COSMOS
Tentativa de definição
CONHECIMENTO
O homem encontra-se numa fase de
transição em que não pode ultrapassar os limites graduais impostos de início,
apercebendo-se lentamente e com segurança dessas novas realidades até à
identificação absoluta.
Segundo Kant, apenas conhecemos o que
nos parece ser a realidade, as suas aparências ou fenómenos e não a sua essência
ou nómenos. A realidade que conhecemos é uma realidade produzida pela
actividade informadora do espírito e por isso o conhecimento vale
só para nós e não para seres cuja
constituição psicológica seja diferente da nossa.
Assim - seguindo o raciocínio de Kant
- a realidade que o homem conhece resulta da faculdade coordenadora do espírito
- a que chama Alma - agindo conforme
a constituição psicofisiológica do ser. Podemos afirmar que cada um tem a sua
realidade, mas por um acordo inconsciente, provocado pela forma de evolução, se
encontram e encandeiam de modo a que haja um entendimento comum. Os daltónicos,
por exemplo, não percepcionam as cores como os indivíduos considerados
"normais" e ao analisarmos a sua pretensa deficiência concluímos
finalmente que a sua falta consiste apenas em não terem sido ensinados a
distinguirem as cores, visto terem necessidade de adoptar o "modo" de
ver característico dos indivíduos que são a maioria.
Numa análise psicológica da cor,
algumas cores - magenta, amarelo e azul cyan - são muitas vezes
chamadas primárias porque parecem puras ao observador e não resultam de
misturas de outras. Depois de adicionadas, dão-nos todas as outras cores, como
é usual na impressão em artes gráficas.
Esta qualidade primária é um fenómeno
inteiramente perceptual, não existindo, no contínuo do comprimento de ondas
físicas de luz e que correspondem a essas cores primárias, nada que as distinga
das outras. A diferença está no funcionamento dos receptores e do cérebro.
O indivíduo que é incapaz de perceber
a diferença entre o verde e o vermelho tem a doença, ou cegueira, designada Deuteranopia e o que, além desta
cegueira, ainda se mostra incapaz de distinguir a extremidade vermelha do
espectro sofre de Protanopia.
Ora, como sabemos, a mistura das cores
bases ou primárias dão origem às outras conhecidas, de diversos tons compostos.
Assim, quando um daltónico olha para uma cor composta, consegue aperceber-se -
inconscientemente - da sua constituição e percentagem de mistura das cores
básicas, tendo dificuldade em identificar a cor percepcionada pelos indivíduos
considerados normais e que não se apercebem dessa mistura em separado, vendo
apenas o tom uniforme daí resultante.
No caso da deficiência em perceber a
diferença entre o verde e o vermelho, ou distinguir o vermelho, trata-se do
facto de o vermelho resultar da mistura entre o magenta e o amarelo, que
conforme a percentagem de um e de outro variam no tom, desde o mais claro ao
mais escuro, e o verde provir da mistura do amarelo com o azul cyan, variando também a tonalidade
conforme as percentagens das cores componentes. Se nesse verde e nesse vermelho
existir uma grande percentagem de amarelo - pois ambos resultam duma mistura
com o amarelo - certamente que o indivíduo se apercebe dessa grande percentagem
de cor amarela, num e noutro, não conseguindo distinguir uma cor da outra
porque o que ele realmente vê é a predominância do amarelo.
Se o daltónico fosse treinado
conseguiria identificar estes tons, todos resultantes das cores básicas, com
uma perfeição extraordinária sem ser preciso recorrer a aparelhos de precisão
para saber qual a percentagem de amarelo que uma dada cor, verde ou outra
composta, têm. Ora, esta faculdade está vedada à maioria dos indivíduos, os
considerados "normais". Os daltónicos, devido a esta faculdade de não
misturarem as cores básicas, são utilizados nas forças aéreas para detectarem
alvos camuflados.
Os físicos afirmam que a luz e cor,
som e calor, são simples vibrações. Mas as sensações de cor, luz, som e calor,
não são apenas vibrações. São sim tomadas de consciência das reacções orgânicas
provocadas por esses fenómenos físicos que, deste modo, poderiam provocar
reproduções diferentes do mundo externo caso o homem possuísse um sistema
sensorial diferente, e mudariam consequentemente a sua realidade percepcionada.
O conhecimento sensorial é, portanto, relativo. O ser humano recorre ao
conhecimento intelectual que julga mais desenvolvido e pelo menos mais
imaginativo. Partindo da experiência, de eliminatórias sucessivas e
investigação intuitiva, vai desvendando pouco a pouco o Universo e cria
técnicas que lhe são úteis na sua evolução material. A par da evolução
tecnológica - um efeito da investigação científica - evolui espiritualmente
porque a investigação além de se basear em factos concretos segue também
conceitos abstractos no domínio do "provável" ou
"improvável" mas possível.
A primeira ida à Lua, por exemplo, não podia ser baseada em factos provados -
portanto objectivos - mas sim numa previsão baseada em outros factores que
"provavelmente" dariam certo. Nunca lá tinham ido e não havia por
isso uma experimentação com dados concretos. Seguiram um raciocínio de pura
especulação filosófica.
Aprofundando um pouco mais, podemos
afirmar que o conhecimento pode variar também com a situação geográfica dos
povos. Este factor tem influência na sua cultura, personalidade e percepção. Interessa-nos principalmente
salientar o problema da percepção, que influencia a perspectiva da realidade
que cada um possa ter.
Existem fortes variações nos mundos
percebidos pelas pessoas, que consequentemente as acompanham. Há diferenças na frequência das experiências perceptuais
com algumas espécies de objectos e diferenças na maneira pela qual os mesmos objectos são percebidos. Um Mucankala,
da África negra, pode classificar pedaços de cartão de formas, tamanhos e
cores, diferentes sem nunca o fazer pelas cores como qualquer ocidental faria.
