COSMOS
Tentativa de definição
IDENTIFICAÇÃO E EVOLUÇÃO
Os minerais, as plantas e os animais
de um mesmo grupo ou espécie, apresentam as mesmas características essenciais
em qualquer parte do globo. É um facto.
Todos têm neles uma centelha do
espírito universal - pensamento, essência - e quando conseguirem a
identificação (certamente em estados
muito mais avançados do que os actuais) pela evolução que sofrem, atingirão
a realidade, a verdadeira realidade, com o conhecimento de tudo,
independentemente das suas constituições psicofisiológicas.
Como é evidente, equacionamos o
problema em termos restritos ao nosso Universo, que pretendemos desvendar, não
significando com isto que se atingirá o conhecimento absoluto e inimaginável.
Partimos do princípio de que a evolução será restrita a certos campos específicos,
havendo sempre um princípio e um fim que se alternarão infinitamente.
O nosso universo local
que o astrónomo Edu Dallart conseguiu alcançar e desenvolver o maior mapa 3D e catalogar
mais de 43 000 galáxias.
Para o conhecimento do nosso Universo,
seguir-se-ão etapas até à identificação com esse mesmo Universo, e certamente
haverá novo princípio, com conceitos e formas diferentes, repetindo-se o
processo de evolução também por formas diferentes. O Cosmos está em constante
mobilidade, com formas criadas e por criar. A nossa preocupação é encontrar um fim lógico e racional para o
Universo em que estamos integrados - dentro das formas criadas - seguindo a
"ordem" instituída no Cosmos.
Essas formas por criar não precisam de
ser a continuação das formas criadas, motivo porque nos referimos a um princípio
e a um fim, seguido de novo princípio e fim, e assim sucessivamente. Dentro
duma forma criada (Universos-subtância
provenientes do espírito-essência) pretendemos conhecer o seu fim - a Identificação.
Podemos entender que o espírito
universal (Deus) cria o Universo-substância, no qual as Almas e seus veículos
vão evoluindo "naturalmente" (não
conseguimos termos mais expressivos) recolhendo novos conhecimentos que
valorizarão o espírito universal quando chegarem ao fim - a Identificação - que
por sua vez criará outro Universo diferente (e de referências desconhecidas para nós) para reunir mais
conhecimentos, pelo sistema evolutivo, o qual passa pela matéria como
actualmente, e assim sucessivamente, numa repetição diferente, ou melhor, numa
espiral infinita.
Portanto, quando nos referimos a
conhecimento absoluto, não se deve entender como conhecimento total - e
impossível - mas sim em relação ao Universo ou forma criada, de que fazemos
parte, que teve um princípio e terá um fim. As outras formas que virão a
seguir, na espiral, já se encontram fora da influência deste termo, que
utilizamos com sentido restrito.
Debrucemo-nos apenas sobre o nosso
Universo-substância a caminho da identificação.
O Homem, etapa final da evolução da
Alma no mundo material por nós conhecido,
identificar-se-á com o espírito universal quando acabar a sua evolução, talvez
já num estado diferente do conceito de matéria conhecido, descobrindo então que
ele, a essência, não existe como indivíduo-unidade, mas sim fazendo parte do
todo vivente, estando a individualização apenas na substância.
Procuremos um exemplo simples para
tentar explicar o que entendemos por identificação: Imaginemos o ser A na
Europa e o ser B em África. Seres completamente distintos um do outro,
individualizados, com características próprias, de meios diferentes e
perspectivas universais também diferentes. Entretanto, no campo das hipóteses,
o ser A consegue a identificação, o conhecimento absoluto, a identificação com
o todo universal. Deste modo o ser A pode ser B sem deixar de ser A. É como o
ligar e desligar duma telefonia, procurando uma ou outra estação emissora.
Todas as emissoras estão no ar, mas nós escolhemos e ligamos aquela que nos
interessa, numa operação extremamente simples, a de sintonizar o receptor.
