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quinta-feira, 16 de julho de 2020


SOBRE A POSSESSÃO DEMONÍACA


Jesus expulsou a todos os demónios que, como tais, se manifestaram diante Dele mas falou pouco a respeito da possessão demoníaca explícita. Tratou as possessões subtis, que são as piores que na generalidade podem ser mais “culturas espirituais” do que demónios que se “manifestem” como tais. Neste caso, pela ciência actual, são as "doenças" do foro psiquiátrico que não são necessariamente manifestações de um demónio mas sim influências demoníacas.


Nos primórdios, as doenças mentais eram consideradas fruto de possessão demoníaca. Essa ideia foi abandonada já no século 5 a.C. Hipócrates foi o primeiro a descartar a influência dos espíritos nos problemas mentais. Ainda assim, os hospícios surgiram apenas na Idade Média. A sua função não era tratar. O facto é que as "terapias" da época não serviam para nada. Eram apenas para tirar os loucos das ruas.

Mas… a regra tem sempre excepções:


Jesus abordou o tema da possessão demoníaca pelo lado existencial e pelo lado geracional.

Vejamos o ponto de vista geracional:
                   
Quando um espírito mau sai de um homem, ele fica a vaguear el lugares desertos, procurando repouso, e não o encontra. Então diz "Vou voltar já para a casa de onde saí". Quando chega, encontra a casa vazia, varrida e arrumada. Então vai e toma consigo outros sete espíritos piores do que ele. Entram e instalam-se nessa casa. No fim esse homem fica em condição pior do que antes. É o que vai acontecer com esta geração má. (Mateus 12: 43 – 45).

O mesmo texto pelo ponto de vista existencial:

Quando um espírito mau sai de um homem, ele fica a vaguear el lugares desertos, procurando repouso, e não o encontra. Então diz "Vou voltar já para a casa de onde saí". Quando chega, encontra a casa vazia, varrida e arrumada. Então vai e toma consigo outros sete espíritos piores do que ele. Entram e instalam-se nessa casa. No fim esse homem fica em condição pior do que antes.

Em ambos os textos tudo é igual. O espírito imundo sai de um homem. Procura lugar de pouso e não encontra. Então diz: “Vou voltar já para a casa de onde saí.” E trás consigo novos inquilinos e, assim, o segundo estado daquele homem torna-se pior do que o primeiro.
A diferença está apenas no “aplicativo” de Mateus: "É o que vai acontecer com esta geração má".


Deste modo, a única diferença entre uma possessão individual e uma colectiva é que no primeiro caso o homem perde o controlo de si e, por vezes, perde a sua consciência individual. Já no segundo caso, a consciência dos indivíduos fica suficientemente liberta, mas não se apercebe do poder de conexão com o colectivo, que age como um sentir unânime e, em geral, mobiliza a “maioria” com alguma causa de vida ou morte, sendo que o efeito nunca é vida, é sempre morte.

Jesus não faz muitas alusões explícitas àquela geração. Ele fala em abundância sobre quem ela era, mas não usa muitas vezes a palavra geração. Não precisa de estar escrito para estar dito.

Jesus compara aquela geração a crianças que sofrem de um mal humor crónico e contínuo, além de ser indefinido. Era raiva da vida e da liberdade de ser dos outros. E tanto fazia qual fosse a “expressão de ser” do outro em observação. Eles odiavam a quebra dos padrões de “normalidade” conforme o fizeram Jesus e João Batista. Ambas, eram, em si mesmas, existências opostas em relação à sua geração, embora, os dois, fossem também diametralmente diferentes nos seus comportamentos em relação um ao outro.

