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segunda-feira, 11 de março de 2019


COSMOS
Tentativa de definição

 
CONHECIMENTO

O homem encontra-se numa fase de transição em que não pode ultrapassar os limites graduais impostos de início, apercebendo-se lentamente e com segurança dessas novas realidades até à identificação absoluta.

Segundo Kant, apenas conhecemos o que nos parece ser a realidade, as suas aparências ou fenómenos e não a sua essência ou nómenos. A realidade que conhecemos é uma realidade produzida pela actividade informadora do espírito e por isso o conhecimento vale só para nós e não para seres cuja  constituição psicológica seja diferente da nossa.

Assim - seguindo o raciocínio de Kant - a realidade que o homem conhece resulta da faculdade coordenadora do espírito - a que chama Alma - agindo conforme a constituição psicofisiológica do ser. Podemos afirmar que cada um tem a sua realidade, mas por um acordo inconsciente, provocado pela forma de evolução, se encontram e encandeiam de modo a que haja um entendimento comum. Os daltónicos, por exemplo, não percepcionam as cores como os indivíduos considerados "normais" e ao analisarmos a sua pretensa deficiência concluímos finalmente que a sua falta consiste apenas em não terem sido ensinados a distinguirem as cores, visto terem necessidade de adoptar o "modo" de ver característico dos indivíduos que são a maioria.

Numa análise psicológica da cor, algumas cores - magenta, amarelo e azul cyan - são muitas vezes chamadas primárias porque parecem puras ao observador e não resultam de misturas de outras. Depois de adicionadas, dão-nos todas as outras cores, como é usual na impressão em artes gráficas.

Esta qualidade primária é um fenómeno inteiramente perceptual, não existindo, no contínuo do comprimento de ondas físicas de luz e que correspondem a essas cores primárias, nada que as distinga das outras. A diferença está no funcionamento dos receptores e do cérebro.

O indivíduo que é incapaz de perceber a diferença entre o verde e o vermelho tem a doença, ou cegueira, designada Deuteranopia e o que, além desta cegueira, ainda se mostra incapaz de distinguir a extremidade vermelha do espectro sofre de Protanopia.

Ora, como sabemos, a mistura das cores bases ou primárias dão origem às outras conhecidas, de diversos tons compostos. Assim, quando um daltónico olha para uma cor composta, consegue aperceber-se - inconscientemente - da sua constituição e percentagem de mistura das cores básicas, tendo dificuldade em identificar a cor percepcionada pelos indivíduos considerados normais e que não se apercebem dessa mistura em separado, vendo apenas o tom uniforme daí resultante.

No caso da deficiência em perceber a diferença entre o verde e o vermelho, ou distinguir o vermelho, trata-se do facto de o vermelho resultar da mistura entre o magenta e o amarelo, que conforme a percentagem de um e de outro variam no tom, desde o mais claro ao mais escuro, e o verde provir da mistura do amarelo com o azul cyan, variando também a tonalidade conforme as percentagens das cores componentes. Se nesse verde e nesse vermelho existir uma grande percentagem de amarelo - pois ambos resultam duma mistura com o amarelo - certamente que o indivíduo se apercebe dessa grande percentagem de cor amarela, num e noutro, não conseguindo distinguir uma cor da outra porque o que ele realmente vê é a predominância do amarelo.

Se o daltónico fosse treinado conseguiria identificar estes tons, todos resultantes das cores básicas, com uma perfeição extraordinária sem ser preciso recorrer a aparelhos de precisão para saber qual a percentagem de amarelo que uma dada cor, verde ou outra composta, têm. Ora, esta faculdade está vedada à maioria dos indivíduos, os considerados "normais". Os daltónicos, devido a esta faculdade de não misturarem as cores básicas, são utilizados nas forças aéreas para detectarem alvos camuflados.

Os físicos afirmam que a luz e cor, som e calor, são simples vibrações. Mas as sensações de cor, luz, som e calor, não são apenas vibrações. São sim tomadas de consciência das reacções orgânicas provocadas por esses fenómenos físicos que, deste modo, poderiam provocar reproduções diferentes do mundo externo caso o homem possuísse um sistema sensorial diferente, e mudariam consequentemente a sua realidade percepcionada. O conhecimento sensorial é, portanto, relativo. O ser humano recorre ao conhecimento intelectual que julga mais desenvolvido e pelo menos mais imaginativo. Partindo da experiência, de eliminatórias sucessivas e investigação intuitiva, vai desvendando pouco a pouco o Universo e cria técnicas que lhe são úteis na sua evolução material. A par da evolução tecnológica - um efeito da investigação científica - evolui espiritualmente porque a investigação além de se basear em factos concretos segue também conceitos abstractos no domínio do "provável" ou "improvável" mas possível. A primeira ida à Lua, por exemplo, não podia ser baseada em factos provados - portanto objectivos - mas sim numa previsão baseada em outros factores que "provavelmente" dariam certo. Nunca lá tinham ido e não havia por isso uma experimentação com dados concretos. Seguiram um raciocínio de pura especulação filosófica.

Aprofundando um pouco mais, podemos afirmar que o conhecimento pode variar também com a situação geográfica dos povos. Este factor tem influência na sua cultura, personalidade e percepção. Interessa-nos principalmente salientar o problema da percepção, que influencia a perspectiva da realidade que cada um possa ter.

Existem fortes variações nos mundos percebidos pelas pessoas, que consequentemente as acompanham. Há diferenças na frequência das experiências perceptuais com algumas espécies de objectos e diferenças na maneira pela qual os mesmos objectos são percebidos. Um Mucankala, da África negra, pode classificar pedaços de cartão de formas, tamanhos e cores, diferentes sem nunca o fazer pelas cores como qualquer ocidental faria. Pela sua maneira de viver, e educação, é-lhe muito mais fácil caracterizar os pedaços de cartão de acordo com os objectos que o rodeiam do que com conceitos abstractos, pouco úteis na sua luta para sobreviver. Além disso a sua língua nativa é quase totalmente desprovida de palavras para designar as cores, a não ser por associação com aquelas que predominam em grande quantidade na natureza e fazem parte do seu modo de vida, como talvez o sangue, a erva e o céu.