A melodia não vai de um canal para o
outro. Ela está em todos. O mesmo sucede com o ser A. Ele não se transporta
para o B nem transporta o B para si. Apenas acontece que o espírito universal
está em todos os seres e quando um destes se identifica com Ele, consegue
trabalhar na mesma "frequência de onda", e passa consequentemente a
poder "sentir" todos os outros seres. Neste caso o ser A pode sentir
todas as formas da matéria - e não só - experimentar um mineral, uma planta,
uma ave, sentir tudo o que o rodeia e tomar o conhecimento real e absoluto do
Universo.
Parece complexo mas não é. É possível
imaginar esta integração total.
O homem ao alcançar este estado tão
elevado descobre que finalmente é parte do todo e quando odeia um semelhante
está a odiar a si próprio.
Podemos simplificar ainda mais este
exemplo:
O ser A pode sentir e, ao mesmo tempo,
identificar-se com o polegar da sua mão direita, abstraindo-se do resto do
corpo, e fazer o mesmo com qualquer outro órgão do seu corpo físico. Se quiser também
pode identificar-se com todo o corpo simultaneamente. Tudo isto requer apenas a
concentração nessas partes do organismo. É como que uma operação de telégrafo,
ligando e desligando para a zona pretendida. Acontece o mesmo, numa escala mais
perfeita, por exemplo, com as dançarinas hindus, que têm de controlar o
movimento da cada dedo, independentemente um dos outros. Na dança dos templos
da Índia, há pelo menos quatro mil mudras
ou seja, posições de mãos. Assim, a dançarina identifica-se plenamente com
o seu corpo, controlando o mais ínfimo gesto, para uma interpretação e execução
correctas da dança.
Tentemos agora aliar estes dois
exemplos:
Comparemos o corpo humano com o
Universo - não somos os primeiros a fazer tal comparação, pois já foi afirmado por
mais de uma vez que o corpo humano é um Universo em miniatura - e os diversos
componentes do corpo com as variadas formas da matéria. Neste caso o ser A, que
conseguiu a identificação, será comparado ao corpo humano, o ser B como não
conseguiu a identificação terá um campo de actuação restrito e especializado -
poderemos dizer - será comparado ao polegar da mão esquerda do mesmo corpo, uma
ave será o nariz, um peixe o braço esquerdo, um diamante o pé direito, uma
acácia a orelha direita...etc.
O ser A, neste caso, pode sentir a
mão, o nariz, o dedo, a orelha, ou tudo simultaneamente, e, pela comparação
feita anteriormente, poderá "sentir" o ser B, o diamante, a acácia, a
ave e o peixe. Está será a identificação consciente, em que um ser pode
comparticipar dos outros como um todo.
Além destas "operações"
instantâneas e sequentes, que também podem ser simultâneas, há certamente
aquelas que fogem à acção directa e consciente do ser, mas que não deixam de
ser exactas. O corpo realiza vários actos intencionais sem o nosso
conhecimento. O equilíbrio infinito da química sanguínea, mantendo cada
substância numa concentração especial, envolve actividades intermitentes do
fígado, rins, tubo digestivo, glândulas endócrinas e muitos outros órgãos. A
pressão sanguínea é igualmente equilibrada pelo constante jogo de sinais
através do sistema nervoso. Muitas das mensagens sensoriais procedentes dos
pulmões quando se dilatam dirigem-se regularmente para a medula onde, de
maneira desconhecida para os sábios, em certos momentos de inspiração são
emitidas ordens contrárias para que a expiração comece a ser executada. No
estômago, como é sabido, o suco gástrico actua sobre os alimentos para
colaborar na sua assimilação. O que muitos não sabem é que há diversas espécies
de sucos gástricos, sendo cada um deles apropriado a cada classe de alimentos.
As investigações de Pavlov demonstraram, além de toda a dúvida, que existe uma
classe de suco para a digestão da carne, outra para o leite, para as frutas
ácidas, etc.
Motivo porque nem todas as misturas de
alimento caem bem.
Algo, inconscientemente, selecciona os
diferentes sucos, cada qual apropriado a um ou diversos alimentos que se
introduzem no estômago, e dotados da quantidade de energia necessária à
digestão. Porém, o mais interessante, e incompreensível, é que o suco gástrico
filtra-se no estômago antes do alimento ali chegar. Quando
se descobriu a selecção dos sucos gástricos, os cientistas ficaram embaraçados
para compreenderem ou explicarem como era seleccionado o suco necessário, e
como este se filtrava no estômago antes do alimento. Pensaram a princípio que o
impulso era dado através do sistema nervoso mas, depois demonstrou-se,
afastando toda a dúvida, que o suco apropriado se filtrava no estômago ainda
que o sistema nervoso estivesse inibido.
