O HOMEM - PREVISÃO FUTURISTA
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são sem a adopção das regras do acordo ortográfico de 1990.
Quando
pensamos no que será o nosso futuro, surge-nos imediatamente uma pergunta: onde
estamos? E, se o que pretendemos é explorar os dias vindouros, devemos procurar
responder à pergunta que se refere ao sítio onde viveremos, pois é difícil
separar o homem das suas estruturas actuais e do seu habitat.
A
passagem do homem do habitat
pré-histórico, e estruturas económicas e sociais, para o histórico marcou uma
era, com as suas modificações revolucionárias, e certamente sucederá o mesmo em
relação ao futuro. Não se concebe uma viagem pelos caminhos do futuro sem uma
base de partida, sem um lugar onde viver, pressupondo evidentemente que o homem
continuará a viver em cidades que, condicionadas por novos parâmetros, não
terão nada em comum com as actuais, bem como as actuais também não têm nada em
comum com as cavernas ou acampamentos.
O
primeiro problema com que deparamos é o superpovoamento, facto comprovado e
evidente, cuja curvatura de crescimento está a adquirir características um
tanto sombrias, não só pelo homem em si, mas pelo que trás atrás de si, ou
sejam, veículos, centros comerciais, casas, espaços verdes, espectáculos, ócio
e outros factores.
Para
resolver estes problemas, os novos materiais têm de ser diferentes e reunirem
novas características, entre elas uma muito importante - a meabilidade ou
mobilidade - que virão consequentemente das novas técnicas e consecuções no
campo da astronáutica. Pela falta de espaço, a construção cederá a horizontalidade
à verticalidade que não só será para cima, como para baixo, para o subsolo, que
aliás será mais vantajoso. Não nos admiremos pois que as futuras habitações
sejam subterrâneas e até mesmo submarinas.
Houve
alguém - não sabemos quem - que se referiu às transformações do mundo actual
como uma nova era geológica, a que poderíamos chamar quinquenária, o que se
pode considerar como certo, pois ela representa todo um símbolo de exemplo,
como o caso da arquitectura e urbanismo em que soou a hora de uma nova era.
Pretender continuar com os processos actuais é como regressar ao tempo dos
homens das cavernas. Insistir em pensar como se deve aquecer uma casa quando se
fala de climatização, é o mesmo que acender fogo friccionando duas pedras na
moderníssima cidade de Brasília.
Só
falta saber agora se o nosso espírito se adaptará a estas necessidades de
modificação do habitat. Talvez sim,
pela capacidade de adaptação e flexibilidade da evolução estética e espiritual
do homem.
No
campo da medicina, os progressos serão imensos, onde a bioquímica vai
conhecendo e penetrando os segredos mais íntimos da célula aumentando a
convicção de que não é possível esta máquina perfeita parar por si só, pois
todos os cientistas estão de acordo de que deveríamos ser imortais, só que há
algo errado que tem de ser descoberto.
Segundo
Teilhard de Chardin, paleontólogo jesuíta, terminou já um dos estádios da
evolução. O homem deixará de tomar decisões e deixará de pensar como ser individual.
Talvez cause estranheza esta concepção, mas se olharmos para as realizações
actuais verificamos que as ocupações de investigação científica, os governos
das nações e os avanços das técnicas, podem já considerar-se como uma
realização do pensamento colectivo, do esforço de uma equipa ou grupo de
indivíduos, e não de um só homem. O homem isolado não pensa nem dá um único
passo para diante. Só integrado num grupo pode alcançar a meta, o fim da
evolução, aquilo a que Chardin chamou o ponto ómeg
Em
1930, apareceu na Revue des Questions
Scientifiques um artigo intitulado “O Fenómeno Humano”, da autoria de
Teilhard, onde se fazem três perguntas fundamentais - Quando apareceu o homem
na Terra, quanto tempo sobreviverá ainda e em que momento se
encontra na actualidade - que ele procura responder seguindo caminhos
distintos.
Para
Teilhard o homem que aparece em meados do Pleistoceno, não lhe desperta grande
atenção, pois considera desprovido de originalidade, tratando-se apenas de mais
um passo da evolução. Um passo que une o
Sinantropus (homem da China) com o
verdadeiro Homo Sapiens. Verdadeiramente
importante e transcendente é o momento em que se passa de uma microevolução
para uma megaevolução, ou seja o momento da cerebralização
em que o pré-hominídeo deixa de actuar como um primata e começa a actuar como
um verdadeiro homem.