Entretanto se for ensinado, ou educado numa escola ocidental, já o fará tão bem como qualquer ocidental. Embora as provas de comparações antropológicas do funcionamento perceptual, entre diferentes culturas, sejam surpreendentemente exíguas, seria relativamente seguro supor que todas as diferenças, na percepção de propriedades simples de objectos físicos, fundamentam-se em diferenças de nível de aprendizagem e de experiências passadas com esses objectos, assim como em diferenças na capacidade para identificar os objectos. Os valores culturais atribuídos aos objectos, às relações e aos acontecimentos, podem também desempenhar um papel significativo na determinação da maneira pela qual os objectos são percebidos. As experiências perceptuais, ao olhar um borrão de tinta, são descritas de maneiras diferentes por pessoas de várias sociedades. Essas diferenças, na ênfase perceptual, podem ser interpretadas como reflexos dos valores culturais desses povos.

Num certo sentido, tudo aquilo que discutimos previamente pode ser incluído nas variações de personalidade - variações na constituição biológica, na capacidade sensorial e cerebral, na idade e na experiência, no contexto geográfico e cultural. A singular constituição do indivíduo - suas habilidades específicas, os seus motivos, valores e traços, a maneira especial pela qual tudo isso é padronizado - constituem a sua personalidade. A personalidade é determinada pela constituição biológica e pelas experiências do indivíduo, pelo que, como era de esperar, há diferenças significativas na percepção do mundo, associadas a diferenças de personalidade.

Deste modo, para se conhecer a realidade em si, é necessário possuir a verdade do ser, a verdade Ontológica dos compêndios da Filosofia, que consiste na conformidade do objecto com a sua essência ou ideia, pela qual foi concebido. É o acordo das coisas com o pensamento. É a verdade dos seres com todas as características, fim para que tende toda a inteligência humana - a Alma - que experiência após experiência tenta a identificação, difícil e considerada impossível por Nicolau de Cusa, bispo alemão do século XV, que afirma textualmente: "a essência das coisas, que é a verdade dos seres, não pode ser alcançada na sua pureza e, não obstante ter sido objecto de investigação de todos os filósofos, não foi encontrada por ninguém".

No entanto, os limites da linguagem e meios de comunicação actuais pouco contribuem para a evolução espiritual e compreensão das essências, dificultando o desenvolvimento evolutivo da humanidade no caminho da identificação. Um indivíduo, na sua aprendizagem, age conforme os ensinamentos vindos do exterior, e se experimentássemos mudar o ambiente convencional, e limitativo, conhecido por nós, tornar-se-ia desadaptado à nossa realidade - com pontos comuns impostos de geração para geração - com a sua realidade própria e sem possibilidades de a exteriorizar.

No processo de "aprendizagem" o indivíduo aprende a adaptar-se e, como efeito, a criar pensamentos produtivos dentro da sua perspectiva universal. Nem todo o comportamento adaptativo, porém, supõe criação, pois muitos dos problemas a serem solucionados diariamente não exigem mais do que a reprodução daquilo que já aprendemos, pelas faculdades de memorização, formação de hábitos e desenvolvimento de habilidades. O problema da linguagem e comunicação oral é agudo porque são os únicos métodos de comunicação e troca de experiências da humanidade. Sem a linguagem não há possibilidades de contactos entre os seres nem possibilidades de "compreenderem" o mundo circundante, visto tudo o que existe precisar de ser "localizado" com símbolos compreensíveis. O problema é que a linguagem é limitada e grande parte das ideias, pensamentos e imagens, não são comunicados nem compreendidos.

A aprendizagem da criança, por exemplo, é lenta, com conceitos subjectivos e não concretos que podem ser distorcidos e desviados, sendo a maior influência o ambiente onde vive e os preconceitos e hábitos existentes nessa época histórica - ou localização geográfica - como o caso dos orientais do Tibete que alcançam uma elevação espiritual impressionante e visão diferente das coisas e do Universo, inexplicáveis para os ocidentais que se consideram ironicamente como "altamente civilizados".

O conhecimento, ou melhor, o conceito de conhecimento vale só para nós, sendo o conhecimento intelectual muito difícil de expressar correctamente, pelas delimitações e deficiências da linguagem humana, e a reger toda a sua realidade comum. As ideias poderão ser completamente diferentes de indivíduo para indivíduo, mas irão centralizar-se e harmonizar-se pelas palavras expressas, criando uma realidade artificial que não valerá para seres cuja constituição psicofisiológica seja diferente da nossa. É comum o exemplo de situações consideradas concretas em que os relatos de várias testemunhas, que as presenciaram, não condizem.

Se um grupo de indivíduos forem convidados a caracterizarem e qualificarem um determinado dia onde passaram uma tarde de ócio, as suas versões divergem. O mais lógico seria haver pormenores discordantes e uma conclusão concordante. Mas a realidade é diferente conforme a constituição psíquica, a disposição e a própria forma de vida. Para um agricultor um dia de sol e seco pode ser "mau", o que no entanto é "muito bom" para o desportista que tem de prestar provas ao ar livre. Cada ser tem a sua realidade altamente influenciada pela disposição e sensibilidade do momento, e o seu juízo é consequentemente parcial. Para o agricultor os dias de chuva branda são excelentes e o gelo é um flagelo. Para o citadino os dias "bons" são limpos e com sol, e por eles nunca deveria chover. Enfim, cada ser tem a sua realidade neste momento, que pela convenção estabelecida entre os seres humanos permite uma expressão com pontos comuns, faltando no entanto a consciencialização da essência deste dia que só aparecerá em maior ou menor quantidade conforme o grau evolutivo de cada um.

