MORADA DE DEMÓNIOS
Texto de Caio http://bibliasemmitos-wagner.blogspot.pt/2010/05/morada-de-demonios.html
Jesus falou pouco a respeito da possessão demoníaca explícita. Sim! Ele falou pouco sobre o assunto. Todavia, expulsou todos os demónios que, como tais, se manifestaram diante Dele. Entretanto, Ele tratou bastante do assunto das possessões subtis, que são as piores, pois, em geral, podem ser mais “culturas espirituais” do que demónios que se “manifestem” como tais, muito pelo contrário. Não são, necessariamente o demónio, mas são demoníacos!
Nos textos que seguem, Jesus abordou o tema da possessão demoníaca em dois níveis: um existencial e outro geracional.
Primeiro Leia o texto geracional:
Quando o espírito imundo sai do homem, anda por lugares áridos procurando repouso, porém não encontra. Por isso diz: Voltarei para a minha casa donde saí. E, tendo voltado, a encontra vazia, varrida e ornamentada. Então vai, e leva consigo outros sete espíritos, piores do que ele, e, entrando, habitam ali; e o último estado daquele homem torna-se pior do que o primeiro. Assim também acontecerá a esta geração perversa. Aqui a ênfase recai sobre “esta geração perversa...!”
Agora, Leia o mesmo texto em Lucas e veja a conclusão existencial:
Quando o espírito imundo sai do homem, anda por lugares áridos, procurando repouso; e, não o achando, diz: Voltarei para minha casa donde sai. E, tendo voltado, a encontra varrida e ornamentada. Então vai, e leva consigo outros sete espíritos, piores do que ele, e, entrando, habitam ali; e o último estado daquele homem se torna pior do que o primeiro.
Se você me pergunta se creio que há diferença entre as duas coisas, a minha resposta é sim e não. Sim, apenas porque se um indivíduo está possesso, isto não significa que todos estão possessos de sua possessão. E também porque como veremos mais adiante neste livro, toda a possessão individual é também projeção das possessões coletivas e vice-versa.
Em ambos os textos tudo é igual. O espírito imundo sai de um homem. Procura lugar de pouso e não encontra. Então diz: “Voltarei para a minha casa de onde saí.” E o faz trazendo consigo novos inquilinos e, assim, o segundo estado daquele homem torna-se pior do que o primeiro.
A diferença está apenas no “aplicativo” de Mateus: “Assim também acontecerá a esta geração perversa”.
Desse
modo, a única diferença entre uma possessão individual e uma
coletiva é que no primeiro caso o homem perde o controlo de si e,
por vezes, perde a sua consciência individual. Já no segundo caso,
a consciência dos indivíduos fica suficientemente cônscia de si,
mas não discerne o poder de conexão invisível e que, escondido no
coletivo, age como um sentir unânime e, em geral, mobiliza a
“maioria” com alguma causa de vida ou morte, sendo que o efeito
nunca é vida, é sempre morte!
Jesus não faz muitas alusões
explícitas àquela geração. No entanto, Ele fala em abundância
sobre quem ela era, mas não usa muitas vezes a palavra
geração.
Afinal, não precisa de estar escrito para estar
dito!
Assim é que Jesus compara aquela geração a meninos
que sofrem de um mal humor crónico e contínuo, além de ser
indefinido. Era raiva da vida e da liberdade de ser dos outros. E
tanto fazia qual fosse a “expressão de ser” do outro em
observação. Eles odiavam a quebra dos padrões de “normalidade”
conforme o fizeram tanto Jesus quanto João Batista. Ambas, eram, em
si mesmas, existências antitéticas em relação à sua geração,
embora, os dois, fossem também diametralmente diferentes nos seus
comportamentos em relação um ao outro. (Nota:
Antitético - adjetivo
Contrário; em direção contrária, no sentido oposto. Antagónico;
baseado numa oposição; em que há antítese; oposição, numa mesma
frase, duas palavras ou pensamentos de sentido oposto. Etimologia -
origem da palavra antitético.
Do grego antithetikós. R).
A segunda referência significativa àquela geração
acontece num sanduíche de fariseus e escribas da Lei tentando
provoca-Lo. Ele vinha de expulsar um demónio à vista da mesma
assembleia de religiosos. Foi objeto da mais terrível interpretação
no seu ato: “Este
não expele os demónios senão pelo poder de Belzebu, maioral dos
demónios”.