Estas actividades do corpo - a
digestão e outros metabolismos, respiração, circulação do sangue, pestanejar,
regulação da temperatura e muitos outros - são actos absolutamente exactos sem
o conhecimento consciente do ser vivo, excepto, talvez, quando há um
desequilíbrio provocado por algum agente exterior.
Fazendo uma comparação com o corpo
humano, aceitamos que o mesmo aconteça com o Universo. É estranho, mas
verificável, que tudo o que nos rodeia é à escala do ser humano, motivo porque
entramos num campo de comparações. O ser humano é um Universo em miniatura e
tudo o que ele cria também é uma cópia dele mesmo. Todos os objectos que nos
rodeiam, ou quase todos, apresentam características que após analisadas nos
fazem confrontar com os diversos órgãos e procedimentos humanos. Os pés duma
cadeira, a locomoção de um veículo, o funcionamento dum motor, os braços de um
guindaste, o cérebro de uma máquina.
O espírito universal - pensamento,
essência ou Deus para muitos - orienta e rege as operações do Universo do mesmo
modo que a dualidade num só (centelha do
espírito universal e espírito-essência) as orienta nos seres a caminho da
individualização e posterior identificação. Umas conscientes e portanto
directas e oportunas, outras inconscientes, ou seja, já com uma orientação
inicial padronizada imposta quando da criação da matéria - veículo material - e
que se mantêm relativamente inalteráveis e exactas, mas elásticas, pois o
evoluir da vida material e consequente especialização desta acaba por obrigar
certas determinativas iniciais a acompanhá-la. O mesmo sucede com os grandes
computadores de hoje que, além da programação inicial, têm capacidade para
formarem novos programas apoiados nos já existentes, sem ser necessária a
intervenção directa do seu manipulador e criador - o homem. Quer isto dizer que
estão implícitas na orientação inicial, ou programação, certas soluções
alternativas e desvios padrões possíveis.
O preciso é não provocar um desequilíbrio
para não haver um colapso. No caso do corpo humano, sabemos que o acto da
respiração requer certas condições que não foram escolhidas por nós, mas sim já
inatas no ser, e ao pretendermos modificar essas condições naturais percebemos
a sua impossibilidade e o perigo de um colapso e destruição do ser vivo.
Verificar-se-á o mesmo no Universo se
insistirmos em mudar as condições existentes e propícias desde o início. Há
factos que terão de ser superiormente dirigidos, como a actuação dos músculos
voluntários, o pensamento e faculdade de raciocínio, ou mesmo interferir
parcialmente nos actos inconscientes como seja reter a respiração - acção sobre
os músculos voluntários do tórax - por certo período, mas com um limite,
deixando o resto agir por si próprios porque foram concebidos para isso. Os
acontecimentos de maior transcendência e que realmente têm interesse para a
evolução dum ser ocorrem automaticamente porque esse rumo já vem implícito no
próprio desenrolar histórico das formas materiais - como, por exemplo, as lutas
de classes que numa próxima etapa, e por determinismo histórico, levam a
humanidade seguramente para uma vida em comunidade - sendo o mal do homem
tentar impor-se para além do seu mister, num recondicionamento superficial para
o bom andamento do mundo, precipitando e provocando a desordem.
Quando numa máquina artificial
acrescentamos certos acessórios para impedir o desvio, ou mau rendimento, de
alguma operação que essa máquina tem a executar, ou para lubrificar uma zona
específica para melhor decorrer o trabalho, não queremos dizer com isto que
esses acessórios é que passarão de futuro a controlar e guiar a máquina. Eles
estão lá apenas para acertar e recondicionar certas operações que foram
definidas quando da criação da máquina. Ora, se a esses acessórios se dá mais importância
que é devido e chegar ao ponto de permitir que eles conduzam a máquina, fugindo
ao fim para que foi concebida, surgirá o caos, e talvez sua destruição.
