QUAL A
FINALIDADE DA CRENÇA RELIGIOSA
Devemos ter em mente que a verdadeira
religião existe para nos fazer conhecer Deus como
nosso Pai e o Homem como nosso irmão.
A religião não é a crença escrava em ameaças de punição, nem em
promessas mágicas de recompensas místicas futuras. A religião de Jesus é a
influência mais dinâmica que jamais estimulou a raça humana. Jesus abalou a
tradição, destruiu o dogma e convocou a humanidade à realização dos seus ideais
mais elevados no tempo e na eternidade – ser perfeito, como o próprio Pai no
céu é perfeito. Jesus procurou restaurar a dignidade do homem, quando declarou que
todos os homens são filhos de Deus.
Qualquer crença religiosa que seja eficaz para a espiritualização
do crente tem repercussões poderosas na vida social.
A experiência religiosa produz, infalivelmente, os “frutos do
espírito” na vida diária do mortal que é guiado pelo Espírito. Quando
compartilham as suas crenças religiosas, os homens criam grupos religiosos de
alguma espécie, que finalmente gerarão metas comuns.
Algum dia, os religiosos deixarão de tentar reunir-se baseando-se
em opiniões psicológicas e crenças teológicas, e efectivarão
uma cooperação real, com base na unidade de ideais e de propósitos.
As metas, mais do que as
crenças, é que devem unificar os religiosos. Já que a verdadeira religião é uma questão de experiência
espiritual pessoal, é inevitável que cada religioso, individualmente, deva ter
a sua interpretação própria e pessoal da realização dessa experiência
espiritual.
Jesus não exigiu que os
seus seguidores se reunissem periodicamente e que recitassem fórmulas rituais
indicadoras das suas crenças comuns. (como fazem nas Igrejas
institucionalizadas, com os seus dogmas, hierarquias e regulamentos). Ele
apenas ordenou que se reunissem para fazer algo, factualmente –
compartilhar da ceia comunitária em lembrança da sua vida de entrega total na
Terra.
O sectarismo é uma doença da religião
institucionalizada, enquanto o dogmatismo é uma escravização da
natureza espiritual. De longe, é melhor ter uma religião sem
uma igreja,
do que uma igreja sem religião.
O tumulto religioso do século XX não indica, em si e por si mesmo,
uma decadência espiritual. A confusão vem antes do crescimento, tanto quanto
antes da destruição. Há um propósito, de facto, na socialização da religião. É
propósito das actividades religiosas grupais dramatizar as lealdades à
religião, exagerar as seduções da verdade, da beleza e da bondade, fomentar as
atracções dos valores supremos, elevar os serviços feitos na fraternidade
altruísta, glorificar os potenciais da vida familiar, promover a educação
religiosa, prover o conselho sábio e a orientação espiritual, e encorajar a
adoração grupal. E todas as religiões vivas encorajam a amizade humana,
conservam a moralidade, promovem o bem-estar da comunidade, e facilitam a
disseminação do evangelho essencial das suas respectivas mensagens de salvação
eterna.
No entanto, quando a religião se torna institucionalizada, o seu poder para o bem fica reduzido,
ao passo que as possibilidades para o mal se tornam grandemente multiplicadas.
Os perigos da religião formalizada são:
- A fixação das crenças e a cristalização dos sentimentos,
- A acumulação de direitos e interesses adquiridos com um crescimento da
seculização
- A tendência para a padronização e a fossilização da verdade,
- O desvio da religião para o
serviço da igreja, em vez do serviço de Deus,
- A inclinação dos líderes
de se tornarem administradores, em vez de ministradores,
- A tendência a formar seitas e divisões competitivas,
- O estabelecimento de uma autoridade eclesiástica opressiva,
- A criação da atitude aristocrática do tipo “povo-escolhido”,
- O estímulo ao surgimento de ideias falsas e exageradas sobre o
sagrado,
- A transformação da religião em algo rotineiro e a petrificação
da adoração,
- A tendência a venerar o passado e ignorar as solicitações do
presente,
- O fracasso em fazer interpretações atuais da religião,
- O envolvimento com as funções das instituições seculares,
- A criação do mal que é a discriminação por castas religiosas,
- O perigo de a religião transformar-se num juiz ortodoxo
intolerante,
- O fracasso de manter vivo o interesse da juventude aventurosa e
a perda gradativa
da mensagem salvadora do evangelho da salvação eterna.
