DO HOMEM MATERIAL PARA O HOMEM ESPIRITUAL
No princípio o modo de vida do
ser humano identificava-se com o ambiente. Tinha de explorar os recursos
existentes pela força bruta e por tentativas e erros. Com o desenvolvimento do
conhecimento e memória dos factos, foi ordenando as condições e métodos para
subsistir. Tal como todos os outros seres vivos, os humanos iam-se adaptando às
condições ecológicas e climatéricas, criando novas condições para sobreviver. A
vantagem do Ser humano era, e é, a capacidade do seu cérebro privilegiado “portar”
aquele Dom tão importante, a inteligência.
Aos poucos ia mudando as condições
para melhorar a sua vida, interferindo directamente no fenómeno natural da
evolução sem ficar completamente estático na “onda” de vida natural, como fazem
todos os seres vivos. O ser humano, o ser “sapiente” que o Senhor criou neste
mundo conhecido foi manipulando as condições de suporte da evolução da vida
tendo em conta os seus interesses e “comodidades”. Se a sua personalidade ia
mudando conforme essas condições, a “natureza humana” ia permanecendo, sempre,
no decurso dessas mudanças e o sistema sociocultural ia-se identificando com
tudo aquilo que ia produzindo e preservado para utilização futura.
Logo que se apercebeu, ou tomou
consciência, do modo de vida tão elementar que levava, o ser humano faz uso da
inteligência de que é dotado para inovar e conviver de outra maneira com o
mundo material.
Como é lógico, preparou tudo à
sua medida e dentro dos parâmetros conhecidos da vida na matéria. A Sociedade
(o convívio tribal ou grupal) deixou de ser um elemento cultural, com outras
regras diferentes da orientação da pura evolução biológica das outras espécies
vivas. A partir daquele momento o ser humano começa a ser orientado pelo esforço
do Espírito. Consegue autonomizar-se em relação aos condicionalismos
materiais do passado. Podemos dizer que a ausência de cultura é de natureza
espiritual e intelectual (parceria entre o Corpo Físico e o Espírito
na formação do indivíduo). Ou seja, a Civilização poderá ter uma origem
predominantemente emocional e afectiva.
Ora, este corte entre a
tradição e vida natural com a vida cultural mais intelectual, que veio
contrariar algumas regras existentes, deu origem aos mitos da Antiguidade sobre
o “pecado original” ou um “castigo” e possibilidade de destruição final da
humanidade.
As relações conflituosas daí
advindas acabaram por impor a necessidade de regras e códigos de conduta. Como
é regra, qualquer tipo de evolução não se faz simultaneamente, mas por grupos,
sendo os mais afoitos os primeiros, seguidos posteriormente pelos restantes que
vão beneficiando gradualmente dos meios ideais que os pioneiros foram
desenvolvendo ao longo dos séculos. Foi sempre assim.
Da vida nómada, sempre em
movimento, caçando e sempre dependentes do que a natureza lhes proporcionava
aleatoriamente, e a descoberta de que podiam explorar os campos semeando,
passaram a ter uma vida mais sedentária e com tempo para se dedicarem a
actividades de lazer. Aquela vida simples em que uns caçavam e outros
colectavam plantas e frutos para providenciar a sua sobrevivência em grupo, passou
a complicar-se com o fenómeno da “especialização” quando descobriram que em vez
de estarem à mercê da natureza (Frutos e sementes encontrados espontaneamente e
o perigo da caça de animais ferozes) podiam cultivar o terreno, semear e fazer
multiplicar as suas sementes e frutos e inclusivamente criarem animais para a
sua alimentação, fixando-se ao terreno em vez de vaguearem sem destino.
Nessa época, era preciso manter
o povo unido e temente aos deuses e natureza, porque não sabiam como se
processavam os fenómenos naturais, aparecendo a profissão de sacerdote
religioso (mais feiticeiro ou mágico) para se sentirem protegidos e mais
seguros (uma questão de fé). Era
necessário, por exemplo quem cuidasse dos campos, os profissionais que se
dedicassem à agricultura, de grande importância para a tribo ou comunidade.
