O AVANÇO DO NEOESTATISMO
O neoliberalismo avança para se tornar o sistema mundial e
para isso surgem as novas guerras de conquista territorial (O
neoliberalismo é uma corrente de pensamento político e económico
que advoga a mínima intervenção do Estado na economia, promovendo
a liberdade de mercado, a privatização de empresas estatais e a
desregulamentação. Ele baseia-se em ideias do liberalismo clássico,
com ênfase na redução de barreiras comerciais, na diminuição de
impostos e na abertura de mercados financeiros).
O fim da guerra fria, não quer de modo nenhum dizer que o mundo
tenha ultrapassado a bipolaridade e reencontrado a estabilidade sob a
hegemonia do vencedor. E isto porque, se houve um vencido (o
campo socialista),
torna-se difícil apontar o vencedor. Os Estados Unidos? A União
Europeia? O Japão? Os três?
A derrota do «império do mal»
abre novos mercados cuja conquista provocou uma nova guerra mundial,
a quarta.
Como
todos os conflitos, este também obriga os Estados nacionais a
redefinir a sua identidade. A ordem voltou aos velhos tempos das
conquistas da América, da África e da Oceânia. Estranha
modernidade esta que avança às arrecuas. O crepúsculo do século
xx mais faz lembrar os anteriores séculos bárbaros do que o futuro
racional descrito por tantos romances de ficção cientifica.
Vastos
territórios, grandes riquezas e, sobretudo, uma imensa força de
trabalho disponível esperam pelo seu novo senhor. O cargo de senhor
do mundo é único, mas os candidatos são numerosos. Daqui decorre a
nova guerra entre os que afirmam pertencer ao «império de bem». O
nascimento do neoestatismo, o que está a acontecer no momento.
Imagem:
Desarrollolocal.lamula.pe
Enquanto a terceira
guerra mundial viu enfrentarem-se o capitalismo e o socialismo, em
diferentes campos e com variáveis graus de intensidade, a quarta
guerra trava-se entre grandes centros financeiros em teatros de
batalha e com uma formidável e constante intensidade. Nesta nova
guerra, a política, enquanto motor do Estado-nação, deixa de
existir. Só serve para gerir a economia. E os homens políticos
passam a não ser mais do que gestores de empresa. Um exemplo disso é
a governação de Trump em que os negócios são a prioridade e, por
isso, gere o Estado mais rico e avançado do mundo como uma
corporação, como uma empresa, atropelando tudo e todos. Já não há
aliados nem concessões, só negócios. O neoestatismo puro e
bruto.
Os novos senhores do mundo não precisavam de governar diretamente. Os governos nacionais encarregavam-se de administrar os negócios por conta deles. A Nova Ordem era a unificação do mundo num único mercado, a globalização... mas há sempre um mas.
Os Estados mais não são do que empresas, com gerentes a fazer a vez de governos, e as novas alianças regionais parecem mais fusões comerciais do que federações políticas. A unificação que o neoliberalismo produz é económica. No gigantesco hipermercado planetário só as mercadorias podem circular livremente, as pessoas não.
Esta mundialização fez também alastrar um modelo geral de pensamento que se foi estendendo por todo o planeta por intermédio dos computadores, destruindo bases materiais dos Estados-nação em uma destruição histórica e cultural.
Todas as culturas que as nações forjaram - o nobre passado indígena da América, a brilhante civilização europeia, a sábia história das nações asiáticas e a riqueza ancestral de África e da Oceânia - foram corroídas pelo modo de vida (ou morte) do Estado mais rico que impôs a sua cultura. O neoliberalismo, com o seu capitalismo selvagem impõe assim a destruição das nações e de grupos de nações para os fundir num único modelo. Trata-se pois realmente de uma guerra planetária, a pior e mais cruel, travada pelo neoliberalismo contra a humanidade... a caminho do neoestatismo, a doutrina que, por oposição ao neoliberalismo, advoga a necessidade de intervenção do Estado em sectores estratégicos da economia.
