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quarta-feira, 13 de março de 2019


 

COSMOS
Tentativa de definição

ESPÍRITO E INSTINTO

Podemos admitir a existência de uma força, de uma centelha do espírito universal (espírito-essência) ou pensamentos-ordens, as causas, em cada átomo, em cada molécula, insuflando-lhes a energia vital.

Os átomos juntam-se em diversos aglomerados sensíveis da matéria até chegarem ao ponto em que a densidade é tanta que precisem de uma organização coerente, com uma entidade central, para orientação directa do conjunto. Os tecidos, os órgãos, os sistemas, agem sem a acção consciente do ser.

Conforme o nível de evolução biológica, conjuntos menos complexos, como estes tecidos, órgãos e sistemas, juntam-se, completam-se, aperfeiçoam a sua acção conjunta e formam seres mais complexos que precisam também de uma orientação mais complexa conforme as circunstâncias e exigências naturais. Esta orientação processa-se, numa fase mais primária, pelos instintos evoluindo gradualmente para uma personalização e consciência do ser vivo. O espírito interno encarrega-se de todas as actividades coordenadoras, inconscientes nos seres inferiores, e pensantes no ser humano, dirigindo toda a matéria dentro, é claro, dos condicionalismos impostos pela própria matéria.

O desenrolar natural da matéria, associada ao espírito interno, a que os cientistas chamam subconsciente ou inconsciente, vai influenciando a actuação do espírito-substância, que por sua vez dá a faculdade de intenção ao seu comportamento. Este espírito vai-se elevando cada vez mais até chegar ao homem, como unidade personalizada, a quem damos o nome de Alma. Nos outros seres a sua orientação será agrupada por géneros e espécies, como que um espírito colectivo.

A formiga, por exemplo, com o seu comportamento característico, dentro da mesma espécie, faz-nos ficar mais convictos numa orientação superior, notando-se até em espécies mais avançadas uma evolução sensível. A vida do formigueiro muda conforme a espécie, sendo a sua população composta de rainhas ou fêmeas, legiões de obreiras sem sexo, e algumas centenas de machos, não havendo como nas abelhas uma rainha-mãe única, mas sim tantas quantas as consideradas necessárias pelo conselho secreto que preside os destinos do formigueiro. A sua ordem é tão admirável como uma colmeia, talvez mais difícil de obter, pois a vida destes seres é em geral muito complexa, mais imprevista e mais aventurosa.

Entretanto, aproveitamos salientar que se ignora completamente quem reina e quem governa a cidade das formigas e onde se encontra a cabeça ou espírito que preside a tão perfeita e completa coordenação de actividades. As formigas alimentam-se de substâncias animais e vegetais - insectos, vermes, cereais, pão, açúcar - mas algumas, as pastoras, têm uma predilecção especial pelas evacuações açucaradas de certos pulgões, que apascentam e tratam com um engenho surpreendente, realizando selecções e chegando a obter do mesmo animálculo vinte a quarenta gotas melíferas por hora. As mais civilizadas chegam a cortar-lhes as asas, para evitar a fuga, rodeiam-nos de tapumes, preparam-lhes caminhos abertos e arranjam-lhes abrigos para refúgio da chuva.

Outras formigas só se alimentam de cogumelos que cultivam, dependendo as suas vidas, portanto, dos seus jardins, uns subterrâneos e outros construídos à superfície do seu ninho. Na construção desses jardins empregam folhas de certas árvores, que cortam e recortam, amassam e amontoam, e por fim fertilizam com excrementos e substâncias farináceas, sendo nesse meio assim preparado que procedem em seguida à sementeira de esporos.

Formigas há que se dedicam à cultura de gramíneas, sendo por isso chamadas formigas agrícolas. Elas, em superfícies relvosas invadidas por persistentes vegetações, arroteiam e desnudam energicamente uma área circular situada em torno do ninho, não deixando crescer dentro dessa área senão os seus cereais favoritos, exterminando todas as outras plantas.

Também, como nos homens, existem raças mais ricas e mais fortes, sem escrúpulos, que se lançam à conquista do que não lhes pertence, possuindo exércitos organizados e empreendendo verdadeiras guerras, servindo-se de armas ofensivas constituídas pelas mandíbulas dos mais variados modelos. Guerreiam-se em campo aberto, com ataques fulminantes, levantamentos em massa, guerras de ciladas, de surpresa, de infiltrações sucessivas, guerras encarniçadas de extermínio, guerras incoerentes e preguiçosas, cercos e investidas tão sabiamente ordenados como se fossem orientados por um ser humano experimentado na arte guerreira. Defesas magníficas e retiradas estratégicas ou desordenadas.

