COMO OS
PAÍSES SUBDESENVOLVIDOS SE ENDIVIDAM
Este texto é uma resenha muito sucinta sobre a guerra de
bastidores e prova de que não há "mangas arregaçadas" nem "muito
boas vontades" de simples cidadãos ingénuos para fazerem a economia de um
país progredir para o bem de todos. Lembro-me de conversas de luso-angolanos
que se refugiaram em Portugal, que depois do fim da guerra civil, criticavam os
menos crentes por não estarem dispostos a “arregaçar
as mangas” e irem trabalhar por uma nova Angola, contra tudo e contra
todos. Santa ingenuidade. Como se isso fosse possível. Toda a riqueza daquele
país esteve, está e estará sempre a ser saqueada pela alta finança global e
pelos seus apaniguados do topo da elite angolana.
A
economia global é que decide o fim de cada um. Há os privilegiados, que
nunca abrirão mão do que têm (a não ser
com mais uma guerra civil e que a economia global mude de mãos), e a grande
maioria destinada ao trabalho escravo.
Há profissionais especialmente preparados para atrair líderes de
países subdesenvolvidos e convencê-los a aceitarem empréstimos do FMI e do Banco Mundial.
O argumento utilizado é a de que o dinheiro seria usado para
expandir a infra-estrutura das estradas, ferrovias, centrais de energia eléctrica,
telecomunicações, o que, portanto, traria prosperidade a esses países.
Estes profissionais fazem isto como economistas corporativos que
deliberadamente exageram o potencial do retorno económico dos investimentos.
Embora os seus projectos sejam sempre descritos como humanitários, os objectivos
reais são, geralmente, contratos lucrativos para as firmas multinacionais de
construção, e convencer os países a contrair empréstimos que nunca conseguirão
pagar.
Sabem que
alguns políticos e famílias bem relacionadas, dentro desses países, se tornarão
muito ricos enquanto o padrão de vida da maior parte da população declinará.
Quando o pagamento dos empréstimos se tornar impossível as
agências de empréstimos e as grandes empresas então agirão para tomar o controlo
do governo e dos recursos do país, o que também é parte do plano. (Aconteceu isso com Portugal com a
intervenção da Troika. Os ricos são cada vez mais ricos e os pobres cada vez
mais pobres, e os recursos estratégicos estão na mão de estrangeiros). Por
outras palavras, no mundo moderno, a conquista pela espada deu lugar à
conquista pelos empréstimos.
Quem
quiser saber como é o saque em Angola, por exemplo, vejam este site:
Esses profissionais agem sobre objectivos básicos e têm de
justificar os enormes empréstimos internacionais, os quais canalizarão rios de
dinheiro de volta para a empresa que representam e outras companhias, por meio
de gigantescos projectos de engenharia e construção. (sucedeu com Angola. Em vez de
canalizarem recursos para pequenos projectos como abrir poços de água e
formação de técnico-profissionais para a agricultura, preocuparam-se em
projectos megalómanos e formação de doutores e engenheiros).
Depois de pagarem os empréstimos, acima dos seus recursos, estas
nações subdesenvolvidas, estarão de tal maneira enredadas que serão
dependentes, para sempre, e serão alvos fáceis dos credores quando estes
precisarem de favores, como de bases militares, votos favoráveis na ONU,
petróleo e outros recursos naturais.
O aspecto
velado de cada um destes projectos é o de que pretendem criar grandes lucros
para os contratantes, e fazer a felicidade de um punhado de famílias ricas e
influentes nos países recebedores, enquanto assegura a dependência financeira a
longo prazo e, portanto, a lealdade política de governos em redor do mundo.
Quanto maior o empréstimo, melhor. O facto de a carga da dívida colocada sobre
um país privar os seus cidadãos mais pobres da saúde, educação e de outros
serviços sociais por décadas no futuro não é levado em consideração.
A subtileza
da construção deste império moderno faria os centuriões romanos, os
conquistadores espanhóis e as forças colonizadoras europeias dos séculos XVIII
e XIX de se envergonharem.
Estes
profissionais são astutos. Aprendem com a história. Hoje não usam
espadas. Não envergam armaduras ou roupas especiais para se protegerem. Nos
países como o Equador, a Nigéria e a Indonésia, vestem-se como professores e
donos de lojas. Em Washington e Paris, parecem burocratas do governo e banqueiros.
Parecem humildes, normais. Visitam os locais dos projectos e passeiam pelas aldeias
empobrecidas. Professam o altruísmo, falam oficialmente sobre as maravilhosas
coisas humanitárias que estão a fazer. Enchem as mesas de conferências das comissões
dos governos com as suas explanações electrónicas e projecções financeiras, e
proferem palestras na "Harvard Business Scholl" sobre os milagres da
macroeconomia. São conhecidos, acessíveis. Ou se apresentam como tais e são
aceites. É assim que o sistema funciona. Raramente recorrem a alguma coisa
ilegal porque o próprio sistema é construído sobre subterfúgios, e o sistema
por definição é legítimo.
Entretanto,
se falharem, uns tipos ainda mais sinistros entram em acção, os quais, estes
profissionais conhecidos por assassinos económicos, chamam de chacais, homens
cuja linhagem remonta directamente aos impérios primitivos. Os chacais estão
sempre presentes, a espreitar nas sombras. Quando
eles aparecem, os chefes de Estado são derrubados ou mortos em violentos
"acidentes". Se por acaso os chacais falham, como falharam no
Afeganistão e no Iraque, então os antigos modelos ressurgem. Quando os chacais
falham, jovens americanos (e europeus)
são enviados para matar e morrer.
Fonte:
Confissões de um Assassino Económico
Autor: John Perkins
Editora Cultrix, 272 páginas, R$37,00, ISBN 85-316-0880-5
http://www.pensamento-cultrix.com.br
Autor: John Perkins
Editora Cultrix, 272 páginas, R$37,00, ISBN 85-316-0880-5
http://www.pensamento-cultrix.com.br
(Sem adopção às regras do acordo
ortográfico de 1990)
R.
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