A
esses, Jesus diz o seguinte:
1. Satanás não cometia burrices
daquele tipo. Portanto, sugere que a presença de Satanás não
estava na divisão causada por Jesus no seu “reino”, mas, ao
contrário, estava estabelecida na monoliticidade do corpo de
pensamento daquela geração, agora, sim, dividido pela presença
antitética de Jesus. Eles eram os demónios atingidos!
2. Se
o argumento deles fosse válido, então, antes de julgarem a
procedência do poder que emanava de Jesus, eles teriam que explicar
a fonte do poder utilizado pelos seus próprios filhos, que também
“expulsavam demónios”. Em não o fazendo, estavam a reconhecer o
poder de Belzebu como a força operativa também entre eles.
3.
Se não podiam “responder” sem se acusar, então, que admitissem
que em Jesus o poder manifesto era o do Reino de Deus que estava, em
Jesus, no meio deles.
4. Nesse caso, diz Jesus, o que
acontecia era um saque divino nos cativeiros de Satanás, pois a sua
“casa” havia sido invadida por Alguém que lhe era superior, com
poder, inclusive, de “amarra-lo e saquear-lhe os bens”.
5.
Desse ponto em diante Ele trás a “espada” e divide a assembleia
dizendo-lhes que qualquer declaração que saísse de suas bocas com
aquele tipo de conteúdo e que não correspondesse a verdade dos seus
corações — sendo, apenas, portanto, uma utilização “política”
do tema espiritual, carregando uma “calúnia” contra Jesus e uma
“blasfémia” contra o Espírito de Deus que Nele agia — seria
considerado um pecado sem perdão! Ou seja: se conscientemente eles
sabiam que Jesus era enviado de Deus, mas, em razão da desconstrução
institucional que Jesus trouxera com a Sua mera presença entre eles,
haviam optado pelo caminho da negação da Graça que em Jesus os
visitava; então, pela fria opção pela manutenção do poder que
julgavam possuir, eles se colocavam cometendo a pior blasfémia:
negar que a mão de Deus seja a mão soberana em ação, preferindo
caluniar o agente da Graça, cometer um blasfémia contra o Espírito,
mas não perderem o seu poder temporal que, em Jesus, eles viam
ameaçado. Essa era a “possessão” que os possuía.
6. Na
sequência Jesus adverte sobre as “palavras” como sendo o
resultado da escolha existencial do homem, do que ele tira ou não
dos seus baús do coração: se busca os seus valores nos cofres da
verdade ou nos sombrios e secretos ambientes da sua perversidade
interior. E conclui de modo a vaticinar um terrível juízo sobre
toda a palavra frívola dita pelos homens em relação a Deus e ao
próximo.
Ora, é neste ponto da “batalha” que os
adversários chegam, cinicamente, com uma “pérola tirada do mau
tesouro” das suas almas:
"Mestre,
queremos ver de tua parte um sinal” — pediram
eles!
Ele, porém, lhes respondeu:
“Uma
geração má e adúltera pede um sinal; mas nenhum sinal lhe será
dado, senão o do profeta Jonas”.
O
que segue é Jesus afirmando que tanto os Ninivitas dos dias de Jonas
quanto os Etíopes dos dias de Salomão e da rainha de Sabá, eram
seres infinitamente mais abertos a Deus do que os arrogantes filhos
da Teologia Moral de Causa e Efeito, os mesmos que agora queriam
“tentá-Lo”, pedindo-lhe uma demonstração visível de um efeito
confirmador da causalidade divina de Jesus. Enfim, outro pedido
semelhante ao feito por Satanás no Pináculo do Templo.
Ora,
é nessa “viagem” que entra o tema da “geração” que se
tornara Casa de Espíritos Maus, conforme o relato de Mateus acerca
da “possessão” geracional.
Se você for verificar a mesma
passagem do Evangelho em Lucas, verá que o contexto antecedente é
exatamente o mesmo. Em Lucas, todavia, a sequência do contexto
imediato — ou seja: o que vem depois —, fala de maneira ainda
mais clara dos “espíritos” que se haviam instalado no
inconsciente coletivo daquela geração, formando uma rede de
pensamentos e sentimentos contrários à Graça de Deus e sua
revelação em Jesus.
