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sexta-feira, 15 de março de 2019


COSMOS
Tentativa de definição

IDENTIFICAÇÃO E EVOLUÇÃO

Os minerais, as plantas e os animais de um mesmo grupo ou espécie, apresentam as mesmas características essenciais em qualquer parte do globo. É um facto.

Todos têm neles uma centelha do espírito universal - pensamento, essência - e quando conseguirem a identificação (certamente em estados muito mais avançados do que os actuais) pela evolução que sofrem, atingirão a realidade, a verdadeira realidade, com o conhecimento de tudo, independentemente das suas constituições psicofisiológicas.

Como é evidente, equacionamos o problema em termos restritos ao nosso Universo, que pretendemos desvendar, não significando com isto que se atingirá o conhecimento absoluto e inimaginável. Partimos do princípio de que a evolução será restrita a certos campos específicos, havendo sempre um princípio e um fim que se alternarão infinitamente.

O nosso universo local que o astrónomo Edu Dallart conseguiu alcançar e desenvolver o maior mapa 3D e catalogar mais de 43 000 galáxias.


 
Para o conhecimento do nosso Universo, seguir-se-ão etapas até à identificação com esse mesmo Universo, e certamente haverá novo princípio, com conceitos e formas diferentes, repetindo-se o processo de evolução também por formas diferentes. O Cosmos está em constante mobilidade, com formas criadas e por criar. A nossa preocupação é encontrar um fim lógico e racional para o Universo em que estamos integrados - dentro das formas criadas - seguindo a "ordem" instituída no Cosmos.

Essas formas por criar não precisam de ser a continuação das formas criadas, motivo porque nos referimos a um princípio e a um fim, seguido de novo princípio e fim, e assim sucessivamente. Dentro duma forma criada (Universos-subtância provenientes do espírito-essência) pretendemos conhecer o seu fim - a Identificação.

Podemos entender que o espírito universal (Deus) cria o Universo-substância, no qual as Almas e seus veículos vão evoluindo "naturalmente" (não conseguimos termos mais expressivos) recolhendo novos conhecimentos que valorizarão o espírito universal quando chegarem ao fim - a Identificação - que por sua vez criará outro Universo diferente (e de referências desconhecidas para nós) para reunir mais conhecimentos, pelo sistema evolutivo, o qual passa pela matéria como actualmente, e assim sucessivamente, numa repetição diferente, ou melhor, numa espiral infinita.

Portanto, quando nos referimos a conhecimento absoluto, não se deve entender como conhecimento total - e impossível - mas sim em relação ao Universo ou forma criada, de que fazemos parte, que teve um princípio e terá um fim. As outras formas que virão a seguir, na espiral, já se encontram fora da influência deste termo, que utilizamos com sentido restrito.

Debrucemo-nos apenas sobre o nosso Universo-substância a caminho da identificação.

O Homem, etapa final da evolução da Alma no mundo material por nós conhecido, identificar-se-á com o espírito universal quando acabar a sua evolução, talvez já num estado diferente do conceito de matéria conhecido, descobrindo então que ele, a essência, não existe como indivíduo-unidade, mas sim fazendo parte do todo vivente, estando a individualização apenas na substância.

Procuremos um exemplo simples para tentar explicar o que entendemos por identificação: Imaginemos o ser A na Europa e o ser B em África. Seres completamente distintos um do outro, individualizados, com características próprias, de meios diferentes e perspectivas universais também diferentes. Entretanto, no campo das hipóteses, o ser A consegue a identificação, o conhecimento absoluto, a identificação com o todo universal. Deste modo o ser A pode ser B sem deixar de ser A. É como o ligar e desligar duma telefonia, procurando uma ou outra estação emissora. Todas as emissoras estão no ar, mas nós escolhemos e ligamos aquela que nos interessa, numa operação extremamente simples, a de sintonizar o receptor.