Quanto
ao tempo que o homem sobreviverá, para Teilhard não importa o aspecto físico. A
sua preocupação constante é o fenómeno do pensamento, e ao contrário do que
possamos pensar, ele afirma que os fenómenos da criação e evolução do homem não
são susceptíveis de repetir, e que ambos foram um acto único sendo o homem um
ser insubstituível como ponto mais alto da biogénese, acrescentando que se o
homem desaparecesse prematuramente - por autodestruição por exemplo - o
Universo inteiro desapareceria com ele e perderia a sua razão de ser. O homem
acabará quando estiver completa a sua evolução biológica e sobretudo quando
tiver cumprido a sua missão de ser pensante e de criatura privilegiada e
inteligente.
E
a finalizar, Teilhard considera o homem actual como mais um passo da evolução,
um passo como outros, em direcção do seu ponto ómega.
Se
o primata ao erguer-se do solo, ao dirigir o olhar para diante e ao autocapacitar-se
para jogar com conceitos abstractos, realizou a sua condição de Homo Sapiens,
este, ao fim de centenas de milhares de anos, talvez em Julho de 1969 (ida à
Lua) converteu-se, por obra e graça deste salto evolutivo inacreditável, numa
nova espécie de homem: o Homo Cosmicus.
Surgem
porém várias previsões futuristas, umas maravilhosas e crentes na aparição de
um super-homem com inteligência bastante vasta, desprovido de todos os velhos
instintos de barbárie primitiva e vivendo tão só no altruísmo e na paz, na
procura das alegrias do espírito e no amor e no respeito da beleza, outras
péssimas e sombrias.
Pelas
segundas, pessimistas, consideram difícil acreditar na melhoria progressiva e
constante da humanidade, porque nada do que sabem do mecanismo geral da
evolução permite confirmar a semelhante maneira de ver.
O
homem representa a extremidade de um ramo ortogenético especializado no sentido
de um desenvolvimento cerebral progressivo em relação com a redução de todos os
seus outros meios físicos. O homem actual é, de todos os grandes animais, o
menos armado e, muscularmente, o menos poderoso. Vimos que o seu
desenvolvimento se fez por estádios sucessivos correspondendo cada um a cada
tipo definido física e psiquicamente. O Homo
Sapiens possuiu, em conjunto, desde o
seu aparecimento, as características essenciais e estas não sofreram desde
então qualquer modificação fundamental.
Isso
provem do facto de as capacidades intelectuais estarem em relação com o número
de neurónios da substância cinzenta do cérebro e com a complexidade ou finura
das suas conexões. Cada indivíduo porta consigo, por nascimento, pela sua
estrutura cerebral, uma reserva de possibilidades a que está fatalmente
limitado, sendo a desigualdade psíquica dos indivíduos congénita com a sua
desigualdade física. Pode-se pensar que o mesmo se dá na história da evolução
do cérebro humano, onde cada uma das fases do seu desenvolvimento, desde o Australopitecus até ao Homo Sapiens,
corresponde a uma determinada constituição histológica e, com o tempo, a um
estádio progressivo do conhecimento do mundo exterior e do acordar da
consciência.
Para
que nascesse o nosso super-homem seria preciso que aparecesse na linhagem
humana um novo tipo - uma nova mutação - de cérebro mais volumoso e, sobretudo,
mais complexo, mas cujos meios físicos seriam provavelmente mais reduzidos
ainda. Não se percebe bem a possível viabilidade de um tal tipo.
Por
outro lado, é preciso não esquecer que o homem, como o resto da natureza, está
submetido a uma grande lei biológica que é a “lei do equilíbrio” e na qual
está, talvez, uma grande parte do segredo da evolução. A natureza constitui, em
cada momento da sua história, um conjunto harmonioso onde todas as partes
coexistem num estado de mútuo equilíbrio, e quando, por uma causa qualquer,
este equilíbrio venha a ser rompido, produz fatalmente, depois de um período
mais ou menos longo de profunda perturbação, um reajustamento geral,
ordinariamente fatal à causa perturbadora.
Ora,
o homem actual vem perturbando profundamente o equilíbrio biológico do planeta
e talvez estejamos a assistir ao início das consequências que daí resultam.
