Todas as
obras históricas, ou de ficção, salientam o carácter agressivo e belicoso do
ser humano, como sendo uma vantagem e mais-valia na evolução da espécie.
Pensa-se que
o Homem ancestral, vivendo em pequenos grupos familiares, tinha um
comportamento agressivo para defesa do seu território e para o estimular na
estrutura social dominada pelo comportamento sexual. Uma prioridade máxima: a
propagação da espécie.
Por isso,
esse comportamento está associado às "técnicas" de sobrevivência e
apuramento da espécie. As manifestações agressivas, além de camuflar o medo,
destinavam-se a resolver os problemas mais básicos como a posse do território,
a satisfação sexual, a demarcação da hierarquia e consequentemente o domínio
social.
Seguindo
muitos estudiosos (ocultistas, os sábios
de épocas passadas) do desenvolvimento físico e intelectual da espécie, a
memória e a consciência desenvolveram-se pela experiência dolorosa. Quanto
maior o sofrimento, melhor gravada era a experiência a reter na memória e
consequente desenvolvimento do intelecto. A memória era primordial para a sua
sobrevivência porque podia recorrer aos ensinamentos adquiridos no passado e
transmiti-los às novas gerações.
Toda a
consciência era desenvolvida pelo conjunto de processos cumulativos dessas
experiências dolorosas como, por exemplo, o infanticídios, a castração, a
empalação, a vida monástica, a flagelação e sacrifícios que chegavam até à
mutilação e à própria morte.
A recepção de
estímulos agressivos pelos nociceptores são transmitidos pelo Sistema Nervoso
Periférico até ao Sistema Nervoso Central e interpretados como dor. Está
intimamente ligada ao Sistema Límbico, responsável pelas respostas emocionais.
Com a dor intensa ou prolongada ocorrem modificações anatómicas,
electrofisiológicas e neuroquímicas significativas nas vias nervosas
periféricas e no processamento sensitivo.
Todo este processo fica profundamente
gravado na mente do indivíduo, que lhe será muito útil no futuro. O seu Ego
estará melhor apetrechado com a expansão "forçada" da sua capacidade de
memória e consequente experiência no mundo material.
O
desenvolvimento técnico e cultural permitiu a "abertura" dos grupos
fechados a uma sociabilidade mais ampla, o que levou a uma alteração das formas
de agressividade. Com as sucessivas assimilações, conquistas e dominações, a
mente mais evoluída achou melhor escolher novas vias para expandir a
agressividade sem as consequências tão nefastas que recebiam de retorno. Um
círculo, sem fim, de atrocidades e mortes que reduziam os clãs e punham em
perigo a sua sobrevivência.
Pelo que
sabemos de antigas civilizações, todas elas a partir de certo momento
transferiram a sua agressividade assassina para outra "via de escape"
a que deram um nome de "desporto". Exteriorizavam toda a sua energia
e raiva para as competições mais leves, quanto aos estragos físicos,
escravatura, antropofagia, para uma forma de luta social e de domínio mais
abstracta. Esta actividade inspirou-se no desejo de adquirir maior habilidade e
resistência física (que só conseguiam
realizar na arte da guerra) para enfrentar os acontecimentos da vida
corrente.
Na
civilização Grega, por exemplo, para não falar de outros povos mais antigos
como os Maias e os Incas, o desporto surgiu pelas suas vantagens na formação do
Homem. A rivalidade existente entre as cidades, o choque de classes e suas
facções antagónicas, encontraram no atletismo e outras práticas desportivas a
necessidade de uma prontidão constante para a luta. Para isso, erra essencial
uma preparação física conveniente e treino adequado.
Esta
competitividade é a primeira condição do desporto.
Ao contrário
dos povos mais atrasados que ainda utilizavam algumas práticas bárbaras nessas
competições desportivas, os gregos tiveram o mérito de evitar excessos e
impuseram regras e limites estabelecendo sansões severas para quem não
cumprisse.
Roma, por
exemplo, que conquistou a Grécia, não compreendeu o espírito e finalidade em
evitar a guerra aberta e cruel. Os romanos valorizaram, apenas, a sua importância
na preparação física dos seus legionários. Os gladiadores que se apresentavam
nas arenas do circo exibiam, apenas, a crueldade e selvageria que os
espectadores gostavam de presenciar.
