A DESTRUIÇÃO DE TODOS OS ARQUIVOS DO SABER
Na mesma
linha dos "teóricos da conspiração" em que Aliens e uma quinta-coluna de terrestres que mantêm o controlo da
humanidade para os servirem, demasiadas "coincidências" acontecem
neste planeta, em que uma força obscura tudo faz para manter os seres humanos
na ignorância de modo a que não possam evoluir.
Periodicamente,
arquivos documentais do saber humano, e da sua História, são destruídos.
Podemos começar, por exemplo, pela destruição da grande Biblioteca de
Alexandria, rematada pelos árabes em 646 da era cristã. Esta destruição já fora
procedida por outras, e o furor com que esta grande colecção de saber foi
aniquilada é particularmente significativo.
Esta
Biblioteca, em Alexandria, parece ter sido fundada por Ptolomeu ou por Ptolomeu
II. A cidade foi fundada por Alexandre, o Grande, entre 331 e 330 a.C. Passaram-se
quase mil anos antes da destruição da Biblioteca. Alexandria foi, talvez, a
primeira cidade do mundo totalmente construída em pedra. A Biblioteca
compreendia dez grandes salas, e quartos separados para os consultantes.
Supõe-se que o verdadeiro fundador, no sentido de organizador e criador da
Biblioteca, tenha sido Demétrios de
Phalere. Agrupou setecentos mil livros e continuou a aumentar sempre em
número. Os livros eram comprados por conta do rei. Demétrios de Phalere,
nascido em 354, e 348 a.C., parece ter conhecido Aristóteles. Apareceu como
orador público em 324 a.C., foi eleito governador de Atenas e governou-a
durante dez anos, de 317 a 307 a.C. Depois de deixar o governo partiu para
Tebas e, lá, escreveu algumas obras. Uma delas tinha um título estranho: "Sobre
o Feixe da Luz no Céu", que deve ser, provavelmente, a primeira
referência sobre os discos voadores. O Faraó Ptolomeu convidou-o a instalar-se
em Alexandria onde fundou então a magnifica Biblioteca. Depois da morte de
Ptolomeu, o seu filho Ptolomeu II exilou Demétrios em Busiris, no Egipto, onde
foi mordido por uma serpente venenosa e morreu.
Uma sucessão
de bibliotecários, através dos séculos, aumentou o acervo da Biblioteca,
acumulando pergaminhos, papiros, gravuras e mesmo livros impressos, se formos
crer em certas tradições. A Biblioteca continha, portanto, documentos
inestimáveis. Coleccionou igualmente documentos dos inimigos, nomeadamente de
Roma. Sabe-se que um bibliotecário se opôs violentamente à primeira pilhagem
por Júlio César, em 47 a.C., mas a história não tem o seu nome. O que é certo é
que já na época de Júlio César a Biblioteca de Alexandria tinha a reputação de
guardar livros secretos que davam poder praticamente ilimitado.
Nos
documentos que sobreviveram, havia livros em grego, autênticos tesouros. Uma
obra de um sacerdote babilónico refugiado na Grécia, de nome Bérose, deixou um relato com
extraterrestres: os misteriosos Apkallu,
seres semelhantes a peixes, com escafandros que teriam trazido aos homens os
primeiros conhecimentos científicos. Bérose viveu no tempo de Alexandre, o
Grande, até à época de Ptolomeu. Foi sacerdote de Bel-Marduk na Babilónia (Marduk foi declarado, por volta de 2.000
a.C "Deus Supremo da
Babilónia" e dos "Quatro
Cantos da Terra". Era historiador, astrólogo e astrónomo.
Inventou o relógio de Sol semicircular. Fez uma teoria dos conflitos entre os
raios do Sol e da Lua que antecipa os trabalhos mais modernos sobre a
interferência da luz. Uma lenda contemporânea diz que a famosa Sybila,
que profetizava, era sua filha. A sua "História do Mundo", que descrevia os seus primeiros
contactos com os extraterrestres, foi perdida. Restam alguns fragmentos, mas a
totalidade desta obra estava em Alexandria. Nela, estavam todos os ensinamentos
dos extraterrestres. R.).