Neste grupo restrito, se houver um que consiga a identificação, certamente terá uma sensação diferente, mais rica, mais verdadeira, compartilhando da verdadeira realidade em que talvez se harmonize e cambie com tudo o que o rodeia, "sentindo" tudo, as sensações dos seus companheiros - todas elas diferentes - as sensações das aves que passam, da árvore secular à beira do riacho, do ar que respira, dos seres viventes que ali permaneçam.

Imaginemos agora como será sentida a realidade deste dia por seres considerados irracionais com aparelhos orgânicos mais completos e condicionados para certas funções específicas, que a outros, como o homem, estão interditas, excepto nalguns casos em que a técnica "inventou" aparelhos adequados para o seu complemento.

O nosso mundo é sentido por cada ser duma forma diferente, adequada à sua espécie, sendo uns melhor dotados de visão, outros de audição, olfacto e órgãos receptores mais evoluídos. Verão o mundo de forma diferente mas a sua realidade percepcionada vai-se encandear numa vivência adaptada à realidade por nós considerada comum e única.

A sensação do dia experimentada pelo grupo de indivíduos, além das diferenças características das suas constituições psicofisiológicas, disposições de momento e personalidades, será também diferente da sensação de outro ser, não humano por exemplo, como o cão, que se apercebe de vibrações sonoras e olfactivas fora dos limites de percepção humana, o qual poderá  neste dia gozar de fragrâncias agradáveis ao seu fino faro, assim como muitos outros seres também poderão aperceber-se de pormenores, agradáveis ou desagradáveis, que o homem nem sequer suspeita. Os felinos, lobos, e muitos outros animais, são providos de órgãos delicadamente aperfeiçoados e perfeitamente adaptados aos seus interesses de autênticos predadores, os quais se mostram desenvolvidos nuns aspectos em detrimento de outros e que finalmente pouca importância tem. Embora a visão seja relativamente pobre em relação a pormenores estáticos e à cor, reagem de uma maneira incrível ao menor movimento, tendo, entretanto, um olfacto tão apurado que nos é difícil compreendê-lo, Sentem uma autêntica paisagem de cheiros, não só capazes de identificar com infalível precisão um cheiro individual como destrinçar igualmente os vários componentes de um cheiro complexo.

Algumas experiências feitas com cães indicaram ser o respectivo olfacto mil milhões de vezes mais apurado do que o nosso. Tão surpreendentes resultados, postos em dúvida, não foram confirmados por estudos cuidadosos e até os cálculos mais prudentes consideram, no entanto, o olfacto dos cães cerca de cem vezes superior ao do homem.

Em resumo, cada ser catalogaria o dia mediante o que para ele seria agradável ou desagradável, pelos cheiros, sons, humidade do ar, temperatura, frequência da luz, e outras percepções específicas.

Assim, as percepções e respectivas sensações, sendo tão variáveis, vão valorizar a Alma  (o Ego, resultante da parceria do espírito essência que vivifica o corpo físico, com a experiência adquirida no mundo material) na sua evolução constante, aproximando-se cada vez mais do Espírito universal - Essência Pura, Divina para nós - até à identificação absoluta. Mas a matéria não pode ultrapassar, de modo nenhum, aquilo para que foi criada no nosso universo tridimensional conhecido: um veículo de transporte do espírito, numa dada fase da sua evolução.

Admitimos, é claro, a hipótese de noutros universos, ou dimensões do espaço-tempo, existirem veículos de transporte, de substâncias diferentes da matéria conhecida. O espírito-substância ou Alma, no nosso mundo, vai-se formando lentamente na matéria, elevando-se cada vez mais nos valores e experiências, abrindo aos poucos o caminho do conhecimento até à identificação com a essência, e posterior identificação com o espírito universal.

Dizemos "espírito universal" como poderíamos dizer "Absoluto", "Deus", "Nirvana", "Grande Foco", Espírito Santo, ou simplesmente "Ente Divino", nomes que são apenas símbolos criados pelas limitações da linguagem, sendo impossível reproduzir ou definir a essência. Para não recorrermos a símbolos conhecidos, religiosos, com a sua carga negativa motivada por muitas interpretações deturpadas e interesseiras, escolhemos a designação "espírito universal" para representar essa essência Primeira ou Divina.

Sabemos que existe algo, uma força, que habita e dá energia a todas as formas da matéria, sendo-lhe atribuídos nomes simbólicos que nada dizem de concreto e só criam dissidências entre as religiões que se preocupam em propagar o nome, que consideram certo, não conseguindo porém comunicar ou fazer compreender o valor da essência. Nos povos do ocidente, a única imagem que permanece, para a maioria dos indivíduos menos cultos ou ignorantes, é a de um Deus individualizado, de humor variável, que tanto presenteia como castiga, com longas barbas e patrono daqueles que se julgam com o direito de pedinchar constantes benesses, em flagrante contraste com a realidade dos seres.

Se um indivíduo adorar essa essência, essa força que se manifesta, como uma abstracção, sem querer um nome ou uma representação, nem querer tão-pouco a interferência de intermediários, preferindo refugiar-se no seu íntimo, ou transportá-La para algo que para si represente o Divino, corre o risco de ser perseguido, combatido, desprezado e apelidado de ateu, infiel, demoníaco ou blasfemo, pelos auto-representantes do Ser Divino imposto como único, conforme as religiões e seitas existentes.

Finalmente o que interessa, e o que se pretende (ou devia pretender), é reconhecer essa Força como geradora da Criação e tentar compreender o Seu funcionamento para uma vida na Paz, no Amor e na Harmonia. Teimosamente, porém, o homem pretende individualizá-La, para proveito próprio, sem no entanto a definir, apesar de reconhecer a sua existência como certa.