Olhemos para um automóvel com milhares
de peças, umas mais complicadas do que outras, mas fazendo todas parte de um
complexo, onde terão de trabalhar em conjunto. Uns dizem que a alma do
automóvel é o distribuidor, outros o carburador, outros ainda que é o motor em
si ou até mesmo o combustível. A verdade é que todas as peças e acessórios
fazem falta, pois têm missões especializadas, e se só dermos atenção ao
distribuidor ou ao carburador não ligando às restantes, como a uma simples
braçadeira da barra da direcção, ou um parafuso de fixação duma roda, por
exemplo, é suficiente para provocar um acidente mecânico e destruir o
automóvel.
O Universo pode ser comparado a uma
máquina, onde todos os componentes são imprescindíveis (uns mais do que outros?) e o ser humano não pode ter a pretensão
de ser o escolhido para guiar esse Universo. E podemos afirmar até, que dentro
desse Universo se encontrem seres ou formas, ou acessórios, ou parasitas, menos
importantes e lá estejam a ser tolerados até ao momento em que se tornem
incómodos e prejudiquem o bom andamento da "máquina". Então são pura e simplesmente sacudidos.
Para maior compreensão faremos o
seguinte raciocínio: À escala do Cosmos a Terra é um grão de areia, segundo a
imagem tradicional. Coloquemos agora esse grão de areia na jante de uma roda em
movimento. É necessária uma grande dose de ambição aos pensantes que vivem
nesse grão de areia para pretenderem determinar, partindo da experiência feita
na beira da jante, que neste caso é a Galáxia onde o grão está inserido, em que
tipo de viatura essa jante está montada, qual o motor que anima a viatura e, no
caso de existir um condutor, para onde conduzirá o conjunto. Se este grão de
poeira se introduzir dentro duma engrenagem da roda, como a válvula de ar por exemplo,
e se tornar incomodativo, é seguramente destruído.
Que pretensão seria, dizemos nós, e
que loucura, esse grãozinho, ou seres pensantes que o habitassem, julgarem-se
imprescindíveis e os escolhidos para conduzirem o veículo, que nem sabem como
é, qual o seu formato, as suas características e potência, quem o conduz e para
onde vai.
Por este exemplo verificamos que o
automóvel, ou seja a "máquina-universo" - que também está contido
noutro universo, a Terra, que por sua vez está contida noutro maior, a galáxia,
e assim sucessivamente - por analogia, não é uma entidade única, mas sim um
conjunto coeso em que as peças e acessórios é que formam o automóvel. Sem rodas, já não é um automóvel, porque uma das
características dum automóvel é ter quatro rodas, e uma acessória. Sem motor
muito menos. Todas as peças são imprescindíveis e no seu conjunto é que formam o automóvel.
Podemos pensar num Universo análogo,
resultado de um complexo de formas, todas elas necessárias, e que no seu
conjunto são o Universo. Como num
automóvel, todas as peças são necessárias, porque se não fossem não estariam
lá. Um automóvel mutilado arrasta-se com esforço, com riscos e sem energia. Sem
utilidade prática vai mais depressa para a sucata. Cada peça tem uma missão
especializada e não devemos subestimar a sua falta, porque uns males provocam
outros males.
É precisamente isso que se deve evitar
no Cosmos cheio de harmonia. Deve evitar-se o desequilíbrio e a mutilação que
só provocariam o caos e a destruição. Um Universo - Cosmos - é uma entidade
única, pela sua formação de conjunto. Se esse complexo falha e se permitem
amputações, os conceitos "universo" ou "cosmos" não terão
razão de existirem.
Sabemos que algo para ser formado
precisa de um tempo determinado - com um desvio padrão, é claro, tanto para
mais como para menos, e se pretendermos precipitar esse desvio acabamos por
criar um monstro. O Universo tem o seu tempo de evolução, condicionado pelas
suas inúmeras formas, certamente. Não podemos contrariar a lógica e se o forçarmos
advém o desequilíbrio prejudicial.