A segunda referência significativa àquela geração acontece com a provocação constante dos fariseus e escribas da Lei. Quando expulsou um demónio à vista da mesma assembleia de religiosos foi mal interpretado e acusado de blasfémia:
"Ele expulsa dos demónios através de Belzebu, o príncipe dos demónios".(Mateus 12: 24)

Ao que Jesus respondeu:

1. Satanás não cometia burrices daquele tipo, porque se Satanás expulsa Satanás, está dividido contra si mesmo. Portanto, sugere que a presença de Satanás não estava na divisão causada por Jesus no seu “reino”, mas, ao contrário, estava estabelecida no corpo do pensamento monolítico daquela geração, agora, sim, dividido pela presença de oposição de Jesus. Eles eram os demónios atingidos.

2. Se o argumento deles fosse válido, então, antes de julgarem a procedência do poder que emanava de Jesus, eles teriam que explicar a fonte do poder utilizado pelos seus próprios filhos, que também “expulsavam demónios”. Não o fazendo, estavam a reconhecer o poder de Belzebu como a força operativa também entre eles.

3. Se não podiam “responder” sem se acusar, então, que admitissem que em Jesus o poder manifesto era o do Reino de Deus que estava, em Jesus, no meio deles.

4. Nesse caso, diz Jesus, o que acontecia era um saque divino nos cativeiros de Satanás, pois a sua “casa” havia sido invadida por Alguém que lhe era superior, com poder, inclusive, de
“apoderar-se das suas coisas se antes não o amarrar?"

5. Jesus "trás a espada" e divide a assembleia dizendo-lhes que qualquer declaração que saísse de suas bocas com aquele tipo de conteúdo e que não correspondesse à verdade dos seus corações (sendo apenas uma utilização “política” do tema espiritual, carregando uma “calúnia” contra Jesus e uma “blasfémia” contra o Espírito de Deus que Nele agia) seria considerado um pecado sem perdão. Ou seja: se conscientemente eles sabiam que Jesus era enviado de Deus, mas, em razão da desconstrução institucional que Jesus trouxera com a Sua mera presença entre eles, haviam optado pelo caminho da negação da Graça que em Jesus os visitava, então, pela fria opção pela manutenção do poder que julgavam possuir, eles cometiam a pior blasfémia: negar que a mão de Deus seja a mão soberana em acção, preferindo caluniar o agente da Graça, cometer um blasfémia contra o Espírito, mas não perderem o seu poder temporal que, em Jesus, eles viam ameaçado. Essa era a “possessão” que os possuía. (Mateus 2:3).


6. Na sequência Jesus adverte sobre as “palavras” como sendo o resultado da escolha existencial do homem, do que ele tira ou não dos seus baús do coração. Se busca os seus valores nos cofres da verdade ou nos sombrios e secretos ambientes da sua perversidade interior. E conclui de modo a vaticinar um terrível juízo sobre toda a palavra frívola dita pelos homens em relação a Deus e ao próximo.

Ora, é neste ponto da “batalha” que os adversários chegam, cinicamente, com uma “pérola tirada do mau tesouro” das suas almas:

"Mestre, queremos ver de tua parte um sinal” - pediram eles!

Ele, porém, respondeu-lhes:

“Uma geração má e adúltera pede um sinal, mas nenhum sinal lhe será dado, a não ser o do profeta Jonas”.

Jesus recusa dar um sinal para provar a Sua missão, porque nenhum milagre é capaz de despertar a fé naqueles que não querem comprometer-se com Jesus. O único sinal que Jesus dá  é o da Sua morte e ressurreição, consequência e selo da autenticidade de toda a Sua missão.


Se verificarmos a mesma passagem do Evangelho em Lucas, veremos que o contexto antecedente é exactamente o mesmo. Em Lucas, todavia, a sequência do contexto imediato (o que vem depois) fala de maneira ainda mais clara dos “espíritos” que se haviam instalado no inconsciente colectivo daquela geração, formando uma rede de pensamentos e sentimentos contrários à Graça de Deus e sua revelação em Jesus.
Jesus faz àquela geração as seguintes denúncias:

1. Os pagãos foram sempre mais abertos à revelação do que eles. E a própria resposta dos “gentios” que encontraram com Jesus nas narrativas dos evangelhos demonstram isto.

