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terça-feira, 20 de junho de 2017


"Nada real pode ser ameaçado.
Nada irreal existe.
Nisto está a paz de Deus. "

É assim que começa Um Curso em Milagres. Faz uma distinção fundamental entre o real e o irreal; entre conhecimento e percepção. Conhecimento é a verdade, sob uma lei, a lei do amor de Deus. A verdade é inalterável, eterna e não ambígua. Pode não ser reconhecida, mas não pode ser mudada. Aplica-se a tudo o que Deus criou e apenas o que Ele criou é real. Está para além da aprendizagem porque está para além do tempo e do processo. Não tem opostos; não tem princípio nem fim. Apenas é.


O mundo da percepção, por outro lado, é o mundo do tempo, das mudanças, dos começos e dos fins. É baseado na interpretação, não em factos. É o mundo do nascimento e da morte, estabelecido na crença, na escassez, na perda, na separação e na morte. É aprendido em vez de ser dado, selectivo na sua ênfase percetual, instável no seu funcionamento e impreciso nas suas interpretações.


Do conhecimento e da percepção, nascem respectivamente, dois sistemas de pensamento distintos e em tudo opostos. No reino do conhecimento não existem pensamentos separados de Deus, porque Deus e as Suas Criações partilham uma Vontade. O mundo da percepção, no entanto, é feito pela crença nos opostos e nas vontades separadas, em conflito perpétuo entre elas e com Deus. O que a percepção vê e ouve parece ser real, porque, permite apenas tomar consciência daquilo que está de acordo com os desejos daquele que percepciona. Isso, conduz a um mundo de ilusões, um mundo que necessita de defesa constante precisamente porque não é real.


Quando fomos aprisionados no mundo da percepção, fomos apanhados num sonho. Não podemos escapar dele sem ajuda, porque tudo o que os nossos sentidos nos mostram, serve apenas para testemunhar a realidade do sonho.





Deus deu a Resposta, A Única Saída, o verdadeiro Ajudante. É a Sua Voz, O Seu Espírito Santo que pode mediar entre os dois mundos. Ele pode fazer isso, porque se por um lado Ele sabe a Verdade, por outro lado Ele reconhece as nossas ilusões, mas sem acreditar nelas. O objectivo do Espírito Santo é o de ajudar-nos a escapar do mundo do sonho ensinando-nos como inverter o nosso pensamento e a desaprender os nossos erros. O perdão é o grande ensinamento do Espírito Santo que ajudará a fazer a inversão do pensamento. No entanto, o Curso tem uma definição própria do que é realmente o perdão e uma decisão própria do mundo.





O mundo que vemos reflecte meramente o nosso próprio quadro de referências interno - as ideias dominantes, os desejos e as emoções que estão nas nossas mentes. "


A projeção faz a perceção"(Text, p. 445). Primeiro, olhamos dentro, decidimos o tipo de mundo que queremos ver e depois projectamos esse mundo no exterior, fazendo dele a verdade tal como o vemos. Tornamo-lo verdadeiro através das nossas interpretações do que é que estamos a ver.
Se estamos a usar a perceção para justificar os nossos próprios erros - a nossa raiva, os nossos impulsos para atacar, a nossa falta de amor seja em que forma for - veremos um mundo do mal, da destruição, da malícia, da inveja e do desespero. Teremos de aprender a perdoar tudo isto, não porque estejamos a ser "bons" e "caridosos", mas porque o que estamos a ver não é verdadeiro. Nós distorcemos o mundo com as nossas defesas invertidas e estamos, por isso, a ver o que não está ali.


 À medida que aprendemos a reconhecer os nossos erros percetuais, também aprendemos a abandoná-los ou "perdoá-los". Ao mesmo tempo estamos a perdoar-nos a nós próprios, abandonando os nossos auto-conceitos, a favor do Ser Que Deus criou em nós e como nós.
Para isso é preciso que o ser humano "acorde". Quando os que acordaram consigam a maioria a realidade percecionada mudará para melhor, porque a "emissão" mental será mais elevada e boa.
O pecado é definido como "falta de amor" (Text, p. 11). Uma vez que o amor é tudo o que existe, o pecado, aos olhos do Espírito Santo é um erro que tem de ser corrigido, em vez de uma maldade que tem de ser punida. O nosso sentimento de inadequação, de fraqueza e de não totalidade é originado pelo nosso investimento no "princípio da escassez" que, governa o mundo das ilusões. Deste ponto de vista, nós procuramos nos outros aquilo que pensamos que nos falta. "Amamos" um outro para obtermos o que queremos. Isso, de facto, é o que no mundo do sonho é entendido como amor. Não existe maior erro do que esse, uma vez que o amor é incapaz de pedir o que quer que seja.