A melodia não vai de um canal para o outro. Ela está em todos. O mesmo sucede com o ser A. Ele não se transporta para o B nem transporta o B para si. Apenas acontece que o espírito universal está em todos os seres e quando um destes se identifica com Ele, consegue trabalhar na mesma "frequência de onda", e passa consequentemente a poder "sentir" todos os outros seres. Neste caso o ser A pode sentir todas as formas da matéria - e não só - experimentar um mineral, uma planta, uma ave, sentir tudo o que o rodeia e tomar o conhecimento real e absoluto do Universo.

Parece complexo mas não é. É possível imaginar esta integração total.

O homem ao alcançar este estado tão elevado descobre que finalmente é parte do todo e quando odeia um semelhante está a odiar a si próprio.

Podemos simplificar ainda mais este exemplo:

O ser A pode sentir e, ao mesmo tempo, identificar-se com o polegar da sua mão direita, abstraindo-se do resto do corpo, e fazer o mesmo com qualquer outro órgão do seu corpo físico. Se quiser também pode identificar-se com todo o corpo simultaneamente. Tudo isto requer apenas a concentração nessas partes do organismo. É como que uma operação de telégrafo, ligando e desligando para a zona pretendida. Acontece o mesmo, numa escala mais perfeita, por exemplo, com as dançarinas hindus, que têm de controlar o movimento da cada dedo, independentemente um dos outros. Na dança dos templos da Índia, há pelo menos quatro mil mudras ou seja, posições de mãos. Assim, a dançarina identifica-se plenamente com o seu corpo, controlando o mais ínfimo gesto, para uma interpretação e execução correctas da dança.

Tentemos agora aliar estes dois exemplos:

Comparemos o corpo humano com o Universo - não somos os primeiros a fazer tal comparação, pois já foi afirmado por mais de uma vez que o corpo humano é um Universo em miniatura - e os diversos componentes do corpo com as variadas formas da matéria. Neste caso o ser A, que conseguiu a identificação, será comparado ao corpo humano, o ser B como não conseguiu a identificação terá um campo de actuação restrito e especializado - poderemos dizer - será comparado ao polegar da mão esquerda do mesmo corpo, uma ave será o nariz, um peixe o braço esquerdo, um diamante o pé direito, uma acácia a orelha direita...etc.

O ser A, neste caso, pode sentir a mão, o nariz, o dedo, a orelha, ou tudo simultaneamente, e, pela comparação feita anteriormente, poderá "sentir" o ser B, o diamante, a acácia, a ave e o peixe. Está será a identificação consciente, em que um ser pode comparticipar dos outros como um todo.

Além destas "operações" instantâneas e sequentes, que também podem ser simultâneas, há certamente aquelas que fogem à acção directa e consciente do ser, mas que não deixam de ser exactas. O corpo realiza vários actos intencionais sem o nosso conhecimento. O equilíbrio infinito da química sanguínea, mantendo cada substância numa concentração especial, envolve actividades intermitentes do fígado, rins, tubo digestivo, glândulas endócrinas e muitos outros órgãos. A pressão sanguínea é igualmente equilibrada pelo constante jogo de sinais através do sistema nervoso. Muitas das mensagens sensoriais procedentes dos pulmões quando se dilatam dirigem-se regularmente para a medula onde, de maneira desconhecida para os sábios, em certos momentos de inspiração são emitidas ordens contrárias para que a expiração comece a ser executada. No estômago, como é sabido, o suco gástrico actua sobre os alimentos para colaborar na sua assimilação. O que muitos não sabem é que há diversas espécies de sucos gástricos, sendo cada um deles apropriado a cada classe de alimentos. As investigações de Pavlov demonstraram, além de toda a dúvida, que existe uma classe de suco para a digestão da carne, outra para o leite, para as frutas ácidas, etc.

Motivo porque nem todas as misturas de alimento caem bem.

Algo, inconscientemente, selecciona os diferentes sucos, cada qual apropriado a um ou diversos alimentos que se introduzem no estômago, e dotados da quantidade de energia necessária à digestão. Porém, o mais interessante, e incompreensível, é que o suco gástrico filtra-se no estômago antes do alimento ali chegar. Quando se descobriu a selecção dos sucos gástricos, os cientistas ficaram embaraçados para compreenderem ou explicarem como era seleccionado o suco necessário, e como este se filtrava no estômago antes do alimento. Pensaram a princípio que o impulso era dado através do sistema nervoso mas, depois demonstrou-se, afastando toda a dúvida, que o suco apropriado se filtrava no estômago ainda que o sistema nervoso estivesse inibido.