E aqui estamos frente a um puzzle... para o reconstituir, para compreender o mundo de hoje, faltam muitas peças. Formaram-se alianças que se juntaram em dois blocos antagónicos (os que tentam impor a hegemonia perpétua e o das nações emergentes que também querem ter voto na matéria). Os maiores problemas são conseguir controlar e criar condições mais justas para evitar a dupla acumulação de riqueza e de pobreza nos dois polos da sociedade, como explorar o mundo, o problema do emprego, a relação entre o poder e o crime, a violência do Estado e o mistério da megapolítica. Finalmente, como resolver as formas multíplices de resistência que a humanidade desenvolve contra o neoliberalismo.
Com o fim do comunismo e com as novas tecnologias da informação (internet), todos poderiam participar da festa como indivíduos iguais. Na globalização, a Europa correu em força para aproveitar a mão de obra barata noutros continentes, transferindo os seus recursos e, principalmente, a tecnologia avançada que possuía e permitia a sua grande influência perante as outras nações.
Acabaram por ser surpreendidos pela crise mundial de 2008 que colocou em xeque a ideologia neoliberal na economia. As nações “ocupadas”, exploradas, começaram a absorver essa tecnologia, e o mundo com a novas economias emergentes, e o crescimento dos nacionalismos, com o surgimento de guerras, cai definitivamente a máscara que encobria o jogo de poder Norte-Atlântico.
Aparece a sua verdadeira face como guerra pela hegemonia e controle do mundo, o que a globalização sempre foi. Deixa claro que o liberalismo sempre foi, não a liberdade de cada indivíduo decidir o seu destino, mas a abertura comercial e financeira para as grandes corporações se reposicionarem no seu controle sobre o mundo. A Corporocracia uma nova forma de Colonialismo a que chamaram “neocolonialismo”.
Iludiram-se de que haviam enganado os russos quando quase destruíram o país com políticas neoliberais depois da queda do Muro de Berlim.
Sob o protesto de levar liberdade e democracia para os “países atrasados” (não europeus/norte-americanos), governos foram derrubados, países foram invadidos, revoluções “coloridas” deixaram países em ruínas.
Em termos económicos, elevou a desigualdade e provocou a desindustrialização em países importantes. Hoje a guerra demonstra claramente que o mundo harmónico nunca passou de ilusão e que se tratou do movimento das grandes corporações no seu processo de expansão e controle sobre espaços relevantes no mundo, sobre matérias-primas e mercados, sobre processos de produção cada vez mais monopolizados e onde um pequeno número de empresas domina a oferta de um produto ou serviço, espalhados em regiões conforme as suas estratégias.
Só a China, ao fazer tudo ao contrário, se aproveitou do véu ideológico que inebriou os próprios governos do eixo Norte-Atlântico e se tornou potência ameaçadora. O grande problema dos EUA. Desenvolveu uma estratégia em parceria com as próprias grandes corporações do sistema Norte-Atlântico que saíram pelo mundo a partir da ideologia globalizante.
A estratégia chinesa é tão bem montada que enganou os especialistas norteamericanos, nomeadamente Kissinger, o mago da economia e estratégia política.
Tornou-se explícito que todos os países atuam no mundo de acordo com suas estratégias, de acordo com as estratégias das grandes corporações que utilizam o seu poder político sobre cada Estado-Nação, segundo seus interesses de poder e controle.
No capitalismo, o mundo não é um mercado cooperativo, mas uma guerra por espaço e controle, como sempre foi.
Vejamos
este exemplo:
In
"A
4ª Guerra Mundial Já Começou".
http://bilder-livros.blogspot.com/
http://senhoresdomundo.blogspot.com
A política, os políticos versus a democracia natural do trabalho.
É verdade que as ideologias e as ilusões políticas também são realidades sociais com efeitos reais, e que não é possível neutralizá-las por meio de proibições ou simplesmente ignorando a sua existência. A esse respeito, o ponto de vista da democracia do trabalho é o seguinte: as ideologias existem, e isso mesmo constitui um dos aspetos terríveis da tragédia do género humano. Mas o facto das ideologias políticas serem realidades palpáveis não prova que elas sejam necessárias. Do mesmo modo, a peste foi uma realidade social extremamente intensa, mas ninguém a considerará necessária ou concluirá, a partir da sua existência, que a peste é uma realidade tão importante como a existência de seres humanos. Foi precisamente a não diferenciação entre trabalho e política, entre realidade e ilusão. Foi exatamente o erro de considerar a política como uma atividade humana racional, comparável ao trabalho, que permitiu coisas espantosas como o facto de um aprendiz de pintor fracassado(Hitler) ter podido desgraçar o mundo inteiro.