É conveniente frisar, por curiosidade, que as espécies pacíficas - a maioria - quando atacadas desenvolvem para a defesa da sua cidade uma coragem e abnegação surpreendentes. Têm, inclusivamente, formigas “paramédicas” que resgatam e tratam das parceiras feridas.

Vimos, deste modo, como as formigas são, e para maior informação e apoio à teoria de uma centelha orientadora, vamos falar agora sobre a sua actividade dentro do formigueiro e condições que criam para a sua comodidade.

Os formigueiros, muito variados conforme as espécies, podem ser cavados directamente na terra argilosa e compõem-se de várias salas ligadas entre si por corredores com numerosíssimas ramificações, muitos andares, por vezes quarenta e mais, tendo cada piso o seu destino determinado segundo a temperatura respectiva, reservando-se as zonas mais quentes para a criação. A distribuição dos compartimentos-galerias, armazéns, salas comuns, quartos de criação, e, entre algumas espécies, estufas de cogumelos, estábulos e celeiros, é muito variável.

As fiandeiras de lançadeira, que no mundo dos insectos, e até no mundo animal, ocupam o mais alto lugar na hierarquia intelectual, começam por escolher, na criação do formigueiro, duas ou três longas folhas que intentam reunir. Em número de cem, se necessário, e actuando em conjunto, enfileiradas e solidamente agarradas à extremidade de uma das folhas, apossam-se com as mandíbulas da folha vizinha. Se não podem alcançá-la directamente, formam uma cadeia ou ponte, até que a formiga chefe consiga apanhar e aproximar a outra folha. Quando as folhas se tocam ou se encontram a distância conveniente e cómoda, tratam então de a não deixar afastar. Nessa altura intervêm as fiandeiras com uma larva nas mandíbulas, larva essa que se foi arrancar às suas preocupações individuais para a consagrar a trabalhos de utilidade para a colectividade.

Por intermédio do fio viscoso que segrega a sua ferramenta - a larva - a tecedeira, como podemos chamar, passando e repassando a lançadeira viva, liga e fixa as duas extremidades da folha. As outras fiandeiras, com as larvas nas mandíbulas, fazem o mesmo a todo o comprimento das folhas, e o trabalho prossegue até o ninho estar inteiramente tecido e se torne num enorme casulo dividido numa infinidade de compartimentos com paredes e colunatas de seda.

Pela primeira vez, se revela no mundo animal o uso do utensílio, não havendo mais exemplos desse facto entre os insectos ou nos mamíferos, que ocupam os mais altos lugares nas hierarquias dos seres vivos, com excepção, claro está, do homem.

Salientamos a organização extraordinária das formigas e a sua actuação em comunidade, onde todas trabalham num ramo específico sendo como que complementos umas das outras, não se sabendo onde está a cabeça ou a entidade que comanda o seu trabalho tão perfeito. Assim, podemos arriscar que os seres que não atingiram aquela complexidade conveniente para a formação de uma Alma individual, coordenadora das suas actividades, são guiados exclusivamente pelas determinativas programadas quando da criação - determinativas essas portadas pela centelha do espírito universal, que neles está, mas ainda não se individualizou nem tomou consciência de si. Ela está latente em todos os seres e formas da matéria mais grosseiras, consubstanciando-se e evoluindo passo a passo até chegar à personalização - a Alma - e mais tarde à identificação. Antes de chegar à individualização e, consequentemente, de ser consciente de si, ela porta a programação inicial que, a par da influência biológica adquirida durante a evolução, faz os seres da mesma espécie terem um comportamento idêntico, pressupondo logicamente a existência de um espírito colectivo.

Essas centelhas do espírito universal - a essência - e os respectivos espíritos-substância, por grupos nessa fase da evolução, procedem mecanicamente (instintivamente) em conformidade com a programação pré-estabelecida. Talvez numa fase mais primitiva da evolução a centelha do espírito universal, em vez de reunir seres completos numa unidade biológica, tenha agrupado vários seres distintos fisicamente para formar um conjunto coerente na sua actuação, como sejam as abelhas e as formigas que só no seu conjunto físico poderão ter uma actuação semelhante à de um ser mais avançado na escala hierárquica, como um mamífero por exemplo.