Apenas as mentes se podem unir e aquilo que Deus uniu não pode ser separado (Text, p. 356). No entanto, é apenas ao nível da Mente de Cristo que a verdadeira união é possível e que, de facto, nunca se perdeu. O "pequeno eu" procura valorizar-se através da aprovação exterior, das possessões externas e do "amor" externo. O Ser Que Deus criou não precisa de nada. É para sempre completo, está em segurança, é amado e ama. Procura partilhar em vez de obter; estender em vez de projectar. Não tem necessidades e quer unir-se com outros na sua consciência mútua de abundância. (O que na prática, infelizmente não acontece.)


As relações especiais do mundo são destrutivas, egoístas e infantilmente egocêntricas. No entanto, se forem dadas ao Espírito Santo, essas relações podem tornar as coisas mais santas na terra - os milagres que indicam o caminho para o retorno ao Paraíso.
 
O mundo usa as suas relações especiais como uma arma de exclusão e de demonstração da separação. O Espírito Santo transforma-as em lições perfeitas de perdão e de despertar do sonho.
 Cada uma é uma oportunidade de deixar que as percepções sejam curadas e os erros corrigidos. Cada uma é mais uma oportunidade de alguém se perdoar a si próprio perdoando o outro. E cada uma torna-se também mais um convite ao Espírito Santo e à lembrança de Deus.


A percepção é uma função do corpo e por isso, representa um limite na consciência. A percepção vê através dos olhos do corpo e ouve através dos ouvidos do corpo. Evoca as respostas limitadas que o corpo fabrica. O corpo parece ser auto-motivado e independente, no entanto, ele apenas obedece às intenções da mente. Se a mente o quiser usar para atacar, seja em que forma for, o corpo torna-se vítima da doença, do envelhecimento e da decadência. Se, pelo contrário, a mente aceita o propósito do Espírito Santo para ele, o corpo, torna-se um meio útil de comunicação com os outros, invulnerável enquanto for necessário e gentilmente abandonado quando o seu uso tiver terminado.





O corpo em si mesmo é neutro, como tudo no mundo da percepção. Se é usado para os objectivos do ego ou do Espírito Santo, depende inteiramente do que a mente quer.


O oposto a ver através dos olhos do corpo é a visão de Cristo, que reflecte poder em vez de fraqueza, unidade em vez de separação e amor em vez de medo.


O oposto a ouvir com os ouvidos do corpo é a comunicação através da Voz de Deus, o Espírito Santo que, habita em cada um de nós. A Sua Voz parece distante e difícil de ouvir porque, o ego, que fala para o pequeno ser separado, parece falar muito mais alto. Isto está invertido. O Espírito Santo fala com uma clareza indiscutível e com um apelo irresistível. Ninguém que não escolha identificar-se com o corpo poderá ser surdo às Suas mensagens de libertação e esperança, nem poderia deixar de aceitar alegremente a visão de Cristo numa troca feliz da imagem miserável de si mesmo.





A visão de Cristo é uma dádiva do Espírito Santo, a alternativa de Deus à ilusão da separação e à crença na realidade do pecado, da culpa e da morte. É a correcção para todos os erros de percepção, a reconciliação dos aparentes opostos nos quais o mundo se baseia. A sua luz gentil mostra-nos todas as coisas sob uma nova perspectiva, reflectindo o sistema de pensamento que surge do conhecimento e que torna o retorno a Deus não só possível mas inevitável. O que antes era visto como injustiças feitas a alguém por outro, torna-se agora um pedido de ajuda e de união. O pecado, a doença e o ataque são vistos como percepções equivocadas pedindo correcção através da gentileza e do amor. As defesas são abandonadas porque onde não existe ataque não há necessidade de defesas. As necessidades dos nossos irmãos tornam-se as nossas, porque eles estão a fazer a viagem connosco à medida que caminhamos para Deus.


O perdão é desconhecido no Paraíso, onde a sua necessidade seria inconcebível. No entanto, neste mundo, o perdão é uma correcção necessária para todos os erros que fizemos. Dar o perdão é a única maneira de o ter, pois ele reflecte a lei do Céu em dar e receber são o mesmo. O Paraíso é o estado natural de todos os Filhos de Deus tal como Ele Os criou. Essa é a sua realidade eternamente. Não mudou porque ter sido esquecida.


O perdão é o meio pelo qual nós nos lembraremos. Através do perdão o pensamento do mundo é revertido. O mundo perdoado torna-se a porta do Paraíso, porque, pela sua misericórdia podemos finalmente perdoar-nos a nós próprios. Não mantendo ninguém preso à culpa, nós ficamos livres. Reconhecendo Cristo em todos os nossos irmãos, nós reconhecemos a Sua Presença em nós mesmos. Esquecendo as nossas percepções equivocadas e sem nada do passado que nos retenha, nós podemos lembrar Deus. A aprendizagem não pode ir além disto. Quando estivermos prontos, O Próprio Deus dará o passo final no nosso retorno a Ele.

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