O Livro dos Sábios (1870)
4 de 10 - DISCUSSÕES EM
FORMA DE DIÁLOGO
QUARTO DIÁLOGO - UM ISRAELITA e ELIPHAS LEVI
O ISRAELITA — Tendo ouvido a tua conversa com esse ateu, constato com prazer que
liquidas os erros do cristianismo.
ELIPHAS LEVI — Sim, sem dúvida; porém, é para defender as suas verdades com maior energia...
O ISRAELITA — Quais são as verdades do cristianismo?
ELIPHAS LEVI — As mesmas que as da religião de Moisés, mais os sacramentos eficazes com a fé, a esperança e a caridade.
O ISRAELITA — E mais ainda a idolatria; ou seja, o culto que devido a Deus, rendido a um homem e até a um pedaço de pão. O sacerdote colocado no lugar do próprio Deus e condenando ao inferno os Israelitas, ou seja, os adoradores do verdadeiro Deus e os herdeiros da sua promessa.
ELIPHAS LEVI — Não, filho dos nossos pais; nós não pomos nada no lugar de Deus. Cremos, como tu, que a sua divindade é única, imutável, espiritual e não o confundimos com as suas criaturas.
Adoramos a Deus na humanidade de Jesus Cristo e não à essa humanidade no lugar de Deus. Existe entre nós um mal entendido que dura muitos séculos e que tem feito derramar muito sangue e muitas lágrimas. Os pretensos Cristãos que te perseguiram eram fanáticos e ímpios, indignos do espírito daquele Jesus que perdoou os que o crucificaram e morreu dizendo: "Perdoai-os, meu pai, pois não sabem o que fazem". Nosso dogma, por outro lado, não começa com Jesus Cristo; ele está contido completamente nos mistérios da Cabala, cuja tradição remonta-se até ao Patriarca Abraão. O nosso Homem-Deus é o tipo humano e divino do Zohar realizado num homem vivo. O nosso Verbo encarnado chamado Logos por Platão e por São João, O Evangelista, quer dizer: razão manifestada pela palavra; chama-se Hochmah na doutrina das Sefirots.
O ISRAELITA — Interrompo-te aqui e declaro que, entre nós, a Cabala não é autoridade. Não a conhecemos mais, porque foi profanada e desfigurada pelos Samaritanos e pelos Gnósticos Orientais.
Maimônides, uma das grandes luzes da sinagoga, considera a Cabala como inútil e perigosa; não quer que nos ocupemos dela; quer isto sim, que nos atenhamos ao símbolo, do qual ele mesmo formulou os treze artigos no Sefer Thorá, aos profetas e ao Talmud.
ELIPHAS LEVI — Sim, porém o Séfer Thorá, os profetas e o Talmud são ininteligíveis sem a Cabala. Direi mais: estes livros sagrados são a própria Cabala escrita em hieróglifos hieráticos, ou seja, em imagens alegóricas. A escrita é um livro fechado sem a tradição que a explica; e, a tradição é a Cabala.
O ISRAELITA — Eis aí o que nego. A tradição é o Talmud.
ELIPHAS LEVI — Dizes que o Talmud é o véu da tradição; a tradição é o Zohar.
O ISRAELITA — Podes prová-lo?
ELIPHAS LEVI — Sim, se tiveres a paciência de escutar-me; pois teria que razoar bastante, citar e comparar autores, apreciar o que dizem Franck e Drach, dois sábios cabalistas que não estão de acordo; explicar o Géneses e Ezequiel, buscar neste último a chave do Apocalipse de São João, analisar a Mischna e ver em que difere essencialmente da dos Gemarah, aplicar aos sete primeiros capítulos do Géneses as chaves alfabéticas e numéricas do Sefer Yetzira, voltar aos livros dogmáticos do Zohar, estudar a fundo o Siphra Di-Tzeniutha com as explicações do grande e pequeno Sínodo.
Tudo isto leva tempo, que, te dedicaria com boa vontade se esperasse ser-te útil e pediria uma atenção longa e contínua, que seguramente, não ma darias.
O ISRAELITA — Porquê?
ELIPHAS LEVI — Porque não sou um rabino, nem sequer um Israelita; pelo menos, como o acreditas.
O ISRAELITA — Como o creio! E estou bem seguro disso.