As denúncias que Jesus faz àquela
geração são as seguintes:
1. Os pagãos sempre haviam sido
mais abertos à revelação do que eles. E a própria resposta dos
“gentios” que encontraram com Jesus nas narrativas dos evangelhos
demonstram isto.
2. Não adiantava que os seus adversários
dissessem que eles eram o Povo da Luz, pois, esta, quando habita
alguém, aparece sempre. Além disso, a “luz” de um ser não vem
“de fora”, nem dos seus supostos encontros-de-hora-marcada com a
luz. A verdadeira Luz nasce nos ambientes interiores e gera uma nova
maneira de enxergar a vida. Aqui Ele associa a luz do ser ao modo
como a pessoa “interpreta” a vida, a Deus e ao próximo. E mais:
Ele diz que a luz do ser vem também dele não negociar com suas
sombras, escondendo-as, pois, nesse caso, o que deveria ser a fonte
de luz — o interior e seus bons pensamentos e interpretações da
vida—, passa a ser o gerador das trevas no interior humano.
Agora,
no mesmo contexto imediato — ou seja: “Ao falar Jesus estas
palavras” —, um fariseu o convidou para ir comer em sua casa;
então, Jesus, entrando, tomou lugar à mesa. O problema é que Jesus
entrou, sentou-se e comeu! Que problema! Ele não havia lavado as
mãos antes de comer! O fariseu não aguenta a transgressão
cerimonial cometida por Jesus. Afinal, Jesus era o mesmo que eles,
coletivamente, haviam acusado de ser instrumento de Satanás. Agora,
preste atenção como toda a conversa que se segue — que começa
numa casa, à volta da mesa, com serviço de lavagem cerimonial
disponível, com copos, pratos e mobílias –-, se transforma na
analogia perfeita da “casa vazia, varrida e ornamentada”, pois, o
tema volta nos lábios de Jesus. “O
Senhor, porém, lhes disse: Vós, fariseus, limpais o exterior do
copo e do prato; mas o vosso interior está cheio de rapina e
perversidade”. Para
mim fica impossível não associar a analogia da “casa vazia,
varrida e ornamentada” com “limpais
o exterior do copo e do prato, mas o vosso interior está cheio de
rapina e perversidade”.
O resto da fala de Jesus continua a denunciar a mesma conexão entre
ambas as “imagens” de possessão:
1. Exterior limpo,
interior habitado por rapina e perversidade.
2. Quem fez o
exterior é o mesmo que fez o interior de todas as coisas. E, para
Ele, é o amor solidário aquilo que torna o mundo puro para os
puros.
3. As exterioridades do culto à mobília e aos
ornamentos exteriores do ser eram o deus deles. Por essa razão eles
davam devocionalmente a Deus apenas aquilo que contribuía para a
propaganda de como a sua “casa estava varrida e ornamentada”,
enquanto negligenciavam as verdade do interior, que são aquelas que
“enchem a casa” daquilo que é bom. E a prova desse culto à
“casa varrida e ornamentada” aparecia até mesmo nas obviedades
dos seus códigos de valores e importâncias: todos ligados a imagem
e às suas pretensas distinções entre os homens. Naquela assembleia
reunida na casa do fariseu não havia apenas religiosos zelosos das
exterioridades da Lei, como os fariseus, havia ali também alguns
teólogos, ou seja: interpretes da Lei. E, é deles que agora vem a
confissão de que as palavras de Jesus os “ofendiam” também.
Passaram um recibo autenticado no Cartório da Culpa.
O que
Jesus diz à esses teólogos, os “interpretes da Lei”?
1.
“Ai
de vós também, interpretes da Lei! porque sobrecarregais os homens
com fardos superiores às suas forças, mas vós mesmos, nem com o
dedo os tocais”— afirmando
que a “mobília” da casa varrida e ornamentada era patrocinada
por eles, ao “construírem” uma teologia para estivadores, sem a
misericórdia de perceber que aquela tarefa que eles impunham sobre
os outros era mais que desumana, e, além disso, dava-lhes o poder
satânico de, em nome de Deus, oprimirem o próximo com aquilo que
eles mesmos não aguentavam carregar nem nos ambientes de seus
próprios corações.