Enquanto que um mamífero, como unidade, tem o essencial para sobreviver e atingir o objectivo evolutivo naquela fase, o formigueiro já precisa do contributo de vários tipos de formigas, especializadas em cada campo, para atenderem aos mesmos objectivos.

Não restam dúvidas de que os seres mais evoluídos deste mundo, incluindo o Homem, ainda necessitam do seu par complementar para atingir um dos fins básicos da espécie, a procriação, o que é diferente da formiga e da abelha que não têm o seu par mas sim diversos tipos de unidades especializadas que no seu conjunto formam a entidade. Quanto mais avançada for a evolução, menos diferenças existem, chegando ao ser único, hermafrodita, sem necessidade de um par complementar. Nesta fase estará feita a identificação entre essência e substância e começará o caminho para a identificação total.

Já Mauricio Maeterlink, na sua obra A vida das formigas, emitiu a hipótese muito interessante de que o formigueiro, ou seja o conjunto das formigas que formam uma sociedade, deve ser considerado como um indivíduo cujas células se encontram dispersas, dissociadas, exteriorizadas, que obedecem, apesar da sua independência aparente, à mesma central.

Nos mamíferos as células já se encontram aglomeradas.

Na escala evolutiva, podemos considerar o Homem - com sessenta milhões de células aproximadamente - como um ser em que uma Alma, produto da individualização da essência com a substância racional, o orienta, levando em atenção no entanto certos actos puramente inconscientes como a digestão, respiração, circulação e outros, influenciados por essas determinativas iniciais, e memória biológica adquirida no decorrer da evolução material, que as células portam e que vulgarmente chamamos instinto.

As centelhas do espírito universal, com determinativas rigorosas, fazem os seres da mesma espécie terem procedimentos absolutamente idênticos - no seu íntimo - só se compreendendo assim a atracção e repulsão de determinados minerais por outros minerais, ou as migrações das espécies. Nos seres vivos da mesma espécie, em qualquer parte do globo, há reacções semelhantes e homogéneas, sendo as migrações impressionantes pela sua certeza.

Bandos de aves que no Outono emigram para o Sul, nem demasiado tarde nem demasiado cedo, para escaparem às brisas geladas do Inverno, voltam na Primavera ao ponto de origem, voando numa altura certa, que difere conforme as espécies. Os esquilos constroem represas a cruzarem a corrente de água no ângulo exactamente necessário, considerando a rapidez da corrente e todas as demais circunstâncias, precisamente como faria um engenheiro experimentado.

Voltando às migrações, citaremos algumas que mostram como a natureza está tão bem organizada, fazendo-nos mais crentes na existência de algo a orientá-las.

As enguias, os elefantes, os morcegos, as borboletas, rãs e tartarugas, são animais sujeitos a migrações, e, neste sentido, todos os animais as fazem, existindo diversas espécies de migrações, como sejam a migração normal, a acidental, a devida ao homem, a esporádica e a periódica.

Vários factores motivam as migrações - climas, mudanças de temperatura, catástrofes naturais, meios de subsistência e o próprio Homem - tendendo quase todas a distribuir os animais sobre maiores superfícies terrestres.

As migrações que nos interessam, as motivadas por uma força desconhecida e inexplicável, são as periódicas que, pelo seu ritmo rigoroso, nos deixam boquiabertos, sem haver ainda uma explicação "científica" para isso. Uma migração esporádica também é difícil de explicar, visto haver sem dúvida nenhuma algo que faz esses seres moverem-se e caminharem sem destino certo para um suicídio colectivo, proporcionando aos animais que ficam melhores condições de vida e oportunidade de perpetuação da espécie. É o caso dos Lemures (Leming), pequenos mamíferos roedores, que em dado momento se reproduzem em ritmo acelerado, por motivos desconhecidos, ficando os seus habitats rapidamente superpovoados.

Então reúnem-se em grandes grupos e começam a descer as encostas a caminho dos vales, caminhando durante meses sem destino aparente, sendo dizimados por inimigos vários e outros obstáculos até chegarem à costa e se afogarem nas águas do oceano.

