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domingo, 28 de março de 2021

 A DESTRUIÇÃO DE TODOS OS ARQUIVOS DO SABER

 

Na mesma linha dos "teóricos da conspiração" em que Aliens e uma quinta-coluna de terrestres que mantêm o controlo da humanidade para os servirem, demasiadas "coincidências" acontecem neste planeta, em que uma força obscura tudo faz para manter os seres humanos na ignorância de modo a que não possam evoluir.

Periodicamente, arquivos documentais do saber humano, e da sua História, são destruídos. Podemos começar, por exemplo, pela destruição da grande Biblioteca de Alexandria, rematada pelos árabes em 646 da era cristã. Esta destruição já fora procedida por outras, e o furor com que esta grande colecção de saber foi aniquilada é particularmente significativo.


Esta Biblioteca, em Alexandria, parece ter sido fundada por Ptolomeu ou por Ptolomeu II. A cidade foi fundada por Alexandre, o Grande, entre 331 e 330 a.C. Passaram-se quase mil anos antes da destruição da Biblioteca. Alexandria foi, talvez, a primeira cidade do mundo totalmente construída em pedra. A Biblioteca compreendia dez grandes salas, e quartos separados para os consultantes. Supõe-se que o verdadeiro fundador, no sentido de organizador e criador da Biblioteca, tenha sido Demétrios de Phalere. Agrupou setecentos mil livros e continuou a aumentar sempre em número. Os livros eram comprados por conta do rei. Demétrios de Phalere, nascido em 354, e 348 a.C., parece ter conhecido Aristóteles. Apareceu como orador público em 324 a.C., foi eleito governador de Atenas e governou-a durante dez anos, de 317 a 307 a.C. Depois de deixar o governo partiu para Tebas e, lá, escreveu algumas obras. Uma delas tinha um título estranho: "Sobre o Feixe da Luz no Céu", que deve ser, provavelmente, a primeira referência sobre os discos voadores. O Faraó Ptolomeu convidou-o a instalar-se em Alexandria onde fundou então a magnifica Biblioteca. Depois da morte de Ptolomeu, o seu filho Ptolomeu II exilou Demétrios em Busiris, no Egipto, onde foi mordido por uma serpente venenosa e morreu.

Uma sucessão de bibliotecários, através dos séculos, aumentou o acervo da Biblioteca, acumulando pergaminhos, papiros, gravuras e mesmo livros impressos, se formos crer em certas tradições. A Biblioteca continha, portanto, documentos inestimáveis. Coleccionou igualmente documentos dos inimigos, nomeadamente de Roma. Sabe-se que um bibliotecário se opôs violentamente à primeira pilhagem por Júlio César, em 47 a.C., mas a história não tem o seu nome. O que é certo é que já na época de Júlio César a Biblioteca de Alexandria tinha a reputação de guardar livros secretos que davam poder praticamente ilimitado.

Nos documentos que sobreviveram, havia livros em grego, autênticos tesouros. Uma obra de um sacerdote babilónico refugiado na Grécia, de nome Bérose, deixou um relato com extraterrestres: os misteriosos Apkallu, seres semelhantes a peixes, com escafandros que teriam trazido aos homens os primeiros conhecimentos científicos. Bérose viveu no tempo de Alexandre, o Grande, até à época de Ptolomeu. Foi sacerdote de Bel-Marduk na Babilónia (Marduk foi declarado, por volta de 2.000 a.C "Deus Supremo da Babilónia" e dos "Quatro Cantos da Terra". Era historiador, astrólogo e astrónomo. Inventou o relógio de Sol semicircular. Fez uma teoria dos conflitos entre os raios do Sol e da Lua que antecipa os trabalhos mais modernos sobre a interferência da luz. Uma lenda contemporânea diz que a famosa Sybila, que profetizava, era sua filha. A sua "História do Mundo", que descrevia os seus primeiros contactos com os extraterrestres, foi perdida. Restam alguns fragmentos, mas a totalidade desta obra estava em Alexandria. Nela, estavam todos os ensinamentos dos extraterrestres. R.).