Pela sua maneira de viver, e educação, é-lhe muito mais fácil caracterizar os
pedaços de cartão de acordo com os objectos que o rodeiam do que com conceitos
abstractos, pouco úteis na sua luta para sobreviver. Além disso a sua língua
nativa é quase totalmente desprovida de palavras para designar as cores, a não
ser por associação com aquelas que predominam em grande quantidade na natureza
e fazem parte do seu modo de vida, como talvez o sangue, a erva e o céu.
Entretanto se for ensinado, ou educado
numa escola ocidental, já o fará tão bem como qualquer ocidental. Embora as
provas de comparações antropológicas do funcionamento perceptual, entre
diferentes culturas, sejam surpreendentemente exíguas, seria relativamente
seguro supor que todas as diferenças, na percepção de propriedades simples de
objectos físicos, fundamentam-se em diferenças de nível de aprendizagem e de
experiências passadas com esses objectos, assim como em diferenças na
capacidade para identificar os objectos. Os valores culturais atribuídos aos
objectos, às relações e aos acontecimentos, podem também desempenhar um papel
significativo na determinação da maneira pela qual os objectos são percebidos.
As experiências perceptuais, ao olhar um borrão de tinta, são descritas de
maneiras diferentes por pessoas de várias sociedades. Essas diferenças, na
ênfase perceptual, podem ser interpretadas como reflexos dos valores culturais
desses povos.
Num certo sentido, tudo aquilo que
discutimos previamente pode ser incluído nas variações de personalidade -
variações na constituição biológica, na capacidade sensorial e cerebral, na
idade e na experiência, no contexto geográfico e cultural. A singular
constituição do indivíduo - suas habilidades específicas, os seus motivos,
valores e traços, a maneira especial pela qual tudo isso é padronizado -
constituem a sua personalidade. A personalidade é determinada pela constituição
biológica e pelas experiências do indivíduo, pelo que, como era de esperar, há diferenças significativas na percepção do
mundo, associadas a diferenças de personalidade.
Deste modo, para se conhecer a
realidade em si, é necessário possuir a verdade do ser, a verdade Ontológica
dos compêndios da Filosofia, que consiste na conformidade do objecto com a sua
essência ou ideia, pela qual foi concebido. É o acordo das coisas com o
pensamento. É a verdade dos seres com todas as características, fim para que
tende toda a inteligência humana - a Alma - que experiência após experiência
tenta a identificação, difícil e considerada impossível por Nicolau de Cusa,
bispo alemão do século XV, que afirma textualmente: "a
essência das coisas, que é a verdade dos seres, não pode ser alcançada na sua
pureza e, não obstante ter sido objecto de investigação de todos os filósofos,
não foi encontrada por ninguém".
No entanto, os limites da linguagem e
meios de comunicação actuais pouco contribuem para a evolução espiritual e
compreensão das essências, dificultando o desenvolvimento evolutivo da
humanidade no caminho da identificação. Um indivíduo, na sua aprendizagem, age
conforme os ensinamentos vindos do exterior, e se experimentássemos mudar o ambiente
convencional, e limitativo, conhecido por nós, tornar-se-ia desadaptado à nossa
realidade - com pontos comuns impostos de geração para geração - com a sua
realidade própria e sem possibilidades de a exteriorizar.
No processo de
"aprendizagem" o indivíduo aprende a adaptar-se e, como efeito, a
criar pensamentos produtivos dentro da sua perspectiva universal. Nem todo o
comportamento adaptativo, porém, supõe criação, pois muitos dos problemas a
serem solucionados diariamente não exigem mais do que a reprodução daquilo que
já aprendemos, pelas faculdades de memorização, formação de hábitos e
desenvolvimento de habilidades. O problema da linguagem e comunicação oral é
agudo porque são os únicos métodos de comunicação e troca de experiências da
humanidade. Sem a linguagem não há possibilidades de contactos entre os seres
nem possibilidades de "compreenderem" o mundo circundante, visto tudo
o que existe precisar de ser "localizado" com símbolos
compreensíveis. O problema é que a linguagem é limitada e grande parte das
ideias, pensamentos e imagens, não são comunicados nem compreendidos.
A aprendizagem da criança, por
exemplo, é lenta, com conceitos subjectivos e não concretos que podem ser
distorcidos e desviados, sendo a maior influência o ambiente onde vive e os
preconceitos e hábitos existentes nessa época histórica - ou localização
geográfica - como o caso dos orientais do Tibete que alcançam uma elevação
espiritual impressionante e visão diferente das coisas e do Universo,
inexplicáveis para os ocidentais que se consideram ironicamente como
"altamente civilizados".
O conhecimento, ou melhor, o conceito
de conhecimento vale só para nós, sendo o conhecimento intelectual muito
difícil de expressar correctamente, pelas delimitações e deficiências da
linguagem humana, e a reger toda a sua realidade comum. As ideias poderão ser
completamente diferentes de indivíduo para indivíduo, mas irão centralizar-se e
harmonizar-se pelas palavras expressas, criando uma realidade artificial que
não valerá para seres cuja constituição psicofisiológica seja diferente da
nossa. É comum o exemplo de situações consideradas concretas em que os relatos
de várias testemunhas, que as presenciaram, não condizem.
Se um grupo de indivíduos forem
convidados a caracterizarem e qualificarem um determinado dia onde passaram uma
tarde de ócio, as suas versões divergem. O mais lógico seria haver pormenores
discordantes e uma conclusão concordante. Mas a realidade é diferente conforme
a constituição psíquica, a disposição e a própria forma de vida. Para um
agricultor um dia de sol e seco pode ser "mau", o que no entanto é
"muito bom" para o desportista que tem de prestar provas ao ar livre.
Cada ser tem a sua realidade altamente influenciada pela disposição e
sensibilidade do momento, e o seu juízo é consequentemente parcial. Para o
agricultor os dias de chuva branda são excelentes e o gelo é um flagelo. Para o
citadino os dias "bons" são limpos e com sol, e por eles nunca
deveria chover. Enfim, cada ser tem a sua realidade neste momento, que pela
convenção estabelecida entre os seres humanos permite uma expressão com pontos
comuns, faltando no entanto a consciencialização da essência deste dia que só
aparecerá em maior ou menor quantidade conforme o grau evolutivo de cada um.