Encontrava-se
também em Alexandria a grande obra de Manethon,
sacerdote e historiador egípcio, no tempo dos Ptolomeus. Manethon pode
ser interpretado como o "amado de Thot" ou o "detentor
da verdade de Thot". (Thot Também conhecido como Zehuti, Tehuti ou Thoth,
era o deus egípcio da magia e de todos os ramos de sabedoria e das artes, a
quem se atribuía a invenção da escrita hieroglífica). Ele sabia tudo sobre o Egipto, lia os hieróglifos e tinha
contacto com os últimos sacerdotes egípcios. Escreveu oito livros e reuniu
quarenta rolos de pergaminho, em Alexandria, que continham todos os segredos
egípcios e provavelmente o Livro de Thot. Se esta colecção
tivesse sido preservada saberíamos a história secreta do Egipto. Foi exactamente isso o que se quis impedir.
Na Biblioteca
também existiam obras de um historiador fenício, Mochus, a quem se atribuía a invenção da teoria atómica. Também
havia manuscritos indianos extraordinariamente raros e preciosos. Desapareceu tudo. Quando a destruição
começou, sabia-se que existiam quinhentos e trinta e dois mil e oitocentos
rolos. Existia uma secção de "Ciências Naturais", bem como um
catálogo geral que também foi destruído.
Foi César
quem inaugurou estas destruições. Levou um certo número de livros, queimou uma
parte e guardou o resto. Existe controvérsia entre os que defendem César e os
que o condenam porque acreditam que os livros foram deliberadamente destruídos, pois poderiam constituir uma grande
perigo para o Império Romano. A estimativa total veria entre 40.000 e 70.000.
No entanto, há quem defenda que as chamas provenientes de um bairro onde se
lutava, se alastraram até à Biblioteca, destruindo-a acidentalmente. Tese
difícil de aceitar, pois a Biblioteca toda em pedra e com dimensões gigantescas
poderia ser poupada se combatessem o fogo. Mesmo assim, a destruição não foi
total, pois um monumento daquelas proporções, onde se albergavam mais de
setecentos mil volumes, salas de trabalho, gabinetes particulares, não poderia
ser consumido por um princípio de incêndio. Houve mais qualquer coisa. Além do
fogo posto, pode até que o fogo tivesse consumido estoques de trigo, assim como
rolos de papiro virgem. O que é certo é que o alvo principal (que não foi por acidente mas provocado),
os livros mais perigosos, foram destruídos.
A ofensiva
seguinte, considerada a mais séria, contra a Biblioteca, parece ter sido feita
pela imperatriz Zenóbia. Pouco se sabe sobre os primeiros anos de Zenóbia. Ela
provavelmente nasceu em 240 d.C., e afirmava ser descendente da Rainha Dido de
Cartago, Cleópatra e da Dinastia Severin em Roma, tornando-a parente de vários
imperadores anteriores. Embora certamente possível, a verdade permanece
desconhecida, em grande parte. Ferozmente inteligente, falando grego, egípcio,
aramaico e um pouco de latim era, como Cleópatra, antes dela, altamente astuta.
Após a morte do seu marido Odanato, em 267 d.C., que se tinha tornado regente de Palmira e
descrito como "o ilustre cônsul nosso senhor", Zenóbia reinou como regente pelo seu filho. Entretanto, ela fez uma aposta perigosa. Usando uma
pequena rebelião como pretexto, invadiu e ocupou o Egipto. Depois de uma
pequena quantidade de lutas de ida e volta, conseguiu assumir o controlo de
todo o suprimento de grãos do império, tudo sob o pretexto de lealdade a Roma.
Alguns até sugerem que ela mesma patrocinou essa rebelião, permitindo-lhe
invadir sem despertar a suspeita de Roma. Depois disso, muitos viram o poder
crescente de Palmira, e ela conseguiu colocar o Levante e grande parte da Ásia
Menor sob o seu controle por meio de negociação, não de violência, e governou
um vasto império oriental.