Quando um vírus se introduz no corpo
de um indivíduo, ele não o nota, mas o organismo forma imediatamente a defesa
conveniente atacando, para manter o equilíbrio e expulsar o invasor, sem o
indivíduo se aperceber do facto conscientemente. A acção dos agentes anticorpos
que enfrentam o vírus passa despercebida, mas quando a luta é demasiado forte
para essas defesas criadas, o hospedeiro é avisado pela dor ou pelo aumento da
temperatura corporal e tratará de agir, então, conscientemente, para a sua
defesa eficaz, ministrando antibióticos ou outro tratamento adequado.
O espírito universal, por intermédio
da sua centelha - o espírito-essência - que programou o espírito-substância,
superintende tudo, neste caso o organismo, sem o conhecimento do ser, com a sua
Alma formada nas diversas fases de evolução retendo as várias formas de
conhecimento adquirido. Os pequenos pormenores que só interessam à matéria e
sua sobrevivência estão fora do âmbito directo do espírito-essência, sendo
resolvidos conforme a capacidade desenvolvida pela Alma durante o processo
evolutivo.
A sua intervenção - do espírito
universal - em casos de "doença", ou na tentativa de corrigir algum
desvio, está implícita na sua centelha que originou a Alma respectiva, havendo
forçosamente uma actuação quase directa, quando o desvio evolutivo for
demasiado evidente.
Continuando a fazer paralelismo, um
computador moderno programado para determinado fim, tem a faculdade de poder
traçar outros programas de alternativa, cuja essência não difere do original e
baseado nele, e se isso não for possível e corra para um desvio que não
interesse ao programador, o qual não se apercebe dos pormenores das operações,
possui um mecanismo que actuará para o deter, e se preciso for com a autodestruição.
Só depois de parado ou destruído é que o programador sabe que algo correu mal e
então tentará começar tudo de novo. Torna a programá-lo e aguardará a resposta.
A verdade é que, à semelhança do
computador, houve espécies que se desviaram e autodestruíram. Por mecanismos
internos, desconhecidos, suicidaram-se, desaparecendo pura e simplesmente da
face do globo.
Essa intervenção, programada, cria no
ser humano - único que tem consciência
de si - uma situação de insegurança por não saber ao certo o que se passa,
tendo apenas a certeza de que algo no seu inconsciente rege todas as suas
acções. A Alma, elevada na matéria, tem como campo de acção directo o seu
consciente, não citando o subconsciente que consideramos uma zona fronteiriça e
mal definida, ficando, no entanto, no inconsciente - ou nas profundezas da
Alma, produto indirecto do espírito-essência - aquelas determinativas iniciais,
a tal "intuição" desconhecida, que apesar de desconhecida sabemos
existir. O corpo físico, nos seus processos mentais, recorre constantemente ao
consciente - dominado directamente pela Alma - com actuação mal definida do
subconsciente, sabendo sempre que no inconsciente - dominado pelo
espírito-essência - existe algo, uma força enorme e desconhecida, que o move e
domina muitas vezes, e que procura alcançar e despertar.
Em suma: o espírito universal, pelas
suas centelhas - espírito-essência - introduziu mecanismos de regulação que
serão accionados quando factos, na sua transcendência, possam influenciar e
fazer perigar o equilíbrio e harmonia naturais do Universo. Se isso suceder - e
já aconteceu certamente, no Universo tão vasto - podemos aceitar como uma intervenção
directa do espírito universal. O resto, pormenores que interessam apenas à vida
física, encontra-se sujeito às leis básicas da evolução, também programadas de
início, elásticas e moldáveis ao processo de evolução material.
O homem, apesar de todo o progresso
tecnológico, continua a ser um simples fenómeno biológico que segue a sua
evolução, como todos os seres também seguem. Apesar de todas as suas ideias e
preconceitos, vaidade e egoísmo, está sujeito a esta evolução natural, com as
suas leis rigorosas, que tenta esquecer e ultrapassar, considerando-se
intocável e escolhido como ser dominante acima de qualquer regulação biológica
- mecanismos introduzidos pelo espírito universal - não atendendo ao facto de
que houveram muitas espécies formidáveis que se extinguiram no passado, não
podendo considerar-nos excepção.