Neste grupo restrito, se houver um que
consiga a identificação, certamente terá uma sensação diferente, mais rica,
mais verdadeira, compartilhando da verdadeira realidade em que talvez se
harmonize e cambie com tudo o que o rodeia, "sentindo" tudo, as
sensações dos seus companheiros - todas elas diferentes - as sensações das aves
que passam, da árvore secular à beira do riacho, do ar que respira, dos seres
viventes que ali permaneçam.
Imaginemos agora como será sentida a
realidade deste dia por seres considerados irracionais com aparelhos orgânicos
mais completos e condicionados para certas funções específicas, que a outros,
como o homem, estão interditas, excepto nalguns casos em que a técnica
"inventou" aparelhos adequados para o seu complemento.
O nosso mundo é sentido por cada ser
duma forma diferente, adequada à sua espécie, sendo uns melhor dotados de
visão, outros de audição, olfacto e órgãos receptores mais evoluídos. Verão o
mundo de forma diferente mas a sua realidade percepcionada vai-se encandear
numa vivência adaptada à realidade por nós considerada comum e única.
A sensação do dia experimentada pelo
grupo de indivíduos, além das diferenças características das suas constituições
psicofisiológicas, disposições de momento e personalidades, será também
diferente da sensação de outro ser, não humano por exemplo, como o cão, que se
apercebe de vibrações sonoras e olfactivas fora dos limites de percepção
humana, o qual poderá neste dia gozar de
fragrâncias agradáveis ao seu fino faro, assim como muitos outros seres também
poderão aperceber-se de pormenores, agradáveis ou desagradáveis, que o homem
nem sequer suspeita. Os felinos, lobos, e muitos outros animais, são providos
de órgãos delicadamente aperfeiçoados e perfeitamente adaptados aos seus
interesses de autênticos predadores, os quais se mostram desenvolvidos nuns
aspectos em detrimento de outros e que finalmente pouca importância tem. Embora
a visão seja relativamente pobre em relação a pormenores estáticos e à cor,
reagem de uma maneira incrível ao menor movimento, tendo, entretanto, um
olfacto tão apurado que nos é difícil compreendê-lo, Sentem uma autêntica
paisagem de cheiros, não só capazes de identificar com infalível precisão um
cheiro individual como destrinçar igualmente os vários componentes de um cheiro
complexo.
Algumas experiências feitas com cães
indicaram ser o respectivo olfacto mil milhões de vezes mais apurado do que o
nosso. Tão surpreendentes resultados, postos em dúvida, não foram confirmados
por estudos cuidadosos e até os cálculos mais prudentes consideram, no entanto,
o olfacto dos cães cerca de cem vezes superior ao do homem.
Em resumo, cada ser catalogaria o dia
mediante o que para ele seria agradável ou desagradável, pelos cheiros, sons,
humidade do ar, temperatura, frequência da luz, e outras percepções
específicas.
Assim, as percepções e respectivas
sensações, sendo tão variáveis, vão valorizar a Alma (o Ego, resultante da parceria do espírito essência que vivifica o corpo
físico, com a experiência adquirida no mundo material) na sua evolução
constante, aproximando-se cada vez mais do Espírito universal - Essência Pura,
Divina para nós - até à identificação
absoluta. Mas a matéria não pode ultrapassar, de modo nenhum, aquilo para
que foi criada no nosso universo tridimensional conhecido: um veículo de transporte do
espírito, numa dada fase da sua
evolução.
Admitimos, é claro, a hipótese de
noutros universos, ou dimensões do espaço-tempo, existirem veículos de
transporte, de substâncias diferentes da matéria conhecida. O espírito-substância
ou Alma, no nosso mundo, vai-se formando lentamente na matéria, elevando-se cada vez mais nos valores e experiências,
abrindo aos poucos o caminho do conhecimento até à identificação com a essência,
e posterior identificação com o espírito universal.
Dizemos "espírito universal"
como poderíamos dizer "Absoluto", "Deus",
"Nirvana", "Grande Foco", Espírito Santo, ou simplesmente
"Ente Divino", nomes que são apenas símbolos criados pelas limitações
da linguagem, sendo impossível reproduzir ou definir a essência. Para não
recorrermos a símbolos conhecidos, religiosos, com a sua carga negativa
motivada por muitas interpretações deturpadas e interesseiras, escolhemos a
designação "espírito universal"
para representar essa essência Primeira ou Divina.
Sabemos que existe algo, uma força, que habita e dá energia
a todas as formas da matéria, sendo-lhe atribuídos nomes simbólicos que nada
dizem de concreto e só criam dissidências entre as religiões que se preocupam
em propagar o nome, que consideram certo, não conseguindo porém comunicar ou
fazer compreender o valor da essência. Nos povos do ocidente, a única imagem
que permanece, para a maioria dos indivíduos menos cultos ou ignorantes, é a de
um Deus individualizado, de humor variável, que tanto presenteia como castiga,
com longas barbas e patrono daqueles que se julgam com o direito de pedinchar
constantes benesses, em flagrante contraste com a realidade dos seres.
Se um indivíduo adorar essa essência,
essa força que se manifesta, como uma
abstracção, sem querer um nome ou uma representação, nem querer tão-pouco a
interferência de intermediários, preferindo refugiar-se no seu íntimo, ou
transportá-La para algo que para si
represente o Divino, corre o risco de ser perseguido, combatido, desprezado e
apelidado de ateu, infiel, demoníaco ou blasfemo, pelos auto-representantes do
Ser Divino imposto como único, conforme as religiões e seitas existentes.
Finalmente o que interessa, e o que se
pretende (ou devia pretender), é
reconhecer essa Força como geradora da
Criação e tentar compreender o Seu funcionamento para uma vida na Paz, no Amor
e na Harmonia. Teimosamente, porém, o homem pretende individualizá-La, para
proveito próprio, sem no entanto a definir, apesar de reconhecer a sua
existência como certa.