Encontrava-se também em Alexandria a grande obra de Manethon, sacerdote e historiador egípcio, no tempo dos Ptolomeus. Manethon pode ser interpretado como o "amado de Thot" ou o "detentor da verdade de Thot". (Thot Também conhecido como Zehuti, Tehuti ou Thoth, era o deus egípcio da magia e de todos os ramos de sabedoria e das artes, a quem se atribuía a invenção da escrita hieroglífica). Ele sabia tudo sobre o Egipto, lia os hieróglifos e tinha contacto com os últimos sacerdotes egípcios. Escreveu oito livros e reuniu quarenta rolos de pergaminho, em Alexandria, que continham todos os segredos egípcios e provavelmente o Livro de Thot. Se esta colecção tivesse sido preservada saberíamos a história secreta do Egipto. Foi exactamente isso o que se quis impedir.

Na Biblioteca também existiam obras de um historiador fenício, Mochus, a quem se atribuía a invenção da teoria atómica. Também havia manuscritos indianos extraordinariamente raros e preciosos. Desapareceu tudo. Quando a destruição começou, sabia-se que existiam quinhentos e trinta e dois mil e oitocentos rolos. Existia uma secção de "Ciências Naturais", bem como um catálogo geral que também foi destruído.

Foi César quem inaugurou estas destruições. Levou um certo número de livros, queimou uma parte e guardou o resto. Existe controvérsia entre os que defendem César e os que o condenam porque acreditam que os livros foram deliberadamente destruídos, pois poderiam constituir uma grande perigo para o Império Romano. A estimativa total veria entre 40.000 e 70.000. No entanto, há quem defenda que as chamas provenientes de um bairro onde se lutava, se alastraram até à Biblioteca, destruindo-a acidentalmente. Tese difícil de aceitar, pois a Biblioteca toda em pedra e com dimensões gigantescas poderia ser poupada se combatessem o fogo. Mesmo assim, a destruição não foi total, pois um monumento daquelas proporções, onde se albergavam mais de setecentos mil volumes, salas de trabalho, gabinetes particulares, não poderia ser consumido por um princípio de incêndio. Houve mais qualquer coisa. Além do fogo posto, pode até que o fogo tivesse consumido estoques de trigo, assim como rolos de papiro virgem. O que é certo é que o alvo principal (que não foi por acidente mas provocado), os livros mais perigosos, foram destruídos.

A ofensiva seguinte, considerada a mais séria, contra a Biblioteca, parece ter sido feita pela imperatriz Zenóbia. Pouco se sabe sobre os primeiros anos de Zenóbia. Ela provavelmente nasceu em 240 d.C., e afirmava ser descendente da Rainha Dido de Cartago, Cleópatra e da Dinastia Severin em Roma, tornando-a parente de vários imperadores anteriores. Embora certamente possível, a verdade permanece desconhecida, em grande parte. Ferozmente inteligente, falando grego, egípcio, aramaico e um pouco de latim era, como Cleópatra, antes dela, altamente astuta. Após a morte do seu marido Odanato, em 267 d.C., que se tinha tornado regente de Palmira e descrito como "o ilustre cônsul nosso senhor", Zenóbia reinou como regente pelo seu filho. Entretanto, ela fez uma aposta perigosa. Usando uma pequena rebelião como pretexto, invadiu e ocupou o Egipto. Depois de uma pequena quantidade de lutas de ida e volta, conseguiu assumir o controlo de todo o suprimento de grãos do império, tudo sob o pretexto de lealdade a Roma. Alguns até sugerem que ela mesma patrocinou essa rebelião, permitindo-lhe invadir sem despertar a suspeita de Roma. Depois disso, muitos viram o poder crescente de Palmira, e ela conseguiu colocar o Levante e grande parte da Ásia Menor sob o seu controle por meio de negociação, não de violência, e governou um vasto império oriental.

