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quarta-feira, 7 de julho de 2021

 

AS DOENÇAS AUMENTAM

Desafiamos os rumos da industrialização e mostramos que as mudanças necessárias para proteger a saúde individual são mais profundas do que uma modificação no estilo de vida.

É comum pensar que o meio mais certo para melhorar a saúde do pobre é um aumento da sua riqueza individual. Mas a busca cega de crescimento económico pode levar a caminhos estranhos e doentios. Acidentes de trânsito, por exemplo, aumentam o Produto Interno Bruto, pois gastam dinheiro tentando recompor carros e pessoas. Poluir e despoluir também contribuem para a nossa economia, mas nem tanto para nosso bem-estar físico.

Actualmente, os gastos crescentes com tecnologia sofisticada, para atender a doença, não representam uma melhoria de saúde. Os métodos fascinantes de cura e "salvamento" (característicos da medicina moderna) estão finalmente a ser vistos de forma mais realista. Começamos a perceber que a melhor maneira de controlar a maioria dos nossos problemas de saúde consiste em modificar a situação presente.





Está muito claro que o nosso principal problema de saúde é consequência da busca indiscriminada do crescimento económico. Existe um conflito fundamental entre a produção de "riquezas", como é normalmente definida, e a promoção da saúde. Não tem sentido seguir directrizes sociais e económicas que ignoram, ou até mesmo aumentam, os riscos da saúde. No entanto, na maioria das sociedades industriais, é exactamente isto que se faz. A nossa ideia de progresso social, e as muitas directrizes que adoptamos para atingir este progresso, são, na verdade, tentativas de conseguir um aumento indiscriminado da produção e do consumo de bens materiais.

As directrizes industriais, agrícolas e comerciais, geralmente não fazem distinção entre produtos socialmente úteis e "saudáveis" (como os alimentos integrais) e produtos prejudiciais (como o cigarro e alimentos super refinados, como a farinha branca). A Noruega é um dos poucos países que tem uma política mais séria, uma política que leva em consideração o que é produzido e quanto é produzido.

Mortes e traumatismos por acidente de trânsito, doenças relacionadas ao stress, provocadas pelo cigarro, alcoolismo, obesidade, cáries dentárias, e assim por diante, são cada vez mais reconhecidos como subprodutos indesejáveis, mas inevitáveis na busca frequente do desenvolvimento económico. Em lugar de produzirmos os bens de que realmente necessitamos e bens duráveis, produzimos cada vez mais mercadorias desnecessárias — e até planeamos a sua rápida deterioração. Produzindo e transportando mercadorias desnecessárias, contribuímos ainda para os acidentes e, cada vez mais, aumentamos os riscos de saúde devidos a poluentes industriais.

https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/geografia/o-que-e-impacto-ambiental.htm

 


As actividades humanas têm causado muitos impactos ambientais negativos no planeta Terra


Mais à frente agrupamos as doenças e os acidentes da era moderna por categoria económica, numa tentativa de chamar a atenção sobre o conflito entre a saúde e a busca indiscriminada do crescimento económico. Esse tipo de classificação deixa claro quais as pesquisas e medidas de prevenção necessárias. Porém, a prevenção tem que ser direccionada para as causas básicas. Campanhas e actividades preventivas, que parecem boas, podem estar erroneamente dirigidas contra sintomas e conter apenas advertências inúteis. Por exemplo: advertências moralistas e puritanas que incentivam as pessoas a "apertarem o cinto", a modificar o seu estilo de vida, a parar de fumar, a comer menos, a fazer exercícios, a dirigir com cuidado etc., têm pouco resultado. Apenas desviam a atenção das directrizes e práticas que realmente produzem o stress e os riscos. Devemos saber dirigir a nossa atenção para os factos prejudiciais a fim de eliminar ou reduzir as condições que levam as pessoas a viver mal.

Depois de reconhecer o conflito entre saúde pública e a busca indiscriminada de crescimento económico, precisamos de mudar as nossas metas sociais e económicas. Precisamos de integrar a política económica, a política social e a política de saúde, em vez de colocar as considerações económicas em primeiro lugar e criar, desta forma, problemas de saúde e problemas sociais. Por exemplo, as directrizes para a indústria e para o transporte são, em parte, directrizes para a saúde (ou antes contra a saúde). Precisamos de mudar a nossa maneira de pensar, de que as directrizes para os serviços de saúde são as adequadas para a saúde da população.

A solução para esse problema está na criação de tecnologia alternativa, ao invés de tecnologia avançada e cara que, frequentemente, desperdiça energia, gera desemprego e poluição. A solução está também numa abordagem biológica e ecológica para a agricultura, nutrição e medicina, ao invés da simples abordagem química e de engenharia. O mais importante é reconhecer que o comportamento da economia actual, tanto nos países industrializados, como nos países subdesenvolvidos, causa acidentes, doenças e mortes em escala crescente, bem como problemas com a poluição e recursos não-renováveis.