Estas actividades do corpo - a digestão e outros metabolismos, respiração, circulação do sangue, pestanejar, regulação da temperatura e muitos outros - são actos absolutamente exactos sem o conhecimento consciente do ser vivo, excepto, talvez, quando há um desequilíbrio provocado por algum agente exterior.

Fazendo uma comparação com o corpo humano, aceitamos que o mesmo aconteça com o Universo. É estranho, mas verificável, que tudo o que nos rodeia é à escala do ser humano, motivo porque entramos num campo de comparações. O ser humano é um Universo em miniatura e tudo o que ele cria também é uma cópia dele mesmo. Todos os objectos que nos rodeiam, ou quase todos, apresentam características que após analisadas nos fazem confrontar com os diversos órgãos e procedimentos humanos. Os pés duma cadeira, a locomoção de um veículo, o funcionamento dum motor, os braços de um guindaste, o cérebro de uma máquina.

O espírito universal - pensamento, essência ou Deus para muitos - orienta e rege as operações do Universo do mesmo modo que a dualidade num só (centelha do espírito universal e espírito-essência) as orienta nos seres a caminho da individualização e posterior identificação. Umas conscientes e portanto directas e oportunas, outras inconscientes, ou seja, já com uma orientação inicial padronizada imposta quando da criação da matéria - veículo material - e que se mantêm relativamente inalteráveis e exactas, mas elásticas, pois o evoluir da vida material e consequente especialização desta acaba por obrigar certas determinativas iniciais a acompanhá-la. O mesmo sucede com os grandes computadores de hoje que, além da programação inicial, têm capacidade para formarem novos programas apoiados nos já existentes, sem ser necessária a intervenção directa do seu manipulador e criador - o homem. Quer isto dizer que estão implícitas na orientação inicial, ou programação, certas soluções alternativas e desvios padrões possíveis.

O preciso é não provocar um desequilíbrio para não haver um colapso. No caso do corpo humano, sabemos que o acto da respiração requer certas condições que não foram escolhidas por nós, mas sim já inatas no ser, e ao pretendermos modificar essas condições naturais percebemos a sua impossibilidade e o perigo de um colapso e destruição do ser vivo.

Verificar-se-á o mesmo no Universo se insistirmos em mudar as condições existentes e propícias desde o início. Há factos que terão de ser superiormente dirigidos, como a actuação dos músculos voluntários, o pensamento e faculdade de raciocínio, ou mesmo interferir parcialmente nos actos inconscientes como seja reter a respiração - acção sobre os músculos voluntários do tórax - por certo período, mas com um limite, deixando o resto agir por si próprios porque foram concebidos para isso. Os acontecimentos de maior transcendência e que realmente têm interesse para a evolução dum ser ocorrem automaticamente porque esse rumo já vem implícito no próprio desenrolar histórico das formas materiais - como, por exemplo, as lutas de classes que numa próxima etapa, e por determinismo histórico, levam a humanidade seguramente para uma vida em comunidade - sendo o mal do homem tentar impor-se para além do seu mister, num recondicionamento superficial para o bom andamento do mundo, precipitando e provocando a desordem.

Quando numa máquina artificial acrescentamos certos acessórios para impedir o desvio, ou mau rendimento, de alguma operação que essa máquina tem a executar, ou para lubrificar uma zona específica para melhor decorrer o trabalho, não queremos dizer com isto que esses acessórios é que passarão de futuro a controlar e guiar a máquina. Eles estão lá apenas para acertar e recondicionar certas operações que foram definidas quando da criação da máquina. Ora, se a esses acessórios se dá mais importância que é devido e chegar ao ponto de permitir que eles conduzam a máquina, fugindo ao fim para que foi concebida, surgirá o caos, e talvez sua destruição.