Ainda desta vez a destruição não foi total, mas livros importantes desapareceram. Depois o Imperador Diocleciano (284 – 305 d.C.) quis destruir todas as obras que davam os segredos para fabricar ouro e prata, ou seja, todas as obras de Alquimia. Ele pensava que se os egípcios pudessem fabricar à vontade o ouro e a prata, obteriam assim meios para levantar um exército e combater o Império. Diocleciano, filho de escravos, foi proclamado Imperador em 284 d.C., e era um perseguidor nato. O último decreto que assinou, antes da sua abdicação em 305, ordenava a destruição do Cristianismo. Em 295 começou o cerco a Alexandria para sufocar uma revolta no Egipto, tomou a cidade e nessa ocasião houve massacres inomináveis. Seguiram-se pilhagens sucessivas que visavam acabar com os manuscritos de Alquimia. Destruíram todos os que encontravam. A lenda conta que entre esses manuscritos se encontravam algumas obras de Pitágoras, de Salomão e do próprio Hermes.

A verdade é que documentos indispensáveis davam a chave da Alquimia e estão perdidos para sempre. Mas a Biblioteca continuou. Apesar de todas as destruições sistemáticas que sofreu, ela continuou a sua obra até que os árabes a destruíssem completamente. E se os árabes o fizeram, sabiam por que o faziam. Já haviam destruído, no próprio Islão e na Pérsia, grande número de livros secretos de magia, Alquimia e Astrologia. A Biblioteca de Alexandria foi aniquilada pelas chamas por Amr ibn-el-As, agindo sobre as ordens de Omar, o vencedor, que se opunha a que se escrevessem livros muçulmanos, seguindo sempre o princípio de que "o Livro de Deus era o suficiente". Fanático, destruía os livros porque não falavam do Profeta. (Aliás, os Talibãs, muito recentemente, no Afeganistão, destruíram monumentos, à bala ou com dinamite, e muitos documentos insubstituíveis e proibiram a leitura e a música no país).