Ora, um dos objetivos principais deste livro, que não foi escrito por prazer, é exatamente o de sublinhar esse erro catastrófico do pensamento humano e de extirpar o irracionalismo político. Outro dos aspetos da nossa tragédia social é que o conjunto dos agricultores, dos operários, dos médicos, etc, não determinem a existência social exclusivamente através das suas atividades sociais, mas sim e principalmente, por meio de ideologias políticas.
In Wilhelm Reich,"Psicologia de Massas do Fascismo".
http://novadesordemmundial.blogspot.com
O mundo mudou, e muito, e os potenciais ditadores, procuram estratégias novas para dividir o mundo pelos mais fortes e criarem “feudos” geoestratégicos, conforme os seus interesses. E o facto de estabelecerem uma aliança de interesse não quer dizer que sejam aliados. Os negócios e poder em primeiro lugar.
Portanto, há algo de novo na forma como se exerce o poder em todo o mundo. Paradoxalmente, esse “novo” remete ao passado, na medida em que associado tanto a discursos ultraconservadores e xenófobos quanto a práticas inquisitoriais e oligárquicas. A principal característica dessa nova forma de exercício do poder é a ausência de limites, o que pode ser observado com a emergência de experiências autoritárias a partir da chegada ao poder político de pessoas como Trump, Salvini, Orban, Erdogan e Bolsonaro.
A destruição do projeto de bem-estar social, bem como a desarticulação dos coletivos que atuavam na vida política (sindicatos, comunidades eclesiais de base etc.), somado ao ressentimento e à cólera produzida pela perda de direitos dos trabalhadores e de prestígio social pela classe média, teria levado à opção por soluções autoritárias. Da mesma maneira que na década de 1930 o fascismo foi apresentado como uma reação ao liberalismo, o ultra-autoritarismo é vendido ao cidadão como uma resposta à atual crise neoliberal.
Esse autoritarismo, que recorre a soluções que podem ser identificadas como tipicamente fascistas, surge da manipulação de sentimentos compreensíveis e promete o retorno a um passado mítico de paz e segurança. Tem-se nessa ilusão por modelos autoritários uma manifestação a nostalgia por um passado que nunca existiu, mas que permite “resgatar” formas de identidade nacional, comunitária, raça, classe, género, etc., e velhos preconceitos.
O que há de novo, e revela a engenhosidade do modelo, é que essa nova forma de governabilidade que surge da crise produzida pelos efeitos do neoliberalismo, como a desagregação dos laços sociais, demonização da política, potencialização da concorrência/rivalidade, construção de inimigos, desestruturação dos serviços públicos, promete responder a essa crise com medidas que não interferem no projeto neoliberal e, portanto, não alcançam a causa da cólera e do ressentimento da população.
Para iludir e mistificar, criam-se inimigos imaginários, como os direitos humanos, a democracia representativa, a degradação moral, a depravação sexual, a diversidade, as minorias que são apresentados como os responsáveis pelos problemas concretos suportados pela população. Fala-se em um “novo neoliberalismo” ultra-autoritário que se alimenta da crise e inclusivamente gera crises para esse fim, como também persegue “culpados” para deportar, sem julgamento prévio, só pelo ódio, acusando-os de responsáveis pelos danos causados pela própria lógica neoliberal.
Nos EUA (era Trump) e no Brasil (com Bolsonaro) provoca-se uma “resposta” (populista que manipula afetos produzidos nas fronteiras entre nós, os insatisfeitos, e eles, os causadores da insatisfação) aos danos perversos gerados pelo neoliberalismo clássico, por outro, continua a servir os mesmos objetivos mais precisamente a busca dos lucros ilimitados, a financeirização do mundo (A financeirização do mundo refere-se ao processo em que os mercados financeiros e as instituições financeiras assumem um papel cada vez mais dominante na economia global, afetando não apenas as finanças, mas também a produção, o trabalho e a própria sociedade), a destruição dos obstáculos ao poder económico e o controlo dos indesejáveis (pobres e inimigos políticos).
Em resumo, com ou sem verniz democrático, o neoliberalismo, que se revela adaptável a qualquer ideologia (inclusive ao fascismo), sustenta e atende à lógica do capitalismo global.
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