Pensamos que se forma uma substância etérea numa centelha do Espírito Universal, proveniente Dele, que evolui nas diversas formas da matéria e outras formas mais evoluídas e menos densas, desconhecidas para nós por enquanto, até regressar a Ele valorizada. Regressar "espiritualmente", pois não temos um termo objectivo na nossa linguagem para expressar esta ideia. É como aquele que numa família é considerado a "ovelha tresmalhada" e ao fim de um certo tempo "regressa" ao seu seio. Este regresso não se processa em termos físicos, mas sim como que numa sintonia espiritual, em que essa ovelha tresmalhada acaba por se identificar plenamente com o pensamento, valores e espírito do resto da família, se bem que agora venha valorizada pelos conhecimentos adquiridos quando esteve tresmalhada. Enquanto esteve fora, adquiriu mais conhecimentos e todo o seu comportamento, apesar de aparentemente querer esquecer, ou criticar, o modo de ser da família, foi sempre influenciado pela educação que levou.

Há sim um aperfeiçoamento, uma evolução.

Atrás dissemos "Ele", estando portanto a individualizar o espírito universal, como aliás a própria designação que escolhemos pode dar a entender, mas é fácil de entender que "universal" pode ser considerado individual quando existam "dois", "três" ou mais, o que já não será se não houver mais do que "um" com o significado de "único" ou "tudo". Na realidade não conhecemos um termo mais adequado para representar esta Essência, esta Força.

Também é difícil definir a Alma em si. Estamos num campo subjectivo e muito complexo. Podemos entendê-la como o produto resultante da centelha do espírito universal - a essência - com a Alma criada - a substância. Uma centelha do espírito universal mergulha na matéria, ou utiliza a matéria num mundo tridimensional, originando a criação de um suporte menos grosseiro, durável e possível de evoluir constantemente pelos vários mundos visíveis e invisíveis no espaço-tempo. Ou seja: uma centelha (ou um átomo) de Deus mergulha na matéria, sem se dividir, e, passando da forma física mais simples até à mais complexa, consegue adquirir mais conhecimentos. Para isso, e para manter devidamente coordenados esses conhecimentos, dentro das áreas específicas, cria uma Alma que com a evolução vai passando do genérico para o especializado até se identificar completamente com ela e posteriormente com o espírito universal.

A Alma será neste caso o motor impulsionador de todos os seres vivos cientes, que actua conforme a complexidade dos organismos. O espírito-substância desenvolver-se-á gradualmente na matéria, apoiado num corpo astral, ou corpos astrais mais subtis do que o corpo físico, subsistindo sempre numa evolução constante por corpos astrais, e físicos, sucessivos, conforme for sendo necessário na subida escalonada da evolução universal.

A princípio, todo o conhecimento para a sobrevivência permanece nos recônditos da Alma, actuando independentemente da vontade consciente do ser, ou seres, os chamados instintos. Com a evolução e tomada de consciência de ser vivo, a Alma vai racionalizando gradualmente o conhecimento até à individualização (neste caso conhecido, o ser humano), e mais tarde identificação, em que se confundem o raciocínio lógico (em relação ao mundo onde está inserida) do intelecto e o "sentir" ilógico do espírito (pressentimentos, numa forma mais avançada).

Nas formas inferiores de vida actua um espírito-substância colectivo, ou espírito de grupo para cada espécie, o que explica o comportamento limitado e repetitivo de seres da mesma espécie. Com a evolução do espírito-substância os grupos são cada vez mais reduzidos, até à individualização.

Em suma: podemos acreditar na existência da centelha do espírito universal, a essência, e na evolução do espírito-substância, colectivo nos seres inferiores, ou irracionais, e individual nos seres superiores, ou racionais. Quando o espírito-substância conseguir a identificação com a essência surge a Alma Pura, o Ser Superior, que pode então ter a esperança de conseguir a identificação total com o Espírito Santo.

Esta Alma Pura enquadra-se perfeitamente com o exemplo dado pelas grandes Almas que passaram por este mundo, em missões redentoras, cujo comportamento elevado, de tal maneira marcante e gerador de alterações profundas na história da humanidade, inspiraram os seus seguidores. Pela lei da evolução universal estas Almas Puras continuarão a visitar-nos e a influenciar a humanidade para o objectivo pretendido.

Deste modo, a Alma imortal portando conhecimentos adquiridos no seu longo processo de evolução na matéria, e noutros campos, acaba por relembrar parte dos conhecimentos actuais, e, pela sua capacidade de síntese, coordená-los sob formas variadas dando origem a conhecimentos diferentes, que por serem diferentes na sua montagem não significa diferentes na sua essência. O mesmo sucede com a técnica de hoje, em que um computador devidamente programado sobre uma dada estrutura, faz previsões futuras sobre a duração, resistência, possíveis problemas e arranjos necessários. O computador não "criou" pensamentos originais ou "adivinhou" o futuro. Ele simplesmente, a partir de dados conhecidos - como qualidades de material, percentagens de misturas, índices de resistência de materiais, condições atmosféricas previsíveis, direcção dos ventos e suas velocidades, e outros factores - formou novos encandeamentos de formas, novas "montagens" possíveis, e chegou a uma conclusão lógica e natural, já implícita pelos dados fornecidos.

Como se processa "de facto", na espécie, este reunir de conhecimentos imediatos para se chegar a conclusões futuras e aparentemente originais, não o sabemos ao certo, admitindo-se porém a hipótese de um poder inato - a sensibilidade - que por ser inato, ou seja que já nasce com o ser, vai confirmar a nossa hipótese do conhecimento, ou determinativa, inicial contida na centelha do espírito universal, e seu consequente desenrolar durante o longo caminho da evolução.

Segundo Aristóteles, a sensibilidade, sendo uma qualidade inata de todos os animais, é acompanhada, em alguns, da persistência da sensação, e noutros não. Naqueles em que não se verifica essa persistência o conhecimento não vai além da própria sensação, Os outros, pelo contrário, conservam depois da sensação alguma coisa na Alma, dentro, é claro, dos condicionalismos comuns a cada espécie. Este repetir de sensações lembradas são possíveis pela faculdade de memória que vem deste modo da própria sensação, e depois de repetidas várias vezes dá lugar à experiência. As lembranças podem ser numericamente muito repetidas, mas a experiência que elas formam é sempre uma.

