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terça-feira, 21 de maio de 2024

 

PORTUGAL CADA VEZ MAIS DESCULTURADO



Sobre as afirmações do nosso Presidente da República quanto ao fenómeno colonial e injustiças interpretadas face ao momento atual, os nossos comentadores e especialistas perdem-se em críticas acaloradas contra Marcelo Rebelo de Sousa e ninguém ainda procurou explicar os valores que regem as civilizações.

Há muito que o nível cultural dos profissionais da informação está em queda assim como é cada vez pior a capacidade de gerir da “elite” que se acomodou nos partidos políticos e ocupam praticamente todos os lugares cimeiros da governação deste pobre país.

Já não há gente com carisma, verdadeiros Homens de Estado, estando na linha da frente indivíduos medíocres, que só conhecem os corredores das autarquias e dos partidos a que pertencem, sem experiência de vida, que nunca conviveram com o povo e não se apercebem dos seus problemas, da má assistência na saúde, carregados de impostos e taxas, sempre em bolandas nos transportes públicos à chuva, vento e frio, que puxam para todos os outros lugares cimeiros outros medíocres que não podem ser mais inteligentes que aqueles que mandam na política, na economia e finanças e, por arrasto, a maioria das empresas, órgãos de informação e toda aquela maioria que vive à custa de subsídios. Os verdadeiramente inteligentes e que poderiam elevar o nível dos nossos líderes foram afastados ou afastaram-se.



Diz-se constantemente que o País vai mal, em crise no plano económico, mas o ponto fulcral ainda não foi abordado: a Cultura. Não a cultura literária, clássica, mas sim a perceção e compreensão dos valores que regem as civilizações.



A grande parte dos indivíduos considerados “cultos” e, mais sofisticadamente, “intelectuais”, são pessoas que escrevem sem erros, conhecem bem a sua língua (apesar da “borrada” que fizeram com o acordo literário com o brasileiro), sabem os nomes de todos os escritores e poetas da sua terra. Têm a cultura que ao ser transmitida só dá sono e fastio.

Na minha modesta opinião a verdadeira “cultura” deve produzir uma sensação dinâmica, rica e de intensa curiosidade naqueles que procuram saber. O indivíduo verdadeiramente culto é aquele que prende a atenção dos que escutam quando transmite o que sabe.


Imagem: DER TERRORIST - SAPO


O triunfo da mediocridade depois de 50 anos do 25 de Abril. Uma capa que explica o grande falhanço em que se tornou este país, num artigo de José Simões.

Ora, o que verificamos é que os programas de informação e com debates culturais (?) são demasiado frouxos e nada transmitem. Ou os temas são muito genéricos e não possibilitam um debate mais transparente ou as pessoas convidadas, apesar de cultas, não conseguem clarificar aquilo que discutem, e principalmente com as interrupções contínuas para imporem os seus argumentos. Um dos sinais da cultura é saber ouvir e não interromper a linha de pensamento de quem fala e só depois argumentar.

Nos meus arquivos encontrei um texto que escrevi em 1983 sobre um debate televisivo, em 18 de Junho do mesmo ano no segundo programa da RTP, sobre Colonialismo que achei absolutamente anti-informativo e depois de algumas atualizações exponho aqui.

O filme escolhido nada propunha, conforme foi afirmado no debate final. De facto tratava-se de uma historieta fácil onde os “brandos costumes”, apanágio dos portugueses, foram excessivamente realçados. Mas o mais grave, para mim, foi a conclusão que ficou no ar após o debate.

Depois de muito falarem, e serem abordadas várias questões, o que o espetador menos avisado “apanhou” e concluiu foi que o Colonialismo é sinónimo de Escravatura e deste modo os portugueses deveriam ter vergonha do seu passado escravista e colonial.

O que pretendo salientar é que ao ser debatido um dado fenómeno histórico o mesmo deveria ser analisado dentro da sua época e não à face do momento presente com valores morais e sociais completamente diferentes. Além disso seria necessário em primeiro lugar definir o fenómeno e, em segundo lugar, saber qual ou quais as ações que caraterizam esse fenómeno.

Só depois destes dois pontos esclarecidos é que se passaria à crítica.

É evidente que Portugal tem um passado escravista, mas face à moral e valores da época esse facto era aceite, e qualquer país que pretendesse manter a sua posição forte, do domínio das rotas marítimas, e riqueza, teria de proceder conforme os valores da época. Naquele tempo o domínio dos oceanos, e do mundo, era disputado pelas nações mais fortes como Portugal, Espanha, Inglaterra, Holanda, e toda a sua política e economia eram fortemente influenciadas pelo tráfico de escravos e comércio pelo outro.