Ainda desta vez a destruição
não foi total, mas livros importantes desapareceram. Depois o Imperador
Diocleciano (284 – 305 d.C.) quis destruir todas as obras que davam os segredos
para fabricar ouro e prata, ou seja, todas as obras de Alquimia. Ele pensava
que se os egípcios pudessem fabricar à vontade o ouro e a prata, obteriam assim
meios para levantar um exército e combater o Império. Diocleciano, filho de
escravos, foi proclamado Imperador em 284 d.C., e era um perseguidor nato. O
último decreto que assinou, antes da sua abdicação em 305, ordenava a
destruição do Cristianismo. Em 295 começou o cerco a Alexandria para sufocar
uma revolta no Egipto, tomou a cidade e nessa ocasião houve massacres
inomináveis. Seguiram-se pilhagens sucessivas que visavam acabar com os
manuscritos de Alquimia. Destruíram todos os que encontravam. A lenda conta que
entre esses manuscritos se encontravam algumas obras de Pitágoras, de Salomão e
do próprio Hermes.
A verdade é que documentos
indispensáveis davam a chave da Alquimia e estão perdidos para sempre. Mas a
Biblioteca continuou. Apesar de todas as destruições sistemáticas que sofreu,
ela continuou a sua obra até que os árabes a destruíssem completamente. E se os
árabes o fizeram, sabiam por que o faziam. Já haviam destruído, no próprio
Islão e na Pérsia, grande número de livros secretos de magia, Alquimia e
Astrologia. A Biblioteca de Alexandria foi aniquilada pelas chamas por Amr
ibn-el-As, agindo sobre as ordens de Omar, o vencedor, que se opunha a que se
escrevessem livros muçulmanos, seguindo sempre o princípio de que "o
Livro de Deus era o suficiente". Fanático, destruía os livros
porque não falavam do Profeta. (Aliás, os Talibãs,
muito recentemente, no Afeganistão, destruíram monumentos, à bala ou com
dinamite, e muitos documentos insubstituíveis e proibiram a leitura e a música
no país).
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Alexandra Prado Coelho escreveu no Público em 1
de Março de 2001: Decisão de destruir estátuas é
irreversível, dizem os taliban. Indiferente às críticas e
apelos lançados pela comunidade internacional, o regime islâmico dos taliban no
Afeganistão reafirmou ontem a sua determinação em destruir várias estátuas
budistas pré-islâmicas, algumas com 2.000 mil anos, e um valor histórico e arqueológico
único no mundo. A decisão é irreversível, explicou à AFP o ministro taliban dos
Negócios Estrangeiros, Wakil Ahmed Mutawakel. "Alguma vez viu o Emirado
Islâmico do Afeganistão (designação oficial do regime afegão) voltar atrás numa
das suas decisões?", perguntou Mutawakel ao jornalista. O decreto do
"mullah" Omar, líder dos taliban, publicado na segunda-feira
explicava que a sua decisão era uma "ordem do islão", porque as
estátuas - as duas mais famosas são os budas gigantes da falésia de Bamiyan, um
com 55 outro com 38 metros - podem tornar-se objecto de culto, e a lei islâmica
não permite a adoração de imagens. O líder taliban esclareceu depois que, se
não forem objecto de culto, então as estátuas não passam de pedras e podem ser
destruídas. "Nada me importa a não ser o islão", frisou o
"mullah" Omar, citado pela Afghan Islamic Press.O director-geral da
UNESCO, Koichiro Matsuura, pediu ontem "encarecidamente" aos taliban
que não destruam os monumentos pré-islâmicos e que façam tudo para proteger
este "património cultural único". "Os autores deste acto
irremediável assumem uma terrível responsabilidade perante o povo afegão e
perante a História", avisou Marsuura. No entanto, a UNESCO sente-se
impotente perante a situação. "Não podemos fazer muito, porque não temos
forças policiais internacionais para intervir", lamentou Christian
Manhart, responsável pela secção da Ásia no departamento do património cultural
da UNESCO. Manhart admite, apesar de tudo, começar um diálogo directo com os
taliban, com a ajuda do Paquistão. "Estamos em contacto com os
paquistaneses. Eles têm influência. E a sua posição oficial é a de que estão
absolutamente escandalizados com esta ameaça de destruição das estátuas".