2. Não adiantava que os seus adversários dissessem que eles eram o Povo da Luz, pois, esta, quando habita alguém, aparece sempre. Além disso, a “luz” de um ser não vem “de fora”, nem dos seus supostos encontros-de-hora-marcada com a luz. A verdadeira Luz nasce nos ambientes interiores e gera uma nova maneira de enxergar a vida. Aqui Ele associa a luz do ser ao modo como a pessoa “interpreta” a vida, a Deus e ao próximo. E mais: Ele diz que a luz do ser vem também dele não negociar com as suas sombras, escondendo-as, pois, nesse caso, o que deveria ser a fonte de luz (o interior e seus bons pensamentos e interpretações da vida) passa a ser o gerador das trevas no interior humano.

Um fariseu convidou Jesus para ir comer em sua casa (Lucas 7: 36) então, Jesus, entrando, tomou lugar à mesa. O problema é que Jesus entrou, sentou-se e comeu. E não lavou as mãos como era tradição. O fariseu não aguenta a transgressão cerimonial cometida por Jesus. Afinal, Jesus era o mesmo que eles, colectivamente, haviam acusado de ser instrumento de Satanás.
Prestemos atenção à conversa que se segue, que começa numa casa, à volta da mesa, com serviço de lavagem cerimonial disponível, com copos, pratos e mobílias e se transforma na analogia perfeita da “casa vazia, varrida e ornamentada”, pois, o tema volta aos lábios de Jesus: ( Lucas 11:37) "Vós fariseus, limpais o copo e o prato por fora, mas o vosso interior está cheio de roubo e maldade. Gente sem juízo! Aquele que fez o exterior não fez também o interior? Antes, dai em esmola o que possuís e tudo para vós ficará puro".
Jesus denuncia a mesma conexão entre ambas as “imagens” de possessão: Exterior limpo, interior cheio de roubo e maldade. Para Jesus o mesmo que fez o interior das coisas é o que fez o exterior, é o Amor solidário daquilo que torna o mundo puro para todos.

As mostras exteriores do culto, desde as mobílias aos ornamentos exteriores do ser eram o deus deles. Por essa razão eles davam devocionalmente a Deus apenas aquilo que contribuía para a propaganda de como a sua “casa estava varrida e ornamentada”, enquanto negligenciavam as verdades do interior, que são aquelas que “enchem a casa” daquilo que é bom.
E a prova desse culto à “casa varrida e ornamentada” aparecia em todos os seus códigos de valores e importâncias. Tudo estava ligado a imagem e às suas pretensas distinções entre os homens. Naquela assembleia reunida na casa do fariseu não havia apenas religiosos zelosos das exterioridades da Lei, como os fariseus, havia ali também alguns teólogos, ou seja: intérpretes da Lei. E, é deles que agora vem a confissão de que as palavras de Jesus os “ofendiam” também.


O que Jesus diz a esses teólogos, os “intérpretes da Lei”?
"Ai de vós também, especialistas em Leis! Porque impondes sobre os homens cargas insuportáveis e vós mesmo não tocais essas cargas nem com um só dedo". Os "especialistas" impõem um controlo ideológico sobre o povo, impedindo-o de ver as possibilidades de transformação, afirmando que a “mobília” da casa varrida e ornamentada era patrocinada por eles, ao “construírem” uma teologia para estivadores, sem a misericórdia de perceber que aquela tarefa que eles impunham sobre os outros era mais que desumana, e, além disso, dava-lhes o poder satânico de, em nome de Deus, oprimirem o próximo com aquilo que eles mesmos não aguentavam carregar nem nos ambientes de seus próprios corações. (Lucas 11: 46 – 53)