Da experiência, ou seja do todo universal que se deteve na Alma, unidade que além dos objectos múltiplos subsiste sempre, vem o princípio da arte, que trata de produzir coisas, e da ciência, que trata de conhecer as coisas que existem. Portanto, e nunca esquecendo que nos referimos ao mundo físico por nós conhecido, estes conhecimentos dos princípios não estão em nós completamente determinados nem procedem de outros conhecimentos mais notáveis que eles, mas sim da capacidade coordenadora da sensibilidade.

Para John Locke a Alma pensa só após os sentidos lhe terem fornecido ideias como objecto dos seus pensamentos, e como essas ideias aumentam e se conservam na Alma, o espírito combinando de maneiras diversas as suas ideias, e reflectindo sobre as suas próprias operações, aumenta o conhecimento. Kant afirma que o nosso conhecimento principia com a experiência, pois se assim não fosse nada despertaria a nossa faculdade de conhecer, e nada a levaria a exercer-se além dos objectos que impressionam os nossos sentidos e que, por um lado, produzem por si mesmo representações e, por outro lado põem em movimento a nossa actividade intelectual e a excitam a compará-las, uni-las ou separá-las e a organizar desse modo o conhecimento dos objectos.

Deste modo, no tempo, nenhum conhecimento precede em nós a experiência, e todos principiam com ela. Mas se todo o conhecimento principia com a experiência, isso não significa que todo ele derive da experiência, porque pode bem suceder que mesmo o nosso conhecimento mediante a experiência seja um composto do que recebemos das impressões sensíveis (pressentimentos, intuição, conhecimento do nosso espírito que está sempre conectado com o espírito universal) e do que o nosso próprio poder de conhecer - excitado pelas impressões sensíveis - produz de si mesmo, adição que não distinguimos até que a nossa atenção seja a isso conduzida por um longo exercício que nos tenha ensinado a separar uma coisa da outra.

David Hume também parte da experiência, salientando que todos os raciocínios, referentes aos factos, parecem assentar na relação de causa e efeito - o princípio da causalidade - e que só a partir daí podemos ir além dos dados da nossa memória e dos sentidos. Para Hume o conhecimento da tal relação em nenhum caso se alcança por raciocínio a priori, e sim resulta inteiramente da experiência, desde que vemos que qualquer classe de objectos particulares estão sempre reunidos em si, pois se apresentarmos a um homem, por mais hábil e inteligente que seja, um objecto que lhe é inteiramente estranho, não será capaz de descobrir nenhuma das suas causas e dos seus efeitos, nem mesmo mediante o exame mais fastidioso. Mesmo que supuséssemos que as faculdades racionais de Adão tivessem sido inteiramente perfeitas a partir do primeiro momento, ele não seria capaz de inferir a possibilidade de afogar-se na água, ou, relativamente à luz e ao calor do fogo, que este pudesse consumi-lo. Nenhum objecto se revela jamais pelas qualidades que se deparam aos sentidos, nem as causas que o produziram nem os efeitos a que dará lugar. Nem pode a nossa razão, sem o auxílio da experiência, deduzir jamais algo a respeito dos factos e das coisas existentes.

Assim, ninguém imagina que a explosão da pólvora ou a atracção do íman pudessem ter sido descobertas alguma vez por meio de argumentos a priori.

Outra conclusão interessante de David Hume, na sua extensa teoria sobre o conhecimento, é o facto de todo o efeito ser um sucesso diferente da sua causa, o que vem permitir um sem número infinito de "arranjos" possíveis. A partir de um número reduzido de conhecimentos pode-se, pelo seu encandeamento, arranjos e montagens, induzir outros conhecimentos diferentes, que por terem a mesma causa não significa terem o mesmo efeito. É a evolução do pensamento, onde os originais se repetem constantemente sobre outras formas aparentemente diferentes.

Citemos, por exemplo, o campo da cibernética, em que os computadores, a rigor, já pensam como nós, ou seja, obedecem aos mesmos padrões gerais pois a partir das causas inferem efeitos diferentes. Com um computador, desde que devidamente programado, pode-se "adivinhar" e "criar" pensamentos ou actos futuros possíveis em determinadas situações ou determinadas estruturas. Fazem-se simulações rigorosas que dão respostas credíveis. Na evolução histórica de um povo, ou sociedade, o computador pode prever qual o seu desfecho futuro, mantendo-se as linhas mestras.

Tudo isto também o cérebro humano está capacitado para executar, só que o homem ainda não descobriu como. Em princípio o cérebro procede inconscientemente, sendo nós avisados por pressentimentos ou intuições. A verdade é que nada existe nas nossas mentes que já não tenha passado pelos nossos sentidos, e todas as "criações" quando analisadas, revelam serem combinações de dados obtidos em experiências anteriores quando muito enriquecidas com novas observações. O que ocorre é que certos indivíduos conseguem estabelecer relações com dados e elementos tão remotos entre si que a nova configuração, ou montagem, de elementos parece inteiramente original.

Criação é portanto uma forma subtil e elaborada de computação de dados.

Os factos vistos pela primeira vez nada dizem sobre o futuro, mas quando se observa a sua repetição já se realizam inferências. Este princípio é o costume ou hábito, porque sempre que a repetição de um acto ou operação particular produz uma propensão para renovar o mesmo acto ou operação, sem ser impelido por nenhum raciocínio ou processo de entendimento, dizemos que tal propensão é o efeito do hábito. Como, por exemplo, no caso do calor e da chama, em que o hábito nos leva a esperar um, devido à aparição do outro.

Para nós, o conhecimento também tem por base - e motor impulsionador - a experiência. Enquanto que as teorias filosóficas aprofundam muito estes conceitos na tentativa de descobrir tudo acerca do comportamento do homem e sua evolução, nós pretendemos apenas traçar uma panorâmica, em linhas muito gerais, sobre o processo do conhecimento em si, em todos os seres do universo que evoluem.

