AS DOENÇAS AUMENTAM
Desafiamos os rumos da industrialização e mostramos que as mudanças
necessárias para proteger a saúde individual são mais profundas do que uma
modificação no estilo de vida.
É
comum pensar que o meio mais certo para melhorar a saúde do pobre é um aumento
da sua riqueza individual. Mas a busca cega de crescimento económico pode levar
a caminhos estranhos e doentios. Acidentes de trânsito, por exemplo, aumentam o
Produto Interno Bruto, pois gastam dinheiro tentando recompor carros e pessoas.
Poluir e despoluir também contribuem para a nossa economia, mas nem tanto para
nosso bem-estar físico.
Actualmente, os gastos crescentes com tecnologia sofisticada, para atender a doença, não representam
uma melhoria de saúde. Os métodos fascinantes de cura e "salvamento" (característicos da medicina moderna)
estão finalmente a ser vistos de forma mais realista. Começamos a perceber que
a melhor maneira de controlar a maioria dos nossos problemas de saúde consiste
em modificar a situação presente.
Está muito claro que o nosso principal problema de saúde é consequência da busca indiscriminada do crescimento económico. Existe um conflito fundamental entre a produção de "riquezas", como é normalmente definida, e a promoção da saúde. Não tem sentido seguir directrizes sociais e económicas que ignoram, ou até mesmo aumentam, os riscos da saúde. No entanto, na maioria das sociedades industriais, é exactamente isto que se faz. A nossa ideia de progresso social, e as muitas directrizes que adoptamos para atingir este progresso, são, na verdade, tentativas de conseguir um aumento indiscriminado da produção e do consumo de bens materiais.
As directrizes industriais, agrícolas e comerciais, geralmente não fazem distinção entre produtos socialmente úteis e "saudáveis" (como os alimentos integrais) e produtos prejudiciais (como o cigarro e alimentos super refinados, como a farinha branca). A Noruega é um dos poucos países que tem uma política mais séria, uma política que leva em consideração o que é produzido e quanto é produzido.
Mortes e traumatismos por acidente de trânsito, doenças relacionadas ao stress, provocadas pelo cigarro, alcoolismo, obesidade, cáries dentárias, e assim por diante, são cada vez mais reconhecidos como subprodutos indesejáveis, mas inevitáveis na busca frequente do desenvolvimento económico. Em lugar de produzirmos os bens de que realmente necessitamos e bens duráveis, produzimos cada vez mais mercadorias desnecessárias — e até planeamos a sua rápida deterioração. Produzindo e transportando mercadorias desnecessárias, contribuímos ainda para os acidentes e, cada vez mais, aumentamos os riscos de saúde devidos a poluentes industriais.
https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/geografia/o-que-e-impacto-ambiental.htm
Mais à frente agrupamos as doenças e os acidentes da era moderna por categoria
económica, numa tentativa de chamar a atenção sobre o conflito entre a saúde e
a busca indiscriminada do crescimento económico. Esse tipo de classificação
deixa claro quais as pesquisas e medidas de prevenção necessárias. Porém, a
prevenção tem que ser direccionada para as causas
básicas. Campanhas e actividades preventivas, que parecem boas,
podem estar erroneamente dirigidas contra sintomas e conter apenas advertências
inúteis. Por exemplo: advertências moralistas e puritanas que incentivam as
pessoas a "apertarem o cinto", a modificar o seu estilo de vida, a
parar de fumar, a comer menos, a fazer exercícios, a dirigir com cuidado etc.,
têm pouco resultado. Apenas desviam a atenção das directrizes e práticas que
realmente produzem
o stress e os riscos. Devemos saber dirigir a nossa atenção para os factos
prejudiciais a fim de eliminar ou reduzir as condições que levam as pessoas a
viver mal.
Depois de reconhecer o conflito entre saúde pública e a busca indiscriminada de
crescimento económico, precisamos de mudar as nossas metas sociais e económicas.
Precisamos de integrar a política económica, a política social e a política de
saúde, em vez de colocar as considerações económicas em primeiro lugar e criar, desta forma,
problemas de saúde e problemas sociais. Por exemplo, as directrizes para a
indústria e para o transporte são, em parte, directrizes para a saúde (ou
antes contra a saúde). Precisamos de mudar a nossa maneira de pensar, de
que as directrizes para os serviços
de saúde são as adequadas para a saúde
da população.
A solução para esse problema está na criação de tecnologia alternativa, ao invés de
tecnologia avançada e cara que, frequentemente, desperdiça energia, gera
desemprego e poluição. A solução está também numa abordagem biológica e
ecológica para a agricultura, nutrição e medicina, ao invés da simples
abordagem química e de engenharia. O mais importante é reconhecer que o
comportamento da economia actual, tanto nos países industrializados, como nos
países subdesenvolvidos, causa acidentes, doenças e mortes em escala crescente,
bem como problemas com a poluição e recursos não-renováveis.