Nas migrações periódicas, podemos citar algumas interessantes... e misteriosas, como as enguias que, no Outono, descem os rios e ribeiros em direcção ao mar. As enguias da Europa nadam para ocidente, pondo os ovos no mar dos Sargaços, pequena zona do Atlântico entre as Bermudas e as Antilhas. Algumas destas enguias cobrem distâncias superiores a cinco mil quilómetros para atingirem o lugar de postura. As enguias da América dirigem-se para o mesmo sítio, e as da África vão para grandes fundos junto a Madagáscar.

                                                          Migração das enguias no hemisfério norte

 
Demoram meses para atingirem o local da postura, onde depositam os ovos, dos quais nascem larvas achatadas e transparentes, que iniciam a viagem de regresso, de cerca de três anos, percorrendo o caminho outrora seguido pelos seus progenitores, nadando ao longo da costa até encontrarem a foz do rio - sempre os mesmos - que sobem, e onde permanecem vários anos até chegar a vez de também descerem pelo mesmo caminho e atravessarem o oceano para porem os ovos no mar dos Sargaços. Os machos que ficam junto à costa juntam-se às fêmeas e emigram com elas.

Ninguém sabe por que razão as larvazinhas das enguias da Europa se dirigem para o continente europeu, e as da América seguem precisamente para as costas americanas. Também não se sabe como é que elas descobrem o caminho. Mas a maior interrogação é a seguinte: porque será que as enguias adultas fazem essa viagem até uma zona tão restrita do oceano Atlântico e aí põem os ovos?

Outros peixes migradores muito conhecidos são os Salmões que, vindos do oceano, entram em rios a fim de porem os ovos na água doce. Alguns percorrem milhares de quilómetros, enfrentando centenas de perigos - quedas de água, represas feitas pelo homem, rápidos turbulentos - sem diminuírem o seu ímpeto inicial, até alcançarem o seu fim. No Outono, os salmões que venceram todos os obstáculos encontrados no seu caminho, e escaparam aos inimigos, chegam ao termo da viagem. No leito pedregoso de um curso de água depositam os ovos, e, na Primavera seguinte, os salmõezinhos que nasceram dos ovos começam a descer a corrente em direcção à água salgada. Muitos morrem no percurso, e após alguns anos passados no oceano, quando atingem um peso médio de doze quilos, dirigem-se então para a costa à procura do rio que desceram na juventude, para fazerem a viagem de retorno. E descobrem quase sempre o curso de água onde nasceram. Ninguém sabe como o peixe reconhece exactamente o rio, nem como consegue descobrir o caminho até ao curso de água secundário onde teve origem.

Há mamíferos e aves que se deslocam milhares de quilómetros nas suas migrações periódicas, mas julgamos ser suficiente citarmos apenas estas duas, a título de exemplo.

Os representantes oficiais da ciência afirmam que é o "instinto" que faz estes seres agirem daquele modo, mas não definem com clareza o que é o "instinto" e como se originou nos seres vivos.

Em Lógica filosófica, considera-se o instinto como o impulso que leva o ser vivo a lutar pela sua sobrevivência (instinto de conservação), pela sobrevivência da espécie (instinto de reprodução) ou ainda pela sua supremacia (instinto de expansão).

Em Psicologia, considera-se o instinto como a aptidão inata para executar actos ajustados a uma finalidade, e que todos os representantes da mesma espécie realizam automaticamente e do mesmo modo.

Fala-se em impulso ou numa aptidão inata, nascidos com o ser, mas não explicam como apareceram. Nada nasce do nada. Esse impulso ou aptidão inata têm de vir de algum lado, têm uma origem. A verdade é que se consegue distinguir os vários grupos e espécies pelo seu comportamento semelhante, e características semelhantes, e reacções espantosamente comuns. Podemos então afirmar, já que não há uma explicação concreta e objectiva, que há um espírito-substância e mais tarde uma Alma coordenadora, um espírito que não se divide mas está presente em todas as formas da matéria, animais, vegetais e minerais.

Esse espírito vai-se transportando de ser em ser, adquirindo mais experiência e valorizando-se, pelo que podemos considerá-lo, em termos mais acessíveis, como o intelecto do animal, a sua psique.