Pensamos que se forma uma substância
etérea numa centelha do Espírito Universal, proveniente Dele, que evolui nas
diversas formas da matéria e outras formas mais evoluídas e menos densas,
desconhecidas para nós por enquanto, até regressar a Ele valorizada. Regressar
"espiritualmente", pois não temos um termo objectivo na nossa
linguagem para expressar esta ideia. É como aquele que numa família é
considerado a "ovelha tresmalhada" e ao fim de um certo tempo
"regressa" ao seu seio. Este regresso não se processa em termos
físicos, mas sim como que numa sintonia espiritual, em que essa ovelha
tresmalhada acaba por se identificar plenamente com o pensamento, valores e
espírito do resto da família, se bem que agora venha valorizada pelos
conhecimentos adquiridos quando esteve tresmalhada. Enquanto esteve fora,
adquiriu mais conhecimentos e todo o seu comportamento, apesar de aparentemente
querer esquecer, ou criticar, o modo de ser da família, foi sempre influenciado
pela educação que levou.
Há sim um aperfeiçoamento, uma evolução.
Atrás dissemos "Ele",
estando portanto a individualizar o espírito universal, como aliás a própria
designação que escolhemos pode dar a entender, mas é fácil de entender que
"universal" pode ser
considerado individual quando existam "dois",
"três" ou mais, o que já
não será se não houver mais do que "um"
com o significado de "único"
ou "tudo". Na realidade não
conhecemos um termo mais adequado para representar esta Essência, esta Força.
Também é difícil definir a Alma em si.
Estamos num campo subjectivo e muito complexo. Podemos entendê-la como o
produto resultante da centelha do espírito universal - a essência - com a Alma
criada - a substância. Uma centelha do espírito universal mergulha na matéria,
ou utiliza a matéria num mundo tridimensional, originando a criação de um
suporte menos grosseiro, durável e possível de evoluir constantemente pelos
vários mundos visíveis e invisíveis no espaço-tempo. Ou seja: uma centelha (ou
um átomo) de Deus mergulha na matéria, sem se dividir, e, passando da forma
física mais simples até à mais complexa, consegue adquirir mais conhecimentos.
Para isso, e para manter devidamente coordenados esses conhecimentos, dentro
das áreas específicas, cria uma Alma que com a evolução vai passando do
genérico para o especializado até se identificar completamente com ela e posteriormente
com o espírito universal.
A Alma será neste caso o motor impulsionador de todos os seres
vivos cientes, que actua conforme a complexidade dos organismos. O
espírito-substância desenvolver-se-á gradualmente na matéria, apoiado num corpo astral, ou corpos astrais mais subtis
do que o corpo físico, subsistindo sempre numa evolução constante por corpos
astrais, e físicos, sucessivos, conforme for sendo necessário na subida
escalonada da evolução universal.
A princípio, todo o conhecimento para
a sobrevivência permanece nos recônditos da Alma, actuando independentemente da
vontade consciente do ser, ou seres, os chamados instintos. Com a evolução e tomada de consciência
de ser vivo, a Alma vai racionalizando gradualmente o conhecimento até à
individualização (neste caso conhecido, o
ser humano), e mais tarde identificação, em que se confundem o raciocínio
lógico (em relação ao mundo onde está
inserida) do intelecto e o "sentir" ilógico do espírito (pressentimentos, numa forma mais
avançada).
Nas formas inferiores de vida actua um
espírito-substância colectivo, ou espírito de grupo para cada espécie, o que explica o comportamento limitado e repetitivo
de seres da mesma espécie. Com a evolução do espírito-substância os grupos são
cada vez mais reduzidos, até à individualização.
Em suma: podemos acreditar na existência
da centelha do espírito universal, a essência, e na evolução do
espírito-substância, colectivo nos seres inferiores, ou irracionais, e
individual nos seres superiores, ou racionais. Quando o espírito-substância
conseguir a identificação com a essência surge a Alma Pura, o Ser Superior, que
pode então ter a esperança de conseguir a identificação total com o Espírito
Santo.
Esta Alma Pura enquadra-se
perfeitamente com o exemplo dado pelas grandes Almas que passaram por este
mundo, em missões redentoras, cujo comportamento elevado, de tal maneira
marcante e gerador de alterações profundas na história da humanidade,
inspiraram os seus seguidores. Pela lei da evolução universal estas Almas Puras
continuarão a visitar-nos e a influenciar a humanidade para o objectivo
pretendido.
Deste modo, a Alma imortal portando
conhecimentos adquiridos no seu longo processo de evolução na matéria, e noutros
campos, acaba por relembrar parte dos conhecimentos actuais, e, pela sua
capacidade de síntese, coordená-los sob formas variadas dando origem a
conhecimentos diferentes, que por serem diferentes na sua montagem não
significa diferentes na sua essência. O mesmo sucede com a técnica de hoje, em
que um computador devidamente programado sobre uma dada estrutura, faz
previsões futuras sobre a duração, resistência, possíveis problemas e arranjos
necessários. O computador não "criou" pensamentos originais ou "adivinhou"
o futuro. Ele simplesmente, a partir de dados conhecidos - como qualidades de
material, percentagens de misturas, índices de resistência de materiais,
condições atmosféricas previsíveis, direcção dos ventos e suas velocidades, e
outros factores - formou novos encandeamentos de formas, novas
"montagens" possíveis, e chegou a uma conclusão lógica e natural, já
implícita pelos dados fornecidos.
Como se processa "de facto",
na espécie, este reunir de conhecimentos imediatos para se chegar a conclusões
futuras e aparentemente originais, não o sabemos ao certo, admitindo-se porém a
hipótese de um poder inato - a sensibilidade - que por ser inato, ou seja que
já nasce com o ser, vai confirmar a nossa hipótese do conhecimento, ou
determinativa, inicial contida na centelha do espírito universal, e seu
consequente desenrolar durante o longo caminho da evolução.