ELIPHAS LEVI — É inútil que fale por mais tempo, pois escutar-me-ias com uma desconfiança que aumentaria com a mesma força das minhas razões. És ainda por demais judeu! Venha visitar-me quando duvidares da tua religião que te mostrarei a nossa.
ELIPHAS LEVI — Sim, sem dúvida; porém, é para defender as suas verdades com maior energia...
O ISRAELITA — Quais são as verdades do cristianismo?
ELIPHAS LEVI — As mesmas que as da religião de Moisés, mais os sacramentos eficazes com a fé, a esperança e a caridade.
O ISRAELITA — E mais ainda a idolatria; ou seja, o culto que devido a Deus, rendido a um homem e até a um pedaço de pão. O sacerdote colocado no lugar do próprio Deus e condenando ao inferno os Israelitas, ou seja, os adoradores do verdadeiro Deus e os herdeiros da sua promessa.
ELIPHAS LEVI — Não, filho dos nossos pais; nós não pomos nada no lugar de Deus. Cremos, como tu, que a sua divindade é única, imutável, espiritual e não o confundimos com as suas criaturas.
Adoramos a Deus na humanidade de Jesus Cristo e não à essa humanidade no lugar de Deus. Existe entre nós um mal entendido que dura muitos séculos e que tem feito derramar muito sangue e muitas lágrimas. Os pretensos Cristãos que te perseguiram eram fanáticos e ímpios, indignos do espírito daquele Jesus que perdoou os que o crucificaram e morreu dizendo: "Perdoai-os, meu pai, pois não sabem o que fazem". Nosso dogma, por outro lado, não começa com Jesus Cristo; ele está contido completamente nos mistérios da Cabala, cuja tradição remonta-se até ao Patriarca Abraão. O nosso Homem-Deus é o tipo humano e divino do Zohar realizado num homem vivo. O nosso Verbo encarnado chamado Logos por Platão e por São João, O Evangelista, quer dizer: razão manifestada pela palavra; chama-se Hochmah na doutrina das Sefirots.
O ISRAELITA — Interrompo-te aqui e declaro que, entre nós, a Cabala não é autoridade. Não a conhecemos mais, porque foi profanada e desfigurada pelos Samaritanos e pelos Gnósticos Orientais.
Maimônides, uma das grandes luzes da sinagoga, considera a Cabala como inútil e perigosa; não quer que nos ocupemos dela; quer isto sim, que nos atenhamos ao símbolo, do qual ele mesmo formulou os treze artigos no Sefer Thorá, aos profetas e ao Talmud.
ELIPHAS LEVI — Sim, porém o Séfer Thorá, os profetas e o Talmud são ininteligíveis sem a Cabala. Direi mais: estes livros sagrados são a própria Cabala escrita em hieróglifos hieráticos, ou seja, em imagens alegóricas. A escrita é um livro fechado sem a tradição que a explica; e, a tradição é a Cabala.
O ISRAELITA — Eis aí o que nego. A tradição é o Talmud.
ELIPHAS LEVI — Dizes que o Talmud é o véu da tradição; a tradição é o Zohar.
O ISRAELITA — Podes prová-lo?
ELIPHAS LEVI — Sim, se tiveres a paciência de escutar-me; pois teria que razoar bastante, citar e comparar autores, apreciar o que dizem Franck e Drach, dois sábios cabalistas que não estão de acordo; explicar o Géneses e Ezequiel, buscar neste último a chave do Apocalipse de São João, analisar a Mischna e ver em que difere essencialmente da dos Gemarah, aplicar aos sete primeiros capítulos do Géneses as chaves alfabéticas e numéricas do Sefer Yetzira, voltar aos livros dogmáticos do Zohar, estudar a fundo o Siphra Di-Tzeniutha com as explicações do grande e pequeno Sínodo.
Tudo isto leva tempo, que, te dedicaria com boa vontade se esperasse ser-te útil e pediria uma atenção longa e contínua, que seguramente, não ma darias.
O ISRAELITA — Porquê?
ELIPHAS LEVI — Porque não sou um rabino, nem sequer um Israelita; pelo menos, como o acreditas.
O ISRAELITA — Como o creio! E estou bem seguro disso.
ELIPHAS LEVI — É inútil que fale por mais tempo, pois escutar-me-ias com uma desconfiança que aumentaria com a mesma força das minhas razões. És ainda por demais judeu! Venha visitar-me quando duvidares da tua religião que te mostrarei a nossa.
(Continua)
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