Na primeira
Revolução Industrial foram reconhecidas as virtudes pedagógicas do desporto e
sua importância como via de criação cultural e, mais tarde, a sua influência
para uma transformação completa da pedagogia mundial.
O Homem
civilizado continua, no seu íntimo, a ser um "homem primitivo" porque
apesar do desenvolvimento técnico e total submissão à
"racionalidade", é uma expressão deficiente do progresso. O Homem
evoluiu rapidamente no mundo material, mas o seu Espírito não acompanhou esse
desenvolvimento. Ele está em desequilíbrio e precisa de dar mais atenção ao
mundo espiritual porque o verdadeiro progresso só surgirá quando a parceria
Mente/Corpo estiverem ao mesmo nível.
O
desenvolvimento cerebral, a fonte do intelecto, que funciona apenas na vida
material, ultrapassou o desenvolvimento espiritual que alimenta a Mente, o Ego consciente, e a experiência
histórica mostra que só o raciocínio lógico não é suficiente para enfrentar os
obstáculos e provas que surgem constantemente na jornada evolutiva.
No mundo nada
se cria, tudo se transforma, e o desenvolvimento já é tal que os maiores
"cérebros" já constataram que só pela "Intuição" é que
conseguem determinados fins. O raciocínio lógico depara com barreiras
intransponíveis para o intelecto.
Deste modo,
aquela "centelha" do Espírito Universal que nos foi doada para a Vida,
tem importância vital. O nosso Espírito está em contacto permanente com o
Espírito Universal (pois é um átomo deste
Espírito de Deus) onde está todo o Conhecimento e Sabedoria, e a parceria
Espírito/Corpo físico é que criaram o Ego,
ou a Alma, pelo conhecimento
universal com a experiência adquirida no mundo material.
A conexão
deveria ser perfeita, mas o Homem, com o seu livre arbítrio, deu primazia à
vida na carne com todas as suas tentações adormecedoras do desenvolvimento
espiritual. Quanto mais o Homem mergulha na vida material, mais difícil é a
conexão com o Espírito Universal e tudo o que chega à Mente são fragmentos no
meio de grande estática como numa telefonia. O pouco que chega à Mente passará
a ser um "pressentimento", porque a informação não está completa, e,
mesmo assim, o Homem aprendeu a confiar nos "pressentimentos" quando
as dúvidas apertam. Aqueles que conseguem "acordar" e exercitar o
Espírito (que precisa de exercício
constante, assim como os músculos do corpo físico, para não definhar) vão
melhorando a "percepção" das instruções vindas através do Espírito
até chegar ao ponto em que os pressentimentos passam a ser certezas. É o
encontrar da "Chave da Vida", o vislumbre consciente do Reino de
Deus.
Portanto, o
Homem civilizado está (ainda)
submetido, pela cultura racional, a determinadas regras e a uma mentalidade
social alheia ao seu "ser" natural. Por isso, não é capaz da dinâmica
social que permite o domínio da agressividade e a sua transmutação em
"agressividade amigável" como "vimos" nos jogos e outras
aplicações lúdicas das crianças em que, segundo os momentos, consideravam os
companheiros dos jogos como bons e maus, mas sem consequências para as suas
relações e sem levarem a sério os conflitos que surgiam.
Hoje, por
exemplo, as competições desportivas resultam em autênticas "guerras"
com feridos, e mortos até.
O desporto
como simples actividade física é pobre e pouco salutar tendo em conta a
dimensão espiritual do Homem. O mais importante da actividade física associada
à prática do desporto é a sua capacidade "catártica", capaz de ajudar
a transmutar a agressividade atávica do Homem arcaico que ainda habita em si. O
Homem tem essa capacidade (própria dos
animais e dos vegetais) de transmitir caracteres seus aos descendentes com
intervalo de uma ou mais gerações.