Segundo Aristóteles, a sensibilidade,
sendo uma qualidade inata de todos os animais, é acompanhada, em alguns, da
persistência da sensação, e noutros não. Naqueles em que não se verifica essa
persistência o conhecimento não vai além da própria sensação, Os outros, pelo
contrário, conservam depois da sensação alguma coisa na Alma, dentro, é claro,
dos condicionalismos comuns a cada espécie. Este repetir de sensações lembradas
são possíveis pela faculdade de memória que vem deste modo da própria sensação,
e depois de repetidas várias vezes dá lugar à experiência. As lembranças podem ser numericamente muito repetidas,
mas a experiência que elas formam é sempre uma.
Da experiência, ou seja do todo
universal que se deteve na Alma, unidade que além dos objectos múltiplos
subsiste sempre, vem o princípio da arte, que trata de produzir coisas, e da ciência, que trata de conhecer
as coisas que existem. Portanto, e nunca esquecendo que nos referimos ao mundo
físico por nós conhecido, estes conhecimentos dos princípios não estão em nós
completamente determinados nem procedem de outros conhecimentos mais notáveis
que eles, mas sim da capacidade coordenadora da sensibilidade.
Para John Locke a Alma pensa só após
os sentidos lhe terem fornecido ideias como objecto dos seus pensamentos, e
como essas ideias aumentam e se conservam na Alma, o espírito combinando de
maneiras diversas as suas ideias, e reflectindo sobre as suas próprias operações,
aumenta o conhecimento. Kant afirma que o nosso conhecimento principia com a
experiência, pois se assim não fosse nada despertaria a nossa faculdade de
conhecer, e nada a levaria a exercer-se além dos objectos que impressionam os
nossos sentidos e que, por um lado, produzem por si mesmo representações e, por
outro lado põem em movimento a nossa actividade intelectual e a excitam a
compará-las, uni-las ou separá-las e a organizar desse modo o conhecimento dos
objectos.
Deste modo, no tempo, nenhum conhecimento precede em nós a experiência, e todos
principiam com ela. Mas se todo o conhecimento principia com a experiência, isso não significa que todo ele derive da experiência, porque pode bem suceder
que mesmo o nosso conhecimento mediante a experiência seja um composto do que
recebemos das impressões sensíveis (pressentimentos,
intuição, conhecimento do nosso espírito que está sempre conectado com o
espírito universal) e do que o nosso próprio poder de conhecer - excitado pelas
impressões sensíveis - produz de si
mesmo, adição que não distinguimos até que a nossa atenção seja a isso
conduzida por um longo exercício que nos tenha ensinado a separar uma coisa da
outra.
David Hume também parte da
experiência, salientando que todos os raciocínios, referentes aos factos,
parecem assentar na relação de causa
e efeito - o princípio da causalidade
- e que só a partir daí podemos ir além dos dados da nossa memória e dos
sentidos. Para Hume o conhecimento da tal relação em nenhum caso se alcança por
raciocínio a priori, e sim resulta
inteiramente da experiência, desde que vemos que qualquer classe de objectos
particulares estão sempre reunidos em si, pois se apresentarmos a um homem, por
mais hábil e inteligente que seja, um objecto que lhe é inteiramente estranho,
não será capaz de descobrir nenhuma das suas causas e dos seus efeitos, nem
mesmo mediante o exame mais fastidioso. Mesmo que supuséssemos que as
faculdades racionais de Adão tivessem sido inteiramente perfeitas a partir do
primeiro momento, ele não seria capaz de inferir a possibilidade de afogar-se
na água, ou, relativamente à luz e ao calor do fogo, que este pudesse
consumi-lo. Nenhum objecto se revela jamais pelas qualidades que se deparam aos
sentidos, nem as causas que o produziram nem os efeitos a que dará lugar. Nem
pode a nossa razão, sem o auxílio da experiência, deduzir jamais algo a
respeito dos factos e das coisas existentes.
Assim, ninguém imagina que a explosão
da pólvora ou a atracção do íman pudessem ter sido descobertas alguma vez por
meio de argumentos a priori.
Outra conclusão interessante de David
Hume, na sua extensa teoria sobre o conhecimento, é o facto de todo o efeito
ser um sucesso diferente da sua causa, o que vem permitir um sem número
infinito de "arranjos" possíveis. A partir de um número reduzido de
conhecimentos pode-se, pelo seu encandeamento, arranjos e montagens, induzir
outros conhecimentos diferentes, que por terem a mesma causa não significa
terem o mesmo efeito. É a evolução do pensamento, onde os originais se repetem
constantemente sobre outras formas aparentemente diferentes.
Citemos, por exemplo, o campo da
cibernética, em que os computadores, a rigor, já pensam como nós, ou seja,
obedecem aos mesmos padrões gerais pois a partir das causas inferem efeitos
diferentes. Com um computador, desde que devidamente programado, pode-se
"adivinhar" e "criar" pensamentos ou actos futuros
possíveis em determinadas situações ou determinadas estruturas. Fazem-se
simulações rigorosas que dão respostas credíveis. Na evolução histórica de um
povo, ou sociedade, o computador pode prever qual o seu desfecho futuro,
mantendo-se as linhas mestras.
Tudo isto também o cérebro humano está
capacitado para executar, só que o homem ainda não descobriu como. Em princípio
o cérebro procede inconscientemente, sendo nós avisados por pressentimentos ou
intuições. A verdade é que nada existe nas nossas mentes que já não tenha
passado pelos nossos sentidos, e todas as "criações" quando
analisadas, revelam serem combinações de dados obtidos em experiências
anteriores quando muito enriquecidas com novas observações. O que ocorre é que
certos indivíduos conseguem estabelecer relações com dados e elementos tão
remotos entre si que a nova configuração, ou montagem, de elementos parece
inteiramente original.
Criação
é portanto uma forma subtil e elaborada de computação de dados.