A grande confusão que existe entre as correntes, ou mais concretamente, entre a interpretação das correntes espíritas e filosóficas, resulta do facto de se subentender como sendo as formas psíquicas a determinarem o grau de desenvolvimento do ser vivo. Quando dizemos que o espírito-essência se vai consubstanciando e evoluindo por intermédio da matéria, ou na matéria, não queremos com isto afirmar que a matéria segue a evolução do espírito e se vai aperfeiçoando pelo aperfeiçoamento do espírito.

Não é essa a realidade.

A centelha do espírito universal ajuda a criação de um espírito resultante da experiência conjunta com a matéria, consubstanciando-se no nosso mundo material para ganhar experiência e conhecimentos e não para dar experiência e conhecimentos. Por isso, esse espírito semi-material, a Alma (sede da consciência que controla a máquina física que é necessária estar integrada no mundo material, ou seja, o sistema cerebral) segue a evolução natural da matéria, havendo, como atrás referimos, uma interdependência necessária, sem a qual não haveria evolução. Nesta fase da evolução o Homem está a aprender a dominar a matéria mais densa. Acreditamos que a matéria é espírito cristalizado e a evolução do Homem vai dar-lhe experiência no contacto com toda a matéria, desde a mais densa até à mais diáfana, até chegar à fase de espírito puro com o conhecimento total sobre a matéria e como a dominar.

Os ratos, por exemplo, resolvem melhor que os macacos a tarefa de atravessar um labirinto, não porque sejam mais inteligentes, ou evoluídos, que os macacos, mas porque essa tarefa responde às suas capacidades específicas, que se desenvolvem nas suas condições biológicas de existência.

São os graus de desenvolvimento, que no animal se determinam biologicamente e no Homem historicamente, que determinam a forma da sua psique.

Numa dada espécie, o desenvolvimento biológico provoca diversos comportamentos característicos - tendo em conta a situação geográfica, climas, inimigos e outras dificuldades - que são de importância vital para a sua sobrevivência, os quais pela acção do espírito-substância (espírito de grupo) são catalogados, estudados e classificados, pela sua importância no futuro da espécie, e tornados essenciais e obrigatórios, provocando um comportamento homogéneo em qualquer zona do globo e sob quaisquer circunstâncias. Podemos afirmar até que essa homogeneidade é imposta para bem da perpetuação da espécie.

Nos seres pensantes - Humanos - devido à individualização e consciencialização de si mesmo, essa imposição passa a ser, na maior parte das vezes, consciente e deliberada, como a feitura e cumprimento das Leis por exemplo. A Alma atingiu a fase da individualização agindo mais abertamente sobre o indivíduo, havendo, é claro, como sabemos, certos vazios e faltas aparentes que são iluminados após esforço, estudo e prática. Os conhecimentos preservados na Alma, por questão de defesa do próprio indivíduo, podem aflorar ao consciente (ao intelecto racional) quando necessário, admitindo até que regem todo o comportamento humano.

Em resumo: podemos aceitar que as formas de comportamento instintivas - nos animais e nos humanos também - isto é, as inconscientes, baseiam-se nas condições biológicas de existência e formam-se num processo de adaptação do organismo ao ambiente. Essa adaptação, que convém à espécie, obedece a certas normas que após estudadas, catalogadas e classificadas, são impostas - por não haver outro método para os seres irracionais - pelo espírito colectivo, o coordenador.

As formas de comportamento conscientes, baseiam-se nas condições históricas de existência que se formam no processo da prática e do trabalho social, pois no Homem as condições biológicas, devido ao seu grande avanço e capacidades pensantes e inteligentes, passam a ser condições históricas porque ele tem consciência disso e pode, por sua vez, modificar o meio ambiente.

Além destas formas de comportamento existe "algo" mais profundo que não vem das condições biológicas ou históricas da existência, e que influenciam esporadicamente os seres, sem nenhum aviso ou indício que permitam prever o seu aparecimento. Pelo estudo dos instintos é possível prever o comportamento de determinadas espécies em determinadas situações, o que já não sucede com esta forma de comportamento esporádico, completamente imprevisível e misteriosa, como o suicídio colectivo nas espécies inferiores e a intuição nos seres humanos que talvez tenham até provocado os acontecimentos imprevisíveis na Europa em 1968.

Aqui trata-se, certamente, da influência do espírito que está conectado com o espírito universal e não somente da consciência da Alma por motivos desconhecidos que se sobrepõem ao desenrolar normal da evolução da matéria. Algo interfere deliberadamente para corrigir alguns desvios demasiado perigosos e que ponham em risco o objectivo programado de início.

