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sábado, 13 de junho de 2020

DESENRAIZADOS





Sabemos que todo o ser humano ama a sua terra por mais feia e inóspita que seja. Quando, por motivos de sobrevivência, tenha que ir trabalhar para outras paragens, por muito tempo que por lá permaneça, tem sempre a sua terra no coração e o desejo de para lá retornar no fim dos seus dias.

A vida tem os seus altos e baixos, e nos momentos mais difíceis o ser humano precisa de se sentir seguro, pelo que tem o seu refúgio, o seu castelo, com a sensação de que ali nada lhe acontecerá.

Todos nós nos sentimos bem na nossa casa e mesmo dentro da casa há uma zona privilegiada que todos procuram. Normalmente no local de maior convívio de uma família, como a sala de estar, há um canto, uma poltrona, onde é agradável estar. Até os animais de estimação procuram esse local, e as visitas tendem a sentar-se imediatamente naquele canto tão acolhedor.

Porque será?

Não se trata de comodidade proporcionada pelo móvel. Se lá colocarmos outro móvel menos cómodo sucede o mesmo.

Nesta sociedade cada vez mais impessoal, o ser humano só se sente bem no seu território íntimo, na sua casa e, preferencialmente, na terra que o viu nascer.

Depois de trabalho árduo, periodicamente há a necessidade de passar férias na "terra". Lá se consegue o relaxamento necessário e o revigorar de energias. Quando a vida é recheada de situações más na labuta diária, problemas constantes e doenças, o desejo é chegar à reforma e regressar à sua terra querida e, no seu refúgio, gozar a felicidade a que tem direito. Mesmo que continue com problemas, o ser humano acredita que ali não lhe pode acontecer nenhum mal porque "sente", sem saber de onde, uma força desconhecida que lhe dá energia.

Outros, que levaram uma vida menos má, mais feliz, quando se sentem fragilizados pela idade avançada também regressam à terra natal onde se julgam mais protegidos e mais seguros.

Os que nunca saíram da sua terra natal, procuram novos horizontes para gozarem férias e se divertirem, mas sentem-se felizes quando regressam.

Os que não regressam de vez, têm sempre a certeza de que, se for necessário, a segurança está ali, e isso basta.

Que fenómeno será esse que prende as pessoas ao lugar onde nasceram?


Sem aprofundar muito, porque para isso seriam necessárias muitas páginas, quase um livro, tentarei explicar: Todo o sistema de valores da cultura ocidental assenta firmemente na crença de que o princípio racional é superior e constitui a verdade absoluta. Quanto mais a ciência progride, mais rejeita a natureza intuitiva da nossa existência. Mas o mundo racional, materialista, tem limites e não consegue explicar tudo.

De uma maneira geral, as sociedades tecnicamente menos desenvolvidas têm uma aproximação da vida feita através da consciência e respeito profundo da parte intuitiva da existência. Descobriram que podemos aceder ao poder interno que existe em cada um de nós, alimentado pelo poder superior do Universo, a Intuição. Mas só a Intuição no Homem (o Instinto nos animais) não é suficiente. Ambos têm de funcionar em conjunto. Da Intuição e do Raciocínio, aliados à experiência acumulada, é que podemos compreender a causa da nossa existência e funcionamento do Universo.

O espírito é a essência da consciência, a energia do Universo que cria todas as coisas. Cada um de nós é parte desse espírito.

A Forma corresponde ao mundo físico.

Os físicos (Quânticos) estão agora a descobrir aquilo que os metafísicos vêm proclamando há muito tempo. A matéria aparentemente sólida é, na realidade, feita de energia. Se olharmos para qualquer coisa sólida com um microscópio potente veremos um número infinito de partículas em movimento e se examinarmos uma dessas partículas descobriremos que ela é composta por partículas ainda mais pequenas e assim sucessivamente.



O Mundo é um oceano de partículas a vibrar.

Segundo algumas doutrinas filosóficas essa energia é espírito e a matéria não é mais do que espírito cristalizado. O espírito cria um corpo, para habitar o mundo físico, constituído por várias camadas, ou vários corpos que se compenetram entre si, que agem no mesmo espaço mas em dimensões diferentes.

Interessa-nos para já, conhecer apenas três: o Corpo Físico, o Corpo Vital (Astral) e o Corpo Mental.



Este tríplice corpo interage com o ambiente que o rodeia, que também é constituído por várias formas de vibrações. Os corpos Físico e Astral agem no Mundo Físico e o corpo Mental age no Mundo do Espírito (há quem lhe dê outros nomes. O que interessa é o que acontece).

Os órgãos dos sentidos do nosso Corpo Físico só percepcionam dentro de um dado limite, pelo que a ciência abarca apenas os fenómenos visíveis e palpáveis do Mundo Físico. Com o evoluir da técnica consegue penetrar em partes do mundo invisível, como sejam o mundo dos infravermelhos, Gamaultravioletas, raios-X, ondas de radar, microondas, ultra-sons, etc. Isto só quer dizer que, pelo facto de não ser percepcionado pelos órgãos dos sentidos e desenvolvimento da tecnologia o mundo invisível existe. Está lá.