2.
"Ai de vós, porque construís túmulos para os profetas; no entanto, foram os vossos pais que os mataram. Com isto, sois testemunhas e aprovais as obras dos vossos pais que os mataram". (Lucas 11: 47), asseverando que a atitude politicamente mais “correcta e leve” dos teólogos não escondia da face de Jesus a verdade. A sua “diplomacia” também era perversa. Eles eram apenas mais educados nas suas atitudes. Mas no seu interior havia a mesma “rapina e perversidade” dos seus colegas fariseus. Desse modo, Jesus denuncia as etiquetas da religião e os seus representantes, que matam os portadores da Palavra, mas sempre, após a História se impor sobre os interesses então imediatos - os seus filhos, filhos da mesma escola e alunos da mesma teologia - erguiam agora os túmulos dos profetas, fazendo “reformas históricas”, mas que não os colocavam no caminho da obediência à Palavra de Deus falada pelos profetas no dia de Hoje.
Assim, eles achavam que construir tumbas em honras dos profetas os diferenciava de seus pais, os assassinos de ontem. A questão, todavia, é que Deus é Deus de vivos e não de mortos. E a Sua real expectativa não é que os profetas sejam ou fossem honrados, mas ouvidos!

3. Jesus conclui dizendo que eles não se diferenciavam em nada dos seus pais. Afinal, tinham a chance histórica de experimentar o verdadeiro arrependimento - ou não era Jesus que eles agora rejeitavam?  Mas nem mesmo isto eles enxergavam, fazendo-se, assim, mais cegos e homicidas do que os seus pais.
4. A questão é que aquela não era uma situação “estanque” ou sequer “departamentalizável”. Eles eram parte da mesma geração. Havia uma conexão simbiótica entre eles - fosse no passado, fosse no presente. Portanto, havia uma possessão crescente e cumulativa no processo histórico-religioso. E mais: Aquela geração teria que responder por si mesma e pelo passado, do qual eles faziam uma mera réplica no presente.

5. O pior para Jesus era que os “intérpretes da Lei” diziam possuir a “chave da ciência” interpretativa. Ora, Jesus diz que era baseado nesse auto-engano - ou, quem sabe, engano deliberado, que eles nem entravam na Graça e nem deixavam entrar os que a desejavam.

A separação humana entre Leigos e Clérigos, em qualquer que seja o nível ou em qualquer que seja a nomenclatura, é um propósito para negar o acesso ao puro e simples Evangelho de Jesus, e a declaração explicita de que tanto os letristas-escribas, quanto os legalistas-fariseus, bem como os educadamente Moralistas-interpretes da Lei, agora o “arguíam com veemência” procurando confundi-Lo com muitos assuntos, “com o intuito de tirar das suas palavras motivos para o acusar”.

Para Jesus toda a discussão sobre a Palavra acaba em confrontos satânicos. Por isso, mesmo havendo uma multidão interessada no debate, Ele fala apenas com os Seus discípulos, dizendo-lhes o seguinte:

1.
“Acautelai-vos do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia” e, assim, Ele diz-lhes que os fariseus, à semelhança do fermento, eram os mestres do inchaço da Lei. Eles eram hipócritas, pois, aumentavam o peso das coisas que sabiam que homem algum poderia carregar. O seu fermento era apenas a capacidade de “aumentar” as Escrituras sem discernir sequer os conteúdos da Palavra.

2.
"Não há nada escondido que não venha a ser revelado e não há nada oculto que não venha a ser conhecido" (Lucas 12: 2) revela agora a certeza de Jesus não só sobre o Juízo Final, mas sobre a impossibilidade dos homens se esconderem para sempre! Portanto, diz Ele aos seus discípulos: “Não sucumbam à religião das aparências. O que é, é!”.

