LICENÇA PARA MATAR
Os Estados Unidos tentam policiar o mundo e moldá-lo conforme os seus
interesses e mete-se em aventuras muitas das vezes catastróficas porque os seus
militares não são tão bons como o propagandeado e sofre do grande problema que
sempre o assombrou. O campo fértil para todo o tipo de "máfias" e
narcotráfico, e consumo desenfreado nas suas fileiras, porque o norteamericano
normal, que é mobilizado sofre horrores e traumatismos que, infelizmente, não é
devidamente acompanhado pelos responsáveis que os deixam completamente
desamparado e dependente da caridade. Grande percentagem de "sem
abrigo" nos Estados Unidos, são veteranos que foram abandonados pelo
sistema corrupto do capitalismo selvagem onde conta apenas o lucro.
Como a opinião pública começou a questionar as mortes e doenças dos seus
militares, o sistema tratou de criar "tropas de substituição",
autênticos exércitos privados (mercenários),
neste caso não devidamente controlados, cujas baixas não entram nas
estatísticas, enganando assim a população ignorante. Só que têm rebentado
alguns escândalos sobre abusos de poder, violações, torturas e massacres de
cidadãos inocentes. E o exército regular é que fica malvisto.
A História dá-nos muitas lições e, neste caso, os Estados Unidos da América
estão a atravessar precisamente aquela fase de decadência que outros Impérios
atravessaram antes de ruírem.
Vejamos então este artigo de Bruno Carvalho.
Licença para matar
Blackwater patrulha Nova Orleães após o
Katrina
São eles que sujam as mãos. Fazem o que as forças armadas
nem sempre podem fazer. Têm carta-branca para assassinar e torturar
indiscriminadamente. A maioria é composta por ex-militares e polícias. Mas
também há traficantes e fanáticos de extrema-direita. Ou as duas coisas ao
mesmo tempo.
Quando rebentou a guerra na Líbia, os jornais inventaram todo o tipo de
mentiras. Entre elas, havia uma que está no bolso de qualquer editor para
qualquer eventualidade. Dizia-se que guerrilheiras das FARC estavam em Tripoli
para defender Kadhafi. Apesar de se terem ‘enganado’ na organização,
acertaram no país.
Efectivamente, há colombianos na Líbia. Ao lado da Al-Qaeda, integrados nas
empresas privadas de segurança, combatem muitas nacionalidades contra o regime
de Kadhafi. Assim como no Iraque e no Afeganistão, milhares recebem dinheiro
para combater a soldo do imperialismo. Os Emiratos Árabes Unidos, por
exemplo, pagaram 419 milhões de euros ao fundador da Blackwater Worldwide para construir um exército mercenário.
Erik Prince, que havia vendido aquela empresa, em 2010, e fundado a Reflex Responses, ficou, desta forma,
responsável, por “operações especiais dentro e fora do país, defender oleodutos
petrolíferos e arranha-céus de ataques terroristas e travar revoltas internas –
eventuais protestos da vasta população de trabalhadores imigrantes ou
manifestações pró-democracia semelhantes às que estão a varrer vários países
árabes”.
Por sua vez, no Panamá, o presidente Martinelli anunciou no início de 2010
a contratação de uma empresa israelita para garantir a sua segurança e para
treinar o Serviço de Protecção Institucional. Naquela zona, são mais do que
muitas as suspeitas de ligações do governo panamiano a organismos tenebrosos
como a CIA e a Mossad.
E, no Iraque, entre as principais funções, estão a segurança pessoal de
políticos nacionais e norte-americanos, homens de negócio, empresários e
asseguram instalações petrolíferas e militares. Estas são as razões oficiais
pelas quais estão ali. Contudo, também lhes estão reservados papéis como o da
construção de bases, intendência, interrogatórios e o combate.
Ao longo dos últimos anos têm sido acusados de participar em operações
secretas dos serviços de inteligência norte-americanos e noutro tipo de
trabalhos sujos que envolvem a promoção do terror, do medo, o conflito
religioso e a organização de esquadrões da morte para espalhar o caos.