Hoje, os valores sociais e morais são diferentes e enquanto se condena a escravatura, ludibriados pela semântica esquecem que está tudo praticamente na mesma. As grandes potências (sempre a lei do mais forte) caem noutro círculo de exploração dos povos. Exploram os mais fracos com o chamado neocolonialismo, com as multinacionais e outras formas mais camufladas. É um facto. Os ditadores nascem como cogumelos e têm as populações escravizadas. Isso acontece na África de Hoje, na América do Sul e grande parte da Ásia. As falsas democracias proliferam, e mantêm essas nações “ocupadas” abaixo da pobreza, sugam todos os seus recursos naturais e provocam as guerras genocidas. Têm fome, mas não faltam as armas para se matarem uns aos outros e são campo de ensaios para alimentos transgénicos e toda a espécie de experiências para conseguirem mais lucros.


Um dia, esse sistema será também fortemente criticado assim como se criticam os sistemas de exploração do passado.



Depois passou-se para o Globalismo, ou Nova Ordem Mundial, o que vai dar ao mesmo. Exploração da mão de obra barata e mais lucro para os exploradores.



E finalmente a Globalização, que está a dar maus resultados porque os países ricos exportaram toda a sua tecnologia para os países com mão de obra barata e há o volte face. Ou seja, agora que que a Rússia está a desestabilizar o mundo e a Europa começou a preocupar-se com a sua segurança económica e defesa, descobriu que está em desvantagem e desindustrializada. Todo o seu poder industrial foi exportado para países com mão de obra barata, alguns dos quais estão alinhados com a Nova Ordem que os BRICS querem implantar contra a Nova Ordem Mundial Ocidental.

A própria Bíblia refere a escravatura sem a reprovar, traçando apenas normas de conduta de acordo com o espírito e moral da época.

Na minha opinião, os telespetadores deveriam ter sido informados que o colonialismo e o seu apogeu surgiu “depois” da escravatura. Os Egípcios tinham escravos muito antes de se pensar em colonialismo pois os escravos não eram “colonos”. Não lhes davam terras para povoar e nem eram controlados por colonos egípcios.

O sistema de exploração colonialista, que se caracteriza pela imposição de valores e cultura do povo explorador e consequente espoliação da riqueza do povo subjugado, foi utilizado por Portugal só “depois” do ultimato Inglês quando do mapa cor-de-rosa.

Até aí Portugal possuía umas feitorias ou entrepostos comercias no litoral, e só quando a Inglaterra declarou que Portugal teria direito apenas às terras efetivamente ocupadas é que Portugal começou a fixar colonos nos territórios do interior.

Não podemos considerar a escravatura como uma consequência do colonialismo, pois quando os portugueses lá chegaram já havia tráfico de escravos entre os reinos africanos.

Antes dos portugueses já os árabes atravessavam a África para irem buscar escravos ao centro e sul.



De resto, os portugueses limitavam-se a trocas comerciais (na época a venda de um escravo era uma transação comercial), sem imporem uma cultura ou espoliarem sem uma contrapartida. Enganando ou não, havia sempre uma troca de produtos e uma negociação.

No colonialismo o caso já era outro. Não havia negociação mas sim imposição. Os valores morais e culturais eram impostos à força com a consequente degradação dos valores culturais do povo subjugado. Nessa altura o indígena era obrigado a saber falar a língua do povo ocupante, e aceitar a religião cristã e a deslocar-se para zonas pobres e impróprias para a agricultura. Os terrenos passavam a ser considerados como propriedade da Coroa, ou do Estado, e distribuídos pelos colonos.

Com o tempo o sistema foi-se sofisticando, mas sempre dentro dos parâmetros permitidos pela moral e valores da época. Conforme se foram modificando os valores e conceitos de sociedade, essa forma de exploração das riquezas e mão de obra barata passou a outras que não são tão criticadas atualmente, como os protetorados, comunidades, territórios e existência de multinacionais.

Portanto, nós, portugueses, só nos devemos envergonhar de procedimentos contrários aos valores e moral da época. Hoje, por exemplo, existe escravatura em países árabes e escravatura escondida por todo o mundo por imposição, dívidas e venda de crianças pelos seus progenitores que estão na miséria e o fazem para sobreviverem. E além da nova moral e novos valores mais “civilizados” ainda subsistem colónias (podem dar-lhes outro nome mas não deixam de estar sob o jugo colonialista) como Gibraltar, Novas Hébridas, Porto Rico, Guantanamo e Hawai, mas oficialmente existem 16 colónias: Anguilla, Bermudas, Gibraltar, Guam, ilhas Caimão, ilhas Malvinas, Turks e Caicos, ilhas Virgens Britânicas, ilhas Virgens Americanas, Monserrate, Nova Caledónia, Pitcairn, Saara Ocidental, Samoa Americana, Santa Helena e Tokelau.