3. Jesus adverte os discípulos para não se impressionarem com as Potestades Religiosas e Políticas. Elas não devem ser temidas, pois o seu poder de fazer mal não passava do corpo e para exercerem tal poder, tinham que ter (à semelhança de Satanás em relação a Jó), uma permissão divina. Estava tudo sob controlo. O perigo não vinha deles, mas do coração e das suas produções. Quanto ao poder de oprimir que os Senhores do Saber possuíam, Jesus diz que não era motivo de preocupação porque eles contavam com a perversidade satânica para interpretar a existência. Os discípulos, no entanto, carregavam a promessa de estarem habitados pelo Espírito da Verdade, que lhes ensinaria como não se sujeitarem aos trabalhos forçados daqueles donos de pesadas mobílias e que moravam numa casa vazia, varrida e ornamentada.


Jesus continua a mostrar o significado de ser uma casa vazia, varrida e ornamentada. Pode vir da tentação de se aceitar a função de “juiz e repartidor” entre os homens. Ou mesmo poderia ser o produto da superficialidade de uma existência possessa de “avareza”. Ora, esse espírito também trás como a sua marca distintiva a percepção de valores apenas no mundo das imagens e das seguranças visíveis, enchendo celeiros, mas deixando a casa espiritual vazia de Deus.

Jesus passa a inocular nos Seus discípulos alguns anticorpos que pudessem dar-lhes a consciência acerca do enganoso vírus do fermento dos religiosos, filhos da Teologia Moral de Causa e Efeito. Jesus prossegue com a temática das relações de causa e efeito presentes no pensamento dos Seus contemporâneos. É significativo que logo adiante Jesus expulse um demónio numa Sinagoga. Ora, ali está o quadro pintado de uma casa vazia, varrida e ornamentada, mas onde o diabo mantinha “
filhos de Abraão em cativeiro”. E qual é a reclamação do gerente da Casa Vazia (a sinagoga)? O seu argumento tem a ver com a desordem que a libertação causou à ordem das coisas na casa bem arrumada, e que fora construída para não ser o lugar da vida, sendo tão-somente um showroom de religiosidade. Nesse lugar ninguém quer saber se alguém está melhor, mas apenas se está tudo em ordem.

O que teria, então, instigado os espíritos da casa vazia, varrida e ornamentada a agirem de modo sete vezes pior? E Lucas, Jesus envia setenta discípulos para pregarem o evangelho da Graça, a Palavra do Reino, o Evangelho da Salvação. Ao retornarem, os discípulos vieram felizes com os resultados:
“Até os demónios se nos submetem pelo teu nome” disseram eles. (Lucas 10:17). Jesus, no entanto, respondeu-lhes que Ele mesmo vira Satanás ser atingido em cheio pelo resultado daquela missão, caindo do céu como um relâmpago. E mais: que a alegria dos discípulos deveria sempre ser a alegria de ser e não a de poder, e também jamais deveria se basear no sentimento de prevalência sobre as forças do mal no “outro” (afinal, raramente se encontra um humilde e sadio exorcista ambulante), mas sim, com o facto de que, pela Graça de Deus, e, em Cristo, os seus nomes estavam escritos no Livro da Vida, onde tudo o que de facto Deus chama de ser-história-do-ser está lá registado para o nosso bem.

O ódio de Satanás vinha do facto de que aquela Casa Vazia, Varrida e Ornamentada pelas Leis, pelos ritos cerimoniais, pelo comportamentalismo exterior, pelas morais homicidas, pelos dias tão santos que neles nem o bem cabia, pelos Concílios da Verdade, pelos aparatos das piedades exteriorizadas, e, sobretudo, pela capacidade de desviarem a atenção dos homens dos ambientes do coração para as nulidades das exterioridades da religião e seus infindáveis rudimentos.