Apesar de ser também um país muçulmano, o Paquistão possui importantes estátuas
budistas da civilização Gandhara, que dominou a região seis séculos antes de
Cristo. Ontem os apelos aos taliban multiplicaram-se. A França alertou que a
destruição das estátuas "coloca em perigo a rica herança artística do Afeganistão
pré-islâmico, de que algumas peças, nomeadamente os budas gigantes de Bamiyan,
estão inscritas no património mundial da humanidade". Os Estados Unidos,
que se declararam "perturbados e desconcertados" pela decisão do
"mullah" Omar, afirmaram mesmo que ela "contradiz directamente
um dos princípios base do islão: a tolerância relativamente a outras
religiões". E até a República Islâmica do Irão condenou a posição dos
taliban, lembrando que as estátuas do Buda são "tesouros da humanidade, como
o Taj Mahal (na Índia) ou a praça Emam (no Irão)". O Sri Lanka, um país
onde 70 por cento da população é budista (o jornal estatal "Observer"
anunciava em manchete: "Os taliban enlouqueceram"), anunciou que vai
lançar uma ofensiva diplomática para salvar as estátuas afegãs. Embora não
tenha relações com os taliban (o regime afegão é reconhecido apenas pelo
Paquistão, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos), o Sri Lanka vai tentar
chegar a estes de forma indirecta. Mas, perante estas manifestações de
indignação, o ministro taliban citado pela AFP limitou-se a dizer que se os
países estrangeiros "estão preocupados" com a decisão, ele está
disposto "a escutá-los e a explicar a posição do Emirado, para os tentar
convencer". "Não destruímos estas estátuas para desafiar o mundo, mas
temos os nossos próprios problemas internos, as nossas próprias leis, às quais
reagimos", sublinhou. Desde que chegaram ao poder, em 1996, os taliban
impuseram no Afeganistão o mais rígido regime islâmico do mundo, baniram todo o
tipo de divertimentos, inclusivamente a música, e proibiram as mulheres de
estudar ou de trabalhar fora de casa, só lhes permitindo sair à rua totalmente
cobertas com uma longa túnica que lhes esconde completamente o rosto.
E essa saga ignorante e descabida está agora a invadir a Europa. A Revista Escuta publicou um artigo de Fernando Perlatto, muito curioso sobre o assunto, que reflecte o clima social actual, intitulado "A destruição de estátuas e as disputas pelos espaços públicos de memória".
(Tradução minha para português de Portugal. R)
A fotografia da estátua de Edward Colston sendo derrubada já se converteu em uma das imagens mais icónicas dos protestos anti-racistas que tomaram as ruas de vários países na sequência do assassinato de George Floyd por um polícia americano. A queda do monumento em homenagem a Colston – um traficante de escravos que viveu entre 1636 e 1671 e que foi membro do Parlamento Britânico –, levada a cabo por manifestantes na cidade de Bristol, busca fazer uma conexão entre a opressão da escravidão do passado e suas continuidades no tempo presente, manifestas nas práticas racistas que se repetem cotidianamente. Nessa linha do tempo, é como se a legitimidade que um polícia considera ter para ajoelhar sobre o pescoço de um cidadão negro só fosse possível quando se compreende esse amplo arco histórico que vai das opressões da escravidão até as práticas racistas dos dias actuais.
O derrube da estátua de Colston gerou repercussão variada em diferentes
países. No Reino Unido, por exemplo, o Primeiro-Ministro, Boris Johnson
classificou o gesto como “acto criminoso”, ao passo que o prefeito de Bristol,
Marvin Rees, filho de pai jamaicano, afirmou que “prefere deixar a estátua em
um museu do que reinstalá-la”. A acção ocorrida em Bristol não é isolada. No
domingo, uma estátua do ex-primeiro ministro Winston Churchill, próxima ao
prédio do Parlamento de Londres, foi pintada com a frase: “Ele era racista”. Em
Glasgow, na Escócia, manifestantes trocaram as placas de ruas que homenageavam
traficantes de escravos por nomes de figuras icónicas da luta racista como Rosa
Parks ou de pessoas negras assassinadas pela polícia escocesa em tempos
recentes. Na Bélgica, as estátuas de Leopoldo 2º – que reinou de 1865 a 1909 e
foi proprietário de uma colónia de escravos na região em que fica hoje a
República Democrática do Congo – têm sido, no meio dos protestos anti-racistas
que tomaram as ruas do país, vedadas, queimadas, destruídas ou pintadas de
tinta vermelha.