Existe nítida relação entre directrizes económicas que trazem benefícios ecológicos e directrizes económicas que favorecem a saúde pública. Por esse motivo, estão a formar-se novas associações e grupos de pressão. Estes grupos são indispensáveis. As perguntas certas, a respeito da sociedade que estamos a criar, precisam de ser divulgadas. Poucas pessoas beneficiam dessa espécie de desenvolvimento que fomenta acidentes e doenças.

COMO PRODUZIMOS

- O uso de várias substâncias químicas e tóxicas em mineração, indústria e agricultura provocam doenças e lesões ocupacionais como: doenças causadas pelo amianto e pela irradiação, cancro de pele, pulmão, bexiga e outros.

- Descuido no emprego de métodos de produção com pouca mão-de-obra acabam por  provocar lesões e mortes em acidentes de trabalho, substituição da mão-de-obra por máquinas, levando ao desemprego e, consequentemente, à ansiedade, depressão, alcoolismo e tabagismo (com bronquite e cancro do pulmão).

- A utilização crescente de seres humanos em funções repetitivas, provocam obesidade, acidentes de trabalho, alcoolismo, doenças relacionadas com tédio ou stress.

- A poluição industrial afecta não somente os trabalhadores, mas toda a população e até outros povos (por exemplo: poluição local pelo chumbo, poluição por dióxido de enxofre na Noruega, criada na Inglaterra, poluição por radiação atómica na Europa, criada na Rússia).

QUANTO PRODUZIMOS

- Pressões causando rapidez prejudicial no processo de produção provocam maior risco de acidentes. Por exemplo: acidentes de mergulho; "stress do executivo", provocando tabagismo, acidentes de trânsito, alcoolismo e obesidade.

- Pressões relacionadas com o marketing agitado e prejudicial causam as doenças relacionadas com "stress do executivo" e — onde a vida doméstica é abalada — aumentam o risco de doenças mentais

- Pressões para utilizar formas de energia que ameaçam a saúde provocam lesões e mortes por radiação atómica.

- Pressões para adoptar níveis excessivos nos stoques, nos transportes e na rotação de mão-de-obra provocam acidentes de trânsito afectando camiões, carros, autocarros e comboios. Vida doméstica abalada com os riscos mencionados

O QUE CONSUMIMOS

- Consumo de produtos que causam doenças e acidentes: Doenças provocadas pelo cigarro, cáries dentárias e outras doenças ligadas ao consumo de doces, chocolates, etc., inclusive obesidade e alguns casos de diabetes, acidentes de trânsito provocados pela bebida ou por uso de tranquilizantes ou drogas, envenenamento por pesticidas, agrotóxicos e aerossóis.

- Consumo de alimentos desvitalizados: Doenças degenerativas provocadas pelos alimentos industrializados, que não contêm elementos vitais nem fibras (por exemplo, derrame, enfarte, artritismo, etc.).

- Riscos relacionados ao lixo: Envenenamento pelo lixo químico e radioactivo, por exemplo, dos operários, da população através da contaminação de água; etc.

QUANTO CONSUMIMOS

- Pressões para consumir, isto é, propaganda do tipo "coma" e "beba": Problemas relacionados com a alimentação, como obesidade e outros problemas metabólicos, doenças reumáticas, doenças do aparelho digestivo, doenças cardiovasculares, etc.

- Pressões para repor/actualizar produtos duráveis num ritmo crescente (obsolescência planeada): Estados de ansiedade e depressão causados pela pressão financeira e pressão do tipo "não ficar para trás.

COMO COMPARTILHAMOS

- Falta crónica e deterioração de moradias e serviços (água, luz, esgotos, telefone) apesar do aumento constante dos níveis de produção e do consumo de energia, têm como resultado infecções respiratórias e gastrointestinais devidas à falta de saneamento, moradias inadequadas, super lotação e falta de abrigo. Acidentes com crianças que não têm áreas de lazer seguras e atraentes.

- Problemas crónicos de desemprego e pobreza entre subgrupos específicos da população:  Os efeitos da pobreza e do desemprego (como a desnutrição, ansiedade, depressão e as doenças relacionadas ao tabaco e às bebidas alcoólicas) ocorrem principalmente em famílias de um só cônjuge, entre migrantes que vivem nas áreas urbanas superpovoadas e decadentes, com alto nível de desemprego, em pessoas de meia-idade e velhos sem qualificação, cujo estado físico deteriorou, entre lavradores que possuem  pouca ou nenhuma terra para plantar, criar galinhas, etc.

 

Fonte: New Internationalist, nº 50

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