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domingo, 10 de novembro de 2019


COMO OS PAÍSES SUBDESENVOLVIDOS SE ENDIVIDAM

 
Este texto é uma resenha muito sucinta sobre a guerra de bastidores e prova de que não há "mangas arregaçadas" nem "muito boas vontades" de simples cidadãos ingénuos para fazerem a economia de um país progredir para o bem de todos. Lembro-me de conversas de luso-angolanos que se refugiaram em Portugal, que depois do fim da guerra civil, criticavam os menos crentes por não estarem dispostos a “arregaçar as mangas” e irem trabalhar por uma nova Angola, contra tudo e contra todos. Santa ingenuidade. Como se isso fosse possível. Toda a riqueza daquele país esteve, está e estará sempre a ser saqueada pela alta finança global e pelos seus apaniguados do topo da elite angolana.

A economia global é que decide o fim de cada um. Há os privilegiados, que nunca abrirão mão do que têm (a não ser com mais uma guerra civil e que a economia global mude de mãos), e a grande maioria destinada ao trabalho escravo.

 


 
Há profissionais especialmente preparados para atrair líderes de países subdesenvolvidos e convencê-los a aceitarem empréstimos do FMI e do Banco Mundial.

O argumento utilizado é a de que o dinheiro seria usado para expandir a infra-estrutura das estradas, ferrovias, centrais de energia eléctrica, telecomunicações, o que, portanto, traria prosperidade a esses países.

Estes profissionais fazem isto como economistas corporativos que deliberadamente exageram o potencial do retorno económico dos investimentos. Embora os seus projectos sejam sempre descritos como humanitários, os objectivos reais são, geralmente, contratos lucrativos para as firmas multinacionais de construção, e convencer os países a contrair empréstimos que nunca conseguirão pagar.

Sabem que alguns políticos e famílias bem relacionadas, dentro desses países, se tornarão muito ricos enquanto o padrão de vida da maior parte da população declinará.

Quando o pagamento dos empréstimos se tornar impossível as agências de empréstimos e as grandes empresas então agirão para tomar o controlo do governo e dos recursos do país, o que também é parte do plano. (Aconteceu isso com Portugal com a intervenção da Troika. Os ricos são cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres, e os recursos estratégicos estão na mão de estrangeiros). Por outras palavras, no mundo moderno, a conquista pela espada deu lugar à conquista pelos empréstimos.

 


 
Quem quiser saber como é o saque em Angola, por exemplo, vejam este site:


 
Esses profissionais agem sobre objectivos básicos e têm de justificar os enormes empréstimos internacionais, os quais canalizarão rios de dinheiro de volta para a empresa que representam e outras companhias, por meio de gigantescos projectos de engenharia e construção. (sucedeu com Angola. Em vez de canalizarem recursos para pequenos projectos como abrir poços de água e formação de técnico-profissionais para a agricultura, preocuparam-se em projectos megalómanos e formação de doutores e engenheiros).

Depois de pagarem os empréstimos, acima dos seus recursos, estas nações subdesenvolvidas, estarão de tal maneira enredadas que serão dependentes, para sempre, e serão alvos fáceis dos credores quando estes precisarem de favores, como de bases militares, votos favoráveis na ONU, petróleo e outros recursos naturais.

O aspecto velado de cada um destes projectos é o de que pretendem criar grandes lucros para os contratantes, e fazer a felicidade de um punhado de famílias ricas e influentes nos países recebedores, enquanto assegura a dependência financeira a longo prazo e, portanto, a lealdade política de governos em redor do mundo. Quanto maior o empréstimo, melhor. O facto de a carga da dívida colocada sobre um país privar os seus cidadãos mais pobres da saúde, educação e de outros serviços sociais por décadas no futuro não é levado em consideração.



A subtileza da construção deste império moderno faria os centuriões romanos, os conquistadores espanhóis e as forças colonizadoras europeias dos séculos XVIII e XIX de se envergonharem.

Estes profissionais são astutos. Aprendem com a história. Hoje não usam espadas. Não envergam armaduras ou roupas especiais para se protegerem. Nos países como o Equador, a Nigéria e a Indonésia, vestem-se como professores e donos de lojas. Em Washington e Paris, parecem burocratas do governo e banqueiros. Parecem humildes, normais. Visitam os locais dos projectos e passeiam pelas aldeias empobrecidas. Professam o altruísmo, falam oficialmente sobre as maravilhosas coisas humanitárias que estão a fazer. Enchem as mesas de conferências das comissões dos governos com as suas explanações electrónicas e projecções financeiras, e proferem palestras na "Harvard Business Scholl" sobre os milagres da macroeconomia. São conhecidos, acessíveis. Ou se apresentam como tais e são aceites. É assim que o sistema funciona. Raramente recorrem a alguma coisa ilegal porque o próprio sistema é construído sobre subterfúgios, e o sistema por definição é legítimo.

 
Entretanto, se falharem, uns tipos ainda mais sinistros entram em acção, os quais, estes profissionais conhecidos por assassinos económicos, chamam de chacais, homens cuja linhagem remonta directamente aos impérios primitivos. Os chacais estão sempre presentes, a espreitar nas sombras. Quando eles aparecem, os chefes de Estado são derrubados ou mortos em violentos "acidentes". Se por acaso os chacais falham, como falharam no Afeganistão e no Iraque, então os antigos modelos ressurgem. Quando os chacais falham, jovens americanos (e europeus) são enviados para matar e morrer.

 
Fonte: Confissões de um Assassino Económico
Autor: John Perkins
Editora Cultrix, 272 páginas, R$37,00, ISBN 85-316-0880-5
http://www.pensamento-cultrix.com.br

 
(Sem adopção às regras do acordo ortográfico de 1990)

R.

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