Por aqui podemos ver a faixa estreitíssima que os nossos órgãos dos sentidos conseguem percepcionar

Há animais que percepcionam esse mundo, servindo muitos deles de modelo para se criarem os instrumentos adequados para lá entrarmos. Aquilo que era considerado como sobrenatural e do mundo dos espíritos ontem, é hoje considerado como uma forma mais subtil da matéria. Ora, o nosso corpo tríplice sente as vibrações não só do mundo visível como do invisível, e aquilo que não conseguimos explicar "racionalmente" passa para o campo da Intuição ou Instinto.

A energia mental do indivíduo, a força do pensamento, vibra e espalha-se e interage com o campo energético das vibrações que o rodeiam, tanto de outros indivíduos como do campo energético estacionado no local, região ou continente. Assim, numa festa, por exemplo, podemos estar satisfeitos e alegres, mas ao juntarmo-nos a um grupo em que, por qualquer circunstância, os seus membros discutem e se exaltam, sem sabermos como, passados uns momentos, também entramos na mesma "onda". Se formos a uma casa de espectáculos ver uma comédia que já vimos, a sós, na televisão e não achamos grande piada porque nem sequer demos uma gargalhada, ficamos surpresos porque naquele ambiente onde os outros riem também rimos e achamos piada.


Os políticos sabem da influência que essa energia pode exercer, quando devidamente canalizada, para controlar as massas. Muita gente pacata, quando está em grupo, acaba por reagir como as outras pessoas mais violentas em actos contrários à sua natureza e convicções. Mais tarde, a sós, não conseguem compreender o que lhes aconteceu.

Outro exemplo. Todos nós passamos por isso. Quando éramos estudantes e tínhamos um ponto de avaliação, ou até um exame final, por muito que estudássemos ficávamos completamente em branco no dia da prova. Não nos lembrávamos de nada. Mas, milagre, depois de sentados com a folha de prova à frente, com toda a gente concentrada no mesmo, lembrávamo-nos gradualmente do que estudamos. A energia libertada por cada um interagia no local.

Numa casa o canto preferido é muito impregnado pelas chamadas boas vibrações, os "pensamentos positivos" que afastam os "pensamentos negativos", o que transforma aquele local numa espécie de santuário onde todos se sentem bem e em segurança.

Os casais, juntos há muitos anos, acabam por, sem saberem como, "adivinhar" os pensamentos um do outro. Na maior parte das vezes pensam em algo, e descobrem que o cônjuge está a pensar precisamente no mesmo. Os seus campos energéticos coabitam há tanto tempo que interagem telepaticamente, sem o seu conhecimento consciente. As "coincidências", na sua vida íntima, passam a ser constantes. Mas, como alguém disse, não há coincidências. Tudo tem um fim. Tudo tem um propósito.

Noutros locais, em que cada um pensa e irradia os mais variados sentimentos, tudo depende do grupo que estiver em maioria. A partir de uma certa percentagem a minoria acaba por ser completamente assimilada sem poder reagir. Num grupo de 100 em que 80 são de uma determinada natureza e 20 de outra, influenciam-se mutuamente em função da percentagem. Se nesses 100 há só 1 ou 2 de outra natureza, estes acabam por ser irremediavelmente assimilados, mas se uma minoria conseguir dominar os meios de informação e a maioria se mantiver na ignorância, a situação reverte-se. A minoria culta consegue influenciar a maioria ignorante. As religiões antigas sabiam disso e, na falta dos mídia de hoje, os ritos repetitivos e a reunião de grupos de indivíduos num templo de culto serviam para potenciar essas vibrações e canalizá-las para determinado objectivo.

Ora, tudo isto para tentar explicar melhor a experiência de vida dos "deslocados" em Portugal, por exemplo, como é o meu caso e, acima de tudo, para avisar os mais incautos de que as nossas cidades já não existem tal como as "sentíamos. Não vale a pena alimentar expectativas num "possível" retorno porque a decepção será avassaladora.

A natureza da carga energética estacionada em África é totalmente diferente da de Portugal. Conforme a influência cultural de raças no Mundo Físico, a influência das cargas energéticas variam de continente para continente e de região para região, dentro de cada continente. Como atrás vimos, a percentagem da natureza vibratória de cada indivíduo é importante para a natureza da energia estacionada no local. Todos os objectos que nos rodeavam ficaram impregnados de energia vibratória irradiada por nós, bem como todo o meio ambiente. Não era por acaso que as povoações tinham uma maioria de portugueses e descendentes de portugueses e os indígenas viviam fora das povoações.