A religião formal restringe os homens nas suas actividades
espirituais pessoais, em vez de liberá-los para o serviço mais elevado de
edificadores do Reino.
Inicialmente o crescimento espiritual é um despertar para as necessidades e, em seguida, um discernimento dos significados e, depois, uma descoberta dos valores. A evidência do verdadeiro
desenvolvimento espiritual consiste em demonstrar uma personalidade humana
motivada pelo amor, animada pela ministração não egoísta e dominada pela
adoração sincera dos ideais de perfeição da divindade.
E toda essa experiência constitui a realidade da religião, em contraste com a das meras crenças
teológicas. A religião pode progredir até aquele nível de experiência em
que se torna uma técnica esclarecida e sábia de reacção espiritual ao universo.
Tal religião glorificada pode funcionar em três níveis da personalidade humana:
o intelectual, o astral (mundo intermédio entre o material e o espiritual) e o espiritual, sobre a mente, sobre a alma
em evolução e junto ao Espírito divino.
A espiritualidade passa imediatamente a ser indicadora da nossa
proximidade de Deus e a medida da nossa capacidade de servir aos nossos
semelhantes.
A
espiritualidade realça a capacidade de: .
- Descobrir a beleza nas coisas.
- Reconhecer a verdade nos significados.
- Descobrir a bondade nos valores.
O desenvolvimento espiritual é determinado por estas capacidades e
é directamente proporcional à eliminação das qualidades egoístas do amor. O status
espiritual real é a medida do nosso alcance da Deidade, da nossa sintonização
com o nosso Espírito. O alcançar da finalidade da espiritualidade é equivalente
a atingir o máximo de realidade, o máximo de semelhança a Deus. A vida eterna é
a busca sem fim dos valores infinitos.
A
meta da auto-realização humana deveria ser espiritual, e não material.
As únicas realidades que valem o esforço são as divinas, as
espirituais e eternas. O homem mortal encontra-se capacitado para desfrutar do
prazer físico e da satisfação de afectos humanos. Ele beneficia da lealdade da
associação a outros homens e das instituições temporais, mas estas não são
fundações eternas sobre as quais se deva edificar a personalidade imortal, a
qual deve transcender ao espaço, vencer o tempo e alcançar o destino da
perfeição divina na fusão final entre a Alma e o Espírito.
As nossas preferências e os desagrados não determinam o bem e o
mal. Os valores morais não crescem com os desejos realizados, nem com a
frustração emocional. Na contemplação dos valores, devemos distinguir entre
aquilo que é valor e aquilo que tem valor. Devemos reconhecer
a relação entre as actividades agradáveis, a integração significativa delas e a
realização engrandecida em níveis sempre mais elevados da experiência humana.
Os ensinamentos de Jesus constituíram a primeira religião a
abranger tão plenamente uma coordenação harmoniosa de conhecimento, sabedoria,
fé, verdade e amor, tão completa e simultaneamente, a ponto de proporcionar a
tranquilidade temporal, a certeza intelectual, o esclarecimento moral, a
estabilidade filosófica, a sensibilidade ética, a consciência de Deus e a
certeza positiva da sobrevivência pessoal. A fé de Jesus apontou o caminho para
a finalidade da salvação humana, para a sublimidade da realização mortal no
universo, pois ela assegurou:
1. A salvação
das correntes materiais, pela realização da filiação a Deus, que é
espírito.
2. A salvação
da escravidão intelectual: o homem conhecerá a verdade, e a verdade o
libertará.
