mamíferos, que
ocupam os mais altos lugares nas hierarquias dos seres vivos, com excepção,
claro está, do homem.
Salientamos a organização
extraordinária das formigas e a sua actuação em comunidade, onde todas
trabalham num ramo específico sendo como que complementos umas das outras, não
se sabendo onde está a cabeça ou a entidade que comanda o seu trabalho tão
perfeito. Assim, podemos arriscar que os seres que não atingiram aquela
complexidade conveniente para a formação de uma Alma individual, coordenadora
das suas actividades, são guiados exclusivamente pelas determinativas
programadas quando da criação - determinativas essas portadas pela centelha do
espírito universal, que neles está, mas ainda não se individualizou nem tomou
consciência de si. Ela está latente em todos os seres e formas da matéria mais
grosseiras, consubstanciando-se e evoluindo passo a passo até chegar à
personalização - a Alma - e mais tarde à identificação. Antes de chegar à
individualização e, consequentemente, de ser consciente de si, ela porta a
programação inicial que, a par da influência biológica adquirida durante a
evolução, faz os seres da mesma espécie terem um comportamento idêntico,
pressupondo logicamente a existência de um espírito colectivo.
Essas centelhas do espírito universal
- a essência - e os respectivos espíritos-substância, por grupos nessa fase da
evolução, procedem mecanicamente (instintivamente) em conformidade com a
programação pré-estabelecida. Talvez numa fase mais primitiva da evolução a
centelha do espírito universal, em vez de reunir seres completos numa unidade
biológica, tenha agrupado vários seres distintos fisicamente para formar um
conjunto coerente na sua actuação, como sejam as abelhas e as formigas que só
no seu conjunto físico poderão ter uma actuação semelhante à de um ser mais
avançado na escala hierárquica, como um mamífero por exemplo.
Enquanto que um mamífero, como
unidade, tem o essencial para sobreviver e atingir o objectivo evolutivo
naquela fase, o formigueiro já precisa do contributo de vários tipos de
formigas, especializadas em cada campo, para atenderem aos mesmos objectivos.
Não restam dúvidas de que os seres
mais evoluídos deste mundo, incluindo o Homem, ainda necessitam do seu par
complementar para atingir um dos fins básicos da espécie, a procriação, o que é
diferente da formiga e da abelha que não têm o seu par mas sim diversos tipos de
unidades especializadas que no seu conjunto formam a entidade. Quanto mais
avançada for a evolução, menos diferenças existem, chegando ao ser único,
hermafrodita, sem necessidade de um par complementar. Nesta fase estará feita a
identificação entre essência e substância e começará o caminho para a
identificação total.
Já Mauricio Maeterlink, na sua obra A vida das formigas, emitiu a hipótese
muito interessante de que o formigueiro, ou seja o conjunto das formigas que
formam uma sociedade, deve ser considerado como um indivíduo cujas células se
encontram dispersas, dissociadas, exteriorizadas, que obedecem, apesar da sua
independência aparente, à mesma central.
Nos
mamíferos as células já se encontram aglomeradas.
Na escala evolutiva, podemos
considerar o Homem - com sessenta milhões de células aproximadamente - como um
ser em que uma Alma, produto da individualização da essência com a substância
racional, o orienta, levando em atenção no entanto certos actos puramente
inconscientes como a digestão, respiração, circulação e outros, influenciados
por essas determinativas iniciais, e memória biológica adquirida no decorrer da
evolução material, que as células portam e que vulgarmente chamamos instinto.
As centelhas do espírito universal,
com determinativas rigorosas, fazem os seres da mesma espécie terem
procedimentos absolutamente idênticos - no seu íntimo - só se compreendendo
assim a atracção e repulsão de determinados minerais por outros minerais, ou as
migrações das espécies. Nos seres vivos da mesma espécie, em qualquer parte do
globo, há reacções semelhantes e homogéneas, sendo as migrações impressionantes
pela sua certeza.
