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quinta-feira, 11 de abril de 2019


AS FALTAS DO SER HUMANO

Depois da sociedade primitiva dar lugar à chamada sociedade civilizada há a sensação de que a humanidade está a trilhar uma senda divergente dos desígnios naturais. Muitos pensadores deram o alerta, a começar por Bacon (1561 – 1626) que na altura aconselhou a humanidade a procurar vencer a natureza obedecendo-lhe e não o inverso em que o Homem desafia e pretende “domesticar” a natureza, até utilizar “alegremente” a energia nuclear para fins bélicos, destruir os recursos naturais e sistemática destruição do meio-ambiente.

Autores que trabalham em programas de futurologia, como Alvin Toffler, antecipam consequências e propõem medidas correctivas, contrariado abertamente algumas conclusões de entidades “oficiais”, como a OCDE, que apontam para a possibilidade de, a médio prazo, se poder contrariar a crise momentânea criada pelos fluxos mundiais de dificuldades, com excesso de população e investimentos destinados à agricultura e poluição. Como sempre, os valores económicos do momento prevalecem e as Corporações dominam o planeta, conforme os seus interesses.

A estrutura básica das sociedades quase não tem evoluído, nem aprendido com os seus erros e vícios históricos (primeiro o lucro, depois as pessoas e o meio onde vivem).

No entanto, paradoxalmente, a ciência e a técnica progridem em passo acelerado para tentarem corresponder às exigências postas pela população cada vez maior. As soluções que se impõem (pela filtragem a que são sujeitas pelas corporações) nada têm a ver com os problemas do mundo físico, mas sim com a própria natureza humana, com o comportamento instintivo básico. O nível cultural da humanidade é o factor de importância relevante pelos reflexos imediatos (pouco exigentes) que tem na organização social e comportamento ambiental colectivos. São pura e simplesmente ignorados, não informados e não educados. Este nível cultural, de respeito pela natureza, não acompanha o desenvolvimento da ciência.

 
Há quem aponte o cristianismo (o sistema europeu que rege a humanidade) como culpado da actual crise do meio ambiente pelo modo de relacionamento com a natureza. O ocidental partiu do princípio de que o facto de o lugar central que o Homem ocupa no mundo lhe dá a profunda convicção de que toda a realidade está ao seu serviço. “Encham a Terra e dominem-na” (Génesis 1: 26-28). Esta convicção de superioridade e domínio manifesta-se sobre todos os seres vivos (Génesis 2:19).

De facto, nos textos bíblicos não se encontram afirmações de que a má actuação do Homem se repercuta no equilíbrio da natureza. Mas são vários os passos em que podemos subentender que o Cosmo, a Criação, é um sistema interactivo.

O fim do Génesis fala-nos da Criação como um ordenamento do Caos (Génesis 1) em que intervêm forças celestes respeitadoras de “uma Lei que jamais será violada”. (Salmos 148:6). Do mar às estrelas, todo o Universo se encontra sob a mesma ordem cósmica que também se impõe aos humanos. Esta ordem cósmica possui analogias com o que se encontra nas outras culturas não cristãs.

O prólogo do Evangelho de João (1: 1-18) descreve o desencadeamento do processo da Criação ao referir a “alocação das sílabas da Palavra (ou do Verbo) marcou estádios sucessivos na evolução do mundo e do Homem”.

A evolução processa-se pela passagem da energia (a substância-raiz-cósmica do caos) para a matéria. Será um processo em que os elementos se agregam segundo a lei da auto-organização e da complexidade crescente, para se tornarem a matriz geradora da Vida.

Esta complexidade não significa uma simples acumulação de elementos, como num monte de areia, ou uma simples repetição geométrica e indefinida de unidades, como na cristalização.

Mesmo assim, eu penso, como muitos outros, que a matéria é espirito cristalizado.

Mas, esta acumulação de elementos é uma forma particular e superior de agrupamento onde um certo número de elementos acaba por formar uma estrutura capaz de assimilar e reproduzir-se no mundo material. Terá sempre um aspecto visível e exterior (corpo físico) e outro interior e oculto, de espírito, formando ambos a unidade de espírito-matéria. O espírito, que é evidente no Homem e cuja parceria com o corpo físico e experiência na matéria criou uma Alma (Mente, Ego) individual. Esse espírito, um átomo do espírito universal, doado para vivificar o novo ser material, que já se vislumbra nos animais, também subsiste nos estados de complexidade mais elementar, embora tão infinitamente diluído que escapa aos nossos vulgares métodos de detecção do orgânico.

Como a matéria é Espírito cristalizado, o espírito universal está lá.

Tendo em conta esta realidade não faz sentido pensar em matéria inerte, ou “bruta”. As confissões cristãs, que não têm reflectido esta realidade na vida, abriram caminho a um certo desprendimento pela natureza enquanto expressão de uma lei universal que impõe uma interacção e interdependência total. Neste caso o Homem integra-se numa visão evolutiva do próprio Universo. Não pode separar-se do mundo a que pertence, e é sintomático o facto de as religiões terem evoluído paralelamente com a evolução do Homem.

E o facto constatado é que a religião, a evolução espiritual, tem evoluído muito lentamente, abrindo um fosso entre os assuntos do espírito e os assuntos da matéria assumidos pela ciência cuja evolução está descontrolada, pela falta desse filtro espiritual. E mais ao serviço do mal do que do bem.

Ao desligar-se o “natural” do “sobrenatural” o Homem avança sem freio, sem uma consciência ética e moral que o faça reflectir e agir pelo bem comum, como se vê nos dias de hoje em que o avanço científico e tecnológico é orientado para adquirir poder e riqueza na Terra, com milhões de mortos.

Essa riqueza e avanço tecnológico não são empregues para matar a fome no mundo, eliminar as doenças e aliviar os menos favorecidos. Milhões de pessoas morrem de sede na Terra, enquanto a ciência gasta riqueza para descobrir água em Marte. Hoje não há ética, nem consciência, porque se preocupam mais em criar leis para legalizar actos que por serem legais põem de lado o direito consuetudinário, a moral e a ética e ficarem de consciência tranquila. É o caso de, por exemplo, em Portugal, um político exigir subsídios, ou de integração na vida fora da política, ou de habitação dando dados falsos, só porque é permitido por lei. Não entra em conta um princípio ético, que os impeça de exigir subsídios não só porque não está certo como até são imorais face á sociedade em que a esmagadora maioria nada tem e ainda lhes cortam pequenos subsídios que lhes permitiam sobreviver com dignidade.

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