A civilização
Chinesa pode ter sido a primeira a fazer uso racional dos exercícios físicos,
dando origem ao muito conhecido Kung fu, por volta de 2 700 a.C.,
que tinha uma finalidade religiosa, por se destinar a curar o corpo físico das
enfermidades que o impediam de ser um bom servidor do Espírito. Estudos
posteriores feitos sobre os povos, ainda no estado primitivo, levaram à
descoberta dessas mesmas tendências no Antigo Egipto, Oriente, África
subsariana, Incas. Maias, Aztecas e noutros locais.
Com a longa
noite "das trevas" da Idade Média, na Europa, o centro da Civilização
actual, dominado pela Igreja Católica que se impôs (pela força) e que condenava o orgulho, e aparentemente defendia a
necessidade da Cultura do Espírito, na verdade associou-se facilmente com o
gosto pela violência e pelo saque, tanto nas guerras como nos jogos, o que
deixou mazelas e deturpou, por completo, o espírito de grupo que animara sempre
os jogos.
Na
civilização industrial, com a massificação das populações, com os subterfúgios
dos políticos e com os temas económicos vistos como solução para tudo o que era
prioritário para a vida, não se vislumbrou uma motivação de valores, de
objectivos e anseios superiores para formas espirituais com valores bem
definidos.
A violência é
uma realidade social e da prática dos jogos e guerras abertas. A progressão
dessa tendência agressiva encontrou campo fértil nas disputas económicas.
Os
"empresários" ao apontarem como inimigos imaginários todos os concorrentes
e todos aqueles que se revelam um obstáculo para conquista de um mercado, ou de
uma "taça", ou um "campeonato", conseguem alienar e
mobilizar apoios e espectadores, ou futuros clientes.
Nesta fase da
evolução, sem um "travão" ético e moral, com a degradação dos
costumes, em que o que conta é o show-off,
desprezando aquilo que confere verdadeiro valor humano ao indivíduo, apenas com
a preocupação única de querer fazer melhor do que o adversário, transforma o
"atleta", o "trabalhador", num autêntico "homem-máquina".
Desumanizado, robotizado, agora um "escravo legalizado", valoriza
unicamente o espectáculo e o seu aspecto imediato, físico, sensorial.
A prática do
"desporto" evolui sem corresponder à sua finalidade, em organismos
desportivos pouco interessados em consentir que o interesse da formação geral
do jovem desportista se sobreponha às conveniências do "ofício
desportivo" da modalidade lucrativa.
Isto
reflecte-se em todos os campos "produtivos", também, da sociedade. É
uma "competição".
O desporto de
massas atraem os jovens pertencentes a estratos menos favorecidos da sociedade,
falseando-lhes o discernimento mediante os elogios nos média e compensações
económicas, contribuindo para que o desporto se transforme, cada vez mais, num
fenómeno para a "sociedade do espectáculo" com a evidente
promiscuidade assumida com o poder económico e político.
Para que esta
situação se mantenha e os "senhores do poder" continuem infinitamente
nos seus pedestais, esta sociedade do "show-off" é para acarinhar e
alimentar. O povo delira, luta, insulta e expande toda a sua agressividade. O
que se destinava ao revigoramento da espécie humana (estímulo da inteligência e defesa da saúde) passou a ser um
"negócio", um processo que estimula, sim, aquele resíduo do Homem
primitivo que ainda há em nós, com elevada propensão para a violência.
Os poderes
constituídos não investem na melhoria da educação e da cultura porque manter as
populações incultas e ignorantes é que permite que tantos sejam explorados por
tão poucos.
Para o contentamento
dessa elite exploradora, continua a ser extremamente reduzido o número de seres
humanos dotados de autêntico poder criador e elevado sentido crítico e, pior
que tudo, é cada vez mais visível a sua dependência aos poderes político,
económico e social, que os subjugam aos seus interesses específicos e de âmbito
limitado.
É de facto
desproporcionado o número daquela minoria humana consciente e informada,
contrastando com a crescente maioria de amorfos, bestializados ou mantidos
subinformados.
Entramos no
Séc. XXI com líderes muito fracos, em comparação com as gerações anteriores, na
maioria medíocres, que não permitem que os mais capazes possam fazer algo de
útil em prol da humanidade. Mantêm a sociedade na mesma bitola em que se
encontram, ou seja, na mediocridade. Fomentam e alimentam o
"show-off", enganando as populações e mantendo-as adormecidas.
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