O passado faz-se actual nas lutas sociais do tempo presente. O espaço público, em particular, converte-se em um palco privilegiado das “batalhas de memória”. Os espaços públicos de memória – monumentos, estátuas, placas de rua – são resinificados e, em contextos de crise e de enfrentamento social como este em que estamos a viver, aquilo que antes era apenas mármore ou um pedaço de metal ganha outros sentidos e converte-se em objecto de disputa no tempo presente.
A ira dos manifestantes contra símbolos que homenageiam traficantes de
escravos, colonizadores e personalidades racistas é mais do que compreensível.
Assim como também é compreensível quando esta raiva se direcciona aos
monumentos, placas e estátuas que fazem honra a ditadores e outros que
praticaram formas de opressão diversas no passado. No Brasil, por exemplo, esse
sadismo memorial é praticado de várias maneiras: são várias as ruas e avenidas
que homenageiam ditadores, como Castelo Branco, Costa e Silva e Médici, bem
como monumentos que fazem reverência àqueles responsáveis por actos atrozes,
como o bandeirante Borba Gato. Não à toa, a Comissão Nacional da Verdade e suas
congéneres em âmbito estadual e municipal apontaram nos seus relatórios finais
a necessidade da mudança dos nomes de ruas e placas que prestam homenagens à
ditadura.
Da mesma forma que a presença desses monumentos é ofensiva, a ausência também o é. Caminhar pelas ruas das
cidades brasileiras é deparar-se com um silêncio que grita: são raros, quase
ausentes, os símbolos que lembram as opressões do nosso passado – onde estão os
“lugares de memória”, para dialogar com Pierre Nora, a lembrar-nos todos os
dias as nossas escravidões, as nossas ditaduras? Onde estão os monumentos a recordar-nos
o passado que nós, como sociedade, queremos esquecer? São também incomuns,
quando não inexistentes, os monumentos, estátuas e placas de rua a homenagear
os derrotados e anónimos da história: aqueles que sofreram, lutaram e que
mereciam ser, de algum modo, lembrados no espaço público.
Ainda que considere legítima e compreensível a destruição de lugares públicos de memória que homenageiam racistas e ditadores, acredito que seja possível pensar em outros caminhos que vão além da ruína. Andreas Huyssen, em Seduzidos pela Memória, evoca Robert Musil para lembrar que “não há nada tão invisível quanto os monumentos”. Com isso, o autor quer referir-se ao facto de que os monumentos, estátuas e placas podem passar anos e anos desapercebidos, ignorados no espaço público, como estruturas inertes, fossilizadas. Isso não ocorre apenas caso sejam construídos sobre eles de forma permanente – e não apenas pontual – discursos públicos que lhe confiram significados. Ou seja, a destruição de uma estátua ou a mudança do nome de uma placa podem sim converter-se em acções importantes como mecanismos de denúncia da excrescência e do absurdo destes lugares de memória que homenageiam racistas e ditadores. Mas, caso elas se esgotem em medidas pontuais de estrago, mobilizadas apenas em tempos de rebeliões sociais, elas perdem muito do impacto que poderiam ter caso fossem pensadas como um primeiro passo de uma política de memória de mais longo prazo preocupada não apenas em destruir, mas também em disputar e construir diferentes sentidos para as memórias públicas.