Olhemos para um automóvel com milhares de peças, umas mais complicadas do que outras, mas fazendo todas parte de um complexo, onde terão de trabalhar em conjunto. Uns dizem que a alma do automóvel é o distribuidor, outros o carburador, outros ainda que é o motor em si ou até mesmo o combustível. A verdade é que todas as peças e acessórios fazem falta, pois têm missões especializadas, e se só dermos atenção ao distribuidor ou ao carburador não ligando às restantes, como a uma simples braçadeira da barra da direcção, ou um parafuso de fixação duma roda, por exemplo, é suficiente para provocar um acidente mecânico e destruir o automóvel.

O Universo pode ser comparado a uma máquina, onde todos os componentes são imprescindíveis (uns mais do que outros?) e o ser humano não pode ter a pretensão de ser o escolhido para guiar esse Universo. E podemos afirmar até, que dentro desse Universo se encontrem seres ou formas, ou acessórios, ou parasitas, menos importantes e lá estejam a ser tolerados até ao momento em que se tornem incómodos e prejudiquem o bom andamento da "máquina".  Então são pura e simplesmente sacudidos.

Para maior compreensão faremos o seguinte raciocínio: À escala do Cosmos a Terra é um grão de areia, segundo a imagem tradicional. Coloquemos agora esse grão de areia na jante de uma roda em movimento. É necessária uma grande dose de ambição aos pensantes que vivem nesse grão de areia para pretenderem determinar, partindo da experiência feita na beira da jante, que neste caso é a Galáxia onde o grão está inserido, em que tipo de viatura essa jante está montada, qual o motor que anima a viatura e, no caso de existir um condutor, para onde conduzirá o conjunto. Se este grão de poeira se introduzir dentro duma engrenagem da roda, como a válvula de ar por exemplo, e se tornar incomodativo, é seguramente destruído.

Que pretensão seria, dizemos nós, e que loucura, esse grãozinho, ou seres pensantes que o habitassem, julgarem-se imprescindíveis e os escolhidos para conduzirem o veículo, que nem sabem como é, qual o seu formato, as suas características e potência, quem o conduz e para onde vai.

Por este exemplo verificamos que o automóvel, ou seja a "máquina-universo" - que também está contido noutro universo, a Terra, que por sua vez está contida noutro maior, a galáxia, e assim sucessivamente - por analogia, não é uma entidade única, mas sim um conjunto coeso em que as peças e acessórios é que formam o automóvel. Sem rodas, já não é um automóvel, porque uma das características dum automóvel é ter quatro rodas, e uma acessória. Sem motor muito menos. Todas as peças são imprescindíveis e no seu conjunto é que formam o automóvel.

Podemos pensar num Universo análogo, resultado de um complexo de formas, todas elas necessárias, e que no seu conjunto são o Universo. Como num automóvel, todas as peças são necessárias, porque se não fossem não estariam lá. Um automóvel mutilado arrasta-se com esforço, com riscos e sem energia. Sem utilidade prática vai mais depressa para a sucata. Cada peça tem uma missão especializada e não devemos subestimar a sua falta, porque uns males provocam outros males.

É precisamente isso que se deve evitar no Cosmos cheio de harmonia. Deve evitar-se o desequilíbrio e a mutilação que só provocariam o caos e a destruição. Um Universo - Cosmos - é uma entidade única, pela sua formação de conjunto. Se esse complexo falha e se permitem amputações, os conceitos "universo" ou "cosmos" não terão razão de existirem.

Sabemos que algo para ser formado precisa de um tempo determinado - com um desvio padrão, é claro, tanto para mais como para menos, e se pretendermos precipitar esse desvio acabamos por criar um monstro. O Universo tem o seu tempo de evolução, condicionado pelas suas inúmeras formas, certamente. Não podemos contrariar a lógica e se o forçarmos advém o desequilíbrio prejudicial.