Bandos de aves que no Outono emigram
para o Sul, nem demasiado tarde nem demasiado cedo, para escaparem às brisas
geladas do Inverno, voltam na Primavera ao ponto de origem, voando numa altura
certa, que difere conforme as espécies. Os esquilos constroem represas a
cruzarem a corrente de água no ângulo exactamente necessário, considerando a
rapidez da corrente e todas as demais circunstâncias, precisamente como faria
um engenheiro experimentado.
Voltando às migrações, citaremos
algumas que mostram como a natureza está tão bem organizada, fazendo-nos mais
crentes na existência de algo a orientá-las.
As enguias, os elefantes, os morcegos,
as borboletas, rãs e tartarugas, são animais sujeitos a migrações, e, neste
sentido, todos os animais as fazem, existindo diversas espécies de migrações,
como sejam a migração normal, a acidental, a devida ao homem, a esporádica e a
periódica.
Vários factores motivam as migrações -
climas, mudanças de temperatura, catástrofes naturais, meios de subsistência e
o próprio Homem - tendendo quase todas a distribuir os animais sobre maiores
superfícies terrestres.
As migrações que nos interessam, as
motivadas por uma força desconhecida e inexplicável, são as periódicas que,
pelo seu ritmo rigoroso, nos deixam boquiabertos, sem haver ainda uma
explicação "científica" para isso. Uma migração esporádica também é
difícil de explicar, visto haver sem dúvida nenhuma algo que faz esses seres moverem-se e caminharem sem destino certo
para um suicídio colectivo, proporcionando aos animais que ficam melhores
condições de vida e oportunidade de perpetuação da espécie. É o caso dos Lemures (Leming), pequenos mamíferos
roedores, que em dado momento se reproduzem em ritmo acelerado, por motivos
desconhecidos, ficando os seus habitats
rapidamente superpovoados.
Então reúnem-se em grandes grupos e
começam a descer as encostas a caminho dos vales, caminhando durante meses sem
destino aparente, sendo dizimados por inimigos vários e outros obstáculos até
chegarem à costa e se afogarem nas águas do oceano.
Nas migrações periódicas, podemos
citar algumas interessantes... e misteriosas, como as enguias que, no Outono,
descem os rios e ribeiros em direcção ao mar. As enguias da Europa nadam para
ocidente, pondo os ovos no mar dos Sargaços, pequena zona do Atlântico entre as
Bermudas e as Antilhas. Algumas destas enguias cobrem distâncias superiores a
cinco mil quilómetros para atingirem o lugar de postura. As enguias da América
dirigem-se para o mesmo sítio, e as da África vão para grandes fundos junto a
Madagáscar.
Migração das enguias
no hemisfério norte
Demoram meses para atingirem o local
da postura, onde depositam os ovos, dos quais nascem larvas achatadas e
transparentes, que iniciam a viagem de regresso, de cerca de três anos,
percorrendo o caminho outrora seguido pelos seus progenitores, nadando ao longo
da costa até encontrarem a foz do rio - sempre os mesmos - que sobem, e onde permanecem vários anos até chegar a vez de
também descerem pelo mesmo caminho e atravessarem o oceano para porem os ovos
no mar dos Sargaços. Os machos que ficam junto à costa juntam-se às fêmeas e
emigram com elas.
Ninguém sabe por que razão as
larvazinhas das enguias da Europa se dirigem para o continente europeu, e as da
América seguem precisamente para as costas americanas. Também não se sabe como
é que elas descobrem o caminho. Mas a maior interrogação é a seguinte: porque
será que as enguias adultas fazem essa viagem até uma zona tão restrita do
oceano Atlântico e aí põem os ovos?
Outros peixes migradores muito
conhecidos são os Salmões que, vindos do oceano, entram em rios a fim de porem
os ovos na água doce. Alguns percorrem milhares de quilómetros, enfrentando
centenas de perigos - quedas de água, represas feitas pelo homem, rápidos
turbulentos - sem diminuírem o seu ímpeto inicial, até alcançarem o seu fim. No
Outono, os salmões que venceram todos os obstáculos encontrados no seu caminho,
e escaparam aos inimigos, chegam ao termo da viagem. No leito pedregoso de um
curso de água depositam os ovos, e, na Primavera seguinte, os salmõezinhos que
nasceram dos ovos começam a descer a corrente em direcção à água salgada.
