O QUE SE
PASSOU NA UCRÂNIA
A guerra de bastidores continua e
o "aliado" (EUA) não é aliado de ninguém. Como uma vez afirmei, os
americanos não têm aliados. Eles têm "negócios" e como, ultimamente,
já verificaram que a sua hegemonia está em forte queda, ainda estrebucham e
procuram dividir para reinar. O caso da Síria é sintomático.
Este artigo, sobre a acção do FMI
(braço financeiro dos americanos para se
imporem sobre as outras nações) é elucidativo e muito esclarecedor sobre o
que realmente se passou e continua a passar na Ucrânia. Os americanos passaram
a “batata quente” para a União Europeia e as consequências estão à vista -
embargos, guerra fria novamente, ameaças e desconfiança na fronteira com a
Rússia.
Vejamos:
FMI vai à Guerra na Ucrânia
Sexta-feira, 9 de Maio de 2014
(Com
tradução minha para português de Portugal, sem adopção às
regras do acordo ortográfico de 1990 sem alterar o sentido do texto. R)
Continua
a tomada da Ucrânia pelo ocidente. O Fundo Monetário Internacional, FMI,
aprovou um “empréstimo” de 17 mil milhões de dólares à Ucrânia. Os primeiros $3,2 mil milhões
chegaram na 4ª-feira.
É essencial identificar as condições associadas a esse
“empréstimo” estilo Máfia. Nada que sugira, nem de longe, que haja à vista
algum renascimento de alguma economia ucraniana. O esquema é inextricavelmente
associado às notórias políticas de “ajuste estrutural” tamanho único do FMI, que
centenas de milhões de pessoas conhecem bem, da América Latina e
Sudeste da Ásia ao Sul da Europa.
Os mudadores de regime em Kiev fizeram o
dever de casa, lançando o inevitável pacote de austeridade – de aumento de
impostos e congelamento de reformas, a aumento seco de mais de 50% no preço do
gás natural para calefacção dos lares ucranianos. O “povo ucraniano” não conseguirá
pagar as próprias contas, no próximo inverno.
Como bem se pode prever, o empréstimo gigante nada tem a ver com
beneficiar “o povo ucraniano”. Kiev está em bancarrota. Há credores de todos os
tipos, de bancos ocidentais à
Gazprom – que tem a receber nada menos do que $2,7 mil milhões. O
“empréstimo” pagará o que é devido a esses credores; para nem falar que $5 mil
milhões do total que o FMI empresta hoje é emprestado para pagar – claro!
– Empréstimos anteriores do próprio FMI. Nem é preciso dizer que grande parte
dos fundos serão devidamente rapinados – à moda afegã – pela matilha de
oligarcas hoje alinhados com o governo de “Yats”, em Kiev.
O FMI já alertou que a Ucrânia está em recessão e pode vir a
carecer de uma extensão do empréstimo já concedido. No idioma de duplifalar do
FMI, tratar-se-á de “recalibração significativa do programa”. É o que
acontecerá, segundo o FMI, se Kiev perder o controlo do
Leste e do Sul da Ucrânia – o que já parece ser operação em
progresso.
O Leste da Ucrânia é o coração industrial do país – com o PIB per
capita mais alto e onde estão indústrias e minas chaves, principalmente na
região de Donetsk, precisamente a mais fortemente mobilizada contra os mudadores-de-regime
em Kiev aliados dos neofascistas/neonazistas. Se a conflagração actual
persistir, implicará que também as
exportações e a arrecadação desabarão.
Eis, pois, o que o FMI prescreve para o bando de oligarcas –
alguns dos quais financiam muito
activamente e directamente as milícias do Sector da Direita: Enquanto
vocês enfrentarem rebelião popular no leste e no sul da Ucrânia, estejam
sossegados; vocês, sim, receberão mais dinheiro do FMI, aí adiante, não demora.
Podem chamar de rota de colisão, no capitalismo de desastre.
Queremos invasão, invasão, invasão
Entrementes, a escola Obama de
diplomacia de delinquentes juvenis nunca melhora: [1] o
“plano” é forçar Moscovo a “invadir”. Os lucros seriam
vastíssimos. Washington destruiria de uma vez por todas a emergente
parceria estratégica entre a União Europeia (especialmente
Alemanha) e Rússia; parte de uma interacção mais orgânica entre a Europa
e Ásia; manteria a
Europa sob o tacão dos EUA perenemente; e daria novo prestígio ao
Robocop OTAN, depois da humilhação que padeceu no Afeganistão.
Bem, não são delinquentes juvenis, à toa. Esse plano brilhantíssimo
esquece um componente crucial: achar soldados em número suficiente, dispostos a
cumprir as ordens de Kiev. Os mudadores-de-regime desmobilizaram a polícia
federal anti tumultos da Ucrânia, a unidade
Berkut. Grande erro – porque são profissionais, porque são mal
remunerados, e porque agora, tendo-se sentido traídos e abandonados, os
ex-Berkut estão ao lado dos ucranianos que querem a federalização.