Quando um vírus se introduz no corpo de um indivíduo, ele não o nota, mas o organismo forma imediatamente a defesa conveniente atacando, para manter o equilíbrio e expulsar o invasor, sem o indivíduo se aperceber do facto conscientemente. A acção dos agentes anticorpos que enfrentam o vírus passa despercebida, mas quando a luta é demasiado forte para essas defesas criadas, o hospedeiro é avisado pela dor ou pelo aumento da temperatura corporal e tratará de agir, então, conscientemente, para a sua defesa eficaz, ministrando antibióticos ou outro tratamento adequado.

O espírito universal, por intermédio da sua centelha - o espírito-essência - que programou o espírito-substância, superintende tudo, neste caso o organismo, sem o conhecimento do ser, com a sua Alma formada nas diversas fases de evolução retendo as várias formas de conhecimento adquirido. Os pequenos pormenores que só interessam à matéria e sua sobrevivência estão fora do âmbito directo do espírito-essência, sendo resolvidos conforme a capacidade desenvolvida pela Alma durante o processo evolutivo.

A sua intervenção - do espírito universal - em casos de "doença", ou na tentativa de corrigir algum desvio, está implícita na sua centelha que originou a Alma respectiva, havendo forçosamente uma actuação quase directa, quando o desvio evolutivo for demasiado evidente.

Continuando a fazer paralelismo, um computador moderno programado para determinado fim, tem a faculdade de poder traçar outros programas de alternativa, cuja essência não difere do original e baseado nele, e se isso não for possível e corra para um desvio que não interesse ao programador, o qual não se apercebe dos pormenores das operações, possui um mecanismo que actuará para o deter, e se preciso for com a autodestruição. Só depois de parado ou destruído é que o programador sabe que algo correu mal e então tentará começar tudo de novo. Torna a programá-lo e aguardará a resposta.

A verdade é que, à semelhança do computador, houve espécies que se desviaram e autodestruíram. Por mecanismos internos, desconhecidos, suicidaram-se, desaparecendo pura e simplesmente da face do globo.

Essa intervenção, programada, cria no ser humano - único que tem  consciência de si - uma situação de insegurança por não saber ao certo o que se passa, tendo apenas a certeza de que algo no seu inconsciente rege todas as suas acções. A Alma, elevada na matéria, tem como campo de acção directo o seu consciente, não citando o subconsciente que consideramos uma zona fronteiriça e mal definida, ficando, no entanto, no inconsciente - ou nas profundezas da Alma, produto indirecto do espírito-essência - aquelas determinativas iniciais, a tal "intuição" desconhecida, que apesar de desconhecida sabemos existir. O corpo físico, nos seus processos mentais, recorre constantemente ao consciente - dominado directamente pela Alma - com actuação mal definida do subconsciente, sabendo sempre que no inconsciente - dominado pelo espírito-essência - existe algo, uma força enorme e desconhecida, que o move e domina muitas vezes, e que procura alcançar e despertar.

Em suma: o espírito universal, pelas suas centelhas - espírito-essência - introduziu mecanismos de regulação que serão accionados quando factos, na sua transcendência, possam influenciar e fazer perigar o equilíbrio e harmonia naturais do Universo. Se isso suceder - e já aconteceu certamente, no Universo tão vasto - podemos aceitar como uma intervenção directa do espírito universal. O resto, pormenores que interessam apenas à vida física, encontra-se sujeito às leis básicas da evolução, também programadas de início, elásticas e moldáveis ao processo de evolução material.

O homem, apesar de todo o progresso tecnológico, continua a ser um simples fenómeno biológico que segue a sua evolução, como todos os seres também seguem. Apesar de todas as suas ideias e preconceitos, vaidade e egoísmo, está sujeito a esta evolução natural, com as suas leis rigorosas, que tenta esquecer e ultrapassar, considerando-se intocável e escolhido como ser dominante acima de qualquer regulação biológica - mecanismos introduzidos pelo espírito universal - não atendendo ao facto de que houveram muitas espécies formidáveis que se extinguiram no passado, não podendo considerar-nos excepção.