Falou-se na existência de várias formas de colonialismo, como o português considerado diferente mas, sem uma explicação cabal, considerado um mito, bem como a ocupação das Malvinas, Porto Rico, Gibraltar e até Hawai e Guantanamo.

As opiniões divergem como é natural e o telespetador devia ter sido informado das consequências e influência do colonialismo Britânico, Francês, Espanhol e Português. Deviam salientar o facto, por exemplo, de que todas as potências colonizadoras enriqueceram com as suas colónias e muitas delas ainda hoje usufruem disso, exceto Portugal.

A França e Grã-Bretanha quando largaram as suas colónias fizeram-no com lucro. Chegaram ao ponto de levantar vias férreas e lavrar campos relvados e ajardinados. Portugal deixou tudo intacto e, pelos que dizem os responsáveis políticos portugueses, após 25 de Abril, as colónias eram um peso para o erário público.

Na verdade, as riquezas exploradas estavam nas mãos de companhias estrangeiras, nomeadamente inglesas nos caminhos de ferro e diamantes, e americanas no petróleo.

Portugal retirou-se de “mãos a abanar”, podendo fazer o contrário, e quem ficou na miséria foram os “colonos”, os portugueses que tinham tudo lá e não saqueavam para mandar para a metrópole. Era tudo empatado lá, e mais de oitenta por cento trabalhavam por conta de outrem. Os portugueses não devem ter vergonha do seu passado histórico. Portugal é que devia ter vergonha de nunca ter indemnizado essa gente de trabalho. Só indemnizou os grandes proprietários que fugiram para o estrangeiro e que regressaram para continuar a explorar a população portuguesa.

Quanto ao abordado, naquele debate, sobre a escravatura doméstica e eliminação ou deportação de chefes negros “por conspirarem contra o Estado” e não aceitavam o domínio colonial, nada explicou sobre o fenómeno colonial, nem tão-pouco o caso da contratação de pessoal por angariadores.

O mesmo existia em Portugal.

Em Portugal os trabalhadores rurais também eram deslocados em migrações internas, como no Alentejo, por uma questão de mera subsistência e necessidade de ganhar a vida. Também sabemos que aqueles que “conspiravam contra a segurança do Estado” eram deportados ou eliminados pela PIDE/DGS.

O mal estava no sistema de governação, na ditadura, no estado policial e não caracteriza por si o Colonialismo.

O que caracteriza o Colonialismo é a descriminação, não de indivíduo para indivíduo mas de povo para povo. Porque os indivíduos privilegiados ou indivíduos perseguidos e torturados tanto havia dum lado como do outro.

Uma notícia da Reuters de 11.03.2004 informa que a África escravizou mais de um milhão de europeus, segundo declarações do historiador americano Robert Davis, entre 1530 e 1780. Davis, professor de história social italiana na Universidade de Ohio State, disse que ''Uma das coisas que o público e muitos especialistas tendem a dar como certa é que a escravidão (na Idade Moderna) sempre foi de natureza racial, ou seja, que apenas os negros foram escravos. Mas não é verdade''. "Ser escravizado era uma possibilidade muito real para qualquer pessoa que viajasse pelo Mediterrâneo ou que habitasse o litoral de países como Itália, França, Espanha ou Portugal, ou até mesmo países mais ao norte, como Reino Unido e Islândia.".


Imagem: Facebook

Certamente que há muitos mais fatores que caracterizam o Colonialismo, como a constituição de monopólios, escoamento de produtos excedentes e de má qualidade, moeda desvalorizada em relação à metrópole, aquisição dos produtos coloniais a preços mais baixos que as cotações internacionais (café, milho, algodão, açúcar, etc.), enfim, um mercado seguro e sem concorrentes. Só que no debate televisivo perderam-se quase duas horas a citarem factos pontuais que não caracterizam o sistema de exploração colonial, esquecendo-se de que os mesmos atos de violência e crueldade desumana eram perpetrados no campo de concentração do Tarrafal e nas prisões da PIDE e da LEGIÃO, e mais recentemente, depois da libertação em 25 de Abril pelo COPCON que “democraticamente” praticou os mesmos atos de perseguição e tortura, chegando ao ponto de emitir mandatos de captura em branco.

Os portugueses deviam ser elucidados sobre o fenómeno colonial e deixar de ligar intimamente a escravatura ao fascismo, como se todos os males fossem consequência da ditadura fascista. O Colonialismo vem de muito atrás na História, passou pelas monarquias, pelas repúblicas, pelas ditaduras fascistas e comunistas, pela democracia e continuará por outras formas políticas de governação. Só lhe dão nomes diferentes.

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