Como atrás dissemos, a nossa realidade é aquilo a que nos habituamos, e certamente que o próprio processo do conhecimento, para valorização da Alma, deve estar condicionado a ela e aos hábitos existentes. Pensamos que no início devem ter sido impostos – pelo espírito universal, Deus, ou "algo" desconhecido para nós - certos conhecimentos, as causas, que vão impulsionando e dando origem a novos conhecimentos, os efeitos.

Um pensamento, ou centelha do espírito universal, para falarmos no singular, vai criar ou dar origem a um espírito sintético, diferente de si mesma, que após evoluções sucessivas se vai individualizando cada vez mais, dando como produto aquilo a que convencionamos chamar "Alma". Estamos a raciocinar em termos subjectivos, admitindo hipóteses diferentes das habituais, o que nos leva a afirmar que a Alma, substância diferente da matéria do nosso mundo físico tridimensional, na sua evolução pode alcançar mundos diferentes, com mais dimensões e imateriais, pelo que já não necessitaria dos invólucros grosseiros que lhe fazem falta no mundo de vibrações materiais.

Ou seja: como sabemos que toda a nossa realidade, todo o nosso mundo, é resultado de vibrações que após atingirem certa frequência são a matéria, a Alma, com vibrações diferentes, precisa de um escudo amortecedor para poder evoluir neste mundo, escudo esse que poderá ser mais ou menos denso conforme os mundos a atravessar, com vibrações diferentes. Pela acção deste escudo, desde o corpo físico passando pelos corpos astrais até ao espírito, e de acordo com a sua evolução, a Alma permanece confortável porque as suas altas vibrações não são afectadas.

Talvez se explique, por aqui, quando afirmamos que encontramos uma “Alma gémea” ou “irmã”. As vibrações devem ser semelhantes, o que provocam um bem-estar e desejo de aproximação. Deste modo, a Alma tem vibrações diferentes do que nos é habitual, existindo como uma entidade a caminho da Identificação. E concomitantemente com este espírito-substância, que no nosso mundo físico recorre ao “corpo astral” adequado ao meio, poderão originar-se tantos corpos astrais, mais ou menos diáfanos, quantos os mundos atravessados, ou a atravessar, na sua evolução de modo que as diferentes vibrações universais possam coexistir.

A nossa linguagem é pobre e não podemos comunicar concretamente o que pensamos sobre o assunto, mantendo-nos, por esses condicionalismos, a desenvolver o nosso raciocínio dentro dos limites permitidos, partindo do princípio de que as divergências sobre a existência ou não de um espírito, no homem e nos seres vivos, incidem principalmente sobre o conceito de substancialidade desse mesmo espírito, não havendo grandes dúvidas quanto à essência, pensamento, ideia, ou centelha do espírito universal como temos vindo a afirmar.

Algumas correntes filosóficas crêem que a matéria precede o espírito. Outras pensam que o espírito precede a matéria, vindo daí a maior diferença de conceitos sobre a evolução.

Para nós o espírito essência - centelha do espírito universal, o pensamento, a ideia, a afirmação, a causa - precede a matéria, a qual, no nosso mundo ou plano universal, evolui e se aperfeiçoa quanto maior for o avanço do espírito-substância que se forma na própria matéria. O espírito-substância é um efeito do espírito-essência (de parceria com o corpo físico que vai ganhando experiência no mundo onde estão), conforme o plano universal ou mundo específico. No nosso caso, no plano tridimensional, é-nos habitual a matéria, sendo vulgarmente conhecido o espírito-substância, originado nela, como Alma simplesmente, que utiliza “corpos adequados, quantos os planos dimensionais existentes, em conformidade com as diversas vibrações características de cada plano.

 
Nota: Quando do nascimento para a vida, do embrião, é insuflado nele o átomo do Espírito Universal, o espírito que vivifica o novo corpo modelado na matéria, que acompanhará o Homem em toda a sua evolução. Ou seja: o Homem é originário do mundo espiritual e o seu verdadeiro “corpo” é o Corpo Astral que ficara preso ao corpo denso – a carne - (da matéria do mundo onde se processará a criação da Alma) pelo chamado Cordão de Prata. No momento em que esse cordão se desligar o corpo físico morre e regressa ao pó, o seu mundo. O Corpo Astral também está ligado à Alma (sede da mente e emparceirada com o espírito que Deus lhe deu no acto do nascimento) pelo chamado Cordão de Ouro. Este romper-se-á quando a Alma, devidamente preparada após a morte física do ser, irá para o repouso no cemitério colectivo da humanidade – o Sheol - à espera da ressurreição, e o espírito regressará ao Espírito Universal, para posteriormente regressar ao seu parceiro para continuar a evolução pelos planos dimensionais superiores. Só a carne é mortal – pelo pecado.

Aliás, as descobertas da ciência têm revelado ser o problema (sobre a matéria) muito complexo, o que levanta sérias dúvidas sobre alguns aspectos considerados até agora como certos, confundindo os cientistas. Os biólogos Juravelhe e Trostentiko afirmam: "Aqui há uma ou duas décadas atrás era um axioma que se encontrava em qualquer manual a afirmação de que a matéria existe sob três estados: sólido, líquido e gasoso. Torna-se claro que uma sistemática de tal simplicidade já não é hoje suficiente; ela não abrange todas as formas de matéria que conhecemos”.

A noção de campo foi o primeiro golpe nesta triplicidade. Ela só a pouco e pouco entrou na física. A princípio, “campo” era qualquer coisa imaginária, apenas cómoda para fazer cálculos. A materialidade do campo e a sua igualdade de direitos com a matéria “ponderável” levou muito tempo a ser oficialmente conhecida. Estavam ainda demasiadamente fortes as recordações do éter e do flogisto. Contudo, os cientistas de tal forma se habituaram ao conceito de “campo” que o apreendiam como que “visualmente”, como Faraday encarava as suas linhas de força.