Como salientamos no capítulo reservado
ao ser humano, é preciso não esquecer que ele, como o resto da natureza, está
submetido a uma grande lei biológica que é a "lei do equilíbrio" e na
qual está, talvez, uma grande parte do segredo da evolução. A natureza
constitui, em cada momento da sua história, um conjunto harmonioso onde todas
as partes coexistem num estado de mútuo equilíbrio, e quando, por uma causa
qualquer, esse equilíbrio venha a ser rompido, produz, fatalmente, depois de um
período mais ou menos longo de profunda perturbação, um reajustamento geral
ordinariamente fatal à causa perturbadora.
Se repararmos em tudo o que nos rodeia
e estudarmos a evolução das espécies, verificamos as diversas fases que
atravessaram e adaptações aos novos meios e modos de vida. O ser vivo tem
necessidade, por influências exteriores - mudanças drásticas do clima e outros
factores - de se adaptar para sobreviver. E a prova está na extinção de
espécies que não conseguiram essa adaptação. Para isso, a "morte" por
nós conhecida, e podemos entender como o abandono do invólucro material, faz
parte dos planos da "vida" pois a evolução vai favorecer os seres que morrem, desde que a morte
sobrevenha, tal como a matéria se converte em energia e a energia em matéria.
Deste modo, para além da fase de
reprodução, a espécie pode modificar-se pela selecção natural e criar condições
favoráveis à sobrevivência, pela adaptação constante ao meio. Os seres que
vivessem para sempre, conseguindo a imortalidade tão desejada pelos homens sem
atenderem às desvantagens, tornar-se-iam, lentamente, obsoletos. Como disse sir George Kickring: "o
homem deve à morte tudo o que representa um aperfeiçoamento do macaco. Cada
nova espécie, melhor ou pior do que a anterior, só pode começar com uma nova
vida".
Com a evolução, após centenas e
centenas de "vidas" e "mortes", atingimos aquele ponto que
para além de uma adaptação biológica, ou melhoramento físico, talvez seja
necessário também uma adaptação, ou melhoramento, mental para a sobrevivência
nas condições do mundo actual, tecnicamente evoluído. O índice de nevróticos é
cada vez maior, e o desajustamento atinge proporções catastróficas, sendo
logicamente presumível o aparecimento de um ser diferente que esteja adaptado a
estas novas condições, e assegure a sobrevivência da espécie humana. Terá a
aparência humana porque só da espécie humana poderá surgir esse ser superior,
com diferenças perceptíveis, tanto física como mentalmente, claro. O meio
influencia a evolução biológica e também a evolução do intelecto, do espírito,
da Alma, que se encontram intimamente correlacionados, podendo afirmarmos até
que a psique é um efeito directo da evolução biológica, sendo, por sua vez,
ambos produto do ambiente.
Um grande cientista francês perguntou
uma vez se haveriam operações que ultrapassassem a capacidade do cérebro humano
tal como o conhecemos... Podemos igualmente perguntar se a mente ampliada não
levará o homem a transpor determinado limite jamais cruzado? Não podemos
esquecer o perigo da inteligência artificial!
Quando o cérebro se tornou
suficientemente desenvolvido e complexo para permitir a faculdade de falar, o
homem separou-se dos animais. Por dedução, concluiremos então que a espécie
humana com uma mente ou Alma mais evoluída, e portanto com um cérebro melhor,
poderá certamente dispor de uma capacidade tal, tão avançada, que constituirá
uma nova espécie - até uma nova ordem - totalmente diferente da actual. Agora é
preciso saber que nova espécie será essa: se mais evoluída e dinâmica, se mais
retrógrada e apática totalmente dominada pelas tecnologias ao ponto de depender
completamente delas e, em último caso, ultrapassada pela robótica inteligente (inteligência artificial)
Na constante procura do conhecimento,
o homem tece considerações sobre a evolução da humanidade, biológica e
intelectual, caindo sempre no imprevisível originado pela constante mobilidade
do Universo e tudo nele contido.
Quanto ao comportamento do homem, por
exemplo, classificam-no em x categorias
de humores distintas, que muitos estudiosos aprendem e aplicam como válidas em
quaisquer circunstâncias, sem ter em conta que essa classificação foi feita
numa dada época, com dados costumes e ritmo de vida. Hoje, com o
superindustrialismo, já há homens que vivem num ritmo totalmente diferente e
cujo comportamento e maneira de ser é influenciado por esse fenómeno social, o
que torna a classificação tradicional, dos humores, ultrapassada.