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Alexandra Prado Coelho escreveu no Público em 1 de Março de 2001: Decisão de destruir estátuas é irreversível, dizem os taliban. Indiferente às críticas e apelos lançados pela comunidade internacional, o regime islâmico dos taliban no Afeganistão reafirmou ontem a sua determinação em destruir várias estátuas budistas pré-islâmicas, algumas com 2.000 mil anos, e um valor histórico e arqueológico único no mundo. A decisão é irreversível, explicou à AFP o ministro taliban dos Negócios Estrangeiros, Wakil Ahmed Mutawakel. "Alguma vez viu o Emirado Islâmico do Afeganistão (designação oficial do regime afegão) voltar atrás numa das suas decisões?", perguntou Mutawakel ao jornalista. O decreto do "mullah" Omar, líder dos taliban, publicado na segunda-feira explicava que a sua decisão era uma "ordem do islão", porque as estátuas - as duas mais famosas são os budas gigantes da falésia de Bamiyan, um com 55 outro com 38 metros - podem tornar-se objecto de culto, e a lei islâmica não permite a adoração de imagens. O líder taliban esclareceu depois que, se não forem objecto de culto, então as estátuas não passam de pedras e podem ser destruídas. "Nada me importa a não ser o islão", frisou o "mullah" Omar, citado pela Afghan Islamic Press.O director-geral da UNESCO, Koichiro Matsuura, pediu ontem "encarecidamente" aos taliban que não destruam os monumentos pré-islâmicos e que façam tudo para proteger este "património cultural único". "Os autores deste acto irremediável assumem uma terrível responsabilidade perante o povo afegão e perante a História", avisou Marsuura. No entanto, a UNESCO sente-se impotente perante a situação. "Não podemos fazer muito, porque não temos forças policiais internacionais para intervir", lamentou Christian Manhart, responsável pela secção da Ásia no departamento do património cultural da UNESCO. Manhart admite, apesar de tudo, começar um diálogo directo com os taliban, com a ajuda do Paquistão. "Estamos em contacto com os paquistaneses. Eles têm influência. E a sua posição oficial é a de que estão absolutamente escandalizados com esta ameaça de destruição das estátuas". Apesar de ser também um país muçulmano, o Paquistão possui importantes estátuas budistas da civilização Gandhara, que dominou a região seis séculos antes de Cristo. Ontem os apelos aos taliban multiplicaram-se. A França alertou que a destruição das estátuas "coloca em perigo a rica herança artística do Afeganistão pré-islâmico, de que algumas peças, nomeadamente os budas gigantes de Bamiyan, estão inscritas no património mundial da humanidade". Os Estados Unidos, que se declararam "perturbados e desconcertados" pela decisão do "mullah" Omar, afirmaram mesmo que ela "contradiz directamente um dos princípios base do islão: a tolerância relativamente a outras religiões". E até a República Islâmica do Irão condenou a posição dos taliban, lembrando que as estátuas do Buda são "tesouros da humanidade, como o Taj Mahal (na Índia) ou a praça Emam (no Irão)". O Sri Lanka, um país onde 70 por cento da população é budista (o jornal estatal "Observer" anunciava em manchete: "Os taliban enlouqueceram"), anunciou que vai lançar uma ofensiva diplomática para salvar as estátuas afegãs. Embora não tenha relações com os taliban (o regime afegão é reconhecido apenas pelo Paquistão, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos), o Sri Lanka vai tentar chegar a estes de forma indirecta. Mas, perante estas manifestações de indignação, o ministro taliban citado pela AFP limitou-se a dizer que se os países estrangeiros "estão preocupados" com a decisão, ele está disposto "a escutá-los e a explicar a posição do Emirado, para os tentar convencer". "Não destruímos estas estátuas para desafiar o mundo, mas temos os nossos próprios problemas internos, as nossas próprias leis, às quais reagimos", sublinhou. Desde que chegaram ao poder, em 1996, os taliban impuseram no Afeganistão o mais rígido regime islâmico do mundo, baniram todo o tipo de divertimentos, inclusivamente a música, e proibiram as mulheres de estudar ou de trabalhar fora de casa, só lhes permitindo sair à rua totalmente cobertas com uma longa túnica que lhes esconde completamente o rosto.


E essa saga ignorante e descabida está agora a invadir a Europa. A Revista Escuta publicou um artigo de Fernando Perlatto, muito curioso sobre o assunto, que reflecte o clima social actual, intitulado "A destruição de estátuas e as disputas pelos espaços públicos de memória".


(Tradução minha para português de Portugal. R)

A fotografia da estátua de Edward Colston sendo derrubada já se converteu em uma das imagens mais icónicas dos protestos anti-racistas que tomaram as ruas de vários países na sequência do assassinato de George Floyd por um polícia americano. A queda do monumento em homenagem a Colston – um traficante de escravos que viveu entre 1636 e 1671 e que foi membro do Parlamento Britânico –, levada a cabo por manifestantes na cidade de Bristol, busca fazer uma conexão entre a opressão da escravidão do passado e suas continuidades no tempo presente, manifestas nas práticas racistas que se repetem cotidianamente. Nessa linha do tempo, é como se a legitimidade que um polícia considera ter para ajoelhar sobre o pescoço de um cidadão negro só fosse possível quando se compreende esse amplo arco histórico que vai das opressões da escravidão até as práticas racistas dos dias actuais.

O derrube da estátua de Colston gerou repercussão variada em diferentes países. No Reino Unido, por exemplo, o Primeiro-Ministro, Boris Johnson classificou o gesto como “acto criminoso”, ao passo que o prefeito de Bristol, Marvin Rees, filho de pai jamaicano, afirmou que “prefere deixar a estátua em um museu do que reinstalá-la”. A acção ocorrida em Bristol não é isolada. No domingo, uma estátua do ex-primeiro ministro Winston Churchill, próxima ao prédio do Parlamento de Londres, foi pintada com a frase: “Ele era racista”. Em Glasgow, na Escócia, manifestantes trocaram as placas de ruas que homenageavam traficantes de escravos por nomes de figuras icónicas da luta racista como Rosa Parks ou de pessoas negras assassinadas pela polícia escocesa em tempos recentes. Na Bélgica, as estátuas de Leopoldo 2º – que reinou de 1865 a 1909 e foi proprietário de uma colónia de escravos na região em que fica hoje a República Democrática do Congo – têm sido, no meio dos protestos anti-racistas que tomaram as ruas do país, vedadas, queimadas, destruídas ou pintadas de tinta vermelha.