2. “Aí
de vós! porque edificais os túmulos dos profetas que os vossos pais
assassinaram. Assim sois testemunhas e aprovais com cumplicidade as
obras dos vossos pais; porque eles mataram e vós lhes edificais os
túmulos”— asseverando
que a atitude politicamente mais “correta e leve” dos teólogos
não escondia da face de Jesus a verdade. A sua “diplomacia”
também era perversa. Eles eram apenas mais educados nas suas
atitudes. Mas no seu interior havia a mesma “rapina e perversidade”
dos seus colegas fariseus. Desse modo, Jesus denuncia as etiquetas da
religião e seus representantes, que matam os portadores da Palavra,
mas sempre, após a História se impor sobre os interesses então
imediatos — os seus filhos, filhos da mesma escola e alunos da
mesma teologia —, erguiam agora os túmulos do profetas, fazendo
“reformas históricas”, mas que não os colocavam no caminho da
obediência à Palavra de Deus falada pelos profetas no dia de Hoje!
Assim, eles achavam que construir tumbas em honra dos profetas os
diferenciava de seus pais, os assassinos de ontem. A questão,
todavia, é que Deus é Deus de vivos e não de mortos. E a Sua real
expectativa não é que os profetas sejam ou fossem honrados, mas
ouvidos!
3. Jesus conclui dizendo que eles não se
diferenciavam em nada de seus pais. Afinal, eles estavam tendo a
chance histórica de experimentar o verdadeiro arrependimento — ou
não era Jesus que eles agora rejeitavam? —, mas nem mesmo isto
eles enxergavam, fazendo-se, assim, mais cegos e homicidas que os
seus pais.
4.
A questão é que aquela não era uma situação “estanque” ou
sequer “departamentalizável”. Eles eram parte da mesma geração.
Havia uma conexão simbiótica entre eles — fosse no passado, fosse
no presente! Portanto, havia uma possessão crescente e cumulativa no
processo histórico-religioso. E mais: Aquela geração teria que
responder por si mesma e pelo passado, do qual eles faziam um mero
replay
no
presente.
5. O pior para Jesus era que os “intérpretes da
Lei” diziam possuir a “chave da ciência” interpretativa. Ora,
Jesus diz que era baseado nesse auto-engano — ou, quem sabe: engano
deliberado! —, que eles nem entravam na Graça e nem deixavam os
que a desejavam poderem entrar com as próprias pernas pela Porta. E
que pior denuncia pode haver para qualquer tipo de clero?!
A
separação humana entre Leigos e clérigos, em qualquer que seja o
nível ou em qualquer que seja a nomenclatura, é um acinte ao puro e
simples Evangelho de Jesus! O que se segue a isto é a declaração
explicita de que tanto os letristas-escribas, quanto os
escrachadamente legalistas-fariseus, bem como os educadamente
Moralistas-interpretes da Lei, agora o “arguíam com veemência”
procurando confundi-Lo com muitos assuntos, “com o intuito de tirar
das suas palavras motivos para o acusar”.
Para Jesus toda a
discussão sobre a Palavra acaba em confrontos satânicos. Por isto,
mesmo havendo uma multidão interessada no debate, Ele vira e fala
apenas com os Seus discípulos, e lhes diz o seguinte:
1.
“Acautelai-vos
do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia”—
e, assim, Ele lhes diz que os fariseus, à semelhança do fermento,
eram os mestres do inchaço da Lei. Eles eram hipócritas, pois,
aumentavam o peso das coisas que eles sabiam que homem algum poderia
carregar. O seu fermento era apenas a capacidade de “aumentar” as
Escrituras sem discernir sequer os conteúdos da Palavra.
2.
“Nada
há encoberto que não venha a ser revelado; e oculto que não venha
a ser conhecido”—revela
agora a certeza de Jesus não só sobre o Juízo Final, mas sobre a
impossibilidade dos homens se esconderem para sempre! Portanto, diz
Ele aos seus discípulos: “Não
sucumbam à religião das aparências. O que é, é!”
E mais: ele retoma ao tema da casa na continuidade do mesmo assunto:
os bochichos do interior da casa ainda seriam gritados da
varanda.