Os factos vistos pela primeira vez
nada dizem sobre o futuro, mas quando se observa a sua repetição já se realizam
inferências. Este princípio é o costume ou hábito, porque sempre que a
repetição de um acto ou operação particular produz uma propensão para renovar o
mesmo acto ou operação, sem ser impelido por nenhum raciocínio ou processo de
entendimento, dizemos que tal propensão é o efeito do hábito. Como, por exemplo, no caso do calor e da chama, em que o
hábito nos leva a esperar um, devido à aparição do outro.
Para nós, o conhecimento também tem
por base - e motor impulsionador - a experiência. Enquanto que as teorias
filosóficas aprofundam muito estes conceitos na tentativa de descobrir tudo
acerca do comportamento do homem e sua evolução, nós pretendemos apenas traçar
uma panorâmica, em linhas muito gerais, sobre o processo do conhecimento em si,
em todos os seres do universo que evoluem.
Como atrás dissemos, a nossa realidade é aquilo a que nos
habituamos, e certamente que o próprio processo do conhecimento, para
valorização da Alma, deve estar condicionado a ela e aos hábitos existentes. Pensamos
que no início devem ter sido impostos – pelo espírito universal, Deus, ou
"algo" desconhecido para nós - certos conhecimentos, as causas, que vão impulsionando e dando
origem a novos conhecimentos, os efeitos.
Um pensamento, ou centelha do espírito
universal, para falarmos no singular, vai criar ou dar origem a um espírito
sintético, diferente de si mesma, que após evoluções sucessivas se vai
individualizando cada vez mais, dando como produto aquilo a que convencionamos
chamar "Alma". Estamos a raciocinar em termos subjectivos, admitindo
hipóteses diferentes das habituais, o que nos leva a afirmar que a Alma, substância
diferente da matéria do nosso mundo físico tridimensional, na sua evolução pode
alcançar mundos diferentes, com mais dimensões e imateriais, pelo que já não
necessitaria dos invólucros grosseiros que lhe fazem falta no mundo de
vibrações materiais.
Ou seja: como sabemos que toda a nossa
realidade, todo o nosso mundo, é resultado de vibrações que após atingirem
certa frequência são a matéria, a Alma, com vibrações
diferentes, precisa de um escudo amortecedor para poder evoluir neste mundo,
escudo esse que poderá ser mais ou menos denso conforme os mundos a atravessar,
com vibrações diferentes. Pela acção deste escudo, desde o corpo físico
passando pelos corpos astrais até ao espírito, e de acordo com a sua evolução,
a Alma permanece confortável porque as suas altas vibrações não são afectadas.
Talvez se explique, por aqui, quando
afirmamos que encontramos uma “Alma gémea” ou “irmã”. As vibrações devem ser
semelhantes, o que provocam um bem-estar e desejo de aproximação. Deste modo, a
Alma tem vibrações diferentes do que nos é habitual, existindo como uma
entidade a caminho da Identificação. E concomitantemente com este espírito-substância,
que no nosso mundo físico recorre ao “corpo astral” adequado ao meio, poderão
originar-se tantos corpos astrais, mais ou menos diáfanos, quantos os mundos
atravessados, ou a atravessar, na sua evolução de modo que as diferentes
vibrações universais possam coexistir.
A nossa linguagem é pobre e não
podemos comunicar concretamente o que pensamos sobre o assunto, mantendo-nos,
por esses condicionalismos, a desenvolver o nosso raciocínio dentro dos limites permitidos, partindo
do princípio de que as divergências sobre a existência ou não de um espírito,
no homem e nos seres vivos, incidem principalmente sobre o conceito de
substancialidade desse mesmo espírito, não havendo grandes dúvidas quanto à
essência, pensamento, ideia, ou centelha do espírito universal como temos vindo
a afirmar.
Algumas correntes filosóficas crêem
que a matéria precede o espírito. Outras pensam que o espírito precede a
matéria, vindo daí a maior diferença de conceitos sobre a evolução.
Para nós o espírito essência -
centelha do espírito universal, o pensamento, a ideia, a afirmação, a causa - precede
a matéria, a qual, no nosso mundo ou plano universal, evolui e se aperfeiçoa
quanto maior for o avanço do espírito-substância que se forma na própria
matéria. O espírito-substância é um efeito do espírito-essência (de parceria com o corpo físico que vai
ganhando experiência no mundo onde estão), conforme o plano universal ou
mundo específico. No nosso caso, no plano tridimensional, é-nos habitual a
matéria, sendo vulgarmente conhecido o espírito-substância, originado nela,
como Alma simplesmente, que utiliza “corpos adequados, quantos os planos dimensionais
existentes, em conformidade com as diversas vibrações características de cada
plano.
Aliás, as descobertas da ciência têm
revelado ser o problema (sobre a matéria) muito complexo, o que levanta sérias
dúvidas sobre alguns aspectos considerados até agora como certos, confundindo
os cientistas. Os biólogos Juravelhe e Trostentiko afirmam: "Aqui
há uma ou duas décadas atrás era um axioma que se encontrava em qualquer manual
a afirmação de que a matéria existe sob três estados: sólido, líquido e gasoso.
Torna-se claro que uma sistemática de tal simplicidade já não é hoje
suficiente; ela não abrange todas as formas de matéria que conhecemos”.
A noção de campo foi o primeiro golpe
nesta triplicidade. Ela só a pouco e pouco entrou na física. A princípio, “campo”
era qualquer coisa imaginária, apenas cómoda para fazer cálculos. A
materialidade do campo e a sua igualdade de direitos com a matéria “ponderável”
levou muito tempo a ser oficialmente conhecida. Estavam ainda demasiadamente
fortes as recordações do éter e do flogisto. Contudo, os cientistas de tal
forma se habituaram ao conceito de “campo” que o apreendiam como que
“visualmente”, como Faraday encarava as suas linhas de força.