O universo está em constante
mobilidade, como atrás dissemos, e nós nele contidos também estamos em
constante mobilidade. Todo o ser - vivente ou não vivente - segue um ritmo cada
vez mais rápido, e certamente as formas de conhecimento - e físicas muito
principalmente - também continuarão a transformar-se, numa adaptação às
características do meio.
O corpo humano evolui - o físico e o
mental - acompanhando a evolução de tudo o que o rodeia, adaptando-se às novas
condições naturais e às condições anormais criadas pelo próprio homem.
Se analisarmos bem todos os seres
existentes na Terra, desde as últimas partículas através dos átomos, moléculas
e células, até ao homem - que as inclui todas - verificamos uma escala bem graduada ou hierarquia dos
seres unitários, e, incomensuravelmente acima do homem, o todo vivente -
entrando já no campo maravilhoso e cheio de vida das estrelas, galáxias e
universos, sempre em expansão.
Há
uma falha cósmica, sem dúvida alguma.
Se o vasto intervalo entre o ser
humano e as partículas mais minúsculas é preenchido por uma série de crescentes
partes sub-humanas, certamente o princípio da continuidade da natureza sugere
que igualmente o vasto intervalo, entre o ser humano e a totalidade, deve ser
preenchido por séries de crescentes formas sobre-humanas. E como o homem só se
apercebe dos factos à sua escala - na hierarquia cósmica - não vê essa
evidência porque é difícil encontrar o que não se conhece nem se sabe como é.
Até agora o homem preocupa-se quase exclusivamente com os aspectos básicos do
seu processo de sobrevivência - biológica, política, tecnológica, social.
É como uma sociedade de vermes ou
larvas que está incapacitada ou psicologicamente inibida para reconhecer na
borboleta uma versão posterior de si mesma, podendo nós então, por analogia,
pensarmos que o homem se encontra nas mesmas condições de inibição, ou
incapacidade, e que essa falha na ordem natural não está vazia. Essa falha
aparente pode ser consequência duma falta de visão e não de um defeito do
Universo.
Abramos um parêntesis, para melhor
compreensão: o primeiro ensinamento da Tábua
de Esmeraldas (pelo Trismegisto,
que pode considerar-se como o nome colectivo da Universidade do Egipto) é a analogia dos contrários. O cimo e o
fundo, o lá de cima e o lá de baixo, que possuem um elemento comum, cujo
carácter fica determinado pela continuação do texto hermético. O segundo
ensinamento é o retorno à unidade
destes contrários, ou a síntese unindo em si todas as antíteses inferiores, e é
este o princípio da Lei universal de
Hoene Wronski.
Devemos estudar a natureza através da
constituição do ser humano, e não o ser humano através da natureza. Realmente,
segundo a analogia e a sua lei fundamental, o ser humano, a Natureza e Deus (espírito universal) são análogos - mas
não similares - e os princípios de um reencontram-se analogicamente no outro, o
que levou a dizer que o Homem era um pequeno mundo - microcosmos - e a natureza um grande mundo - macrocosmos - ou um homem em grande e que ambos reproduziam a lei
da constituição divina "Deus fez o homem à Sua imagem".
Eis a analogia formulada na Bíblia, e
eis o ponto de partida de todas as analogias entre o Criador e a criatura, sem
que nunca se possa confundir um com o outro. Podemos deste modo, e com um
exemplo simples, fazermos uma comparação que, por analogia, nos faz compreender
melhor a nossa ideia. Assim, o óleo e a água são impossíveis de se misturarem
intimamente. Mas basta um pouco de carbonato de sódio para transformar estes
dois contrários num sabão perfeitamente homogéneo. Ora, a Alma (semimaterial) faz o mesmo papel entre o
corpo físico (matéria) e o espírito (essência), como podemos representar com
o seguinte esquema:
água
|
+ carbonato de sódio |
|
+ óleo
|
= sabão
|
Corpo físico
|
+ Alma
|
|
+ Espírito
|
= Homem
indivíduo, ser vivo
|
Logicamente também, e por analogia,
podemos imaginar uma criatura que ultrapasse o homem, como este ultrapassa uma
célula, e indagar como tal criatura diferiria de nós para viver.