3. O que segue é a advertência de Jesus aos
discípulos quanto a não se impressionarem com aquelas Potestades
Religiosas e nem Políticas. Elas não deveriam ser temidas. O seu
poder de fazer mal não passava do corpo. E mais: até para exercerem
tal poder, tinham que ter — à semelhança de Satanás em relação
a Jó —, uma permissão divina. Tudo estava sob controlo. O perigo
não vinha deles, mas do coração e das suas produções. Quanto ao
poder de oprimir que os Senhores do Saber possuíam, Jesus diz que
não era para se preocupar. Eles contavam com a perversidade satânica
para interpretar a existência. Os discípulos, no entanto,
carregavam a promessa de estarem habitados pelo Espírito da Verdade,
que lhes ensinaria como não se sujeitarem aos trabalhos forçados
daqueles donos de pesadas mobílias e que moravam numa casa vazia,
varrida e ornamentada!
A sequência do texto continua
mostrando o significado de ser uma casa vazia, varrida e ornamentada.
Isto pode vir da tentação de se aceitar a função de “juiz e
repartidor” entre os homens. Ou mesmo poderia ser o produto da
superficialidade de uma existência possessa de “avareza”. Ora,
esse espírito também trás como sua marca distintiva a perceção
de valores apenas no mundo das imagens e das seguranças visíveis,
enchendo celeiros, mas deixando a casa espiritual vazia de Deus.
Na
sequência, Ele passa a inocular nos Seus discípulos alguns
anticorpos que pudessem dar-lhes a consciência acerca do enganoso
vírus do fermento dos religiosos, filhos da Teologia Moral de Causa
e Efeito. Jesus prossegue com a temática das relações de causa e
efeito presentes no pensamento dos Seus contemporâneos.
É
significativo que logo adiante Jesus expulse um demónio numa
sinagoga. Ora, ali está o quadro pintado de uma casa vazia, varrida
e ornamentada, mas onde o diabo mantinha “filhos de Abraão em
cativeiro”. E qual é a reclamação do gerente da Casa Vazia — a
sinagoga? O seu argumento tem a ver com a desordem que a libertação
causou à ordem das coisas na casa bem arrumada, e que fora
construída para não ser o lugar da vida, sendo tão-somente um
showroom
de religiosidade. Nesse lugar ninguém quer saber se você está
melhor, mas apenas se está tudo em ordem!
A mim vem agora uma
pergunta: o que teria instigado os espíritos da casa vazia, varrida
e ornamentada a agirem de modo sete vezes pior? No contexto anterior,
em Lucas, Jesus envia setenta discípulos para pregarem o evangelho
da Graça, a Palavra do Reino, o Evangelho da Salvação. Ao
retornarem, os discípulos vieram felizes com os resultados: “Até
os demónios se nos submetem pelo teu nome”— disseram
eles! Jesus, no entanto, lhes respondeu que Ele mesmo vira Satanás
ser atingido em cheio pelo resultado daquela missão, caindo do céu
como um relâmpago. E mais: que a alegria dos discípulos deveria
sempre ser a alegria de ser e não a de poder, e também jamais
deveria se basear no sentimento de prevalência sobre as forças do
mal no “outro”— afinal, raramente se encontra um humilde e
sadio exorcista ambulante —, mas sim, com o facto de que, pela
Graça de Deus, e, em Cristo, os seus nomes estavam escritos no Livro
da Vida, onde tudo o que de facto Deus chama de ser-história-do-ser
está lá registado para o nosso bem.
O ódio de Satanás
vinha do facto de que aquela Casa Vazia, Varrida e Ornamentada pelas
Leis, pelos cerimonialismos, pelo comportamentalismo exterior, pelas
morais homicidas, pelos dias tão santos que neles nem o bem cabia,
pelos Concílios da Verdade, pelos aparatos das piedades
exteriorizadas, e, sobretudo, pela capacidade de “jeitosamente”
desviarem a atenção dos homens dos ambientes do coração para as
nulidades das exterioridades da religião e seus infindáveis
rudimentos.