O que o ‘ministério-da-Verdade’ ordenou que toda a
imprensa-empresa ocidental chame de
“Separatistas pró-russos” [2] são, de facto, a favor da
federalização da Ucrânia: são ucranianos federalistas. Não querem separar nada
de lugar algum. Não querem unir-se à Federação
Russa. O que querem é uma Ucrânia federalizada, com províncias
fortes e autónomas.
Enquanto isso, no Oleogasodutostão...
Washington quer activamente que a confrontação entre a Rússia e
União Europeia escape completamente a qualquer controle, no front do
gás. Até 2050, o gás natural responderá por
25% das carências da União Europeia. Desde 2011 a Rússia é a principal
fornecedora, à frente da Noruega e Argélia.
A Comissão Europeia (CE), antro de burocratas, concentra-se agora
em ataques contra o gasoduto Ramo Sul da Gazprom – cuja
construção começa em Junho. A Comissão Europeia insiste que os acordos já
assinados entre a Rússia e sete países da União Europeia infringiriam as leis
da União Europeia (éé?! E como não perceberam antes?!). A Comissão Europeia quer que o Ramo Sul seja projecto “Europeu”, não projecto
da Gazprom.
Ora, ora, depende de muita diplomacia a sério e de políticas
internas de vários países europeus membros da União Europeia. Por exemplo, Estónia
e Lituânia dependem 100% da
Gazprom. Alguns países, como a Itália, importam mais de 80% da
energia que consomem; outros, como o Reino Unido, só 40%.
É como se a Comissão Europeia acordasse repentinamente do torpor
habitual, e decidisse que o Ramo Sul é futebolzinho político. Günther
Oettinger, Comissário da União Europeia para
a energia, tocando a corneta das leis de protecção à concorrência
na UE chamadas “terceiro pacote de energia” – o qual, na essência, só visa a
forçar a Gazprom a abrir o Ramo Sul a outros fornecedores. Moscovo já
apresentou queixa-crime à Organização Mundial do Comércio
[orig. World Trade Organization (WTO)].
Aplicação rigorosa de lei da União Europeia da qual
ninguém jamais ouvira falar é uma coisa; factos em campo são outra. O Ramo Sul
pode custar mais de 16 mil milhões de euros – mas será construído, mesmo se
tiver de ser sob financiamento previsto no orçamento da Rússia.
Além do mais, a Gazprom, só em 2014, já assinou vários novos negócios
com parceiros na
Alemanha, Itália, Áustria e Suíça. A italiana ENI e a
francesa EDF já eram parceiras desde o início. A Alemanha, Itália, Bulgária,
Hungria e Áustria estão profundamente envolvidas no
Ramo Sul. Não surpreende que nenhum desses países favoreça novas
sanções contra a
Rússia.
Quanto a algum movimento substancial pela União Europeia para
encontrar novas fontes de oferta, é processo que demorará anos – e que deve
envolver a melhor fonte alternativa existente, o Irão, assumindo-se que, ainda
este ano, se alcance algum tipo de acordo nuclear com o P5+1. Outra fonte
possível, o Cazaquistão, exporta menos do que poderia (porque o país enfrenta
problemas de infra-estrutura).
Assim sendo, voltemos então à tragédia ucraniana. Moscovo não
“invadirá”. E por que invadiria? O ajuste estrutural do FMI será ainda mais
devastador para a Ucrânia, que uma guerra; pode acontecer até que a maioria dos
ucranianos acabem forçados a suplicar ajuda da
Rússia. Berlim não se porá em posição antagonista contra Moscovo.
E assim então, se vê que a retórica de Washington, de “isolar” a Rússia, aí
está, à vista de todos, como o que realmente
é: delinquência juvenil.
O que resta ao Império do Caos é rezar para que o caos se alastre
por toda a Ucrânia, consumindo a energia de Moscovo. E tudo isso, só porque o establishment
de Washington borra as calças, de medo de uma potência emergente na Eurásia.
Aliás: de duas, não de uma: Rússia e China. Pior: duas, e estrategicamente
alinhadas. Muito pior: tendendo a integrar
A Ásia e Europa.
Assim se entende o quadro: um gangue de velhotes norte-americanos
assustados, fazendo caretas de delinquentes juvenis: “Não gosto de você. Estou
de mal de você. Vou linchar você.
Quero que você morra.” ******
Referências:
[1] 29/4/2014, Rede Castor Photo: Pepe Escobar:
‘Estratégia’ de Obama contra Rússia ‘pária’, Asia Times
Online
[2] A imbecilização activa da opinião pública no Brasil-2014,
promovida por jornais, jornalismos e jornalistas, prossegue em todos os
veículos do GRUPO GAFE. Por exemplo-amostra: (1) em O Globo (G1:
Separatistas pró-Rússia rejeitam adiar referendo em Donetsk); (2a)
na Folha de S.Paulo: Separatistas ucranianos decidem realizar
referendo no domingo; e (2b) também na Folha de S.Paulo, mais noticiário FALSO,
distribuído por Agências internacionais, que os sub-do-sub do subjornalismo brasileiro
COMPRAM, para re-impingir aos próprios consumidores, quer dizer, vocês-aí!
Tenham a santa paciência! 8-))))))))))))))))) [NTs].
Traduzido por Vila Vudu
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