Outros dedicavam-se à caça e pela natureza mais perigosa da profissão,
engrossavam as fileiras dos “guerreiros” cuja missão seria defender a comunidade
das agressões externas de outros grupos que preferiam roubar a produzir. O
chefe da comunidade passou a ser o coordenador de todas as actividades
jurídicas e de bom convívio entre todos, traçando as regras, e por aí adiante
até às inúmeras “profissões” conhecidas da sociedade humana. Ou seja: da vida
simples que tinha o ser humano foi criando condições cada vez mais complicadas
para a comunidade e, como seria de esperar, criando os privilegiados, os
açambarcadores, os ricos, que se aperceberam que podiam ter uma vida mais
confortável a explorar o próximo do que a trabalhar e a produzir “de facto”.
O primeiro choque que a
humanidade atravessou e criou grandes mudanças foi com a chamada revolução
industrial que teve, como consequência o urbanismo, tecnologia e necessidade do
trabalho especializado o que implicou novas normas de conduta e de
comportamento.
O êxodo de indivíduos do campo
para a cidade, com uma visão rural da existência para uma concepção de vida
urbana, com um ambiente mais complexo, gerou reacções instintivas agressivas.
Esta nova ordem de relação que se foi formando impôs códigos de comportamento
cada vez mais elaborados para promover a transmutação daqueles impulsos
agressivos.
A estruturação social passou a
proteger o grupo em vez do indivíduo ou espécie. O indivíduo teve
que se associar em classes profissionais (artesãos) para ter estabilidade e se
proteger. Mas nem todos foram capazes de acompanhar estas transmutações e
ultrapassar as diversas crises da integração no novo sistema de vida, motivo
porque muitos viviam organizados segundo os modernos padrões superiores da
existência mas que continuavam suspensos das suas próprias limitações, não
havendo sequer uma religião que lhes valesse ou os compensasse. É o que
acontece hoje com os chamados povos do terceiro mundo. Procuram organizar-se
segundo os padrões mais avançados da civilização, mas permanecem, na prática,
mergulhados no mundo ancestral, autenticamente aprisionados porque não lhes
proporcionam a educação necessária para poderem evoluir.
O segundo choque em grande
escala, está em atravessar, na actualidade, para o mundo dos Serviços,
em que o domínio que já esteve nas mãos dos donos da terra e passou para os
sindicatos e lutas sociais entre classes de trabalhadores, tem agora como
dominantes os patrões da alta finança mais precisamente os intermediários. Os
donos da terra, os donos das indústrias transformadoras e as corporações que
exploram as riquezas minerais do planeta, os trabalhadores que produzem, já não
têm poder nenhum. O poder hoje está no intermediário que compra ao produtor e
vende ao consumidor, intermediários esses que sem meios próprios precisam do
financiamento da Banca e daqueles que “fabricam” o dinheiro e manipulam a
economia.
Com estas mutações no percurso,
era necessária uma crença, uma religião que os orientasse na formação
das novas sociedades. Não havia experiência e nada que se pudesse apoiar em
algo sólido. Tudo era novo, as convulsões não eram premeditadas, surgiam por
ondas desconhecidas e teriam de
acreditar em algo de Divino para poderem implementar os códigos de conduta e
comportamento sem resistência das classes ignorantes.
Como esta transmutação
começou logo nos primórdios das primeiras civilizações conhecidas na Terra, não
se sabe ao certo se existiram civilizações avançadas que deixaram o seu legado
para a humanidade actual. Mas se isso aconteceu, essas civilizações também
tiveram um início e “alguém” os ensinou.
Há inúmeros “Livros Sagrados”
que serviram como guia para muitas culturas na Terra, mas o mais conhecido no
nosso mundo ocidental, pelo seu conteúdo tão importante para orientação da
humanidade, é a Bíblia.