Políticas de memória são erigidas ao longo do tempo: elas são objectos de
disputa cotidiana entre diferentes forças sociais. Nesse sentido, os espaços
públicos, as ruas das cidades, as paredes das urbes com as suas placas
pregadas, devem ser pensadas de modo contínuo como lugares fundamentais dessas
controvérsias em torno do passado. Acções de destruição de estátuas como a que
testemunhamos na sequência do assassinato de George Floyd devem ser vistas como
parte importante destes embates em torno da política de memória. Mas, elas
podem ser potencializadas por uma reflexão que considere que a estas acções de
denúncia devem ser acrescidas medidas que impliquem na construção de discursos
públicos cotidianos sobre esses lugares de memória, tornando-os permanentemente
visíveis e dotados de sentido para estas e as próximas gerações.
Fernando Perlatto é um dos Editores da Revista Escuta.
Crédito da imagem: Banksy.
Não se pode apagar a história. Quando muito
tentar explicar o porquê daquele rumo da História tendo em vista a realidade da
época e das "forças" que tudo controlavam naquela época, e controlam
na época actual. O povo tem a sua memória e não são as alterações dos nomes ou
do derrube de estátuas que marcarão as gerações. No caso de Portugal, qualquer
que seja o nome que possam dar à ponte sobre o Tejo, ela será sempre, para o
povo, a ponte sobre o Tejo. A praça Sá Carneiro, na memória do povo é, e será,
sempre o Areeiro. O aeroporto Humberto Delgado, será sempre o aeroporto da
Portela. É assim que está gravado na memória do povo. A História não pode ser
reescrita ou apagada.
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Se alguns documentos de Alexandria
sobreviveram a esses autos-de-fé, foram cuidadosamente guardados desde 646 d.C.
e não reapareceram mais. E se certos grupos secretos possuem actualmente alguns
manuscritos esconderam-nos muito bem e usam-nos para proveito próprio.
Segundo a tese principal, em
vigor, existe um grupo denominado de Homens
de Negro que constitui uma organização que visa a destruição de determinado
tipo de saber. Parece evidente que esse grupo nada teve a ver com os
acontecimentos de 646, pois o fanatismo muçulmano foi suficiente. Mas parece
também evidente que esse grupo se desmascarou em 391 depois que procurou,
sistematicamente, sob Diocleciano, destruir as obras de Alquimia e magia.
Em 1692 foi nomeado para o Cairo um cônsul
francês chamado M. de Maillet, que assinalou que Alexandria era uma cidade
praticamente vazia e sem vida. Os raros habitantes, sobretudo ladrões,
encerravam-se nos seus esconderijos. As ruínas das construções permaneciam
abandonadas, e se sobreviveram livros ao incêndio de 646, foram evacuados. Se
um exemplar do Livro de Thot existiu
em Alexandria, César apoderou-se dele como possível fonte de poder. Mas este
livro não era o único documento egípcio em Alexandria. Todos os enigmas que se
colocam ainda sobre o Egipto, estariam resolvidos se tantos documentos egípcios
não tivessem sido destruídos. E entre esses documentos, eram particularmente
visados e deveriam ser destruídos aqueles que descreviam a civilização que
precedeu o Egipto conhecido. É possível que alguns traços subsistam, mas o
essencial desapareceu e essa destruição foi tão completa e profunda que os
arqueólogos racionalistas pretendem, agora, que se pode seguir no Egipto o
desenvolvimento da civilização do Neolítico até às grandes dinastias, sem que
nada venha a provar a existência de uma civilização anterior.
Assim, também a História, a Ciência e a
situação geográfica dessa civilização anterior nos são totalmente
desconhecidas. Formulou-se a hipótese de que se tratava de uma civilização de
Negros. Nessas condições, as origens do Egipto deveriam ser procuradas em África.
Talvez tenham desaparecido em Alexandria, registos, papiros ou livros
provenientes dessa civilização desaparecida.
Foram igualmente destruídos tratados de
Alquimia, os mais detalhados aqueles que permitiram realmente obter a
transmutação dos elementos. Foram destruídas obras de magia. Foram destruídas
provas do encontro com extraterrestres do qual Bérose falou, citando Apkallu. A destruição tão completa da
Biblioteca de Alexandria é, certamente, o maior sucesso dos Homens de Negro.
Texto completo em "Os Livros Malditos" de Jacques Bergier – Editora Hemus.
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