Enquanto o desenvolvimento psíquico do animal obedece a leis gerais vindas do desenvolvimento biológico, e impostas pelo centro coordenador, o desenvolvimento psíquico do ser humano obedece a essas mesmas leis e às leis vindas da experiência histórico-social impostas deliberada e conscientemente pelo intelecto do próprio ser humano, ou seja, controlado pela Alma.

O Homem, muito mais complexo na sua estrutura, sofre influências em número superior aos restantes seres, tendo necessidade absoluta - para sua defesa - de deixar mecanizados certos actos biológicos que a Alma mantém cuidadosamente em funcionamento sem a acção consciente da parte racional. São os actos instintivos e os hábitos que apesar de não estarem sob a orientação directa e consciente do ser, espírito consciente, não deixam de ser exactos, como exactos são todos os actos provocados pelo instinto nos seres inferiores.

Nos minerais, as diferenças entre uns e outros supõem, como nos humanos, uma escala social, com uns mais perfeitos - mais puros ou nobres - notando-se nitidamente a escolha que fazem quando pretendem uma mistura. Existem "ligas" entre os minerais, os quais aceitam certas misturas para a formação de compostos que o homem aproveita e utiliza na sua tecnologia. Mas o homem também já tentou provocar compostos, por processos artificiais, sem resultados, nalguns casos pela falta de "cooperação" de certos minerais que se juntam como que acasalados e repelem outros como que em guerra. Faz-nos lembrar uma afirmação de Martin Lutero, reformador religioso e fundador do protestantismo, que reproduzimos textualmente: "o casamento não é só algo natural, mas sim também um dom divino que proporciona a mais doce, grata e honesta das vidas, inclusive mais do que o celibato, desde que o casamento saia bem. O casamento está imerso em toda a natureza porque em todas as criaturas há o macho e a fêmea. Também as árvores se casam. Inclusive entre as rochas e as pedras se dá o casamento".

Sim, também entre os vegetais subsiste uma escala evolutiva desde a planta mais simples até à mais completa, onde algumas chegam ao ponto de adquirirem a faculdade de movimento de intenção, ou tentativa de animalização, como as insectívoras. Ao que parece, o mundo vegetal é estático, um mundo de seres que não andam nem gritam, um mundo silencioso de vida inconsciente. Mas isso não corresponde à realidade, pois os vegetais movem-se, amam-se, vivem em comunidade e respiram. O que acontece é o homem, com os seus sentidos imperfeitos, ser incapaz de apreciar estas características tendo de recorrer a dispositivos delicadíssimos para captar tais manifestações.

Com material fotossensível e outros aparelhos de investigação científica, o ser humano fez descobertas inacreditáveis no mundo vegetal. Descobriu que as plantas vivem simultaneamente no espaço e no tempo, onde - no tempo - devido a factores internos, actuam com uma periodicidade de autênticos relógios biológicos, com ritmos cuja frequência é muito semelhante à dos animais. Pode assegurar-se até, com as devidas cautelas, que a planta "sonha" e "sabe" quando deve descansar.

Pela acção de factores externos - luz, calor, gravidade e clima, entre outros - movem-se lenta e matematicamente. Outras movem-se relativamente depressa, como as insectívoras ao apanharem a sua presa e aquelas que durante o dia mantêm as suas flores completamente abertas e, ao anoitecer, as recolhem.

As insectívoras, em vez de fabricarem matéria orgânica assimilável, como as outras, a partir de elementos minerais - e anidrido carbónico, pela acção da luz solar no processo de fotossíntese - digerem directamente os seres vivos mediante poderosas enzimas.

As plantas não vivem isoladamente e as suas comunidades são bastante curiosas, constituindo autênticas colectividades nas quais estão asseguradas desde a fecundação - realizada pelos insectos e pelos ventos - até ao urbanismo mais avançado, no que se refere a disposição climática e produção. Os cruzamentos e mutações estão perfeitamente organizados.

E para que a semelhança entre reinos Animal e Vegetal sejam mais completas, confundindo a fronteira do consciente e inconsciente, as plantas sofrem alterações no seu estado natural e produzem verdadeiras doenças, até agora atribuídas apenas aos animais, como o chamado cancro vegetal, provocado por uma bactéria, que é uma cópia verdadeira do processo canceroso nos tecidos celulares animais.

