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sexta-feira, 20 de abril de 2018


O QUE SE PASSOU NA UCRÂNIA

A guerra de bastidores continua e o "aliado" (EUA) não é aliado de ninguém. Como uma vez afirmei, os americanos não têm aliados. Eles têm "negócios" e como, ultimamente, já verificaram que a sua hegemonia está em forte queda, ainda estrebucham e procuram dividir para reinar. O caso da Síria é sintomático.

Este artigo, sobre a acção do FMI (braço financeiro dos americanos para se imporem sobre as outras nações) é elucidativo e muito esclarecedor sobre o que realmente se passou e continua a passar na Ucrânia. Os americanos passaram a “batata quente” para a União Europeia e as consequências estão à vista - embargos, guerra fria novamente, ameaças e desconfiança na fronteira com a Rússia.

Vejamos:

FMI vai à Guerra na Ucrânia

Sexta-feira, 9 de Maio de 2014

(Com tradução minha para português de Portugal, sem adopção às regras do acordo ortográfico de 1990 sem alterar o sentido do texto. R)

Continua a tomada da Ucrânia pelo ocidente. O Fundo Monetário Internacional, FMI, aprovou um “empréstimo” de 17 mil milhões de dólares à Ucrânia. Os primeiros $3,2 mil milhões chegaram na 4ª-feira.

É essencial identificar as condições associadas a esse “empréstimo” estilo Máfia. Nada que sugira, nem de longe, que haja à vista algum renascimento de alguma economia ucraniana. O esquema é inextricavelmente associado às notórias políticas de “ajuste estrutural” tamanho único do FMI, que centenas de milhões de pessoas conhecem bem, da América Latina e
Sudeste da Ásia ao Sul da Europa.

Os mudadores de regime em Kiev fizeram o dever de casa, lançando o inevitável pacote de austeridade – de aumento de impostos e congelamento de reformas, a aumento seco de mais de 50% no preço do gás natural para calefacção dos lares ucranianos. O “povo ucraniano” não conseguirá pagar as próprias contas, no próximo inverno.

Como bem se pode prever, o empréstimo gigante nada tem a ver com beneficiar “o povo ucraniano”. Kiev está em bancarrota. Há credores de todos os tipos, de bancos ocidentais à

Gazprom – que tem a receber nada menos do que $2,7 mil milhões. O “empréstimo” pagará o que é devido a esses credores; para nem falar que $5 mil milhões do total que o FMI empresta hoje é emprestado para pagar – claro! – Empréstimos anteriores do próprio FMI. Nem é preciso dizer que grande parte dos fundos serão devidamente rapinados – à moda afegã – pela matilha de oligarcas hoje alinhados com o governo de “Yats”, em Kiev.

O FMI já alertou que a Ucrânia está em recessão e pode vir a carecer de uma extensão do empréstimo já concedido. No idioma de duplifalar do FMI, tratar-se-á de “recalibração significativa do programa”. É o que acontecerá, segundo o FMI, se Kiev perder o controlo do
Leste e do Sul da Ucrânia – o que já parece ser operação em progresso.

O Leste da Ucrânia é o coração industrial do país – com o PIB per capita mais alto e onde estão indústrias e minas chaves, principalmente na região de Donetsk, precisamente a mais fortemente mobilizada contra os mudadores-de-regime em Kiev aliados dos neofascistas/neonazistas. Se a conflagração actual persistir, implicará que também as
exportações e a arrecadação desabarão.

Eis, pois, o que o FMI prescreve para o bando de oligarcas – alguns dos quais financiam muito
activamente e directamente as milícias do Sector da Direita: Enquanto vocês enfrentarem rebelião popular no leste e no sul da Ucrânia, estejam sossegados; vocês, sim, receberão mais dinheiro do FMI, aí adiante, não demora. Podem chamar de rota de colisão, no capitalismo de desastre.

Queremos invasão, invasão, invasão

Entrementes, a escola Obama de diplomacia de delinquentes juvenis nunca melhora: [1] o
“plano” é forçar Moscovo a “invadir”. Os lucros seriam vastíssimos. Washington destruiria de uma vez por todas a emergente parceria estratégica entre a União Europeia (especialmente
Alemanha) e Rússia; parte de uma interacção mais orgânica entre a Europa e Ásia; manteria a
Europa sob o tacão dos EUA perenemente; e daria novo prestígio ao Robocop OTAN, depois da humilhação que padeceu no Afeganistão.

Bem, não são delinquentes juvenis, à toa. Esse plano brilhantíssimo esquece um componente crucial: achar soldados em número suficiente, dispostos a cumprir as ordens de Kiev. Os mudadores-de-regime desmobilizaram a polícia federal anti tumultos da Ucrânia, a unidade
Berkut. Grande erro – porque são profissionais, porque são mal remunerados, e porque agora, tendo-se sentido traídos e abandonados, os ex-Berkut estão ao lado dos ucranianos que querem a federalização.