O quinto estado da matéria (designam-no às vezes por quarto, tomando em
consideração a matéria ponderável) só há muito pouco tempo conseguiu ser
reconhecido pela ciência: trata-se do plasma, a mistura de iões de carga positiva e de electrões livres, arrancados dos
invólucros dos átomos. Isso apesar de já há muito se saber que no interior das
estrelas o gás está ionizado. Mas só as pormenorizadas investigações acerca das
propriedades do plasma, feitas nos últimos anos, permitiram conhecer leis precisas
que regem o plasma e considerá-lo como um estado particular da matéria. Segundo
parece, a matéria do Universo encontra-se predominantemente no estado de
plasma.
Não será tempo de reconhecer que
existe uma sexta forma, que constitui a menor parte da matéria, mas que não
perde por isso o seu valor: a vida?
“Tecido
vivo! As enormes moléculas polímeras do ADN e da proteína não são corpos
sólidos nem líquidos. Um organismo não é uma emulsão, nem uma suspensão, nem
uma solução. É dirigido por leis totalmente específicas. Enquanto as não
conhecemos, haverá fundamento para negar a especificidade concreta da matéria
viva? " Sic.
Vê-se, deste modo, que a noção de
matéria se tem ampliado com a dilatação do conhecimento, e não nos admiramos (e aceitamos perfeitamente) se um dia
mais tarde se venha a provar que a Alma é semi-material, ou até mesmo que o
espírito-essência - o pensamento, o intelecto - também provenha dum oitavo,
nono ou décimo estado da matéria, ainda desconhecida para nós.
Se a matéria viva evoluindo gerou a
psique – a Alma - não será de admirar, repetimos, que um dia classifiquem esta
como mais um estado da matéria, mesmo que a psique seja regulada por leis
específicas não físicas. O conceito materialista permite abranger o mundo
psíquico, se este for uma realidade concreta tangível indirectamente, embora,
pelos sentidos. Não é exigível que material se oponha a psíquico. Este pode,
muito bem, estar incluído naquele, e as definições de vocábulos, como atrás
salientamos, são convencionais, onde as palavras evoluem com os conceitos que
exprimem.
Por enquanto, para nós e até prova em
contrário consideramos o espírito e matéria admitindo a hipótese, claro, de o
espírito poder vir a ser considerado como um estado da matéria desconhecido
para a ciência actual.
Em resumo: considerando o espírito tal
como nos habituamos a reconhecer nas nossas civilizações - suas doutrinas e
religiões - e atendendo ao significado que tomou no nosso planeta, consideramos
que neste caso a Alma é precedida pela matéria, sendo a sua evolução
influenciada pela evolução "natural" dessa mesma matéria. No entanto
ambos são interdependentes não podendo nós considerarmos a sua evolução em
separado, pois se a Alma evolui em conformidade com a história da natureza e
suas repercussões, a matéria também sofre influências desse intelecto que é a
Alma, que quanto mais evoluída mais alternativas apresenta, suavizando e
simplificando parte dessa mesma evolução tornando-a científica e não apenas
"natural".
Esta centelha sob a forma de pensamento
que se vai transformando numa unidade - a Alma - até à sua completa
individualização, continua provavelmente a sua evolução por campos mais
elevados - quarta, quinta, sexta e mais dimensões - porque ninguém pode afirmar
ser o homem, e o seu mundo, o auge da criação. Pelo menos, já que o não podemos
afirmar categoricamente, podemos imaginar outros mundos mais evoluídos com
seres superiores ao homem terreno, dentro, é claro, das realidades conhecidas
sem irmos para realidades diferentes das materiais.
A supremacia do homem na Terra é
devida à capacidade do cérebro em fazer uso das informações que lhe são
fornecidas por uma estreita banda de raios visíveis e não pelo cérebro em si,
como a maioria dos livros nos fazem pensar. Toda a civilização, tudo o que o
homem consegue, fundamenta-se apenas na sua capacidade de distinguir um
determinado número de vibrações que oscilam entre o vermelho e o violeta,
estando toda a civilização humana condicionada a este facto incontestável. Sem
isso o homem está perdido, porque não há dúvida nenhuma que ao compararmos o
homem aos seres vivos existentes sobre a Terra, verificamos a sua desvantagem
manifesta em todos os campos, nomeadamente na acuidade dos diversos órgãos de
percepção. Exceptuando, é claro (já não se trata de órgãos de percepção) a
faculdade de raciocínio, não podendo no entanto afirmarmos serem a
inteligência, e a memória, exclusivas do ser humano.
A ciência actual faz-nos ver que o
homem foi obrigado a desenvolver protecções auxiliares por causa da sua inerente
debilidade física, tornando-se como que auto-suficiente, derivando a sua
fortaleza da sua fraqueza. O cérebro do homem, com a sua grande capacidade de
raciocínio e inteligência, indica-lhe os perigos e aponta-lhe os caminhos
necessários para o seu desenvolvimento e protecção.
ESPECTRO
VISÍVEL
COMPRIMENTO DE ONDA EM MILIMICRONS (1mm = 1 000 000 mm)
Mostra-se aqui a extensão aproximada das
ondas electromagnéticas que variam desde os mais curtos raios cósmicos até às
mais longas ondas de rádio. Estão representadas de modo a caberem na página,
apenas para salientar a estreitíssima faixa que permite estimular a visão, que
vai de 400 a 800 milimícrons. Todo o espectro visível, inclusive todas as cores
que podemos ver, cai entre estes limites reduzidos.
Assim, ele cria um mundo artificial,
dele, aperfeiçoando a sua técnica, mas não as suas faculdades naturais, com
instrumentos e aparelhos sofisticados. No entanto as outras espécies possuem em
alto grau órgãos sensores tão perfeitos, ou mais, que esses aparelhos
"inventados" ou "copiados" pelo ser humano.