A BÍBLIA, o Livro Sagrado dos
Cristãos, divide-se em duas partes distintas mas que se complementam
harmoniosamente. A Primeira Parte que conhecemos como o Antigo Testamento abrange tudo o que diz respeito à vida material
na Terra e estabelece as normas de conduta (guiadas para um lugar) e as normas de comportamento (modo de comportar-se, sofrer, suportar,
proceder) e organização duma sociedade.
Vem lá tudo o que o Homem deve
saber para conviver em sociedade e poder ultrapassar as suas fraquezas e inadaptação
às situações concretas. Ainda hoje, neste mundo “ultramoderno” do Séc. XXI,
pode considerar-se como um “Manual de Instruções” actualizado. A sua leitura
ajuda aqueles que não foram capazes de se adaptar às novas mutações nas
condições de vida e consola todos aqueles que precisam de reflectir e relaxar
ao atravessarem estas mutações que são cada vez mais rápidas.
A Segunda Parte, conhecida como
o Novo Testamento, é dedicada ao
Espírito e à vida espiritual. O ser humano já ultrapassou os problemas de
subsistência materiais e iniciou a sua vida espiritual que descobriu ser muito
mais importante para a sua evolução. Descobriu que é um Espírito com um Corpo
Físico e não um Corpo Físico com um Espírito. Descobriu que a sua
individualidade veio do Espírito que foi implantado no seu Corpo Físico para o
vivificar, dando origem à Alma – o Indivíduo. E descobriu que a sua Alma é
imortal e continuará a evoluir, deixando para trás os “corpos”, ou vestimentas
passageiras, que vai utilizando nos vários ambientes dos planos dimensionais
que atravessará até à fusão com o Espírito que a acompanha, aquele átomo do
Espírito de Deus (Santo) que lhe deu a vida para cumprir a sua jornada.
Desde aquele momento em que o
Homem obteve a consciência do seu EU, nada mais foi deixado ao acaso. Foi só a
partir deste momento que ele pode começar a exercer o livre arbítrio e a
iniciar o desenvolvimento dos seus poderes espirituais, que o ser
“espiritualizado” (acordado) cultiva diariamente conforme se torna cada vez
mais consciente de que a vida divina está contida em tudo, pequeno ou
grande.
Sabe que tudo o que fizer a
outrem a si o faz. Cedo ou tarde receberá o retorno, pelo que terá de saber
dominar-se para ter liberdade. Pitágoras - Filósofo e ocultista Grego – disse
que “não é livre nenhum homem que não possa dominar-se a si mesmo”. E devemos
ter sempre presente que, o egoísmo, a intolerância e o ódio são a causa da
desgraça da humanidade e, consequentemente, do retardamento da evolução. O
egoísmo procura obter o seu próprio conforto sobre o plano material e o próprio
engrandecimento diante do público. O autoconfiante, todavia, procura ser
completo e forte, de tal modo que possa enriquecer o todo para o bem de todos.
O aspirante à vida superior
seguindo o chamamento do espírito reconhece não haver caminho real para a
obtenção, pois cada qual, por si mesmo, é que deve achar o caminho da paz.
Aquele que for persistente desenvolve o seu eu superior e o auto-sacrifício
abre o caminho para um avanço ainda maior no plano espiritual. O espírito
adormecido dentro de nós, despertará finalmente.
A fusão da Alma com o Espírito
que sempre a acompanhou desde que nasceu no plano dimensional mais denso – na
Terra – permitirá chegar finalmente à presença do Pai, o Criador dos Universos.
Isto em termos genéricos, porque não há regras sem excepções e o
desenvolvimento do Homem mal começou e só terá acesso aos mistérios mais
elevados conforme se vai desenvolvendo, pelo que ninguém (no nosso plano dimensional)
sabe detalhes do percurso até completar a jornada da Vida.
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