Virtuosidade,
Perdão e Dever de Solidariedade
Li um artigo muito interessante na Revista ROSA CRUZ nº
424 intitulado “Migalhas de Luz”, que não está assinado, pelo que considero
como um ensinamento Rosa Cruz. A Fraternidade Rosa Cruz de Portugal tem como
Divisa “Servir” e a sua missão é, portanto, ensinar e espalhar o conhecimento.
Deste modo, transcrevo o artigo.
Confúcio (551-479 a.C.), o homem que maior influência espiritual
exerceu no seu país – a China -, filósofo de um ideal assaz elevado, nasceu
numa pequena cidade da província de Xantung. Aos dezanove anos ocupava já altos
cargos. Manifestava uma inteligência fora do comum revelando-se um ser
superior. Era de uma virtude austera, um exemplo permanente para todos. Nas
suas lições aos discípulos afirmava: “por três caminhos se chega à virtude:
pela reflexão, que é o mais nobre; pela intuição, que é o mais fácil; pela
experiência, que é o mais amargo”.
Passava-se isto
quinhentos anos antes da vinda de Cristo e ainda continuamos a reconhecer e a
admirar a clareza e as verdades contidas nestas palavras. Não encontramos até
agora, em parte alguma, outros processos mais apropriados para conseguir
alcançar a virtuosidade.
O homem teve,
desde sempre, a seu lado, seres evoluídos e dedicados, prontos a auxilia-lo na
orientação da sua vida terrena. Mas, sendo por natureza demasiado rebelde pata
seguir os bons exemplos, a generalidade das pessoas, presunçosa em excesso para
atender os sãos conselhos, trilha por veredas tortuosas afastando-se do caminho
directo que lhe é recomendado. E, por isso mesmo, dizia Confúcio muitas vezes:
“o homem oculta uma só vez por prudência o que mostra dezenas de vezes por
vaidade”.
“Escutar
sempre, pensar sempre, aprender sempre, eis o que é viver. Quem não aspira a
mais nada, quem não aprende coisa alguma mais, não é digno de si e menos ainda
dos outros”.
Este pensamento
também atribuído a Confúcio, foi encontrado num velho alfarrábio. Realmente,
poderemos dizer que a maior parte das pessoas vive indiferente e preguiçosa,
alheada a tudo quanto à sua volta se passa e lhe poderia servir de estudo e
adiantamento.
Será digno de
consideração e estima quem passa pela vida indiferente ao seu dever de
progredir espiritualmente, que faz ouvidos de mercador aos ensinos e teorias
comprovadas pela Razão, pelo Direito e pela Justiça; quem, julgando-se sábio,
não reconhece a sua grande ignorância e estulta vaidade, a sua incompetência
social? Não. Só quem ouve com atenção, quem pensa, quem aprende constantemente,
se torna apto para viver seguindo o ritmo da evolução a que está sujeito por
eternas leis naturais.
Mais dois
assuntos. Falemos agora de perdão.
Perdoar as
ofensas recebidas é o melhor e mais alto escalão da perfectibilidade, obtido
pelo habitante do nosso globo. “Perdoa a ofensa: a árvore do sândalo perfuma o
machado que a corta e a derruba”, diz um ditado chinês. E haverá, realmente,
prazer íntimo que se possa igualar ao bem-estar recebido pela alma pura quando
perdoa e esquece as ofensas imputadas ao seu semelhante?
Quantos sentem,
no seu coração dorido, a necessidade de perdoar, mas não o fazem com receio da
crítica mordaz dos energúmenos, da opinião alheia, sempre pronta a malsinar e a
rebaixar as melhores intensões?
“A coragem é a
luz da adversidade”, disse alguém. Pois bem: cheios dessa coragem indómita, de
olhos fechados ao riso escarninho dos críticos e ouvidos moucos às suas
palavras, perdoemos sempre, seja a quem for. Assim observaremos a palavra do
Mestre quando nos recomenda: “Perdoa setenta vezes sete”.
E agora, para
terminar, uma nota sobre o dever de solidariedade.
Um dos deveres
de todo o ser consciente é tornar-se útil ao seu semelhante, prestando-lhe o
auxílio e o amparo que lhe seja possível, com dedicação. Este dever moral
alegra, consola e eleva o ser que o pratica, colocando-o muito acima do resto
da humanidade. Mas uns por indecisão, outros por comodidade ou orgulho próprio,
descuidam tal obrigação e, cheios de vaidade pela importância que tiveram os
seus avoengos, fogem ao cumprimento desse dever elementar. Disse Osbury: “O que
não tem outro valor senão a grandeza dos seus antepassados é, na verdade, como
as batatas: o bem que tem está debaixo da terra”.
Violento, talvez, mas profundamente verdadeiro.
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