Muitos morrem no percurso, e após alguns anos passados no oceano, quando
atingem um peso médio de doze quilos, dirigem-se então para a costa à procura
do rio que desceram na juventude, para fazerem a viagem de retorno. E descobrem
quase sempre o curso de água onde nasceram. Ninguém sabe como o peixe reconhece
exactamente o rio, nem como consegue descobrir o caminho até ao curso de água
secundário onde teve origem.
Há mamíferos e aves que se deslocam
milhares de quilómetros nas suas migrações periódicas, mas julgamos ser
suficiente citarmos apenas estas duas, a título de exemplo.
Os representantes oficiais da ciência
afirmam que é o "instinto" que faz estes seres agirem daquele modo,
mas não definem com clareza o que é o "instinto" e como se originou
nos seres vivos.
Em Lógica filosófica, considera-se o
instinto como o impulso que leva o ser vivo a lutar pela sua sobrevivência (instinto de conservação), pela
sobrevivência da espécie (instinto de
reprodução) ou ainda pela sua supremacia (instinto de expansão).
Em Psicologia, considera-se o instinto
como a aptidão inata para executar actos ajustados a uma finalidade, e que
todos os representantes da mesma espécie realizam automaticamente e do mesmo
modo.
Fala-se em impulso ou numa aptidão
inata, nascidos com o ser,
mas não explicam como apareceram. Nada nasce do nada. Esse impulso ou aptidão
inata têm de vir de algum lado, têm uma origem. A verdade é que se consegue
distinguir os vários grupos e espécies pelo seu comportamento semelhante, e
características semelhantes, e reacções espantosamente comuns. Podemos então
afirmar, já que não há uma explicação concreta e objectiva, que há um
espírito-substância e mais tarde uma Alma coordenadora, um espírito que não se
divide mas está presente em todas as formas da matéria, animais, vegetais e
minerais.
Esse espírito vai-se transportando de
ser em ser, adquirindo mais experiência e valorizando-se, pelo que podemos
considerá-lo, em termos mais acessíveis, como o intelecto do animal, a sua
psique.
A grande confusão que existe entre as
correntes, ou mais concretamente, entre a interpretação das correntes espíritas
e filosóficas, resulta do facto de se subentender como sendo as formas
psíquicas a determinarem o grau de desenvolvimento do ser vivo. Quando dizemos
que o espírito-essência se vai consubstanciando e evoluindo por intermédio da
matéria, ou na matéria, não queremos
com isto afirmar que a matéria segue a evolução do espírito e se vai
aperfeiçoando pelo aperfeiçoamento do
espírito.
Não
é essa a realidade.
A centelha do espírito universal ajuda
a criação de um espírito resultante da experiência conjunta com a matéria,
consubstanciando-se no nosso mundo material para ganhar experiência e conhecimentos e não para dar experiência e conhecimentos. Por isso, esse espírito
semi-material, a Alma (sede da
consciência que controla a máquina física que é necessária estar integrada no
mundo material, ou seja, o sistema cerebral) segue a evolução natural da
matéria, havendo, como atrás referimos, uma interdependência necessária, sem a
qual não haveria evolução. Nesta fase da evolução o Homem está a aprender a
dominar a matéria mais densa. Acreditamos que a matéria é espírito cristalizado
e a evolução do Homem vai dar-lhe experiência no contacto com toda a matéria,
desde a mais densa até à mais diáfana, até chegar à fase de espírito puro com o
conhecimento total sobre a matéria e como a dominar.
Os ratos, por exemplo, resolvem melhor
que os macacos a tarefa de atravessar um labirinto, não porque sejam mais
inteligentes, ou evoluídos, que os macacos, mas porque essa tarefa responde às
suas capacidades específicas, que se desenvolvem nas suas condições biológicas
de existência.