O passado faz-se actual nas lutas sociais do tempo presente. O espaço público, em particular, converte-se em um palco privilegiado das “batalhas de memória”. Os espaços públicos de memória  – monumentos, estátuas, placas de rua – são resinificados e, em contextos de crise e de enfrentamento social como este em que estamos a viver, aquilo que antes era apenas mármore ou um pedaço de metal ganha outros sentidos e converte-se em objecto de disputa no tempo presente.

A ira dos manifestantes contra símbolos que homenageiam traficantes de escravos, colonizadores e personalidades racistas é mais do que compreensível. Assim como também é compreensível quando esta raiva se direcciona aos monumentos, placas e estátuas que fazem honra a ditadores e outros que praticaram formas de opressão diversas no passado. No Brasil, por exemplo, esse sadismo memorial é praticado de várias maneiras: são várias as ruas e avenidas que homenageiam ditadores, como Castelo Branco, Costa e Silva e Médici, bem como monumentos que fazem reverência àqueles responsáveis por actos atrozes, como o bandeirante Borba Gato. Não à toa, a Comissão Nacional da Verdade e suas congéneres em âmbito estadual e municipal apontaram nos seus relatórios finais a necessidade da mudança dos nomes de ruas e placas que prestam homenagens à ditadura.

Da mesma forma que a presença desses monumentos é ofensiva, a ausência também o é. Caminhar pelas ruas das cidades brasileiras é deparar-se com um silêncio que grita: são raros, quase ausentes, os símbolos que lembram as opressões do nosso passado – onde estão os “lugares de memória”, para dialogar com Pierre Nora, a lembrar-nos todos os dias as nossas escravidões, as nossas ditaduras? Onde estão os monumentos a recordar-nos o passado que nós, como sociedade, queremos esquecer? São também incomuns, quando não inexistentes, os monumentos, estátuas e placas de rua a homenagear os derrotados e anónimos da história: aqueles que sofreram, lutaram e que mereciam ser, de algum modo, lembrados no espaço público.

Ainda que considere legítima e compreensível a destruição de lugares públicos de memória que homenageiam racistas e ditadores, acredito que seja possível pensar em outros caminhos que vão além da ruína. Andreas Huyssen, em Seduzidos pela Memória, evoca Robert Musil para lembrar que “não há nada tão invisível quanto os monumentos”. Com isso, o autor quer referir-se ao facto de que os monumentos, estátuas e placas podem passar anos e anos desapercebidos, ignorados no espaço público, como estruturas inertes, fossilizadas. Isso não ocorre apenas caso sejam construídos sobre eles de forma permanente – e não apenas pontual – discursos públicos que lhe confiram significados. Ou seja, a destruição de uma estátua ou a mudança do nome de uma placa podem sim converter-se em acções importantes como mecanismos de denúncia da excrescência e do absurdo destes lugares de memória que homenageiam racistas e ditadores. Mas, caso elas se esgotem em medidas pontuais de estrago, mobilizadas apenas em tempos de rebeliões sociais, elas perdem muito do impacto que poderiam ter caso fossem pensadas como um primeiro passo de uma política de memória de mais longo prazo preocupada não apenas em destruir, mas também em disputar e construir diferentes sentidos para as memórias públicas.

