AS LIÇÕES DA HISTÓRIA QUE OS POLÍTICOS TEIMAM EM NÃO APRENDER
A Europa vive um momento de grande tensão desde que a Rússia invadiu a Ucrânia, em Fevereiro de 2022. A Finlândia, que mantinha certa neutralidade política entre o Oriente e o Ocidente, hoje, devido as ameaças de Putin a “avisar” a Finlândia e a Suécia para não se aproximarem do Ocidente para não sofrerem “sérias” consequências, contrariando a soberba do ditador que só conhece “negociações pela força das armas”, reagiram sem medo das tais ameaças e pediram para entrar na NATO. Deixaram de serem neutras.
Putin não compreende nem aprende com a História e cometeu um grande erro. É importante lembrar que, durante a Guerra de Inverno, que ocorreu entre 1939 e 1940, a Finlândia conseguiu derrotar um dos maiores exércitos do mundo, o russo.
Inspecionando um bombardeiro soviético em Dezembro de 1939. A Força Aérea Finlandesa e baterias antiaéreas abateram cerca de 600 aviões soviéticos durante a Guerra de Inverno.© SA-Kuva
Durante vários séculos, a Finlândia, esteve sob o domínio sueco. Isso mudou em 1809, quando o Império Russo anexou o seu território e o chamou de Grão-Ducado da Finlândia. Este domínio durou até 1917. Com a Revolução Russa, o comando imperial entrou em colapso, abrindo caminho para o estabelecimento da República da Finlândia, em 6 de Dezembro de 1917. A independência veio através de guerra civil entre o novo governo, que era apoiado pelo Império Alemão, e os social-democratas, apoiados pela União Soviética.
Algo semelhante aconteceu com a Ucrânia, naquela época. No entanto, enquanto na Finlândia houve vitória dos "brancos" (Como eram conhecida a facção que se opunha aos bolcheviques), com apoio militar alemão, na Ucrânia, houve vitória das tropas bolcheviques, em 1918.
Na época, a Finlândia era uma nação maioritariamente agrária de cerca de três milhões de pessoas. O país exportava principalmente para a Alemanha e para o Reino Unido. A Europa ainda enfrentava o trauma das consequências da Primeira Guerra Mundial, e a Grande Depressão, em 1929, não ajudou. Movimentos fascistas, com objetivos expansionistas, surgiram na Itália e na Alemanha. Em menos de 20 anos, começou a Segunda Guerra Mundial, que dizimou o continente novamente.
Enquanto a Alemanha nazi invadia a Áustria, a França, a Checoslováquia (atual República Checa) e o oeste da Polónia, a União Soviética reuniu forças para ocupar a Finlândia e o leste da Polónia.
Os respetivos ministros das Relações Exteriores de Hitler e Estaline assinaram um pacto de não agressão, em Agosto de 1939, garantindo que nem a Alemanha nazi nem a União Soviética entrariam em confronto. Em 26 de Novembro de 1939, as tropas soviéticas, que estavam perto da vila de Mainila, foram atacadas por um grupo desconhecido, que, segundo diziam, era da artilharia finlandesa. O governo soviético, então, alegou que era uma provocação e usou isso como desculpa para justificar uma invasão completa.
Com o tempo, ficou claro que este ataque desconhecido, na verdade, foi uma operação falsa, realizada pelo próprio Exército Vermelho (soviético). Foram feitas inclusivamente declarações, na década de 1990, pelo ex-líder russo, Boris Yeltsin. O governo de Vladimir Putin sustenta que o incidente foi da total responsabilidade finlandesa.
A vitória soviética sobre a Finlândia e a sua possível anexação pela URSS eram dadas como certas. Meio milhão de soldados do Exército Vermelho foram enviados para ao país nórdico. No entanto, as coisas não aconteceram como o esperado. Apesar de estarem em menor número, os finlandeses tinham uma vantagem clara: conheciam o território muito melhor do que seus invasores.
Sob a liderança do marechal Carl Gustaf Mannerheim, os finlandeses usaram táticas de guerrilha, enquanto os soldados soviéticos ficaram presos em terrenos difíceis, florestas densas e Inverno rigoroso. As tropas de esqui finlandesas teriam realizado ataques de atropelamento em unidades soviéticas isoladas, que eram facilmente encontradas, devido à paisagem nevada do Inverno.