Como salientamos no capítulo reservado ao ser humano, é preciso não esquecer que ele, como o resto da natureza, está submetido a uma grande lei biológica que é a "lei do equilíbrio" e na qual está, talvez, uma grande parte do segredo da evolução. A natureza constitui, em cada momento da sua história, um conjunto harmonioso onde todas as partes coexistem num estado de mútuo equilíbrio, e quando, por uma causa qualquer, esse equilíbrio venha a ser rompido, produz, fatalmente, depois de um período mais ou menos longo de profunda perturbação, um reajustamento geral ordinariamente fatal à causa perturbadora.

Se repararmos em tudo o que nos rodeia e estudarmos a evolução das espécies, verificamos as diversas fases que atravessaram e adaptações aos novos meios e modos de vida. O ser vivo tem necessidade, por influências exteriores - mudanças drásticas do clima e outros factores - de se adaptar para sobreviver. E a prova está na extinção de espécies que não conseguiram essa adaptação. Para isso, a "morte" por nós conhecida, e podemos entender como o abandono do invólucro material, faz parte dos planos da "vida" pois a evolução vai favorecer os seres que morrem, desde que a morte sobrevenha, tal como a matéria se converte em energia e a energia em matéria.

Deste modo, para além da fase de reprodução, a espécie pode modificar-se pela selecção natural e criar condições favoráveis à sobrevivência, pela adaptação constante ao meio. Os seres que vivessem para sempre, conseguindo a imortalidade tão desejada pelos homens sem atenderem às desvantagens, tornar-se-iam, lentamente, obsoletos. Como disse sir George Kickring: "o homem deve à morte tudo o que representa um aperfeiçoamento do macaco. Cada nova espécie, melhor ou pior do que a anterior, só pode começar com uma nova vida".

Com a evolução, após centenas e centenas de "vidas" e "mortes", atingimos aquele ponto que para além de uma adaptação biológica, ou melhoramento físico, talvez seja necessário também uma adaptação, ou melhoramento, mental para a sobrevivência nas condições do mundo actual, tecnicamente evoluído. O índice de nevróticos é cada vez maior, e o desajustamento atinge proporções catastróficas, sendo logicamente presumível o aparecimento de um ser diferente que esteja adaptado a estas novas condições, e assegure a sobrevivência da espécie humana. Terá a aparência humana porque só da espécie humana poderá surgir esse ser superior, com diferenças perceptíveis, tanto física como mentalmente, claro. O meio influencia a evolução biológica e também a evolução do intelecto, do espírito, da Alma, que se encontram intimamente correlacionados, podendo afirmarmos até que a psique é um efeito directo da evolução biológica, sendo, por sua vez, ambos produto do ambiente.

Um grande cientista francês perguntou uma vez se haveriam operações que ultrapassassem a capacidade do cérebro humano tal como o conhecemos... Podemos igualmente perguntar se a mente ampliada não levará o homem a transpor determinado limite jamais cruzado? Não podemos esquecer o perigo da inteligência artificial!

Quando o cérebro se tornou suficientemente desenvolvido e complexo para permitir a faculdade de falar, o homem separou-se dos animais. Por dedução, concluiremos então que a espécie humana com uma mente ou Alma mais evoluída, e portanto com um cérebro melhor, poderá certamente dispor de uma capacidade tal, tão avançada, que constituirá uma nova espécie - até uma nova ordem - totalmente diferente da actual. Agora é preciso saber que nova espécie será essa: se mais evoluída e dinâmica, se mais retrógrada e apática totalmente dominada pelas tecnologias ao ponto de depender completamente delas e, em último caso, ultrapassada pela robótica inteligente (inteligência artificial)

Na constante procura do conhecimento, o homem tece considerações sobre a evolução da humanidade, biológica e intelectual, caindo sempre no imprevisível originado pela constante mobilidade do Universo e tudo nele contido.

Quanto ao comportamento do homem, por exemplo, classificam-no em x categorias de humores distintas, que muitos estudiosos aprendem e aplicam como válidas em quaisquer circunstâncias, sem ter em conta que essa classificação foi feita numa dada época, com dados costumes e ritmo de vida. Hoje, com o superindustrialismo, já há homens que vivem num ritmo totalmente diferente e cujo comportamento e maneira de ser é influenciado por esse fenómeno social, o que torna a classificação tradicional, dos humores, ultrapassada.