Políticas de memória são erigidas ao longo do tempo: elas são objectos de disputa cotidiana entre diferentes forças sociais. Nesse sentido, os espaços públicos, as ruas das cidades, as paredes das urbes com as suas placas pregadas, devem ser pensadas de modo contínuo como lugares fundamentais dessas controvérsias em torno do passado. Acções de destruição de estátuas como a que testemunhamos na sequência do assassinato de George Floyd devem ser vistas como parte importante destes embates em torno da política de memória. Mas, elas podem ser potencializadas por uma reflexão que considere que a estas acções de denúncia devem ser acrescidas medidas que impliquem na construção de discursos públicos cotidianos sobre esses lugares de memória, tornando-os permanentemente visíveis e dotados de sentido para estas e as próximas gerações.

Fernando Perlatto é um dos Editores da Revista Escuta.

Crédito da imagem: Banksy.

 

Não se pode apagar a história. Quando muito tentar explicar o porquê daquele rumo da História tendo em vista a realidade da época e das "forças" que tudo controlavam naquela época, e controlam na época actual. O povo tem a sua memória e não são as alterações dos nomes ou do derrube de estátuas que marcarão as gerações. No caso de Portugal, qualquer que seja o nome que possam dar à ponte sobre o Tejo, ela será sempre, para o povo, a ponte sobre o Tejo. A praça Sá Carneiro, na memória do povo é, e será, sempre o Areeiro. O aeroporto Humberto Delgado, será sempre o aeroporto da Portela. É assim que está gravado na memória do povo. A História não pode ser reescrita ou apagada.




   


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Se alguns documentos de Alexandria sobreviveram a esses autos-de-fé, foram cuidadosamente guardados desde 646 d.C. e não reapareceram mais. E se certos grupos secretos possuem actualmente alguns manuscritos esconderam-nos muito bem e usam-nos para proveito próprio.

Segundo a tese principal, em vigor, existe um grupo denominado de Homens de Negro que constitui uma organização que visa a destruição de determinado tipo de saber. Parece evidente que esse grupo nada teve a ver com os acontecimentos de 646, pois o fanatismo muçulmano foi suficiente. Mas parece também evidente que esse grupo se desmascarou em 391 depois que procurou, sistematicamente, sob Diocleciano, destruir as obras de Alquimia e magia.



Em 1692 foi nomeado para o Cairo um cônsul francês chamado M. de Maillet, que assinalou que Alexandria era uma cidade praticamente vazia e sem vida. Os raros habitantes, sobretudo ladrões, encerravam-se nos seus esconderijos. As ruínas das construções permaneciam abandonadas, e se sobreviveram livros ao incêndio de 646, foram evacuados. Se um exemplar do Livro de Thot existiu em Alexandria, César apoderou-se dele como possível fonte de poder. Mas este livro não era o único documento egípcio em Alexandria. Todos os enigmas que se colocam ainda sobre o Egipto, estariam resolvidos se tantos documentos egípcios não tivessem sido destruídos. E entre esses documentos, eram particularmente visados e deveriam ser destruídos aqueles que descreviam a civilização que precedeu o Egipto conhecido. É possível que alguns traços subsistam, mas o essencial desapareceu e essa destruição foi tão completa e profunda que os arqueólogos racionalistas pretendem, agora, que se pode seguir no Egipto o desenvolvimento da civilização do Neolítico até às grandes dinastias, sem que nada venha a provar a existência de uma civilização anterior.

Assim, também a História, a Ciência e a situação geográfica dessa civilização anterior nos são totalmente desconhecidas. Formulou-se a hipótese de que se tratava de uma civilização de Negros. Nessas condições, as origens do Egipto deveriam ser procuradas em África. Talvez tenham desaparecido em Alexandria, registos, papiros ou livros provenientes dessa civilização desaparecida.

Foram igualmente destruídos tratados de Alquimia, os mais detalhados aqueles que permitiram realmente obter a transmutação dos elementos. Foram destruídas obras de magia. Foram destruídas provas do encontro com extraterrestres do qual Bérose falou, citando Apkallu. A destruição tão completa da Biblioteca de Alexandria é, certamente, o maior sucesso dos Homens de Negro.

 

Texto completo em "Os Livros Malditos" de Jacques Bergier – Editora Hemus.

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