Um atirador finlandês, um fazendeiro chamado Simo Häyhä teria matado mais de 500 soldados do Exército Vermelho. Ele ganhou o apelido de “A Morte Branca”. O exército russo mostrou mais uma vez a sua fraqueza no terreno. Podem ser muitos, mas mal preparados e equipados. A brutalidade e falta de respeito dos líderes russos pelos seus soldados só conseguem estes resultados catastróficos. Acontece o mesmo, hoje, na guerra da Ucrânia. E Putin nada aprendeu com a História. O poderoso exército da URSS, enviou 500 mil homens para invadir um país de três milhões de habitantes e foi militarmente derrotado (uma vergonha), e atualmente a Rússia só mandou 150 mil homens para invadir um país de 43 milhões de habitantes. De que estava à espera?
As ameaças de Putin para os países limítrofes não se meterem, e ameaças de um conflito nuclear de nada serviram. Ninguém se intimidou e a Rússia está metida num “buraco” muito fundo. Mostrou ao mundo a sua fraquesa e só consegue subsistir com uma guerra suja, de bombardeamentos à distância com material ultrapassado, excepto algum que andou a mendigar nos países que ainda a toleram apenas para explorar as suas riquezas. Conseguem a energia barata e vão aproveitando enquanto é tempo.
No final da Guerra, a Finlândia assinou um tratado de paz com a União Soviética, em Fevereiro de 1940, doando 11% de seu território, o que talvez vá acontecer com a Ucrânia para por fim a esta guerra insana. Terão de fazer cedências, em cada lado. A Ucrânia para proteção do seu povo e a Rússia para não ficar mais uma vez humilhada. É uma necessidade para os políticos conscientes e inteligentes, pois a elite Russa com o seu total desprezo pela vida dos seus soldados, que são “carne para canhão”, têm muita gente para mandar para a carnificina.
Um artigo no site do History Channel relata que as forças soviéticas tiveram mais de 300 mil baixas, e as tropas finlandesas, cerca de 65 mil. Como consequência, a União Soviética foi banida da Liga das Nações, em 14 de Dezembro de 1939. Neste mesmo ano, começava a Segunda Guerra Mundial. Se com a Finlândia, com tão pouca gente, a União Soviética teve mais de 300 mil baixas, imaginemos agora (pela estatística) quantas baixas terá a Rússia contra as Forças da Ucrânia em muito maior número do que os Finlandeses, muito aguerridos, melhor treinados, e melhor equipados pelos EUA e NATO.
Alguns afirmam que o péssimo desempenho do Exército Vermelho na Finlândia levou Hitler a pensar que poderia declarar guerra à União Soviética, sem muitos problemas. Assim, em Junho de 1941, a Alemanha nazi invadiu o território. A União Soviética aguentou-se à custa da política de “terra queimada”, a contar com a chegada do Inverno, e dos seus cidadãos que eram enviados de qualquer maneira para a frente de combate, muitos desarmados que iriam apanhar as armas dos mortos, e forçados pelos “comissários políticos” a avançar para a morte certa.
Neste quadro vê-se o método de combate da URSS. Muitos homens no terreno sem se preocuparem com as baixas enormes dos homens e consequente destruição do material de guerra que, felizmente lhes era fornecido pelos aliados. Se não tivessem esse apoio logístico não aguentariam a guerra.
Se não fosse a ajuda gigantesca de material de todo o género para equipar o exército russo, fornecido pelos EUA, o resultado teria sido outro. A URSS valeu-se sempre do grande número de homens que conseguia mandar para o terreno, sem se preocuparem com as baixas demasiado elevadas. Os oficiais superiores dos aliados, pelo contrário, tinham sempre o cuidado de proteger os seus homens e impedirem ataques suicidas, planeando muito bem todo o desenrolar das suas ações.
A URSS ocupou metade da Europa porque os aliados o permitiram. Os aliados poderiam ter chegado em primeiro lugar a Berlim, mas não o quiseram fazer. Delimitaram as linhas que cada exército deveria respeitar, tendo os EUA, Reino Unido e França de refrear o seu avanço para a URSS, à custa de elevadíssimas baixas ocupasse os territórios que pretendia.
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