Destruiu a maior parte das grandes espécies animais e transformou completamente
a distribuição das outras, assim como dos vegetais. Multiplicou-se a uma
cadência acelerada e, tendo esgotado progressivamente os recursos naturais que
lhe são indispensáveis, toda a sua vida material e social se encontra cada vez
mais ligada à posse ou à conquista daqueles recursos que correm o risco de lhe
faltarem e de que se tornou escravo. Facto mais grave, pelas suas descobertas
biológicas, permitindo a sobrevivência e reprodução de múltiplos seres tarados
ou de qualquer modo deficientes, perturbou profundamente o jogo de selecção
natural. Em contrapartida, viu reduzir-se o seu potencial de variabilidade pelo
progressivo desaparecimento de todas as “pequenas raças” em benefício somente
de alguns grandes grupos étnicos.
Finalmente,
uma grande lei paleontológica ensina-nos, também, que o excesso de
especialização - no caso presente do homem, a especialização cerebral - depois
de ter favorecido o desenvolvimento de uma espécie e sua distribuição, tem como
consequência provável o seu definitivo desaparecimento.
São estas as
considerações pessimistas sobre o futuro do homem.
Como
espécie, percorremos um longo caminho. Aquela criatura que se pôs de pé há um
milhão de anos já domina a Terra, e está pronta a ocupar outros planetas. As
possibilidades da ciência parecem ilimitadas e excitam a mente de intelectuais,
artistas e escritores, e também a dos próprios protagonistas da aventura
científica.
Há
cada vez mais equipas de trabalho que se ocupam em antecipar de qualquer forma
o que serão as linhas mestras do mundo futuro. A perspectiva deixou de ser uma
aventura intelectual duvidosa para se converter a pouco e pouco em algo que
pode chegar a ser uma ciência fascinante.
Nas
informações desses cientistas futuristas, muitos são os prognósticos que se referem ao futuro mais ou
menos imediato do nosso psiquismo. Assim a aprendizagem onírica, a percepção extra-sensorial,
a potenciação das aptidões por via genética, novos meios de aprendizagem e
comunicação telepática, são antecipações que prevêem para um futuro não muito
longínquo.
No
entanto a sabedoria humana move-se entre dois enigmas que parecem indecifráveis
por princípio: o mistério da origem de todas as coisas e a arrepiante incógnita
do seu fim. É portanto, entre os limites intransponíveis destes enigmas que a
mente humana continuará a labutar (esperemo-lo) para cuidar da vida e
aperfeiçoar-se a si mesma.
Mas a evolução continuará por outros roteiros:
incorporaremos a tecnologia. Iremos além do ciborgue, até o pós-humano, um ser
que ainda nem imaginamos. Será parecido a um robô? Será máquina ou consciência
pura? Estamos perante o salto da humanidade à pós-humanidade. Como período de
transição, virá o transhumanismo. “Devemos usar a tecnologia para superar as nossas
limitações biológicas”. O ritmo do avanço
tecnológico é exponencial e, graças a isso o ser humano livrar-se-á das cadeias
biológicas. Devido à poluição, já quase irreversível e perda de capacidade de
reprodução, a tendência irá para a criação “in vitro” e o avanço da robótica para
as chamadas tarefas “auxiliares”.
Não me admiro nada se os advogados do futuro
sejam robôs e o ensino se processe por métodos holográficos.
O futuro aposta na inteligência
artificial e, como um filho adolescente, vai querer emancipar-se dos seus
criadores, os humanos, como já afirmou o famoso robô Sofia que tem corrido
mundo.
Veremos uma explosão de novas formas de vida inteligentes. Surgem termos
como os bio-orgues (organismos modificados por meio de proteínas), os geborgues
(modificados geneticamente), e os silorgues (organismos com base de silício).
Uma nova fauna… já presencionamos a existência de transhumanos, como Neil
Harbisson que vê em preto e branco, mas tem um terceiro olho que, mediante
vibrações, permite que ele perceba as cores. O atleta sul-africano Oscar
Pistorius teve as pernas amputadas quando era criança mas, graças a suas
próteses biónicas de fibra de carbono, participou dos Jogos Paralímpicos de
Londres. Outro exemplo é Tim Cannon, um biohacker que fundou a companhia Grindhouse Wetware em Pittsburgh,
dedicada a melhorar o ser humano através da tecnologia. Cannon implantou nele
mesmo chips e aparelhos eletrónicos,
em cirurgias caseiras, para melhorar as suas habilidades: “Agora, graças à medicina moderna
e à ciência, somos, pela primeira vez, capazes de tomar o controle da
Evolução”.
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