3. A salvação da cegueira espiritual, a realização humana da
fraternidade entre os seres mortais e a consciência astral da irmandade de todas as criaturas do universo, o
serviço-descoberta da realidade espiritual e do ministério-revelação da bondade
dos valores espirituais. (Fase
da realidade do universo que intervém e que constrói uma ponte entre os reinos
materiais e espirituais. Após a sobrevivência da personalidade (na morte física) esta é personificada num
corpo Astral (corpo semi-espiritual/semi-material),
existindo a partir desse instante como uma inteligência
Astral- etapa posterior à Inteligência Fisica, portanto já no plano dimensional acima do plano material
das 3 dimensões. A EVOLUÇÃO processa-se neste mundo num plano dimensional mais
elevado, passando por várias fases de ensinamentos – como nas escolas no mundo
material – onde a Alma vai subindo de escalão até passar a outra dimensão
superior e continuar a evoluir até que o Espírito, que o acompanhou na Terra e
o acompanhou no mundo astral, acabe por se fundir com a Alma – etapa de inteligência espiritual - e continuarem
até à identificação com Deus. Esta é a diferença entre a Reencarnação e a
Ressurreição. A reencarnação seria a evolução no planeta Terra, uma perda de
tempo - os valores verdadeiros a desenvolver tanto se desenvolvem agora, como
depois e se desenvolveram no passado da história humana, porque a história
repete-se ciclicamente e nada de novo ensina - e a verdadeira evolução
processa-se depois da ressurreição no plano dimensional superior ao plano
material em que vivemos. Esta teoria da encarnação interessa aos seres
demoníacos que habitam num mundo paralelo ao mundo do homem e que conseguem
estabelecer um contacto com o homem, desde
que este o permita (influenciado
pelos espíritas e ocultistas). Esses seres vivem das emoções dos seres
humanos e não podem ascender ao plano dimensional mais elevado para onde os
homens vão e tudo fazem para que o homem opte por ficar no mundo material. Como
o homem tem o livre arbítrio pode, mesmo que enganado, deixar-se seduzir, e
pelos seus actos ficar preso nesta dimensão e servir de alimento a esses seres
inferiores.
4. A salvação
da incompletude do ego, por meio de um alcance até aos níveis espirituais mais
elevados.
5. A salvação
do eu, a liberação das limitações da autoconsciência, por meio do alcance
dos níveis cósmicos da mente do Supremo e pela coordenação com as realizações
de todos os outros seres Auto conscientes.
6. A salvação
do tempo, a realização de uma vida eterna de progressão infindável no
reconhecimento de Deus e no serviço de Deus.
7. A salvação
do finito, por meio da unidade perfeccionada com a Deidade no Supremo, e
por meio do qual a criatura intenta a descoberta transcendental do Último, nos
níveis da
realidade intermediária
entre o finito e o absoluto, caracterizado por elementos e seres sem início ou
fim, e pela transcendência espaço/temporal.
Esta salvação Séptupla
é equivalente à realização completa e perfeita da experiência em intimidade com
o Pai Universal. E tudo isto, em potencial, está contido na realidade da fé da
experiência humana na religião.
E pode estar assim contida, posto que a fé de Jesus foi nutrida
por realidades até mesmo além do Último, e foi reveladora delas. A fé de Jesus
aproximou-se do status de um absoluto no universo, na medida em que tal
seja possível de ser manifestado no cosmo em evolução do tempo e do espaço.
Por meio da apropriação da fé de Jesus, o homem mortal pode
antecipar, no tempo, o gosto das realidades da eternidade. Jesus fez a
descoberta, na sua experiência humana, do Pai Final, e os seus irmãos na carne,
em vida mortal, podem segui-lo ao longo dessa mesma experiência de descoberta
do Pai. Eles podem até mesmo alcançar, sendo o que são, a mesma satisfação,
nessa experiência com o Pai, que Jesus alcançou, sendo o que ele era.
Novos potenciais concretizaram-se no nosso universo em
consequência da entrega final de Jesus, e um destes é
a nova iluminação do caminho de eternidade que conduz ao Pai, e que pode ser
percorrido pelos mortais de carne e sangue material, ainda na vida inicial nos
planetas do espaço. Jesus foi e é o novo caminho vivo, por meio do qual o homem
pode chegar à herança divina que o Pai decretou que fosse dele, apenas ele
assim o pedisse. Com Jesus ficam abundantemente demonstrados os começos e os
fins da experiência de fé da humanidade, e até mesmo da humanidade divina.
Fonte: O Livro de Urântia.
(Sem adopção às regras do acordo ortográfico de 1990)
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