O que o ‘ministério-da-Verdade’ ordenou que toda a imprensa-empresa ocidental chame de
“Separatistas pró-russos” [2] são, de facto, a favor da federalização da Ucrânia: são ucranianos federalistas. Não querem separar nada de lugar algum. Não querem unir-se à Federação
Russa. O que querem é uma Ucrânia federalizada, com províncias fortes e autónomas.

Enquanto isso, no Oleogasodutostão...

Washington quer activamente que a confrontação entre a Rússia e União Europeia escape completamente a qualquer controle, no front do gás. Até 2050, o gás natural responderá por
25% das carências da União Europeia. Desde 2011 a Rússia é a principal fornecedora, à frente da Noruega e Argélia.

A Comissão Europeia (CE), antro de burocratas, concentra-se agora em ataques contra o gasoduto Ramo Sul da Gazprom – cuja construção começa em Junho. A Comissão Europeia insiste que os acordos já assinados entre a Rússia e sete países da União Europeia infringiriam as leis da União Europeia (éé?! E como não perceberam antes?!). A Comissão Europeia quer que o Ramo Sul seja projecto “Europeu”, não projecto da Gazprom.

Ora, ora, depende de muita diplomacia a sério e de políticas internas de vários países europeus membros da União Europeia. Por exemplo, Estónia e Lituânia dependem 100% da
Gazprom. Alguns países, como a Itália, importam mais de 80% da energia que consomem; outros, como o Reino Unido, só 40%.

É como se a Comissão Europeia acordasse repentinamente do torpor habitual, e decidisse que o Ramo Sul é futebolzinho político. Günther Oettinger, Comissário da União Europeia para
a energia, tocando a corneta das leis de protecção à concorrência na UE chamadas “terceiro pacote de energia” – o qual, na essência, só visa a forçar a Gazprom a abrir o Ramo Sul a outros fornecedores. Moscovo já apresentou queixa-crime à Organização Mundial do Comércio
[orig. World Trade Organization (WTO)].

Aplicação rigorosa de lei da União Europeia da qual ninguém jamais ouvira falar é uma coisa; factos em campo são outra. O Ramo Sul pode custar mais de 16 mil milhões de euros – mas será construído, mesmo se tiver de ser sob financiamento previsto no orçamento da Rússia.

Além do mais, a Gazprom, só em 2014, já assinou vários novos negócios com parceiros na
Alemanha, Itália, Áustria e Suíça. A italiana ENI e a francesa EDF já eram parceiras desde o início. A Alemanha, Itália, Bulgária, Hungria e Áustria estão profundamente envolvidas no
Ramo Sul. Não surpreende que nenhum desses países favoreça novas sanções contra a
Rússia.

Quanto a algum movimento substancial pela União Europeia para encontrar novas fontes de oferta, é processo que demorará anos – e que deve envolver a melhor fonte alternativa existente, o Irão, assumindo-se que, ainda este ano, se alcance algum tipo de acordo nuclear com o P5+1. Outra fonte possível, o Cazaquistão, exporta menos do que poderia (porque o país enfrenta problemas de infra-estrutura).

Assim sendo, voltemos então à tragédia ucraniana. Moscovo não “invadirá”. E por que invadiria? O ajuste estrutural do FMI será ainda mais devastador para a Ucrânia, que uma guerra; pode acontecer até que a maioria dos ucranianos acabem forçados a suplicar ajuda da
Rússia. Berlim não se porá em posição antagonista contra Moscovo. E assim então, se vê que a retórica de Washington, de “isolar” a Rússia, aí está, à vista de todos, como o que realmente
é: delinquência juvenil.

O que resta ao Império do Caos é rezar para que o caos se alastre por toda a Ucrânia, consumindo a energia de Moscovo. E tudo isso, só porque o establishment de Washington borra as calças, de medo de uma potência emergente na Eurásia. Aliás: de duas, não de uma: Rússia e China. Pior: duas, e estrategicamente alinhadas. Muito pior: tendendo a integrar
A Ásia e Europa.

Assim se entende o quadro: um gangue de velhotes norte-americanos assustados, fazendo caretas de delinquentes juvenis: “Não gosto de você. Estou de mal de você. Vou linchar você.
Quero que você morra.” ******

Referências:

[1] 29/4/2014, Rede Castor Photo: Pepe Escobar: ‘Estratégia’ de Obama contra Rússia ‘pária’, Asia Times
Online

[2] A imbecilização activa da opinião pública no Brasil-2014, promovida por jornais, jornalismos e jornalistas, prossegue em todos os veículos do GRUPO GAFE. Por exemplo-amostra: (1) em O Globo (G1: Separatistas pró-Rússia rejeitam adiar referendo em Donetsk); (2a) na Folha de S.Paulo: Separatistas ucranianos decidem realizar referendo no domingo; e (2b) também na Folha de S.Paulo, mais noticiário FALSO, distribuído por Agências internacionais, que os sub-do-sub do subjornalismo brasileiro COMPRAM, para re-impingir aos próprios consumidores, quer dizer, vocês-aí! Tenham a santa paciência! 8-))))))))))))))))) [NTs].

Traduzido por Vila Vudu


 

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