O quinto estado da matéria (designam-no às vezes por quarto, tomando em consideração a matéria ponderável) só há muito pouco tempo conseguiu ser reconhecido pela ciência: trata-se do plasma, a mistura de iões de carga positiva e de electrões livres, arrancados dos invólucros dos átomos. Isso apesar de já há muito se saber que no interior das estrelas o gás está ionizado. Mas só as pormenorizadas investigações acerca das propriedades do plasma, feitas nos últimos anos, permitiram conhecer leis precisas que regem o plasma e considerá-lo como um estado particular da matéria. Segundo parece, a matéria do Universo encontra-se predominantemente no estado de plasma.

Não será tempo de reconhecer que existe uma sexta forma, que constitui a menor parte da matéria, mas que não perde por isso o seu valor: a vida?

“Tecido vivo! As enormes moléculas polímeras do ADN e da proteína não são corpos sólidos nem líquidos. Um organismo não é uma emulsão, nem uma suspensão, nem uma solução. É dirigido por leis totalmente específicas. Enquanto as não conhecemos, haverá fundamento para negar a especificidade concreta da matéria viva? " Sic.

Vê-se, deste modo, que a noção de matéria se tem ampliado com a dilatação do conhecimento, e não nos admiramos (e aceitamos perfeitamente) se um dia mais tarde se venha a provar que a Alma é semi-material, ou até mesmo que o espírito-essência - o pensamento, o intelecto - também provenha dum oitavo, nono ou décimo estado da matéria, ainda desconhecida para nós.

Se a matéria viva evoluindo gerou a psique – a Alma - não será de admirar, repetimos, que um dia classifiquem esta como mais um estado da matéria, mesmo que a psique seja regulada por leis específicas não físicas. O conceito materialista permite abranger o mundo psíquico, se este for uma realidade concreta tangível indirectamente, embora, pelos sentidos. Não é exigível que material se oponha a psíquico. Este pode, muito bem, estar incluído naquele, e as definições de vocábulos, como atrás salientamos, são convencionais, onde as palavras evoluem com os conceitos que exprimem.

Por enquanto, para nós e até prova em contrário consideramos o espírito e matéria admitindo a hipótese, claro, de o espírito poder vir a ser considerado como um estado da matéria desconhecido para a ciência actual.

Em resumo: considerando o espírito tal como nos habituamos a reconhecer nas nossas civilizações - suas doutrinas e religiões - e atendendo ao significado que tomou no nosso planeta, consideramos que neste caso a Alma é precedida pela matéria, sendo a sua evolução influenciada pela evolução "natural" dessa mesma matéria. No entanto ambos são interdependentes não podendo nós considerarmos a sua evolução em separado, pois se a Alma evolui em conformidade com a história da natureza e suas repercussões, a matéria também sofre influências desse intelecto que é a Alma, que quanto mais evoluída mais alternativas apresenta, suavizando e simplificando parte dessa mesma evolução tornando-a científica e não apenas "natural".

Esta centelha sob a forma de pensamento que se vai transformando numa unidade - a Alma - até à sua completa individualização, continua provavelmente a sua evolução por campos mais elevados - quarta, quinta, sexta e mais dimensões - porque ninguém pode afirmar ser o homem, e o seu mundo, o auge da criação. Pelo menos, já que o não podemos afirmar categoricamente, podemos imaginar outros mundos mais evoluídos com seres superiores ao homem terreno, dentro, é claro, das realidades conhecidas sem irmos para realidades diferentes das materiais.

A supremacia do homem na Terra é devida à capacidade do cérebro em fazer uso das informações que lhe são fornecidas por uma estreita banda de raios visíveis e não pelo cérebro em si, como a maioria dos livros nos fazem pensar. Toda a civilização, tudo o que o homem consegue, fundamenta-se apenas na sua capacidade de distinguir um determinado número de vibrações que oscilam entre o vermelho e o violeta, estando toda a civilização humana condicionada a este facto incontestável. Sem isso o homem está perdido, porque não há dúvida nenhuma que ao compararmos o homem aos seres vivos existentes sobre a Terra, verificamos a sua desvantagem manifesta em todos os campos, nomeadamente na acuidade dos diversos órgãos de percepção. Exceptuando, é claro (já não se trata de órgãos de percepção) a faculdade de raciocínio, não podendo no entanto afirmarmos serem a inteligência, e a memória, exclusivas do ser humano.

A ciência actual faz-nos ver que o homem foi obrigado a desenvolver protecções auxiliares por causa da sua inerente debilidade física, tornando-se como que auto-suficiente, derivando a sua fortaleza da sua fraqueza. O cérebro do homem, com a sua grande capacidade de raciocínio e inteligência, indica-lhe os perigos e aponta-lhe os caminhos necessários para o seu desenvolvimento e protecção.

 
ESPECTRO VISÍVEL

 

 

COMPRIMENTO DE ONDA EM MILIMICRONS (1mm = 1 000 000 mm)
Mostra-se aqui a extensão aproximada das ondas electromagnéticas que variam desde os mais curtos raios cósmicos até às mais longas ondas de rádio. Estão representadas de modo a caberem na página, apenas para salientar a estreitíssima faixa que permite estimular a visão, que vai de 400 a 800 milimícrons. Todo o espectro visível, inclusive todas as cores que podemos ver, cai entre estes limites reduzidos.

 
Assim, ele cria um mundo artificial, dele, aperfeiçoando a sua técnica, mas não as suas faculdades naturais, com instrumentos e aparelhos sofisticados. No entanto as outras espécies possuem em alto grau órgãos sensores tão perfeitos, ou mais, que esses aparelhos "inventados" ou "copiados" pelo ser humano.