O universo está em constante mobilidade, como atrás dissemos, e nós nele contidos também estamos em constante mobilidade. Todo o ser - vivente ou não vivente - segue um ritmo cada vez mais rápido, e certamente as formas de conhecimento - e físicas muito principalmente - também continuarão a transformar-se, numa adaptação às características do meio.

O corpo humano evolui - o físico e o mental - acompanhando a evolução de tudo o que o rodeia, adaptando-se às novas condições naturais e às condições anormais criadas pelo próprio homem.

Se analisarmos bem todos os seres existentes na Terra, desde as últimas partículas através dos átomos, moléculas e células, até ao homem - que as inclui todas - verificamos uma escala bem graduada ou hierarquia dos seres unitários, e, incomensuravelmente acima do homem, o todo vivente - entrando já no campo maravilhoso e cheio de vida das estrelas, galáxias e universos, sempre em expansão.

Há uma falha cósmica, sem dúvida alguma.

Se o vasto intervalo entre o ser humano e as partículas mais minúsculas é preenchido por uma série de crescentes partes sub-humanas, certamente o princípio da continuidade da natureza sugere que igualmente o vasto intervalo, entre o ser humano e a totalidade, deve ser preenchido por séries de crescentes formas sobre-humanas. E como o homem só se apercebe dos factos à sua escala - na hierarquia cósmica - não vê essa evidência porque é difícil encontrar o que não se conhece nem se sabe como é. Até agora o homem preocupa-se quase exclusivamente com os aspectos básicos do seu processo de sobrevivência - biológica, política, tecnológica, social.

É como uma sociedade de vermes ou larvas que está incapacitada ou psicologicamente inibida para reconhecer na borboleta uma versão posterior de si mesma, podendo nós então, por analogia, pensarmos que o homem se encontra nas mesmas condições de inibição, ou incapacidade, e que essa falha na ordem natural não está vazia. Essa falha aparente pode ser consequência duma falta de visão e não de um defeito do Universo.

Abramos um parêntesis, para melhor compreensão: o primeiro ensinamento da Tábua de Esmeraldas (pelo Trismegisto, que pode considerar-se como o nome colectivo da Universidade do Egipto) é a analogia dos contrários. O cimo e o fundo, o lá de cima e o lá de baixo, que possuem um elemento comum, cujo carácter fica determinado pela continuação do texto hermético. O segundo ensinamento é o retorno à unidade destes contrários, ou a síntese unindo em si todas as antíteses inferiores, e é este o princípio da Lei universal de Hoene Wronski.

Devemos estudar a natureza através da constituição do ser humano, e não o ser humano através da natureza. Realmente, segundo a analogia e a sua lei fundamental, o ser humano, a Natureza e Deus (espírito universal) são análogos - mas não similares - e os princípios de um reencontram-se analogicamente no outro, o que levou a dizer que o Homem era um pequeno mundo - microcosmos - e a natureza um grande mundo - macrocosmos - ou um homem em grande e que ambos reproduziam a lei da constituição divina "Deus fez o homem à Sua imagem".

Eis a analogia formulada na Bíblia, e eis o ponto de partida de todas as analogias entre o Criador e a criatura, sem que nunca se possa confundir um com o outro. Podemos deste modo, e com um exemplo simples, fazermos uma comparação que, por analogia, nos faz compreender melhor a nossa ideia. Assim, o óleo e a água são impossíveis de se misturarem intimamente. Mas basta um pouco de carbonato de sódio para transformar estes dois contrários num sabão perfeitamente homogéneo. Ora, a Alma (semimaterial) faz o mesmo papel entre o corpo físico (matéria) e o espírito (essência), como podemos representar com o seguinte esquema:

água      
 
+     carbonato de sódio
 
+    óleo
=     sabão
 Corpo físico 
+  Alma
 
+   Espírito
=     Homem indivíduo, ser vivo

Logicamente também, e por analogia, podemos imaginar uma criatura que ultrapasse o homem, como este ultrapassa uma célula, e indagar como tal criatura diferiria de nós para viver.