São os graus de desenvolvimento, que
no animal se determinam biologicamente e no Homem historicamente, que
determinam a forma da sua psique.
Numa dada espécie, o desenvolvimento
biológico provoca diversos comportamentos característicos - tendo em conta a
situação geográfica, climas, inimigos e outras dificuldades - que são de
importância vital para a sua sobrevivência, os quais pela acção do
espírito-substância (espírito de grupo) são catalogados, estudados e classificados,
pela sua importância no futuro da espécie, e tornados essenciais e
obrigatórios, provocando um comportamento homogéneo em qualquer zona do globo e
sob quaisquer circunstâncias. Podemos afirmar até que essa homogeneidade é
imposta para bem da perpetuação da espécie.
Nos seres pensantes - Humanos - devido
à individualização e consciencialização de si mesmo, essa imposição passa a
ser, na maior parte das vezes, consciente e deliberada, como a feitura e
cumprimento das Leis por exemplo. A Alma atingiu a fase da individualização
agindo mais abertamente sobre o indivíduo, havendo, é claro, como sabemos,
certos vazios e faltas aparentes que são iluminados após esforço, estudo e
prática. Os conhecimentos preservados na Alma, por questão de defesa do próprio
indivíduo, podem aflorar ao consciente (ao
intelecto racional) quando necessário, admitindo até que regem todo o
comportamento humano.
Em resumo: podemos aceitar que as
formas de comportamento instintivas -
nos animais e nos humanos também - isto é, as inconscientes, baseiam-se nas
condições biológicas de existência e formam-se num processo de adaptação do
organismo ao ambiente. Essa adaptação, que convém à espécie, obedece a certas
normas que após estudadas, catalogadas e classificadas, são impostas - por não
haver outro método para os seres irracionais - pelo espírito colectivo, o
coordenador.
As formas de comportamento conscientes, baseiam-se nas condições
históricas de existência que se formam no processo da prática e do trabalho
social, pois no Homem as condições biológicas, devido ao seu grande avanço e
capacidades pensantes e inteligentes, passam a ser condições históricas porque
ele tem consciência disso e pode, por sua vez, modificar o meio ambiente.
Além destas formas de comportamento
existe "algo" mais profundo que não vem das condições biológicas ou
históricas da existência, e que influenciam esporadicamente os seres, sem
nenhum aviso ou indício que permitam prever o seu aparecimento. Pelo estudo dos
instintos é possível prever o comportamento de determinadas espécies em
determinadas situações, o que já não sucede com esta forma de comportamento
esporádico, completamente imprevisível e misteriosa, como o suicídio colectivo
nas espécies inferiores e a intuição nos seres humanos que talvez tenham até provocado os
acontecimentos imprevisíveis na Europa em 1968.
Aqui trata-se, certamente, da
influência do espírito que está conectado com o espírito universal e não
somente da consciência da Alma por motivos desconhecidos que se sobrepõem ao
desenrolar normal da evolução da matéria. Algo
interfere deliberadamente para corrigir alguns desvios demasiado perigosos
e que ponham em risco o objectivo programado de início.
Enquanto o desenvolvimento psíquico do
animal obedece a leis gerais vindas do desenvolvimento biológico, e impostas
pelo centro coordenador, o desenvolvimento psíquico do ser humano obedece a
essas mesmas leis e às leis vindas da experiência histórico-social impostas
deliberada e conscientemente pelo intelecto do próprio ser humano, ou seja,
controlado pela Alma.
O Homem, muito mais complexo na sua
estrutura, sofre influências em número superior aos restantes seres, tendo
necessidade absoluta - para sua defesa - de deixar mecanizados certos actos
biológicos que a Alma mantém cuidadosamente em funcionamento sem a acção
consciente da parte racional. São os actos instintivos e os hábitos que apesar
de não estarem sob a orientação directa e consciente do ser, espírito
consciente, não deixam de ser exactos, como exactos são todos os actos
provocados pelo instinto nos seres inferiores.