Donde vêm os mercenários?
Entre os principais
filões de companhias como a Blackwater, encontram-se países como
a Colômbia, África do Sul e Inglaterra. Muitos são ex-paramilitares colombianos
de organizações extintas de extrema-direita. Da África do Sul, chegam os
derrotados do apartheid. E de Inglaterra todos os que ganharam
experiência na luta contra o IRA. Em geral, são experimentados no terror contra
a resistência dos povos. É o que se pede no curriculum
de um mercenário. Por exemplo, dos mercenários chilenos que combatem a soldo no
Iraque, muitos serviram às ordens de Pinochet. Foram recrutados através de um
anúncio no jornal El Mercurio no qual
se convidava ex-militares, de preferência com experiência na instrução de "comandos"
e domínio do inglês, a prestar serviços de segurança no estrangeiro ao preço de
18 mil dólares por seis meses de trabalho.
À medida que se vão
sabendo os nomes dos que morrem e são feridos também se descobre que tipo de
gente predomina neste negócio. Em Janeiro de 2004, morria François Strydon, um
antigo membro do grupo contra-guerrilha Koevoet que fez numerosos assassinatos
na Namíbia nos anos 80. Um dos mercenários feridos foi Deon Gouws, antigo
membro da polícia secreta sul-africana, que havia confessado atentados contra
opositores ao apartheid. Outro que foi desmascarado pelo The Guardian havia estado preso quatro
anos pelo trabalho sujo realizado na Irlanda do Norte. Um mês depois de sair da
prisão, Derek William Adgey foi contratado pela Armor Group e partiu para o Iraque. Em 2005, o Jornal de Notícias
divulgava que a Blackwater estava a
estabelecer contactos em Portugal para contratar uma centena de pessoas. O alvo
preferencial seriam antigos militares e polícias, da PSP ou da GNR, que
tivessem passado por unidades de elite e participado em acções internacionais
ou que detivessem especialização em áreas mais técnicas. Seriam necessários
operadores de rádio, condutores e tratadores de cães para patrulha ou detecção
de explosivos.
No Iraque, os mercenários são mais de 100 mil. Muitos vêm de países pobres
da América Latina. A perspectiva de puderem ganhar num dia aquilo que ganhariam
num mês fá-los não pensar duas vezes. Peruanos, chilenos, hondurenhos,
equatorianos. Mas também norte-americanos, russos, filipinos, turcos,
nepaleses, indianos e ucranianos. Todos especializados na arte de espalhar o
medo e de esmagar a revolta.
Quando a guerra e a violência são um negócio
Sempre houve gente disposta a matar por dinheiro. Os mercenários existem
desde sempre e também não é de agora a externalização de certas funções
inerentes à guerra, como a logística. O que há de novo é a atribuição dos
Estados de funções inerentes à garantia da soberania nacional a empresas
privadas. Na última década, verificou-se a proliferação de multinacionais da
morte. São fortalezas militares e de segurança privada que lucram com a guerra
e a violência. A contratação da empresa Reflex
Responses por parte dos Emiratos Árabes Unidos é um negócio vantajoso. A
companhia norte-americana enche os cofres de dinheiro e o Estado árabe garante
a manutenção do poder político e económico face à ameaça de uma revolta. Mas
também é um bom negócio para os Estados Unidos e União Europeia que não só não
têm condições políticas e militares para combater em mais frentes como lhes é
vantajoso que não sejam os seus a sujar as mãos.
Desde que começou a ocupação do Iraque, as companhias de produção de armamento
tiveram lucros extraordinários. Mas as empresas de segurança privada nunca
receberam tanto dinheiro. Em 2005, o Washington
Post revelava que 50 por cento do orçamento da CIA tinha sido para o
pagamento a estas empresas. Este negócio gerava, na altura, cerca de 100.000
milhões de dólares de lucro. Um valor que se previa duplicar em 2010
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