Existe nítida relação entre directrizes económicas que trazem benefícios
ecológicos e directrizes económicas que favorecem a saúde pública. Por esse
motivo, estão a formar-se novas associações e grupos de pressão. Estes grupos
são indispensáveis. As perguntas certas, a respeito da sociedade que estamos a
criar, precisam de ser divulgadas. Poucas pessoas beneficiam dessa espécie de
desenvolvimento que fomenta acidentes e doenças.
COMO
PRODUZIMOS
- O
uso de várias substâncias químicas e tóxicas em mineração, indústria e agricultura
provocam doenças e lesões ocupacionais como: doenças causadas pelo amianto e
pela irradiação, cancro de pele, pulmão, bexiga e outros.
-
Descuido no emprego de métodos de produção com pouca mão-de-obra acabam
por provocar lesões e mortes em
acidentes de trabalho, substituição da mão-de-obra por máquinas, levando ao
desemprego e, consequentemente, à ansiedade, depressão, alcoolismo e tabagismo
(com bronquite e cancro do pulmão).
- A
utilização crescente de seres humanos em funções repetitivas, provocam
obesidade, acidentes de trabalho, alcoolismo, doenças relacionadas com tédio ou
stress.
- A
poluição industrial afecta não somente os trabalhadores, mas toda a população e
até outros povos (por exemplo: poluição
local pelo chumbo, poluição por dióxido de enxofre na Noruega, criada na
Inglaterra, poluição por radiação atómica na Europa, criada na Rússia).
QUANTO
PRODUZIMOS
-
Pressões causando rapidez prejudicial no processo de produção provocam maior
risco de acidentes. Por exemplo: acidentes de mergulho; "stress do
executivo", provocando tabagismo, acidentes de trânsito, alcoolismo e
obesidade.
-
Pressões relacionadas com o marketing
agitado e prejudicial causam as doenças relacionadas com "stress do executivo" e — onde a
vida doméstica é abalada — aumentam o risco de doenças mentais
-
Pressões para utilizar formas de energia que ameaçam a saúde provocam lesões e
mortes por radiação atómica.
-
Pressões para adoptar níveis excessivos nos stoques, nos transportes e na
rotação de mão-de-obra provocam acidentes de trânsito afectando camiões,
carros, autocarros e comboios. Vida doméstica abalada com os riscos mencionados
O
QUE CONSUMIMOS
-
Consumo de produtos que causam doenças e acidentes: Doenças provocadas pelo
cigarro, cáries dentárias e outras doenças ligadas ao consumo de doces,
chocolates, etc., inclusive obesidade e alguns casos de diabetes, acidentes de
trânsito provocados pela bebida ou por uso de tranquilizantes ou drogas,
envenenamento por pesticidas, agrotóxicos e aerossóis.
-
Consumo de alimentos desvitalizados: Doenças degenerativas provocadas pelos
alimentos industrializados, que não contêm elementos vitais nem fibras (por exemplo, derrame, enfarte, artritismo,
etc.).
-
Riscos relacionados ao lixo: Envenenamento pelo lixo químico e radioactivo, por
exemplo, dos operários, da população através da contaminação de água; etc.
QUANTO
CONSUMIMOS
-
Pressões para consumir, isto é, propaganda do tipo "coma" e
"beba": Problemas relacionados com a alimentação, como
obesidade e outros problemas metabólicos, doenças reumáticas, doenças do
aparelho digestivo, doenças cardiovasculares, etc.
-
Pressões para repor/actualizar produtos duráveis num ritmo crescente (obsolescência planeada): Estados de
ansiedade e depressão causados pela pressão financeira e pressão do tipo "não
ficar para trás.
COMO
COMPARTILHAMOS
-
Falta crónica e deterioração de moradias e serviços (água, luz, esgotos, telefone) apesar do aumento constante dos
níveis de produção e do consumo de energia, têm como resultado infecções
respiratórias e gastrointestinais devidas à falta de saneamento, moradias
inadequadas, super lotação e falta de abrigo. Acidentes com crianças que não
têm áreas de lazer seguras e atraentes.
-
Problemas crónicos de desemprego e pobreza entre subgrupos específicos da
população: Os efeitos da pobreza e do desemprego (como a desnutrição, ansiedade, depressão e as doenças relacionadas ao
tabaco e às bebidas alcoólicas) ocorrem principalmente em famílias de um só
cônjuge, entre migrantes que vivem nas áreas urbanas superpovoadas e
decadentes, com alto nível de desemprego, em pessoas de meia-idade e velhos sem
qualificação, cujo estado físico deteriorou, entre lavradores que possuem pouca
ou nenhuma terra para plantar, criar galinhas, etc.
Fonte:
New Internationalist,
nº 50
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