A lagartixa sabe, com certeza infalível, para onde ir quando adivinha um
temporal e a sua prole, momentaneamente
abandonada, hiberna logo que chega esse temporal. Os morcegos
orientam-se por sonar há milhares de anos. As aves, e outros animais, utilizam
a polarização da luz do dia para determinarem a direcção e o tempo. Enfim,
todos os seres considerados "inferiores" têm dons aparentemente
superiores ao homem. Dizemos “aparentemente” porque acreditamos firmemente que
o homem, um ser que conseguiu chegar ao estado actual e conseguiu ser
consciente de si mesmo, também tenha esses dons, ou mecanismos, muito
superiores aos dos animais. No ser humano a natureza - ou espírito universal -
instalou o modelo final da produção, que engloba todos os modelos dos animais
inferiores na evolução neste mundo.
A este modelo podemos dar o nome de intuição
- por não estar convenientemente estudado - que as pessoas por vezes utilizam
inconscientemente com sucesso, e o único problema está no facto de o ser humano
se preocupar mais em criar artifícios auxiliares, do que tentar desenvolver
essas aptidões latentes.
Segundo investigações recentes, os
fenómenos psíquicos espontâneos e experimentais, de percepção extra-sensorial -
clarividência, telepatia e precognição - e a acção do pensamento sobre a
matéria - psicoquinésia - são realidades concretas que não obedecem a leis
físicas, pelo menos quanto ao espaço, tempo e energia de transmissão. Não se
conhece nenhuma energia física com as características que a energia implícita
nesses fenómenos psíquicos nos apresenta.
Em testes quantitativos simples,
avaliados pela estatística matemática, o estudo da psique humana entrou na
ciência, pois a investigação está lançada. Paralelamente à psicologia, cresce
um ramo gémeo, estudo da mente em si, a parapsicologia,
o qual em alguns países mais avançados já faz parte da matéria curricular das
Universidades.
Quanto à inteligência e memória, como
atrás referimos, não é exclusivo do ser humano, tendo-se feito experiências
elucidativas com diversos animais que mostraram possuí-las. Os cavalos, por
exemplo, podem fazer contas matemáticas com raízes quadradas. Cães há, que
morrem de inacção junto da campa do seu dono e amigo, com saudades provavelmente.
Os elefantes têm uma memória que serve de exemplo.
Esta inteligência pode ser pouca e
rudimentar para as exigências do ser humano, mas existe, e certamente com
bastante interesse para a forma de vida desses animais. Não podemos avaliar o
seu interesse dentro de uma perspectiva humana, porque como ainda não se sabe
ao certo o que é inteligência, não podemos tecer considerações partindo de um
ponto de vista próprio e "habitual" da realidade do ser humano. O
termo inteligência, para os animais "irracionais", tem, em
psicologia, significados diferentes, mas podemos entrar em acordo com o
conceito mais comum entre os psicólogos de que a inteligência animal é a capacidade de resolver problemas ou
melhor dizendo, de encontrar uma solução adequada a situações novas. Foram
verificados numerosos graus de inteligência animal e vários problemas,
adequados a esses graus, surgiram, tendo-se chegado a conclusões
verdadeiramente extraordinárias.
Uma chimpanzé, de nome Sarah, foi
treinada por um casal de psicólogos, Ann e David Premack, da Universidade da
Califórnia, a comunicar por meio de símbolos com feitios e cores variadas,
conseguindo usar um vocabulário, com cerca de cento e trinta palavras, com
oitenta por cento de segurança para definir cores, formatos e tamanhos de
objectos e até as suas próprias preferências. Outro macaco, Washoe, aprendeu a
comunicar através da linguagem da mímica americana, com os dedos e as mãos.
Em Maio de 1959, também nos Estados
Unidos, o doutor John C. Lilly fundou uma sociedade chamada Instituto de Investigação Sobre as
Comunicações Entre as Espécies, tentando, na ilha de S. Tomás, perto de
Porto Rico, estabelecer contacto com os golfinhos.
Depois de muitas experiências bastante
complexas conseguiu contactar com um golfinho, a que chamou Lizzie, o qual
imitava perfeitamente as vozes dos tratadores até um dia em que começou a
emitir novos sons, diferentes, que a equipe de investigação, após longos
estudos, interpretou como tentativas do golfinho para comunicar algo de
urgente. Lizzie tentou comunicar numa linguagem binária, como que em código, a
16 de Abril de 1960. A 20 do mesmo mês morria com uma infecção intestinal. Ao
fim de um ano de trabalho laborioso, o investigador americano chegou à
conclusão de que Lizzie tentava, a seu modo, transmitir-lhe uma mensagem
expressando a sua indisposição a qual a levou à morte quatro dias depois.
E, para finalizar, fazemos uma
referência à misteriosa linguagem das Abelhas, que demonstra também
inteligência. O entomólogo austríaco Karl Von Frisch estudou a chamada dança das abelhas, mediante as quais
elas orientam as suas companheiras para fontes de provisões de néctar que
localizaram anteriormente. Ao regressar do campo, a abelha dá início a uma
dança, girando primeiro para a direita e logo para a esquerda. Com isso informa
que encontrou flores, das quais trás o néctar, a uns quarenta metros de
distância da colmeia. O maior ou menor vigor da dança depende do conteúdo do
açúcar ser superior ou inferior a quarenta por cento. Além disso, a abelha indica
a localização da fonte tomando o Sol como referência mediante uma curta corrida
ao acabar a dança. Se ela baixa verticalmente em frente ao favo, isso indica
que terão de voar em direcção recta afastando-se do Sol. Se se desvia para a
esquerda da vertical, por exemplo quarenta graus, quer dizer que terão de voar
com ângulo igual, e assim sucessivamente para qualquer posição. A distância
superior a quarenta metros é indicada pela abelha com a repetição do ciclo de
dança e respectiva corrida.
O processo desenvolvido pela abelha
nesta dança de orientação é semelhante ao que chamamos linguagem ou fala
privativa dos homens. Porque, neste caso, a abelha teve de recordar a distância
que percorreu, estabelecer a tripla posição do Sol, da colónia e da fonte de alimento,
e transportar o mapa do terreno, assim obtido, do plano horizontal da realidade
ao plano vertical do favo, diante do qual efectua a sua demonstração gráfica.
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