Nos minerais, as diferenças entre uns
e outros supõem, como nos humanos, uma escala social, com uns mais perfeitos -
mais puros ou nobres - notando-se nitidamente a escolha que fazem quando
pretendem uma mistura. Existem "ligas" entre os minerais, os quais
aceitam certas misturas para a formação de compostos que o homem aproveita e
utiliza na sua tecnologia. Mas o homem também já tentou provocar compostos, por
processos artificiais, sem resultados, nalguns casos pela falta de
"cooperação" de certos minerais que se juntam como que acasalados e
repelem outros como que em guerra. Faz-nos lembrar uma afirmação de Martin
Lutero, reformador religioso e fundador do protestantismo, que reproduzimos
textualmente: "o casamento não é só algo natural, mas sim também um dom divino
que proporciona a mais doce, grata e honesta das vidas, inclusive mais do que o
celibato, desde que o casamento saia bem. O casamento está imerso em toda a natureza
porque em todas as criaturas há o macho e a fêmea. Também as árvores se casam.
Inclusive entre as rochas e as pedras se dá o casamento".
Sim, também entre os vegetais subsiste
uma escala evolutiva desde a planta mais simples até à mais completa, onde
algumas chegam ao ponto de adquirirem a faculdade de movimento de intenção, ou
tentativa de animalização, como as insectívoras. Ao que parece, o mundo vegetal
é estático, um mundo de seres que não andam nem gritam, um mundo silencioso de
vida inconsciente. Mas isso não corresponde à realidade, pois os vegetais
movem-se, amam-se, vivem em comunidade e respiram. O que acontece é o homem,
com os seus sentidos imperfeitos, ser incapaz de apreciar estas características
tendo de recorrer a dispositivos delicadíssimos para captar tais manifestações.
Com material fotossensível e outros
aparelhos de investigação científica, o ser humano fez descobertas
inacreditáveis no mundo vegetal. Descobriu que as plantas vivem simultaneamente
no espaço e no tempo, onde - no tempo - devido a factores internos, actuam com
uma periodicidade de autênticos relógios biológicos, com ritmos cuja frequência
é muito semelhante à dos animais. Pode assegurar-se até, com as devidas
cautelas, que a planta "sonha" e "sabe" quando deve descansar.
Pela acção de factores externos - luz,
calor, gravidade e clima, entre outros - movem-se lenta e matematicamente.
Outras movem-se relativamente depressa, como as insectívoras ao apanharem a sua
presa e aquelas que durante o dia mantêm as suas flores completamente abertas
e, ao anoitecer, as recolhem.
As insectívoras, em vez de fabricarem
matéria orgânica assimilável, como as outras, a partir de elementos minerais -
e anidrido carbónico, pela acção da luz solar no processo de fotossíntese -
digerem directamente os seres vivos mediante poderosas enzimas.
As plantas não vivem isoladamente e as
suas comunidades são bastante curiosas, constituindo autênticas colectividades
nas quais estão asseguradas desde a fecundação - realizada pelos insectos e
pelos ventos - até ao urbanismo mais avançado, no que se refere a disposição
climática e produção. Os cruzamentos e mutações estão perfeitamente
organizados.
E para que a semelhança entre reinos
Animal e Vegetal sejam mais completas, confundindo a fronteira do consciente e
inconsciente, as plantas sofrem alterações no seu estado natural e produzem
verdadeiras doenças, até agora atribuídas apenas aos animais, como o chamado cancro vegetal, provocado por uma
bactéria, que é uma cópia verdadeira do processo canceroso nos tecidos
celulares animais.
Para finalizar, a reacção das plantas
aos estímulos, ou seja a sua sensibilidade, parece confirmar a existência de um
sistema nervoso rudimentar, cuja actuação não se conhece ao certo. A verdade é
que, experimentalmente, está provado as plantas "sentirem" e serem
emocionais. O facto de se "conversar" com elas parece fazer com que fiquem mais vistosas e fortes.