Aparentemente existem limites para o
tamanho de um organismo. Se este é muito grande não pode sobreviver nas
condições permitidas no planeta e imaginemos, então, esse ser a destacar-se do
corpo primitivo para tornar-se um corpo celeste. Nestas novas condições não só
podia ser muito volumoso como precisava sê-lo, na imensidão inimaginável do
espaço aberto, em que precisa de criar condições propícias à sobrevivência.
Reparemos que estamos a imaginar
dentro dos nossos conceitos de vida possível e meios de sobrevivência, podendo
também admitirmos outras hipóteses diferentes da nossa realidade. Então, esse
gigante precisaria de criar condições de vida com a aproximação de outro corpo
celeste, neste caso uma estrela, para lhe dar energia e formar a sua defesa
para os excessos, como sejam criar uma atmosfera, água, canais de irrigação,
florestas.
É absurdo, pensarão alguns.
Mas voltemos ao ser humano.
Para que quer ele o cabelo, as mãos, o
sangue, o suor? Não será para regularizar as manifestações de vida e protecção
do corpo? Porque não podemos então imaginar o mesmo corpo celeste, neste caso
um planeta, que também precisará deles para sobreviver?
Os cabelos têm vida, pois crescem,
caem, morrem, adoecem, perdem a cor e o brilho e mudam, assim como as árvores
apresentam os mesmos sintomas à escala de um planeta. Para a conservação e
alimentação do corpo, corre o sangue nas veias e artérias transportando o
necessário. As águas de um rio, e as correntes marinhas, têm as mesmas funções
num planeta. Onde falta água há desolação e morte. Onde falte o sangue também
há desolação e morte. Se os rios em proporção ao planeta são como as veiazinhas
superficiais do corpo, o que diremos das gigantescas e misteriosas correntes
que cruzam os mares - algumas com larguras até mil quilómetros - e que
poderemos chamar grandes "rios" da Terra?
Essas correntes circulam entre as
águas do mar como num leito, independentes e com características próprias, não
se sabendo como se originaram e qual a "força" que as impele. Uma
delas tem um fluxo mil vezes superior ao do Amazonas nas cheias, e a energia
que desloca em comparação é como uma bomba H em relação a um fogo-de-artifício
dos festejos de carnaval.
Na verdade são o sistema circulatório
da Terra, tão vitais como a rede vascular do ser humano. Como arados
monstruosos, revolvem os mares desvendando nutrientes ricos em minerais para a
vegetação marinha, a qual está na base da alimentação dos peixes, influenciando
também enormemente a distribuição da vida sobre o globo e o clima.
Como o ser humano, que precisa da
corrente sanguínea para equilibrar as variações superficiais da temperatura, a
Terra sem estas correntes estaria condenada. Seria um desastre, pois calcula-se
que um acréscimo de 1% nas radiações solares são o suficiente para elevar a
temperatura do ar uns quinze graus centígrados, e se não houvesse esta acção
moderadora a temperatura, correndo riscos de aumentar apenas um grau e pouco,
seria suficiente para torrar a vida sobre o globo. O que evita esta catástrofe
é o efeito moderador das correntes oceânicas.
Enfim, se ampliarmos as criaturas que
conhecemos, ajustando o seu físico e comportamento ao tamanho, teremos
criaturas conhecidas por planetas e estrelas, talvez. Notando a diferença entre
estrelas e planetas, podemos imaginar que o planeta se assemelha a formas de vida
conhecidas por nós.
E as estrelas? Não se assemelharão a
uma forma de vida mais evoluída do que a conhecida, e não estarão a ocupar o
tal intervalo aparente, vazio, entre o homem e a totalidade? A maioria das
estrelas que brilham no céu - senão todas - podem ser "uma coisa
viva" - nascem, crescem, morrem, têm uma finalidade - um habitante próprio
do espaço cósmico.
A escala das criaturas não termina
necessariamente no homem. Já Platão, na antiguidade, postulara: “existem quatro espécies de seres. Os do ar, as aves; os
da água, os peixes; os da terra, os pedestres; os dos céus, os astros, cujo
elemento é o fogo”.
Teria Platão razões obscuras para
fazer esta afirmação?
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