Agora, todavia, para horror dos “demónios”,
chegara “o mais valente” e com Ele vinha o poder de “amarrar”
aquelas forças, a fim de poder encher a casa não com mobília e
ornamentos das aparências da piedade exterior, mas com Vida! Para
Jesus, mais vazios que os “vazios” que eram habitados
“circunstancialmente” por demónios, eram os que propositadamente
“construíam” casas religiosas que nada mais eram que lugar de
morada de demónios, tornando a casa cada vez mais mal assombrada! De
facto, o que eles chamavam de “mobília ornamental”, Jesus
chamava de “rapina e perversidade”.E aqui voltamos ao nosso
tema:
A Teologia Moral de Causa e Efeito é a gestora satânica
da Casa Vazia, Varrida e Ornamentada! E sabe por quê? Ora, Jesus
falava dos mestres e dos seus melhores exegetas, os interpretes da
Lei; dos melhores executivos devocionais que a tradição
judaico-cristã já teve, os fariseus; dos mais bem sucedidos
políticos da religião, os sacerdotes; e dos depositários mais
fiéis da Revelação Escrita, os escribas. Todavia, eles eram
sepulcros pintados de branco por fora a fim de esconder a podridão
que crescia dentro deles.
Quanto mais Moral é o consciente
humano, mais adoecidamente tarado, lascivo e perverso o seu
inconsciente será! Eles tinham a casa, o Templo; e possuíam o poder
de fazer a sua gestão; o poder era oriundo dos cargos que ocupavam
na manutenção do sistema; e esses cargos eram mais elevados à
medida que alguém se “avantajava” nas praticas das
regulamentações legais, exteriormente, é claro! Todavia, eles só
tinham copos, pratos, talheres, lavatórios, mesa, comida e a certeza
de belos ornamentos para a decoração. Afinal, o “lixo” dos
outros eles cobriam com pedras. E os seus próprios, eles ocultavam
no coração. Faltava-lhes tudo! Faltava-lhes vida e a real Presença
do Deus da Graça nos seus corações! (Nota:
Igreja de Roma é assim atualmente. R)
Eles
haviam sido tragados. Estavam escravizados pelo pecado de sua quase
incurável arrogância. E se tornaram tão vazios de amor a Deus e à
vida, que nem sentiam que no seu zelo, eles se tornavam frequentes
transgressores da Lei e dos Profetas. Ora, eles estavam vazios no seu
próprio ser, pois, esvaziaram de tal modo a sua própria casa-ser,
que eram agora capazes de planear até mesmo a morte de Jesus —
depois vieram a consumá-la, como também tinham consentido com a
execução do último profeta, João, o Batista! — e isto enquanto
faziam vista grossa ao comércio nojento e asqueroso no qual o
“mercado religioso” se tornara (Nota:
Como em Fátima, Portugal. R).
E pior: criando uma religião de causa e efeito que permitia ao filho
desonrar aos pais desde que a causa-desculpa gerasse o
efeito-contribuitivo para os cofres da Religião. Tudo isto feito
pelo poder, pelo lucro e pela auto-exaltação, piedosamente
admitidas como expressão do zelo pelas coisas de Deus. Esses seres
se tornaram tão mortalmente vazios que Jesus os chama de “sepulturas
invisíveis”.
Todavia, em matéria de exterioridades, de
mobílias morais e religiosas, eles eram os melhores e mais devotos
religiosos que o Ocidente já teve notícia! Jesus, entretanto, viria
a chama-los de “filhos do diabo”.
Aquela geração tinha a
“mobília”, mas a casa estava vazia de Deus, varrida pela Moral
da Lei e ornamentada pelo cerimonialismo sacerdotal. Mas era apenas
isto! Conclusão: os demónios voltaram e foram habitar o
inconsciente da maioria, criando assim, uma “consciência”
moralmente rígida, e quanto mais rígida se tornava, tanto mais os
demónios lhes atordoavam o “interior da casa”.
Estavam
literalmente fadados a serem os reis do exemplo, para fora; enquanto,
do lado de dentro, viam-se tendo que existir como cativos,
sobrevivendo mortalmente entre voos de aves de rapina e besta
perversas, descumprindo assim, interiormente, as Leis que impunham
“aos outros” do lado de fora, que nada mais eram que as Leis da
animalidade predatória, escondidas sob os signos da Moral e da
religião. Ora, exatamente conforme os padrões das Leis de causa e
efeito da natureza caída!
Caio
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