Aparentemente existem limites para o tamanho de um organismo. Se este é muito grande não pode sobreviver nas condições permitidas no planeta e imaginemos, então, esse ser a destacar-se do corpo primitivo para tornar-se um corpo celeste. Nestas novas condições não só podia ser muito volumoso como precisava sê-lo, na imensidão inimaginável do espaço aberto, em que precisa de criar condições propícias à sobrevivência.

Reparemos que estamos a imaginar dentro dos nossos conceitos de vida possível e meios de sobrevivência, podendo também admitirmos outras hipóteses diferentes da nossa realidade. Então, esse gigante precisaria de criar condições de vida com a aproximação de outro corpo celeste, neste caso uma estrela, para lhe dar energia e formar a sua defesa para os excessos, como sejam criar uma atmosfera, água, canais de irrigação, florestas.

É absurdo, pensarão alguns.

Mas voltemos ao ser humano.

Para que quer ele o cabelo, as mãos, o sangue, o suor? Não será para regularizar as manifestações de vida e protecção do corpo? Porque não podemos então imaginar o mesmo corpo celeste, neste caso um planeta, que também precisará deles para sobreviver?

Os cabelos têm vida, pois crescem, caem, morrem, adoecem, perdem a cor e o brilho e mudam, assim como as árvores apresentam os mesmos sintomas à escala de um planeta. Para a conservação e alimentação do corpo, corre o sangue nas veias e artérias transportando o necessário. As águas de um rio, e as correntes marinhas, têm as mesmas funções num planeta. Onde falta água há desolação e morte. Onde falte o sangue também há desolação e morte. Se os rios em proporção ao planeta são como as veiazinhas superficiais do corpo, o que diremos das gigantescas e misteriosas correntes que cruzam os mares - algumas com larguras até mil quilómetros - e que poderemos chamar grandes "rios" da Terra?

Essas correntes circulam entre as águas do mar como num leito, independentes e com características próprias, não se sabendo como se originaram e qual a "força" que as impele. Uma delas tem um fluxo mil vezes superior ao do Amazonas nas cheias, e a energia que desloca em comparação é como uma bomba H em relação a um fogo-de-artifício dos festejos de carnaval.

Na verdade são o sistema circulatório da Terra, tão vitais como a rede vascular do ser humano. Como arados monstruosos, revolvem os mares desvendando nutrientes ricos em minerais para a vegetação marinha, a qual está na base da alimentação dos peixes, influenciando também enormemente a distribuição da vida sobre o globo e o clima.

Como o ser humano, que precisa da corrente sanguínea para equilibrar as variações superficiais da temperatura, a Terra sem estas correntes estaria condenada. Seria um desastre, pois calcula-se que um acréscimo de 1% nas radiações solares são o suficiente para elevar a temperatura do ar uns quinze graus centígrados, e se não houvesse esta acção moderadora a temperatura, correndo riscos de aumentar apenas um grau e pouco, seria suficiente para torrar a vida sobre o globo. O que evita esta catástrofe é o efeito moderador das correntes oceânicas.

Enfim, se ampliarmos as criaturas que conhecemos, ajustando o seu físico e comportamento ao tamanho, teremos criaturas conhecidas por planetas e estrelas, talvez. Notando a diferença entre estrelas e planetas, podemos imaginar que o planeta se assemelha a formas de vida conhecidas por nós.

E as estrelas? Não se assemelharão a uma forma de vida mais evoluída do que a conhecida, e não estarão a ocupar o tal intervalo aparente, vazio, entre o homem e a totalidade? A maioria das estrelas que brilham no céu - senão todas - podem ser "uma coisa viva" - nascem, crescem, morrem, têm uma finalidade - um habitante próprio do espaço cósmico.

A escala das criaturas não termina necessariamente no homem. Já Platão, na antiguidade, postulara: “existem quatro espécies de seres. Os do ar, as aves; os da água, os peixes; os da terra, os pedestres; os dos céus, os astros, cujo elemento é o fogo”.

Teria Platão razões obscuras para fazer esta afirmação?

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