Já repararam que os Afro-norte-americanos depois de conseguirem derrotar os conceitos introduzidos pelos fundadores da Nação, ocultistas e conhecedores destas forças do Universo, com maior acesso à sociedade maioritária europeia já têm características comportamentais e de personalidade completamente diferentes do Africano genuíno do continente africano, enquanto que no Brasil já não acontece o mesmo?

O Brasil mestiçou-se com uma percentagem elevada de africanos e os EUA não.

Quem introduziu a separação das raças na África do Sul sabia disso e procurou que o seu país não se abrasileirasse, porque a percentagem de Africanos em maioria ultrapassava o limite de segurança para a conservação da cultura europeia. Motivo porque a natureza energética daquela região, fortemente influenciada pelos mídia, e separação de raças, nas mãos dos europeus, fosse completamente diferente das outras regiões limítrofes. A grande concentração de europeus nas zonas pretendidas, livre da influência constante de Africanos que eram recolhidos em "guetos" predefinidos, formava uma redoma de natureza energética europeia nunca permitindo o seu desequilíbrio.

Todos aqueles que nasceram em Angola foram sensibilizados pela natureza energética da região, mas fortemente influenciados pelo sistema de educação implantado por Portugal e pelos mídia. Nas cidades e vilas, e até postos administrativos, os europeus eram a maioria, pelo que existiam essas redomas energéticas impregnadas pela sua maneira de ser e viver. Criaram uma cultura própria influenciada pelas culturas Africanas e Europeias mas com algo de diferente, para melhor. No interior os europeus completamente isolados, abaixo da percentagem mínima de defesa da cultura, foram assimilados tanto no comportamento como na linguagem, pela cultura indígena.

Quando da nossa vinda forçada para Portugal, cada um, conforme a geração e exposição à energia vibratória do continente Africano, sofreu um choque no mundo invisível das vibrações do continente Europeu. Sentiram um certo mal-estar inexplicável, indefinido, desconhecido, que se foi diluindo em processo contrário. Ou seja, a força energética que nos impregnava, começou a diluir-se lentamente pela influência das vibrações irradiadas no continente Europeu em percentagem mais ou menos forte conforme a geração e o meio populacional de origem de cada um. Os de segunda geração sofreram uma maior influência da energia vibratória de África, mais morosa de diluir. E muitos eram de terceira e quarta geração. Mas sempre possível de regressão porque havia lá o gene, e energia, mesmo fracos, do continente Europeu.

Como este processo é lento, assim como todos os processos da natureza o são, ainda hoje grande parte de nós não se sente bem. A impressão da diferença, inexplicável, continua, dando-nos a sensação de um vazio e desejo de encontrar outros da mesma natureza. Aqueles que se juntaram na mesma zona residencial, nos chamados "guetos", conservaram muita da energia de origem, enquanto que os que se diluíram no resto da população de Portugal sofreram com muito maior rapidez a influência da energia vibratória do continente.

Reparei que muita gente que em Angola, de Nova Lisboa onde vivi oito anos como adulto e Gabela desde a infância, só se conheciam de vista e teriam trocado um bom dia, ou boa tarde em momentos esporádicos, ou até que nunca se tenham falado, quando se encontram cá em Portugal são muito efusivos no cumprimento, com verdadeiro sentimento de saudade. Os seus corpos têm vibrações da mesma natureza, são afins, e provocam a atracção, o desejo de contacto. É uma sensação incompreensível. Como podemos ter tanto prazer em encontrar uma pessoa que na altura, lá em Angola, até nem era da nossa intimidade e só conhecíamos de vista?

Em suma: como toda a gente, gostaríamos de ter a sensação de que existe aquele cantinho onde nos sentimos seguros, onde temos as melhores recordações da nossa vida, crescemos e aprendemos a ser homens e mulheres, para um dia, se necessário, nos podermos recolher e terminar os nossos dias em paz e sem medos.

Infelizmente somos uns desenraizados e não temos esse refúgio. Nunca mais voltaremos a ver a nossa terra como era. Hoje, o ambiente é adverso porque a energia vibratória da região já não é da mesma natureza daquela que nos impregnou quando nascemos.

A nossa retirada em massa deixou de alimentar a redoma energética e o campo vibracional afim daquela região, e o grande aumento populacional verificado posteriormente (no meu caso, a Gabela hoje tem 200.000 habitantes), e destruição de objectos materiais por nós deixados, onde ficavam gravadas todas as vibrações emitidas por nós, acabou por desequilibrar, se não extinguir, a natureza do oceano energético que nos banhava. Para ser mais explícito: o espírito Gabelense não está lá. Veio connosco.

A Gabela de então está dentro de nós. O conjunto dos Gabelenses são a Gabela daquele tempo, interagindo uns com os outros. A energia está em nós, aqui. A terra é a mesma na aparência, mas já não nos sentiremos em casa. Neste caso, a força da razão, materialista, que não aceita a força da Intuição, não consegue dar-nos uma explicação do desconforto que sentiremos se lá formos.

Quem lá for notará a diferença.


Sem adopção às regras do acordo ortográfico de 1990.

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