Cleve Backster, um especialista
norte-americano em detecção de mentiras, em 1966 resolveu subitamente, e sem
ter a mínima ideia concreta do que se dispunha a atingir, colocar os eléctrodos
do seu detector na folha de uma planta, e para seu espanto verificou oscilações
no gráfico do aparelho. Resolveu molhar a planta, com água, não acontecendo
nada, pelo que pensou em queimar uma folha, e o mais curioso é que quando pensou nisto, apareceu no gráfico do detector
uma mudança dramática. E mais curioso ainda - e misterioso - é que quando mais
tarde fingia queimar a planta, nenhuma reacção se notava. Ficou claro que a
planta era capaz de distinguir entre a intenção real e a falsa.
Backster continuou os seus ensaios com
mais de vinte e cinco espécies de plantas e frutos chegando a conclusões
verdadeiramente fantásticas. Descobriu ele que a planta ameaçada por um perigo
"desmaia" numa morte fingida e descobriu a "memória"
vegetal utilizando seis alunos seus.
Um deles deveria destruir uma planta,
tendo como testemunha outra planta. Colocados depois os seis alunos diante da
planta testemunha, um de cada vez, ela reagiu prontamente diante do culpado.
Outro pesquisador, Marcel Vogel,
funcionário da IBM, uma vez pediu a um psicólogo para projectar uma emoção
forte a um filodendro que tinha em casa, e para sua admiração, depois do
psicólogo o ter feito, a planta deixou de reagir cessando por completo as
oscilações nos eléctrodos, o que se explicou mais tarde, pois o psicólogo tinha
pensado noutro filodendro que tinha em casa, motivo porque este deixou de
reagir, como que amuado, ficando nestas condições cerca de duas semanas.
Vogel convence-se de que as plantas têm
aversão a certas pessoas, ou antes, ao que elas pensam.
O doutor Ken Hashimoto, formado em
filosofia e engenheiro electrónico de Kamakura, Japão, aperfeiçoou um detector
de mentiras porque pretendia conversar com as plantas. De início nada alcançou,
mas a sua esposa, que amava as plantas, conseguiu resultados espectaculares com
um cacto. John Francis Dougherty, amigo pessoal do casal, presenciou as
experiências e relatou-as, afirmando que o casal ensinou o cacto a somar e a
contar até vinte. Intimado a somar dois mais dois, a planta respondia em sons,
que transcritos no gráfico, davam origem a quatro oscilações distintas e
conjugadas.
Solicitado a explicar o fenómeno, o
doutor Hashimoto - um dos autores mais vendidos no Japão, com a sua Introdução à Percepção Extra-sensorial,
na 60ª tiragem, e O Mistério do Mundo da
4ª Dimensão, na 80ª - respondeu haver muitos fenómenos inexplicáveis. Ele
acredita na existência de um mundo além do mundo tridimensional definido pela
física, sendo este mundo de três dimensões apenas uma sombra do mundo imaterial
de quatro dimensões.
Mais recentemente, em 1983, um
comunicado da Fundação Nacional das Ciências (National Science Foundation) nos EUA, indica que segundo os
professores Gordon Orians e David Rhoadas, ambos da Universidade do Estado de
Washington, as árvores atacadas por insectos enviam "mensagens" de
alarme àquelas que ainda não foram atingidas.
Estas "mensagens", nota a
Fundação, consistem em emissões de feromonas, substâncias emitidas pelos
animais em geral e que agem nos indivíduos da mesma espécie. Os professores
Orians e Rhoadas fizeram incidir as suas pesquisas em certas espécies de
salgueiros e verificaram que árvores atacadas por lagartas ou vermes
"alertam" aquelas que as rodeiam, emitindo as feromonas. Após a
recepção destas mensagens, as árvores intactas modificam a composição química
das suas folhas, de maneira a torná-las menos comestíveis. Estas modificações
químicas foram observadas na própria árvore, mas há ainda que as confirmar
laboratorialmente.
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