A lagartixa sabe, com certeza infalível, para onde ir quando adivinha um temporal e a sua prole, momentaneamente  abandonada, hiberna logo que chega esse temporal. Os morcegos orientam-se por sonar há milhares de anos. As aves, e outros animais, utilizam a polarização da luz do dia para determinarem a direcção e o tempo. Enfim, todos os seres considerados "inferiores" têm dons aparentemente superiores ao homem. Dizemos “aparentemente” porque acreditamos firmemente que o homem, um ser que conseguiu chegar ao estado actual e conseguiu ser consciente de si mesmo, também tenha esses dons, ou mecanismos, muito superiores aos dos animais. No ser humano a natureza - ou espírito universal - instalou o modelo final da produção, que engloba todos os modelos dos animais inferiores na evolução neste mundo.

A este modelo podemos dar o nome de intuição - por não estar convenientemente estudado - que as pessoas por vezes utilizam inconscientemente com sucesso, e o único problema está no facto de o ser humano se preocupar mais em criar artifícios auxiliares, do que tentar desenvolver essas aptidões latentes.

Segundo investigações recentes, os fenómenos psíquicos espontâneos e experimentais, de percepção extra-sensorial - clarividência, telepatia e precognição - e a acção do pensamento sobre a matéria - psicoquinésia - são realidades concretas que não obedecem a leis físicas, pelo menos quanto ao espaço, tempo e energia de transmissão. Não se conhece nenhuma energia física com as características que a energia implícita nesses fenómenos psíquicos nos apresenta.

Em testes quantitativos simples, avaliados pela estatística matemática, o estudo da psique humana entrou na ciência, pois a investigação está lançada. Paralelamente à psicologia, cresce um ramo gémeo, estudo da mente em si, a parapsicologia, o qual em alguns países mais avançados já faz parte da matéria curricular das Universidades.

Quanto à inteligência e memória, como atrás referimos, não é exclusivo do ser humano, tendo-se feito experiências elucidativas com diversos animais que mostraram possuí-las. Os cavalos, por exemplo, podem fazer contas matemáticas com raízes quadradas. Cães há, que morrem de inacção junto da campa do seu dono e amigo, com saudades provavelmente. Os elefantes têm uma memória que serve de exemplo.

Esta inteligência pode ser pouca e rudimentar para as exigências do ser humano, mas existe, e certamente com bastante interesse para a forma de vida desses animais. Não podemos avaliar o seu interesse dentro de uma perspectiva humana, porque como ainda não se sabe ao certo o que é inteligência, não podemos tecer considerações partindo de um ponto de vista próprio e "habitual" da realidade do ser humano. O termo inteligência, para os animais "irracionais", tem, em psicologia, significados diferentes, mas podemos entrar em acordo com o conceito mais comum entre os psicólogos de que a inteligência animal é a capacidade de resolver problemas ou melhor dizendo, de encontrar uma solução adequada a situações novas. Foram verificados numerosos graus de inteligência animal e vários problemas, adequados a esses graus, surgiram, tendo-se chegado a conclusões verdadeiramente extraordinárias.

Uma chimpanzé, de nome Sarah, foi treinada por um casal de psicólogos, Ann e David Premack, da Universidade da Califórnia, a comunicar por meio de símbolos com feitios e cores variadas, conseguindo usar um vocabulário, com cerca de cento e trinta palavras, com oitenta por cento de segurança para definir cores, formatos e tamanhos de objectos e até as suas próprias preferências. Outro macaco, Washoe, aprendeu a comunicar através da linguagem da mímica americana, com os dedos e as mãos.

Em Maio de 1959, também nos Estados Unidos, o doutor John C. Lilly fundou uma sociedade chamada Instituto de Investigação Sobre as Comunicações Entre as Espécies, tentando, na ilha de S. Tomás, perto de Porto Rico, estabelecer contacto com os golfinhos.

Depois de muitas experiências bastante complexas conseguiu contactar com um golfinho, a que chamou Lizzie, o qual imitava perfeitamente as vozes dos tratadores até um dia em que começou a emitir novos sons, diferentes, que a equipe de investigação, após longos estudos, interpretou como tentativas do golfinho para comunicar algo de urgente. Lizzie tentou comunicar numa linguagem binária, como que em código, a 16 de Abril de 1960. A 20 do mesmo mês morria com uma infecção intestinal. Ao fim de um ano de trabalho laborioso, o investigador americano chegou à conclusão de que Lizzie tentava, a seu modo, transmitir-lhe uma mensagem expressando a sua indisposição a qual a levou à morte quatro dias depois.

E, para finalizar, fazemos uma referência à misteriosa linguagem das Abelhas, que demonstra também inteligência. O entomólogo austríaco Karl Von Frisch estudou a chamada dança das abelhas, mediante as quais elas orientam as suas companheiras para fontes de provisões de néctar que localizaram anteriormente. Ao regressar do campo, a abelha dá início a uma dança, girando primeiro para a direita e logo para a esquerda. Com isso informa que encontrou flores, das quais trás o néctar, a uns quarenta metros de distância da colmeia. O maior ou menor vigor da dança depende do conteúdo do açúcar ser superior ou inferior a quarenta por cento. Além disso, a abelha indica a localização da fonte tomando o Sol como referência mediante uma curta corrida ao acabar a dança. Se ela baixa verticalmente em frente ao favo, isso indica que terão de voar em direcção recta afastando-se do Sol. Se se desvia para a esquerda da vertical, por exemplo quarenta graus, quer dizer que terão de voar com ângulo igual, e assim sucessivamente para qualquer posição. A distância superior a quarenta metros é indicada pela abelha com a repetição do ciclo de dança e respectiva corrida.

O processo desenvolvido pela abelha nesta dança de orientação é semelhante ao que chamamos linguagem ou fala privativa dos homens. Porque, neste caso, a abelha teve de recordar a distância que percorreu, estabelecer a tripla posição do Sol, da colónia e da fonte de alimento, e transportar o mapa do terreno, assim obtido, do plano horizontal da realidade ao plano vertical do favo, diante do qual efectua a sua demonstração gráfica.

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