Para finalizar, a reacção das plantas aos estímulos, ou seja a sua sensibilidade, parece confirmar a existência de um sistema nervoso rudimentar, cuja actuação não se conhece ao certo. A verdade é que, experimentalmente, está provado as plantas "sentirem" e serem emocionais. O facto de  se "conversar" com elas parece fazer com que fiquem mais vistosas e fortes.

 

Cleve Backster, um especialista norte-americano em detecção de mentiras, em 1966 resolveu subitamente, e sem ter a mínima ideia concreta do que se dispunha a atingir, colocar os eléctrodos do seu detector na folha de uma planta, e para seu espanto verificou oscilações no gráfico do aparelho. Resolveu molhar a planta, com água, não acontecendo nada, pelo que pensou em queimar uma folha, e o mais curioso é que quando pensou nisto, apareceu no gráfico do detector uma mudança dramática. E mais curioso ainda - e misterioso - é que quando mais tarde fingia queimar a planta, nenhuma reacção se notava. Ficou claro que a planta era capaz de distinguir entre a intenção real e a falsa.

Backster continuou os seus ensaios com mais de vinte e cinco espécies de plantas e frutos chegando a conclusões verdadeiramente fantásticas. Descobriu ele que a planta ameaçada por um perigo "desmaia" numa morte fingida e descobriu a "memória" vegetal utilizando seis alunos seus.

Um deles deveria destruir uma planta, tendo como testemunha outra planta. Colocados depois os seis alunos diante da planta testemunha, um de cada vez, ela reagiu prontamente diante do culpado.

Outro pesquisador, Marcel Vogel, funcionário da IBM, uma vez pediu a um psicólogo para projectar uma emoção forte a um filodendro que tinha em casa, e para sua admiração, depois do psicólogo o ter feito, a planta deixou de reagir cessando por completo as oscilações nos eléctrodos, o que se explicou mais tarde, pois o psicólogo tinha pensado noutro filodendro que tinha em casa, motivo porque este deixou de reagir, como que amuado, ficando nestas condições cerca de duas semanas.

Vogel convence-se de que as plantas têm aversão a certas pessoas, ou antes, ao que elas pensam.

O doutor Ken Hashimoto, formado em filosofia e engenheiro electrónico de Kamakura, Japão, aperfeiçoou um detector de mentiras porque pretendia conversar com as plantas. De início nada alcançou, mas a sua esposa, que amava as plantas, conseguiu resultados espectaculares com um cacto. John Francis Dougherty, amigo pessoal do casal, presenciou as experiências e relatou-as, afirmando que o casal ensinou o cacto a somar e a contar até vinte. Intimado a somar dois mais dois, a planta respondia em sons, que transcritos no gráfico, davam origem a quatro oscilações distintas e conjugadas.

Solicitado a explicar o fenómeno, o doutor Hashimoto - um dos autores mais vendidos no Japão, com a sua Introdução à Percepção Extra-sensorial, na 60ª tiragem, e O Mistério do Mundo da 4ª Dimensão, na 80ª - respondeu haver muitos fenómenos inexplicáveis. Ele acredita na existência de um mundo além do mundo tridimensional definido pela física, sendo este mundo de três dimensões apenas uma sombra do mundo imaterial de quatro dimensões.

Mais recentemente, em 1983, um comunicado da Fundação Nacional das Ciências (National Science Foundation) nos EUA, indica que segundo os professores Gordon Orians e David Rhoadas, ambos da Universidade do Estado de Washington, as árvores atacadas por insectos enviam "mensagens" de alarme àquelas que ainda não foram atingidas.

Estas "mensagens", nota a Fundação, consistem em emissões de feromonas, substâncias emitidas pelos animais em geral e que agem nos indivíduos da mesma espécie. Os professores Orians e Rhoadas fizeram incidir as suas pesquisas em certas espécies de salgueiros e verificaram que árvores atacadas por lagartas ou vermes "alertam" aquelas que as rodeiam, emitindo as feromonas. Após a recepção destas mensagens, as árvores intactas modificam a composição química das suas folhas, de maneira a torná-las menos comestíveis. Estas modificações químicas foram observadas na própria árvore, mas há ainda que as confirmar laboratorialmente.

 

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