Agora, todavia, para horror dos “demónios”, chegara “o mais valente” e com Ele vinha o poder de “amarrar” aquelas forças, a fim de poder encher a casa não com mobília e ornamentos das aparências da piedade exterior, mas com Vida. Para Jesus, mais vazios que os “vazios” que eram habitados “circunstancialmente” por demónios, eram os que propositadamente “construíam” casas religiosas que nada mais eram do que lugares de morada de demónios, tornando a casa cada vez mais mal-assombrada! De facto, o que eles chamavam de “mobília ornamental”, Jesus chamava de “rapina e perversidade”:

A Teologia Moral de Causa e Efeito é a gestora satânica da Casa Vazia, Varrida e Ornamentada. E por quê? Jesus falava dos mestres e dos seus melhores comentaristas, os interpretes da Lei, dos melhores executivos devocionais que a tradição judaico-cristã já teve, os fariseus, dos mais bem-sucedidos políticos da religião, os sacerdotes, e dos depositários mais fiéis da Revelação Escrita, os escribas. Todavia, eles eram sepulcros pintados de branco por fora a fim de esconder a podridão que crescia dentro deles.

Quanto mais Moral é o consciente humano, mais tarado, lascivo e perverso será o seu inconsciente será. Eles tinham a casa (o Templo) e possuíam o poder de fazer a sua gestão. O poder vinha dos cargos que ocupavam na manutenção do sistema, e esses cargos eram mais elevados à medida que alguém se “exibia” nas praticas das regulamentações legais, exteriormente, é claro.
Todavia, eles só tinham os utensílios domésticos, e alimentação certa, e os demais objectos que vão surgindo com a progressão material numa sociedade e os belos ornamentos decorativos para mostrar o seu "status". Afinal, eles cobriam com pedras o “lixo” dos outros, e o seu "lixo, era ocultado no coração. Faltava-lhes tudo. Faltava-lhes a "Vida" e a real Presença do Deus da Graça nos seus corações.

Foram tragados. Estavam escravizados pelo pecado de sua quase incurável arrogância. E tornaram-se tão vazios de amor a Deus e à vida, que nem sentiam que, no seu zelo, se tornavam  transgressores da Lei e dos Profetas.
Estavam vazios no seu próprio ser, pois, esvaziaram de tal modo a sua própria casa/ser, que até foram capazes de planear a morte de Jesus (depois vieram a consumá-la, como também tinham consentido com a execução do último profeta, João, o Batista). E isto enquanto faziam vista grossa ao comércio nojento e asqueroso no qual o “mercado religioso” se tornara. E o pior de tudo: criaram uma religião de causa e efeito que permitia ao filho desonrar os pais desde que a causa/desculpa gerasse o efeito-contribuitivo para os cofres da Religião.
Tudo feito pelo poder, pelo lucro e pela auto-exaltação, piedosamente admitidas como expressão do zelo pelas coisas de Deus. Esses seres tornaram-se tão mortalmente vazios que Jesus os chamou de “sepulturas invisíveis”.

Entretanto, na aparência para o exterior, eram os melhores e mais devotos religiosos que o Ocidente já teve notícia. Jesus, entretanto, viria a chama-los de “filhos do diabo”.

Aquela geração tinha a “mobília”, mas a casa estava vazia de Deus, varrida pela Moral da Lei e ornamentada pelo cerimonialismo sacerdotal. Mas era apenas isto.
Conclusão: os demónios voltaram e foram habitar o inconsciente da maioria, criando assim, uma “consciência” moralmente rígida, e quanto mais rígida se tornava, tanto mais os demónios lhes azaravam o “interior da casa”.

Estavam literalmente fadados a serem os reis do exemplo, para fora, enquanto, do lado de dentro, percebiam que tinham de existir como como cativos, sobrevivendo mortalmente entre voos de aves de rapina e besta perversas, não cumprindo, interiormente, as Leis que impunham “aos outros” do lado de fora, que nada mais eram do que as Leis da animalidade predatória, escondidas sob os signos da Moral e da religião. Ora, exactamente conforme os padrões das Leis de causa e efeito da natureza caída.

Fonte: http://bibliasemmitos-wagner.blogspot.pt/2010/05/morada-de-demonios.html  
(Sem adopção às regras do acordo ortográfico de 1990. Fotos da Net)

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